terça-feira, 30 de agosto de 2016

Identificando a Igreja: Laodiceia; as promessas e muitas lições ensinadas

A Igreja de Laodicéia

O bispo de Laodiceia é repreendido de forma dura. Sua atitude não é positiva nem negativa, nem fria nem quente. Ele está indeciso, morno, não tomando posições claras. Sua fé está cambaleante, sua vida não possui obras características do Cristianismo, de modo a ser pregação viva. Sua espiritualidade está para ser desmascarada e seu juízo está prestes a vir.
 
Jesus ameaça a vomitar da Sua boca o bispo morno. Essa é também a vida daquela igreja de Laodiceia: morna. Vomitar é a figura de linguagem que significa deixá-lo sucumbir no pecado.
 
Uma coisa é importante notar: o bispo é amado por Jesus. Sua condição está a ponto de colocá-lo em situação lastimável, mas Cristo o chama à conversão, e está prestes a discipliná-lo para que retorne à vida na graça. Portanto, ele não foi destituído.
 
De fato, quem está morno está mais longe da conversão. Sua mente está acostumada com o ambiente cristão, e a mensagem da cruz não lhe impacta mais. No entanto, a mensagem mais incisiva do Senhor tem como objetivo converter o pecador na mais intrincada circunstância.
 
Aquele bispo de Laodiceia era muito influente, negociador hábil. Sua vida estava envolta de um ambiente rico, de posses, longe da penúria e da escassez de recursos. Essa situação pode gerar o espírito auto-suficiente. Mas o Senhor afirma que ele é “infeliz, miserável, pobre, cego e nu”. (Ap 3,17)
 
E o verso 19 mostra que anteriormente o bispo era perseverante e zeloso: “Reanima, pois, o teu zelo e arrepende-te”. Mesmo homens aprovados e sucedidos no evangelho podem cair. Cristo o chama a voltar a Ele, a converter seu coração. Essa é a exortação ao bispo, que está no lugar de toda a comunidade de Laodiceia.
As promessas às sete igrejas do Apocalipse

À igreja de Éfeso é prometido ao vencedor comer do fruto da árvore da vida, que está no meio do paraíso. O Espírito diz às igrejas o que terão de recompensa, e o prêmio é dito em tom de individualidade: “àquele que”. Isso demonstra a necessidade da fé e da obediência.
 
À igreja de Esmirna é prometido ao vencedor não sofrer dano da segunda morte.
 
À igreja de Pérgamo e prometido ao vencedor o maná escondido, e um pedra branca com um nome que somente o que recebe conhece.
À igreja de Tiatira é prometido ao vencedor o poder sobre as nações pagãs, e a Estrela da Manhã, que é o próprio Jesus Cristo.
À igreja de Sardes é prometido ao vencedor as vestes brancas, e a manutenção do nome no livro da vida, que será proclamado diante do Pai e dos anjos.

À igreja de Filadélfia é prometido ao vencedor ser coluna no Templo de Deus, e ter escrito o Nome de Deus, da cidade santa e o Nome de Cristo.
 
À igreja de Laodicéia é prometido ao vencedor assentar no trono com Cristo.
Lições

As lições que estão contidas nas cartas às sete igrejas são inúmeras, difícil elencar todas, mas entre elas estão o Senhorio de Jesus Cristo, a Sua presença na Igreja em todos os lugares e tempos, a autoridade dos bispos, as atitudes que esses devem ter diante das heresias, as repreensões de Jesus aos bispos desobedientes, mas também o seu amor por eles, e a cada um que arrepende-se do pecado, as ameaças de punições quando não há arrependimento e conversão, a diferenciação entre os cristãos fieis unidos à autoridade do bispo e os cristãos caídos em heresias que formaram seitas.
 
Essa situação era uma constante em final do século 1º, na região da Ásia Menor, onde estava o apóstolo São João, na Ilha de Patmos, quando a Igreja estava em crescimento rápido, já com aproximadamente 70 anos de existência, e enfrentando perseguições do Império Romano, e principalmente heresias de seitas judaizantes.
 
Em todas as cartas temos a verdade de que Jesus é o Senhor da Igreja, que está presente nela, que todas as sete igrejas são uma mesma denominação, que elas estão enfrentando problemas diversos, como as heresias, tanto no interior de si mesmas como vindas de fora, que os bispos são os responsáveis por manter a pureza da doutrina e da prática, que os desobedientes são chamados à conversão, que os hereges que estão no interior da Igreja são sujeitos às intervenções dos bispos, e que mesmo em igrejas onde até o bispo necessita de conversão há aqueles membros que são fieis a Cristo.
Gledson Meireles.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A adoração e a veneração

Então disse Davi a toda a congregação: Agora louvai ao SENHOR vosso Deus. Então toda a congregação louvou ao SENHOR Deus de seus pais, e inclinaram-se, e prostraram-se perante o SENHOR, e o rei. (1 Crônicas 29:20).
 
Os atos e intenções dos cristãos, ao longo do tempo, em relação aos santos, têm uma conotação diversa das práticas e intenções dirigidas a Deus, embora sejam exteriormente semelhantes e, em alguns casos, idênticas. É fácil que no seu aspecto externo sejam confundidas pelos espectadores. O que não pode ocorrer é a confusão no espírito do praticante, pois há o perigo da idolatria.
 
Se é verdade que essa confusão é sempre possível, é igualmente certo afirmar que existem duas “orientações” do espírito, pelo menos, na questão da honra, reverência, respeito e etc. Os homens sempre demonstraram carinho, amor, respeito, honra e etc., a seus superiores, sejam aos pais, aos mais velhos, aos patrões, aos presidentes, aos reis, aos imperadores e etc. Também é fato a existência das expressões do homem em relação à divindade, ou às divindades e antepassados, como o fizeram e fazem os pagãos. Sendo assim, há diferença das homenagens prestadas para uma classe de homens e aquelas que fazem parte do culto à divindade. Se o paganismo adorou os antepassados e os deuses, isso não é concebível no cristianismo.
 
