Estudando o livro Nisto Cremos, da Igreja Adventista do Sétimo Dia – IASD, continuamos a
aprofundar no sentido do mandamento sabático. Já foi explicado antes, no estudo
do livro Questões sobre Doutrina, a
respeito do assunto, de forma a dialogar com o texto daquela obra oficial do
adventismo.
Agora, mais uma vez, a
questão é aberta ao diálogo, tendo em conta outro texto oficial, aprovado, que
apresenta o sábado como os adventistas devem crer e praticar. Dessa forma,
compreende-se mais detalhes sobre o assunto.
Já no início o
documento adventista explica que o sábado foi estabelecido por Deus como
memorial da criação, para ser guardado por todas as pessoas, e inclui o símbolo
da redenção, da santificação, e o antegozo do reino de Deus. Afirma ainda que o
sábado é sinal eterno do concerto de Deus
com seu povo. Isso já abre espaço para se dizer que o o descanso sabático
no sétimo dia não pode ser mudado. Dessa forma, para o adventista, não é
possível guardar o sábado em outro dia, como no domingo, por exemplo.
Tal não é uma afirmação
totalmente baseada no texto bíblico, nos princípios que veremos que fluem da
Bíblia, mas em uma leitura de que o sábado é moral e não cerimonial, o que já
foi refutado nos estudos anteriores de forma suficiente.
Por isso, podemos
afirmar com certeza que a guarda do domingo inclui a celebração dos atos criadores e redentores de Deus. Assim como os
adventistas incluíram a comemoração na ressureição, da redenção e da
santificação na guarda do sábado, os cristãos católicos mantém a celebração da
criação e do repouso do Senhor Deus no sétimo dia quando guardam o domingo.
Quando observamos o
domingo estamos cumprindo totalmente
o dever de adorar a Deus, reconhecendo a distinção entre Criador e criatura. O
preceito moral continua de pé e é observado na Igreja, com toda a riqueza
doutrinal, toda a força cerimonial, toda a espiritualidade, todo o sentido
escatológico.
Interessantemente, o
adventismo considera o sábado em seu caráter memorial, espiritual e celestial,
como ensina o Catecismo católico, e portanto reconhece, por isso, que o sábado
é cerimonial nesse sentido. De fato, é esse aspecto do sábado que é entendido
como cerimonial, e não apenas o que se refere àquilo que deveria ser cumprido
em Cristo.
Muito boa a observação
de que a obra de Deus termina com o sete dias. O mundo é criado em seis dias, e
o sábado é criado pelo repouso do Senhor. Isso está conforme a semana cristã,
que trabalha os seis dias e descansa no sábado, em honra de Deus.
A bênção de Deus no
sétimo dia não cai literalmente no tempo,
pois o sétimo dia do Senhor é o primeiro após a criação do homem, mas na sua
formação segundo é entendida a partir da revelação bíblica da cronologia da
semana em sete períodos de tempo de manhãs, tarde e noite, sendo cada um desse
um dia. Os sete dias da criação, sendo o sétimo abençoado por Deus e
santificado por Ele.
O domingo cumpre essa
prescrição ritual, onde descansamos em honra de Deus, nos relacionamos com
Deus, crescemos na graça e na fé.
Deus está presente
quando o homem santifica o sábado em
Sua honra. O domingo é o dia de celebração dos santos mistérios de Cristo, e
isso faz do domingo o sábado cristão, cumprindo todo o mandamento.
O sábado foi para
Israel, após a libertação da escravidão do Egito, sinal entre Deus e o Povo. De
fato, na escravidão não podiam guardar o sábado, não podiam descansar
condignamente nem adorar a Deus no Seu santo dia. Mas, após o evento do Sinai,
tudo pode ser resgatado, a o povo passa a cumprir de fato os 10 mandamentos.
Êxodo 16 ensina a profundidade da
doutrina do sábado.
O Lembra-te é ensinado no catecismo como algo referente ao caráter
cerimonial do sábado, que deve ser lembrado, quando à determinação do tempo, já que pela lei natural é impossível que se
saiba qual dia se deve repousar. A IASD explica que o Lembra-te é ordem para não perder-se de vista a importância do
sábado.
De fato, a explicação
adventista está correta, mas não atingiu o cerne da questão, que está no
catecismo, pois é sabido que o mandamento que prevê o descanso e a adoração a
Deus em certo tempo é um dado acessível pela razão, mas o tempo em que isso
deve ser feito não o é, e pela revelação, sendo o sábado o dia que é memorial
da criação, deve, portanto, ser lembrado. Assim se explica sua parte moral e
cerimonial.
Então, entra outro
aspecto da discussão: O mandamento define
o tempo de repouso e adoração. Correto, pois é o que o Antigo Testamento
revelou. O sábado é o tempo dado ao povo de Deus para repousar e adorar a Deus,
e não outro dia qualquer. É o dia em que se deve cumprir o mandamento moral,
religioso e cerimonial, por assim dizer.