Desde o início os cristãos honraram os mártires e demais servos de Deus, no plano religioso, como os homens honram os heróis da pátria no plano social e cívico.
 
Assim, é que os atos podem significar diferentes intenções, como a inclinação do povo de Israel diante do Senhor e diante do rei foi motivada por diferentes razões. São poucos os que refletem sobre essa passagem. Ali é afirmado que os israelitas inclinaram-se ou mesmo prostraram-se diante de Deus e diante do rei. No hebraico é a mesma palavra usada, que é traduzida "adoraram" o Senhor Deus e o rei. Como entender essa "adoração" a Deus e ao rei, sem cair em idolatria? Essa é uma prova de que a adoração a Deus ocorre no coração, e não são garantida pelos atos apenas. Assim, Josué prostrou-se perante a arca de Deus, mas certamente seu espírito estava em adoração a Deus, não à arca material.
 
Então Josué rasgou as suas vestes, e se prostrou em terra sobre o seu rosto perante a arca do SENHOR até à tarde, ele e os anciãos de Israel; e deitaram pó sobre as suas cabeças (Josué 7:6).
 
O Senhor Deus falava do meio dos querubins, habitava no Templo, estava presente, ou através da Arca, mas não dentro da Arca. Se Deus proibisse as expressões de veneração e de adoração a Ele diante da arca, que é um objeto físico, uma matéria, não teria ordenado fazê-la, e/ou teria dado instruções proibitivas a quaisquer atitudes físicas em relação à arca. Uma vez que isso nunca foi o caso, é um erro ensinar tal proibição para com as imagens.

Outra verdade é que se o Senhor tivesse proibido Josué de ter-se prostrado perante a Arca, teria dado proibição de prostrar-se diante dEle mesmo, o que não é admissível. De fato, Josué tinha a arca como local da presença do Senhor. O objeto recebia veneração por isso. Quando no v. 10 Deus diz a Josué para levantar-se, e pergunta o motivo da prostração, está indicando que Josué deveria tomar atitude, ao invés de ficar parado ali prostrado diante dEle. Ele deveria aplicar a Lei para resolver o problema do pecado, que Acã havia cometido.

Então disse o Senhor a Josué: Levanta-te; por que estás prostrado assim sobre o teu rosto? (Josué 7:10).

Israel pecou, e transgrediram a minha aliança que lhes tinha ordenado, e tomaram do anátema, e furtaram, e mentiram, e debaixo da sua bagagem o puseram (v. 11).

Levanta-te, santifica o povo, e dize: Santificai-vos para amanhã, porque assim diz o Senhor Deus de Israel: Anátema há no meio de ti, Israel; diante dos teus inimigos não poderás suster-te, até que tireis o anátema do meio de vós (v. 13).

A ordem era para levantar-se e cumprir o que o Senhor estava ordenando, não havendo nada em relação à sua adoração em sua prostração perante a Arca. A Arca era tratada com o máximo de respeito e veneração. Além disso, não foi somente Josué que prostrou-se ali, mas também os anciãos, e nada foi dito aos anciãos sobre o que estavam fazendo. A ordem dirige-se a Josué para que ele cumpra o que era necessário naquele momento (a santificação do povo).

Em Gênesis 33:3 Jacó inclina-se até à terra diante do seu irmão Esaú, mas certamente sua intenção não era de adoração (latria) mas de respeito e reverência. Mesmo expressões semelhantes nas palavras são usadas para com as criaturas e para com Deus, residindo a diferença apenas no sentido. Desse modo, a declaração de Jacó também não faz de Esaú um “deus”, mas apenas o honra:

E ele disse: Para achar graça aos olhos de meu senhor. (v. 7).

A expressão “achar graça” juntamente com o título de “senhor”, precedido de uma profunda reverência: “inclinou-se à terra sete vezes”, seria uma evidência de adoração, o que constituiria idolatria, mas não o é, já que a Escritura não apresenta assim.[1]

A honra aos anjos também foi demonstrada por meio de inclinação até à terra, usando o tratamento com o título de “senhores”[2], como o fez Ló à porte de Sodoma:

E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e vendo-os Ló, levantou-se ao seu encontro e inclinou-se com o rosto à terra.  (Gênesis 19:1-2).

Desde o século primeiro os cristãos veneravam os santos mártires, como afirma o documento Martírio de Policarpo 17:2, ano 160 d. C.:

“Ignoravam eles que não poderíamos jamais abandonar Cristo, que sofreu pela salvação de todos aqueles que são salvos no mundo, como inocente em favor dos pecadores, nem prestamos culto a outro. Nós o adoramos porque é o Filho de Deus. Quanto aos mártires, nós os amamos justamente como discípulos e imitadores do Senhor, por causa da incomparável devoção que tinham para com seu rei e mestre. Pudéssemos nós também ser seus companheiros e condiscípulos!”.[3]

Nessa passagem já está o argumento cristão contra as críticas dos judeus, que não diferenciavam adoração e veneração cristã, como fazem ainda os protestantes ao criticarem os católicos.  O escritor cristão, pode-se resumir aqui, afirma que não poderíamos jamais abandonar a Cristo, e que nós O adoramos; já quanto aos mártires há apenas amor como discípulos e imitadores que são do Senhor. Pode-se perceber que essa controvérsia já existia na era imediatamente pós-apostólica.

Os cristãos católicos, fiéis à Palavra de DEUS, nunca aceitaram o culto das imagens dos ídolos pagãos, entregando suas próprias vidas por rejeitar qualquer veneração e adoração aos ídolos e imagens daqueles falsos deuses. Mas, como pode ser visto pelo documento acima, aceitavam as homenagens aos irmãos e servos de Cristo.

Qual é a diferença entre a veneração sadia e cristã e a adoração? Os cristãos protestantes acusam os cristãos católicos de cometerem idolatria por honrarem os santos e anjos e usarem imagens.[4]

No entanto, devem reconhecer que os primeiros cristãos não tinham preconceito contra as imagens. Mesmo diante do perigo de idolatria, por parte dos novos convertidos, a arte cristã desenvolveu-se onde o culto dos cristãos era celebrado.

Basta saber que apesar dos sarcófagos pagãos serem decorados com pinturas das cenas inspiradas em suas mitologias, os cristãos, por sua vez, não tiveram escrúpulos em retratar as verdades bíblicas nas catacumbas.[5] Logo que as perseguições diminuíram, os cristãos desenvolveram sua arte fabricando estátuas em memória de Cristo, da virgem Maria e dos outros santos e dos anjos. Aliás, as imagens já são encontradas por volta do segundo século.[6]

Numa atmosfera familiar com o uso de imagens imperiais e pagãs, os cristãos não demoraram em fabricar suas próprias imagens. O Oriente manteve certo preconceito em relação a essa prática (um costume oriental não universalizado), mas imperadores usavam suas imagens sem reprovações.
 
Os primeiros cristãos entendiam que as imagens não tinham parte na adoração de Deus. No entanto, ao menos uma reverência decente era prestada às imagens cristãs. As formas de reverência, principalmente no Oriente, eram tão excessivas muitas vezes, que torna compreensível as acusações de idolatria por parte dos iconoclastas, assim como procedem muitas das acusações dos protestantes.[7]

Interessante é a distinção de São Gregório quanto ao culto das imagens, afirmando que cultuamos aos homens e anjos, enquanto adoramos a Deus. Esse tipo de adoração (proskynesis) ou veneração (douleia) de homens e anjos é uma honra especial.

É de acordo com a razão que não há maldade inerente à feitura de imagens. Portanto, a lei de Deus não a proíbe como um ato em si. A lei de Cristo, para a Igreja no Novo Testamento, proíbe oferecer a uma imagem oração ou absoluta adoração. As palavras latreiaproskynesis e douleia tornaram-se termos técnicos precisos nesse assunto, principalmente a partir de Niceia. É necessário dizer que não há espírito, divindade, entidade, poder, ou coisas do tipo, nas imagens, como se isso fosse a motivação para cultuá-las. Esse tipo de parecer é pagão. Os cristãos honram as imagens pelo que representam.

A citação da Enciclopédia Católica do Catecismo aconselhado pelos bispos ingleses é muito proveitosa e resume-se em quatro itens:

1) Adoração é somente devida a Deus.
2) Aos servos e amigos de Deus devemos culto inferior, ou seja, honra.
3) Às relíquias e imagens o culto é relativo.
4) Não devemos orar às imagens, já que elas não podem ver, nem ouvir nem nos ajudar.

Os protestantes gostam, também, de comparar e identificar as práticas católicas com as da antiga Babilônia. Apresentam Semírames e Tamuz, a deusa-mãe e seu filho.

Para os babilônios, aquelas entidades divinas realmente eram reconhecidas como poderosas e senhoras, governantes dos homens. Tinham poder influenciador real sobre o mundo e a humanidade.

Dessa forma, recebiam, o culto de adoração própria de “deuses”, o que constitui crassa idolatria. Esse costume (fundamentado na noção das divindades mãe e filho) teria vindo da Babilônia onde as línguas foram confundidas, e assim se explicaria a proliferação do culto nos diferentes povos do mundo.

Contrariamente, não seria mais lógico e ortodoxo – ou seja, bíblico - crer que tal doutrina tenha sido “desvirtualizada” desde a revelação original de Deus no Éden a respeito da vinda do Senhor como descendente da mulher, explicando assim a presença dessa ideia universal?

Vários pagãos chegaram a conhecer a doutrina da “virgem mãe”, exacerbando os limites lícitos, e passaram a honrar a criatura, é claro, tornando-a “deusa”. No entanto, a virgem Maria, para os cristãos católicos, não é “poderosa”, nem “semi-poderosa”, nem “senhora”, nem “governante”, não reside nas imagens feitas em sua honra.

Mas, então, por que os títulos de “rainha”, “princesa”, “senhora”, “poderosa”, até mesmo “toda-poderosa” e outros dados a ela? Esses títulos todos tem sentido metafórico, não literal[8]. Por exemplo, ela é “senhora” apenas por ser a mãe do SENHOR. Já o título de Senhor, referente a Cristo tem o significado de Senhor Deus. Nenhuma comparação há com o título popular de senhora dado a Maria.

Para os protestantes, os sinais da “idolatria” estariam ainda no fato de que os cristãos oram aos santos e anjos, ofertam algo a eles, como o pagamento das promessas, reverenciam suas imagens e fazem  festas em sua memória.

Porém, deve-se entender o caráter dessas orações, das promessas pagas e das reverências para uma aceitação ou rejeição.

Em primeiro lugar, o fundamento para as orações aos santos é a doutrina da comunhão dos santos, entendida como uma união sempre existente em todos os membros do corpo de Cristo[9]. Se somos ordenados a interceder uns pelos outros e por todo o mundo, as almas dos santos no céu cumprem essa ordem da Escritura. Assim, os cristãos pedem que os santos roguem a Deus em seu favor, e nisso consiste a oração de intercessão dos santos.