No entanto, a questão
de sua cerimonialidade é que o faz
aberto a mudança quanto ao tempo. Isso pode ser feito, sem infringir a lei
moral, que é eterna. É certo que ninguém pode fazê-lo, se não tiver autoridade
de Deus. Somente Deus pode mudar essas questões relativas à Sua Lei.
De fato, foi isso que
aconteceu no Novo Testamento, quando vemos a Igreja celebrando os mistérios
centrais da fé no primeiro dia da semana,
corroborado pelo fato de que a tradição apostólica transmitida ao longo dos
séculos mostra que o domingo tornou-se o dia de descanso e de culto a Deus na
nova aliança.
Dessa forma, foi Deus quem guiou a Igreja para essa mudança de dia apenas, e não de doutrina. A
doutrina, portanto, foi enriquecida, desenvolvida, cumprida em Cristo, já que
no dia de descanso se celebra a salvação realizada por Cristo na cruz, a
ressurreição do Senhor, e o sábado definitivo que virá.
Portanto, guardando o
domingo temos o antídoto igual contra
a idolatria, pois reconhecemos o único Deus soberano, criador e salvador e rei.
Assim, a Igreja
Católica ensina igualmente que o sábado é o selo de Deus, fazendo melhor a
observância de todos os outros mandamentos. Isso foi explicado nos artigos
anteriores sobre o sábado do Senhor. O domingo é assim o sábado cristão.
Algo a ser repetido
aqui, e com ênfase maior no ensino bíblico, é que a Bíblia apresenta os sábados como santas assembleias, como
solenidades do Senhor (cf. Lv 23, 2).
O capítulo 23 de
Levítico trata dessas solenidades, incluindo o sábado do sétimo dia, que é
cerimonialmente colocado junto com os demais, nesse sentido, o que prova ser também de caráter cerimonial.
O pentecostes, por
exemplo, é dia de santa assembleia, de repouso, e de natureza perpétua para o povo de Israel. Isso
mostra que deveria sempre ser seguindo, por todo o tempo da Aliança, o que
explica os cristãos judeus continuarem a seguir certas prescrições, ainda que
não mais obrigatórias.
Nenhuma passagem
distingue os sábados nesse capítulo, que os apresenta todos igualmente devendo
ser seguidos, de igual forma, e com igual reverência.
Quando os adventistas
reconhecem que Cristo adicionou ao sábado do memorial também a celebração da
redenção do povo, a partir da páscoa dos hebreus, está aceitando a doutrina
bíblica e católica a respeito do sábado, que é mais próxima do que o que se
encontra na apologética protestante que não admite nenhum dia de descanso, como
se todos os dias, nesse quesito, fossem iguais, e coisas desse tipo, que não
fazem parte da apologética católica.
Quando Jesus afirma em
Marcos 2, 27 que o sábado foi estabelecido por causa do homem, está explicando
algo da Escritura. De fato, o homem precisa de descanso e de prestar culto a
Deus. Dessa forma, o preceito serve ao homem e o prepara para seu melhor
relacionamento com o Senhor.
“Durante todo o seu ministério terrestre, Jesus exemplificou diante de
nós a fiel observância do sábado.” (Nisto Cremos, p. 314). Assim também
ensina o catecismo, quando diz: “O
Evangelho relata numerosos incidentes em que Jesus é acusado de violar a lei do
sábado. Mas Jesus nunca viola a santidade deste dia.” (CIC, 2173).
No entanto, afirmar que
o fato de Cristo ter participado a adoração no sábado constitui prova de seu
endosso do dia do sábado com dia de guarda para o cristão é algo que vai além
do texto bíblico, pois Jesus veio sujeito à Lei, cumprindo todas as exigências
legais, de bom grado, com filho de Deus, cumprindo a Lei de Deus, conforme dada
a Moisés, nas Escrituras, sendo circundado, apresentado no templo, adorando aos
sábados nas sinagogas, cumprindo as leis alimentares, reconhecendo as
autoridades farisaicas, frequentando o templo, observando as festividades
judaicas, etc. Nem todo o que o Senhor Jesus endosso na Lei é para ser cumprido
pelo cristão, e o sábado foi entendido na Igreja, desde os apóstolos, como dia
que não deve, quando ao tempo, ser continuado na Igreja, pois foi levado à
realização no dia do Senhor, o domingo.
Em Mateus 24, 20 Jesus
fala do sábado, no tempo da perseguição, com dia que continuaria a existir,
tanto na tribulação do tempo da destruição de Jerusalém, como na tribulação
final, como entende o adventismo. Mas isso é idêntico ao que está no livro do
profeta Isaías, onde a lua nova e o sábado aparecem na eternidade, o que não
faz nem de um nem do outro algo que deverá ser cumprido no céu.