Perante as críticas dos negadores da imortalidade da alma ainda fica de pé que o ato de intercessão permanece destituído de qualquer idolatria. As promessas são feitas e pagas quando a graça é alcançada por aquela intercessão, como um agradecimento a Deus, fonte da graça, e ao santo que ofereceu seus rogos em nome de Jesus (o protestantismo nega a possibilidade dos santos mortos intercederem pela Igreja, mas o que é dito aqui refere-se à liceidade dos atos de agradecimento e sua diferença da idolatria). E as reverências se baseiam no nosso dever de imitar os exemplos de fé, uma ordem bíblica, e se são feitas diante das imagens isso apenas simboliza o gesto de honra àquela pessoa pintada na imagem, o que constitui um ato cristão.[10]

Sintetizando, pode-se afirmar que há, nesses itens, apenas pedidos de intercessão aos santos (na oração), homenagens (confecção de imagens, procissão e promessas) e imitação dos santos (através de pregação e o estudo das suas vidas exemplares). Se se pede ao servo de Deus que rogue a Deus, se se honra a ele por ter servido, vivido e pregado a fé em Jesus Cristo, e se o imita nessa fé e submissão a Cristo, como pode essa prática ser rejeitada?

Entretanto, para melhor compreensão desse assunto, faz-se necessária uma reflexão as respeito da adoração a Deus e do modo como ela se expressa.

A Deus Pai, Filho e Espírito Santo fazemos orações e ofertas, tendo a Deus e a Cristo como exemplo perfeito a ser imitado. Seriam esses três itens (oração, ofertas e imitação) iguais àqueles relacionados aos santos? Se o leitor está atento logo percebeu que não.

Em primeiro lugar, a oração é a elevação do espírito para Deus, expressando nossa adoração; prece de louvor e ação de graças, intercessão e súplica (Catecismo da Igreja Católica, n. 2098).

Temos a necessidade de falar com Deus, orando; de ouvi-Lo, pela Escritura e pregação da Igreja; de louvá-Lo, como reconhecimento de toda graça e glória e bem que recebemos; de interceder pelos irmãos e por todo o mundo, e de suplicar nas necessidades.

As ofertas e sacrifícios são oferecidos a Deus em união a Cristo no Seu sacrifício único e perfeito. Somente assim podem ser aceitos por Deus. Os sacrifícios são rendidos a Deus pelo nosso reconhecimento de dependência plena, pela submissão ao Senhorio do Criador e Salvador de todos universo.

A imitação de Deus e de Cristo como modelo perfeito é também espelhada na vida dos seus servos, como S. Paulo exortava para que o imitassem, tendo exemplo nos apóstolos, assim como ele imitava a Cristo (Efésios 5:1; Filipenses 3:17; 1 Coríntios 11:1).

Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. (1 Coríntios 11:1).

A inteligência deve ser orientada para obedecer a Cristo, o que é sinal da adoração:

(...) levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo (2 Coríntios 10:5).

A Lei já prescrevia:

Amarás, pois, o SENHOR teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças (Deuteronômio 6:5).

Quando Paulo e Barnabé perceberam que o povo de Listra desejava oferecer-lhes sacrifício, o que é idolatria, S. Paulo chamou-os à conversão e adoração, para reconhecer a Deus como Criador:

(..) e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao Deus vivo, que fez o céu, e a terra, o mar, e tudo quanto há neles (Atos 14:15).

Para expressar a adoração a Deus, distinta da honra aceitável prestada às criaturas, os termos veneração e adoração se tornaram técnicos. [Por isso tanta confusão quando se baseia apenas nos dicionários].

Desse modo, adoração é reconhecer a Deus como Criador e Senhor de tudo o que existe, amá-Lo sobre todas as coisas e prestar-Lhe honra sem igual, em que todos os atos sejam direcionados ao fim primeiro, principal e último de unir-nos a Ele.

Como foi mencionado, o pedido de intercessão aos santos é feito para que orem a Deus por nós, portanto não tem o mesmo sentido da oração a Deus, a qual é a elevação da alma a Ele em adoração, oração, intercessão, ação de graças, súplica, louvor e etc.

A intercessão é idêntica ao pedido a um irmão: “ore por mim”. [Como os santos no céu saberão do pedido feito a eles, só Deus o sabe].

Ofertamos a Deus pelo reconhecimento de nosso nada e da Sua eterna e infinita grandeza, fonte de todo bem e graça.

Até a imitação dos santos, exemplos de fé, tem como objetivo configurar-nos mais e mais a Deus, o fim primeiro, último e fundamental. Aliás, quando o santo orar a Deus em favor da Igreja, ele estará adorando, louvando, intercedendo, glorificando, rendendo graças, suplicando ao Senhor, tudo enquanto roga em nosso favor. Parece ter ficado claro. Enfim, somente Deus recebe a adoração.

Gledson Meireles.

Consultas: Enciclopédia Católica (site www.newadvent.org), Catecismo da Igreja Católica, A vida de São Jorge (artigo no site do CPR), A verdade sobre Maria (artigo no sitewww.solascripturatt.org.com).

[1] Compare essas expressões de Esaú com aquelas que os fieis católicos fazem com as imagens. Não se trata de adoração.

[2] Os católicos usam títulos aos santos: como advogado (relação à virgem Maria, são José, arcanjo Miguel e etc), e às vezes uma linguagem bastante floreada. É inspirada na Bíblia, que, como provado acima, mostra linguagem e atos semelhantes às criaturas e a Deus.

[3] Já naquele tempo (século 2) os cristãos explicavam que há diferença entre a honra prestada a Deus e a honra das criaturas.

[4] Assim, estão acusando Abraão, Isaac, Jacó, os profetas e todo o Povo de Deus na Bíblia, pois ensinam o mesmo que a Igreja Católica.

[5] Quem poderia impedir os cristãos de usar a arte em honra de Deus, quando o mesmo Deus ensinou isso no Antigo Testamento?

[6] Portanto, isso não foi resultado de “sincretismo”, mas de um desenvolvimento evangélico natural. O Novo Testamento ampliou o uso das imagens, pois Cristo é a imagem de Deus: (Cl 2,9).

[7] Há cristãos que não possuem um conhecimento adequado e cometem exageros.

[8] É aqui que o Protestantismo tropeça e cai. Por ver a Igreja utilizando linguagem bastante forte para com os santos, conclui que está sendo praticada adoração. Vimos que a Bíblia possui exemplos idênticos, e de acordo com a vontade de Deus. Essa tradicional prática católica está enraizada nas Escrituras. É necessário compreender isso.

[9] É preciso conhecer o que significa comunhão dos santos.

[10] Quanto às orações e promessas, para simplificar: pede-se a Deus, mas também recorre-se aos irmãos na terra e no céu para nos ajudar nos nossos pedidos. Quando agradecemos a Deus, agradecemos também àqueles que rezaram conosco. A Deus toda glória e adoração. Aos santos, relativa glória e veneração, por serem amigos de Deus e nossos irmãos. Tudo de acordo com o Evangelho.

domingo, 28 de agosto de 2016

Identificando a Igreja de Jesus: Sardes e Filadélfia


A Igreja de Sardes

O bispo de Sardes está em heresia e pecado mortal. Espiritualmente está morto. Sua autoridade apostólica está enfraquecida, quase que anulada por sua condição espiritual. As obras que pratica são imperfeitas, portanto pecaminosas. Jesus o exorta a voltar à verdadeira doutrina, à conversão. (Ap 3,2) A Igreja de Sardes está em uma situação deplorável.

Como continua em sua posição apostólica, Jesus afirma: “Tens em Sardes algumas pessoas que não contaminaram suas vestes”. (v. 4) São fieis que estão em comunhão com Deus, ao contrário do seu bispo. Mas estão sob a autoridade do bispo. É importante esse fato.

A situação de Sardes é a mais terrível até o momento, pois o próprio bispo está contaminado na doutrina e na prática. E muitos da igreja, naturalmente, talvez a maioria, estão seguindo a heresia do bispo. Deve ele então voltar aos ensinos anteriores, e praticar a verdadeira doutrina. Isso mostra que em Sardes muitos estavam sob a liderança de um bispo herege, mas Cristo não o destituiu. Pelo contrário, chamou-o à conversão e ao governo do que ainda sobra de positivo, para não deixar morrer o que ainda está vivo. Lembremos que o anjo de Sardes está ainda nas mãos do Senhor.

É importante notar que ainda em um cenário de geral intromissão da heresia, alguns permanecem no interior da igreja e conforme o verdadeiro Evangelho: não se contaminam. E, além desse caos espiritual, esses não saem da Igreja para formar outra denominação, e nem o contexto insinua essa possibilidade nem a permissibilidade de tal coisa.

 

A Igreja de Filadélfia

Jesus diz ao bispo de Filadélfia: “Conheço as tuas obras: eu pus diante de ti uma porta aberta...” (Ap 3,8) Essa porta pode ser entendida como o sucesso na pregação do Evangelho, com precioso resultado de conversões. A igreja de Filadélfia é fiel à Palavra e ao Nome de Jesus. (Ap 3,8)

“Eu te entrego adeptos da sinagoga de Satanás, esses que se dizem judeus, e não o são, mas mentem.” (Ap 3,9) Provavelmente são cristãos de origem gentia, mas judaizantes. Estão espalhados em muitos lugares.

Jesus entrega adeptos da seita ao bispo de Filadélfia. Essa entrega mostra que se tratam de membros hereges daquela comunidade, que em heresia não submetem-se ao bispo. Esses foram entendidos por muitos como os judeus de Filadélfia, que converteriam-se ao Evangelho. Assim, a sinagoga ali presente iria professar sua fé em Cristo a partir da pregação dos cristãos. Mas o texto afirma: “esses que se dizem judeus, e não o são”. Não se trata de judeus, mas de supostos e falsos judeus.

Esses são parte do grupo de mesma doutrina, certamente, que foi mencionado em Apocalipse 2,9: “daqueles que se dizem judeus e não o são; são apenas uma sinagoga de Satanás.” Agora afirma o mesmo: “que se dizem judeus, e não o são, mas mentem”.

Como dito no estudo acima, essas heresias espalharam-se por todas as cidades, e parece muito disseminada e conhecida na região da Ásia Menor. Tanto em Esmirna como em Filadélfia fala-se desses pretensos judeus.

E em profunda atitude de veneração, virão os convertidos das falsas doutrinas prostrar-se aos pés do bispo de Filadélfia, reconhecendo a santidade da igreja de Jesus ali presente: “farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei”. Essa atitude revela a autoridade do bispo, e a aprovação de Jesus para expressões de veneração a ele, que é Seu ministro. Isso significa que em determinado momento reconhecerão que aquela igreja é amada por Jesus, é a igreja de Jesus, e reconhecendo isso virão humildemente, prostrados diante da autoridade legítima que está em Filadélfia, que é o anjo daquela igreja, cumprindo a Vontade de Jesus. O prostrar-se diante do bispo é uma expressão de veneração e reconhecimento da sua autoridade.

De fato, pelo amor à igreja de Deus reconhece-se o mesmo Deus. Por virem “prostrar-se” aos pés do bispo, o fazem por reconhecerem ser ele o representante de Jesus. Por isso Jesus diz: “e conhecer que eu te amei”.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Identificando a Igreja: em Pérgamo e em Tiatira

A Igreja de Pérgamo
 
O bispo de Pérgamo estava onde “se acha o trono de Satanás”. Essa expressão não indica a igreja, e nada a ela relacionado, mas é indicação ao templo pagão dedicado ao imperador romano que se encontrava na cidade de Pérgamo. Ali estava o trono de Satanás. Enquanto em Esmirna havia uma sinagoga de Satanás, em Pérgamo estava o seu trono. Assim, a situação da igreja que vivia nessa cidade era pior.
 
De fato, o bispo de Pérgamo é fiel, crente no Nome de Jesus, e defensor da doutrina, mesmo diante do perigo do martírio. Mas, uma coisa havia de negativo: “sequazes da doutrina de Balaão” e “sequazes da doutrina dos nicolaítas” estavam naquela igreja.
 
Esses que estavam em toda a igreja, em algumas localidades puderam conviver por um tempo, como em Éfeso, mas logo foram descobertos e expulsos. Contudo, o bispo de Pérgamo não era tão enérgico, e nada havia feito contra os cristãos adeptos dessas doutrinas.
 
Cristo diz que virá a ele (ao bispo) e combaterá os hereges “com a espada da minha boca”, que é a Palavra de Deus. Essa repreensão ao bispo mostra que a heresia deve ser exposta e corrigida, e a omissão constitui pecado dos líderes eclesiásticos. Nota-se que continua o mesmo que é pedido na outras cidades, que é a pureza da fé. A mesma fé exigida em Éfeso e Esmirna, agora também é exigida em Pérgamo. As doutrinas que não podem coexistir com a fé cristã de uma comunidade local, também não podem em outra. Há exigência de unidade doutrinal, pelo fato da realidade da única Igreja.
 
A realidade de uma região é diferente de outra. A igreja em Éfeso não enfrentava ainda perseguição sangrenta, como em Pérgamo. Apenas as heresias eram semelhantes. A igreja em Éfeso não foi conivente, mas aquela em Pérgamo estava sendo. Em Esmirna as heresias parecem não terem tido efeitos entre os fieis. Certamente estavam fora da igreja, sendo os hereges um grupo à parte, e não membros da própria igreja. No entanto, sendo igual a fé de todas as igrejas, ou seja, todas elas ensinavam a mesma doutrina, Jesus exigia a mesma medida dura contra os sequazes de outras doutrinas. O Senhor da igreja exigiu isso e ameaçou com a punição.
 
A Igreja de Tiatira
 
O bispo de Tiatira era bastante abençoado. Suas obras de então eram maiores que as primeiras. No entanto, uma coisa havia de negativo: conceder liberdade à ação da falsa profetiza Jezabel. Certamente essa era uma mulher cristã, mas suas profecias, doutrinas e práticas eram contrárias ao Evangelho. No entanto, o bispo de Tiatira não a disciplinava.
 
Jesus ameaça punir Jezabel e todos os hereges, para servir de exemplo às igrejas: “todas as igrejas hão de saber que eu sou aquele que sonda os rins e os corações”. (Ap 2,23) Essa é mais outra prova de que a Igreja é a mesma, e o que uma localidade experimente serve de exemplo para outra. É outra prova de que as igrejas de cada cidade formavam uma única Igreja. A disciplina em uma servia de exemplo a outra comunidade.
 
Por certo, todas as igrejas não restringem-se às sete, não sendo a mensagem unicamente de valor para as sete igrejas da Ásia, mas realmente a todas as igrejas em cada localidade que estiverem. Aos cristãos de Tiatira que permanecem na verdade, Jesus admoesta a continuar com o que aprenderam. Nem sempre os bispos tomavam posição rápida e enérgica contra as heresias. Por isso, pode-se afirmar que durante algum tempo os cristãos hereges conviviam nas igrejas sob a liderança do bispo, mas sem ter com ele unidade de fé. E esses formavam seitas, por seus ensinos e práticas condenáveis em relação ao Evangelho. Assim, Jesus exige do bispo uma posição contra os hereges, como faz em todas as igrejas. Isso significa a lição que a Igreja deve manter em todos os tempos e lugares.
 
Jesus mesmo pode tomar a posição e rédea da ação disciplinadora, caso o bispo continue a omitir-se. O interessante é que nenhum dos bispos anteriores é reprovado por heresia. Alguns o são por não combater as heresias, ficando acomodados, mas possuíam virtudes. Jesus não contenta-Se com essa atitude, e exorta o bispo a lutar contra o erro doutrinal e as práticas dele advindas.
Jezabel certamente tratava-se de uma figura notável, e profetizava em nome de Deus aos cristãos da igreja de Tiatira. Talvez, também, de início não se pensava na gravidade daquelas revelações e enganações. É certo que havia muitos que a seguiam. Como conviviam sob a liderança do bispo daquela igreja, é a ele que Jesus lembra a incumbência de tomar posição disciplinar, em defesa da fé. De fato diz: “Mas tenho contra ti que permites a Jezabel, mulher que se diz profetisa, seduzir meus servos...”.
 
Veja que é uma exigência de atitude para com Jezabel, e não apenas uma ação de proteção aos cristãos sob a liderança episcopal. Trata-se de membros cristãos hereges, do partido de Jezabel, contaminando outros membros, os servos fieis. Vemos nessa carta claramente o bispo de Tiatira, com os cristãos que estão sob sua supervisão, que continuam firmes no Evangelho, e aqueles entre os quais está a figura de Jezabel, que estão contaminados com o veneno da heresia, e não estão conforme a doutrina da instituição católica.
 
Dessa forma, não se pode ver aí uma igreja que ensina erro. De fato, Tiatira continua na paz espiritual com Deus, conservando a sã doutrina. O que acontece é ter junto de si uma seita liderada por uma Jezabel. Essa está simbolizando a seita e sua liderança, que institui idolatria: pratica imundícies, e come carne imolada aos ídolos. Refere-se, portanto, à idolatria, não da igreja de Tiatira, mas da seita que está ali, sob o comando de Jezabel. É preciso distinguir aqui: os cristãos de Tiatira não praticavam esses horrors do paganismo, mas conheciam aqueles que o faziam sob a liderança de uma mulher chamada Jezabel.

Jezabel e os seus não estão sob o ensino do anjo de Tiatira, mas contrários a ele. Por não reprovar aquela heresia, o bispo a estava permitindo. Assim, não poderia ser dito que a Igreja de Tiatira estivesse mesclada de heresia e idolatria, como se a mesma tivesse endossado em seu credo algo do tipo, pois o bispo não é acusado de ensinar o que Jezabel ensinava. O que a carta afirma é que em Tiatira há uma facção religiosa no interior da verdadeira igreja ali presente, a qual está sob autoridade do bispo de Tiatira, e que o mesmo deve tomar as providências usando de sua autoridade apostólica. Os servos de Cristo estão em perigo diante das seduções de Jezabel, e o bispo está permitindo essa realidade por não tomar atitude contra ela.

Gledson Meireles.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A Igreja de Esmirna

Certamente o bispo da igreja de Esmirna passava por um período conturbado. A condição da igreja era de pobreza: “conheço a tua angústia e a tua pobreza, ainda que sejas rico”. Mas, a riqueza refere-se ao patrimônio espiritual, da fé daquele bispo e daquela igreja.
 
Havia também falsos judeus naquela igreja. De certo difamavam o bispo, que sofria na paciência cristã. O Senhor afirma que aqueles “são apenas uma sinagoga de Satanás”. O que havia de acontecer com aquele bispo foi revelado por Cristo, para que ele não temesse.
 
A igreja de Esmirna passará por ataques de hereges, por tribulações, e prisões por um tempo curto. Essa igreja não recebe qualquer reprovação. Sua vida de fé e sua prática dos mandamentos agradam a Jesus. O bispo de Esmirna é instado a ser “fiel até a morte”. Cada ensino e cada promessa são dirigidos ao anjo da igreja e à própria igreja.
 
Há momentos em que a igreja não sofre por questões de fé em si mesma, mas apenas por ataques vindos de fora, sobretudo materiais. Em Esmirna havia uma “sinagoga de Satanás”. Parece tratar-se do mesmo grupo que perturbava a fé em Éfeso, pois “se dizem judeus e não o são”. Contudo, entre os cristãos esmirnenses não puderam influenciar a fé de praticamente ninguém, pois o período não era de paz, mas de tribulação. O caráter de cada cristão era testado pela cruel circunstância. Nesses tempos, as heresias diminuem.
 
O que é dito ao anjo de Esmirna serve a todas as igrejas como lição moral e espiritual. Sua situação particular é que distingue a mensagem. Em nenhum momento cede-se em questões doutrinais. A exigência é substancialmente a mesma que faz Jesus em Éfeso. Os que não estão em comunhão de fé e moral com a Igreja são ali chamados pelo próprio Fundador da Igreja de “sinagoga de Satanás”.

São os primeiros anátemas, são as primeiras facções surgindo, as primeiras seitas que surgiam dentro da igreja para que, depois de expulsas, vivessem fora dela. Temos a igreja de Esmirna e seu bispo de um lado, e as heresias judaizantes, e talvez outras, como a dos gnósticos, também ao seu redor.
 
Gledson Meireles.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Identificando a Igreja: A situação das sete igrejas do Apocalipse


Igreja de Éfeso
Como afirmado, anjo representa o bispo da igreja particular. O bispo de Éfeso era obediente, pois Cristo fala das suas obras, e não o repreende. Era paciente, e não negligente quanto ao combate às heresias. Era perseverante, e não negava a sua fé no Nome de Jesus. A sua única falha estava em não mais guardar o “primeiro amor” como antes. Jesus tem o costume de mostrar tanto as qualidades quanto os pecados. Porém, é preciso notar que não tolera os pecados.
 
Certamente o abandono do primeiro amor trata-se do esfriamento do fervor dos primeiros tempos após a conversão, o esquecimento daquelas obras santas conforme o Evangelho. Esse é o pecado em que caiu o bispo de Éfeso, embora fosse tão espiritual. Nosso Senhor o repreende nesse quesito, afirmando que poderá depô-lo da função episcopal, tirando seu candelabro, que é a igreja de Éfeso.
 
Há comentário que afirma que essa admoestação significa extinguir aquela comunidade, fazendo desaparecer aquela igreja na cidade de Éfeso. Anos mais tarde há relatos de florescente igreja naquela cidade, mas hoje suas ruínas lembram as palavras de Cristo contra aquela igreja. Certamente, com o tempo sua fé fraquejou.
 
Estamos vendo então o interior da igreja de Éfeso, e as repreensões ao anjo, portanto, são repreensões também àquela igreja, ou seja, àquela comunidade cristã que vivia na cidade de Éfeso, na região da Ásia Menor, no primeiro século.
 
Lá não era tolerada a idolatria dentro da igreja. Pelo contrário, os sectários eram inquiridos, analisados e reprovados. De fato o verso 2 afirma que o bispo pôs “à prova os que se dizem apóstolos e não o são”.
 
As doutrinas pagãs eram rejeitadas. Isso mostra que entre os cristãos houve sempre o perigo e a presença, muitas vezes, de hereges em seu meio. Esses são homens que possuem um olhar particular, uma opinião não conforme a doutrina que a Igreja ensina, uma ideia própria daquilo que creem ser o correto e o mais indicado, e colocam-se contra a doutrina e moral estabelecidas. Talvez, tratava-se de grupos de heresia de cunho judaico e pagão misturados, que importunavam a fé de Éfeso. Mas, a estrutura da igreja é ali manifesta: há um anjo, que é o seu bispo. Esse anjo que responde pela igreja, e tem em seu poder moldar o caráter daquela igreja, recebe a mensagem de Jesus. Está, portanto, legitimamente instituído.
 
Cristo mostrou-Se caminhando entre as igrejas, simbolizadas pelos sete candelabros. Sabendo que o número sete indica a totalidade, a perfeição, significa isso que todas as sete igrejas são uma só nEle. É a Igreja universal, em outras palavras, conforme o uso cristão, é a Igreja Católica. E não são denominações diferentes, mas uma igreja somente com várias sedes particulares, nas cidades da Ásia Menor. Portanto, Cristo está na Igreja.
 
Também, as sete estrelas são os anjos, e esses estão na mão direita (autoridade) de Jesus, que os dirige e os governa. Sabemos que os falsos apóstolos e os nicolaítas foram rejeitados. Sua doutrina e prática não foram aceitas na comunidade de Éfeso, sob a autoridade do seu bispo, fato que agradou a Jesus. Temos aí a manifestação da estrutura incipiente da Igreja: comunidades locais governadas por um bispo, que é um ministro do Senhor Jesus Cristo.
 
É importante perceber que a igreja de Jesus não era o que cosntituía “aqueles falsos apóstolos”. Eles eram impostores que a importunavam, estando dentro dela. Eram maus membros, e assim estavam em heresia. Também não era o grupo dos Nicolaítas o representante da igreja certa. Pois, esses nicolaítas poderiam ter alguma ideia sadia, mas sua fé não comportava o Espírito do Evangelho. Ensinavam mentira e muitos de seus membros praticavam obras detestáveis.
 
Então, a prova posta àqueles cristãos causou a ruptura entre eles e os demais que permaneceram sob a autoridade do bispo. Naquela divisão, entre os cristãos que ficaram obedientes ao bispo de Éfeso, e os outros que seguiram certamente os que se diziam apóstolos, bem como os participantes do grupo dos nicolaítas, a igreja é identificada com a comunidade de Éfeso obediente ao bispo, e não com os dois grupos dissidentes. Esse é o modo de ver correto das Escrituras, identificando onde estão os problemas, qual a sua natureza, quais são suas características e de que lado estão os representantes da fé apostólica.
 
É certo que o pecado daquele bispo estava em não mais praticar o primeiro amor. Sabemos que os líderes são pecadores. É então necessária uma observação. O apocalipse denomina o bispo como anjo. De fato, não poderia ser um anjo literal, pois anjos não podem arrepender-se. Novamente, Cristo não ditaria uma epístola ao apóstolo João para ser endereçada a um anjo do céu. Então, temos certeza de que o anjo é um símbolo do bispo da igreja.
 
O Senhor fala para o bispo voltar “às tuas primeiras obras”. Esse particular explica o sentido da expressão primeiro amor. Refere-se às boas obras conformes a Vontade de Jesus e que não mais estavam sendo praticadas.
 
Com tudo isso, aprendemos que a comunidade de Éfeso tinha valores importantes no Evangelho; que a sua fé estava enfraquecendo; que as heresias a assolavam, mas foram reveladas e rejeitadas; e que da mesma forma que o bispo, os cristãos de Éfeso deviam voltar à prática das boas obras.
 
Não há, porém, nenhuma indicação de que essa comunidade tenha apostatado. Pelo contrário, foi através do critério do Evangelho que os falsos mestres puderam ser desmascarados. O pecado do bispo estava na prática dos deveres cristãos, e não no ensino do Evangelho.
 
Gledson Meireles.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Identificando a Igreja: Jesus exorta as Sete igrejas do Apocalipse

Já pelo fim do 1º século, as igrejas em cada localidade podiam ser governadas por um bispo, outras vezes por um presbítero, ordenado pelos apóstolos. Esses dois termos eram usados muitas vezes para o mesmo cargo. O presbítero que também era bispo (cf. At 20,28) podia ser um líder local, que liderava tanto o povo cristão quanto outros presbíteros, estando esses noutra esfera da hierarquia (cf. 1 Tm 4,14). Entretanto, esses últimos presbíteros eram os padres que tinham sob seu governo os fieis de uma cidade. No Apocalipse, Jesus dirige-se aos bispos daquelas comunidades da Ásia. Eram igrejas particulares, que faziam parte do único corpo eclesial. Pois bem, dos símbolos usados pelo Apocalipse, as estrelas são os anjos, que simbolizam os bispos das igrejas, e os candelabros são as igrejas.

Jesus revela ao bispo da igreja de Éfeso que Ele (Jesus) segura as sete estrelas (bispos) na mão direita, e anda no meio dos sete candelabros (igrejas). Isso significa que Jesus é o Pastor Supremo. A mão direita denota autoridade. É Jesus quem guia os bispos como autoridade máxima, e está presente em todas as igrejas particulares. Portanto, essas comunidades são somente uma Igreja, sob o comando de um só pastor invisível que é Jesus Cristo. Ao nível visível estão os homens colocados para apascentar as ovelhas, que devem seguir as palavras de Jesus. Esses são os bispos.

Ao bispo da igreja de Esmirna Jesus revela Sua eternidade, mostrando ser Ele o Primeiro e o Último, Aquele que ressuscitou dos mortos. Assim, mostra Sua origem sem princípio nem fim de dias, e também a Sua ressurreição.

Ao bispo da igreja de Pérgamo Jesus mostra que tem a espada afiada de dois gumes, que é a Palavra de Deus para destruir toda a mentira e heresia.

Ao bispo da igreja de Tiatira Jesus mostra-se como o Filho de Deus que tem olhos como chamas de fogo e pés como de fino bronze.

Ao bispo da igreja de Sardes Jesus apresenta-Se como o que tem os Sete Espíritos de Deus e as sete estrelas. Os sete Espíritos representam o Espírito Santo, e as sete estrelas são os sete bispos. Sendo o número 7 o indicador da plenitude, então Cristo possui o Espírito Santo e governa todos os bispos.

Ao bispo da igreja de Filadélfia Jesus mostra que Ele tem a chave de Davi, que é a Sua autoridade.

Ao bispo da igreja de Laodiceia Jesus mostra-se como o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus. Ele não é a primeira criação, ou a primeira criatura, mas o princípio da criação. Isso significa que foi por esse princípio criador que veio todas as coisas que o Pai criou por meio dEle e para Ele. (Cl 1,15)
Assim, Jesus Cristo é o Autor da Revelação, e por meio do anjo traz as verdades de Deus ao apóstolo São João, o último apóstolo a escrever no período da inspiração no Novo Testamento.
Vemos que Jesus mostra em cada epístola uma característica Sua, e exorta segundo as circunstâncias em que vive cada igreja. Suas palavras ao bispo atingem a comunidade inteira. Fala, porém, ao chefe pois esse tem o dever de bem pastorear aquela igreja de Jesus.
Gledson Meireles.