Se o sábado continua no
domingo cristão, há então maior compreensão dessa exortação do Senhor.
O sábado foi a
consumação da obra da redenção da raça humana, de fato. Entretanto, a Igreja
não entendeu com continuidade de observância desse exato dia, mas já foi realizado na prática os festejos da
ressureição, celebrando o culto cristão no primeiro
dia.
Dessa forma, observando
o domingo, os seguidores de Cristo, igualmente, se regozijam com Ele das Suas obras em nosso favor, em favor da humanidade.
Muito é dito sobre os
apóstolos continuarem a guardar o sábado. Isso já foi explicado que não se
trata de ensinar algo que continua tendo validade e obrigatoriedade no tempo do
Novo Testamento, mas como algo que podia continuar a ser seguido, sem qualquer
problema, já que não era errôneo em si, mas piedosas práticas da Palavra de
Deus, que havia se cumprido em Cristo.
As inferências que são
feitas de muitas passagens, por exemplo, de Atos dos Apóstolos, é que São Paulo
participou dos serviços sabáticos e por isso aceitou a guarda do sábado como
cristão. Portanto, a afirmação que a IASD faz, de que “os discípulos adoraram no sábado do sétimo dia”.
Os textos que poderiam
substanciar a afirmação são os seguintes, citados abaixo somente no que toca
mais diretamente ao assunto, e podem ser conferidos na Bíblia, para maior
compreensão do contexto:
Atos 13, 14: “e, entrando na sinagoga, num dia de sábado,
assentaram-se”.
Atos 13, 42: “E, saídos os judeus da sinagoga, os gentios
rogaram que no sábado seguinte lhes fossem ditas as mesmas coisas”
Atos 13, 44: “E no sábado seguinte ajuntou-se quase toda a
cidade para ouvir a palavra de Deus”
Atos 16: 13: “E no dia de sábado saímos fora das portas,
para a beira do rio, onde se costumava fazer oração; e, assentando-nos, falamos
às mulheres que ali se ajuntaram.”
Atos 17, 1: “E Paulo, como tinha por costume, foi ter com
eles”
Atos 18, “E todos os sábados disputava na sinagoga, e
convencia a judeus e gregos”.
Os textos ensinam que
os discípulos iam à sinagoga no sábado, que eram convidados a irem à sinagoga
para pregar o evangelho, São Paulo tinha por costume pregar o evangelho aos
sábados a judeus e gentios, nas sinagogas. Afirmar que os discípulos guardavam
o sábado como cristãos, como parte da doutrina cristã, só pode ser feito por
inferência, não dessas passagens, mas por outros meios. Isso é claro em Atos
21, 25, onde São Paulo, como judeu, podia guardar
a Lei, para não escandalizar, mas que isso não era exigido dos cristãos
gentios, a não ser o que foi estipulado no Concílio de Jerusalém.
Outra questão a ser
analisada é a seguinte: “A fiel
observância desse apóstolo, dos sábados semanais, estava em marcante contraste
com sua atitude firme contra os sábados cerimoniais.”.
Oficialmente a Igreja
Adventista do Sétimo Dia interpreta Colossenses 2, 16 como referindo-se aos
sábados cerimoniais, o que não está correto, e tal equívoco é levado por
questões teológicas da denominação. De fato, São Paulo fala nesse texto de
todos os sábados, os cerimoniais e o semanal. É o mesmo que ocorre em toda a
Escritura, com Levítico 23 que trata de todos os sábados juntos no mesmo
capítulo.
Estudo sério da
passagem mostra que realmente se trata do sábado semanal, e mesmo adventistas eruditos
que reconhecem isso não deixam de guardar o sábado, mas entendem a passagem de
forma a harmonizar o sentido com a fé adventista.
Assim, o Dr. Samuele
Bacchiochi entendeu que o sábado foi negado por São Paulo como meio de
salvação, mas aceito como sombra que leva à realidade em Cristo. Ele não
conseguiu ultrapassar essa verdade, mostrando que a sombra já mostra que o dia
em si pode ser deixado na prática cristã, permanecendo sua função moral, o que
pode ser feito em outro dia. De fato, os cristãos católicos guardam o domingo.
E, ainda, o próprio
texto usado para provar que o sábado será eternamente guardado, Isaías 58, 13,
também cita a lua nova, que é um sábado cerimonial, e que a teologia adventista
reconhece que foi cravado na cruz. Assim, o argumento perde o peso. Por isso, o
entendimento adventista do sábado não pode refutar a doutrina católica.
Apresentar exemplo de
apóstolo indo ao templo, orando no tempo, indo às sinagogas, comendo alimentos
judaicos, evitando contato com gentios, fazendo promessas, circuncidando,
guardando o Pentecostes, não é prova de que ele ensinava todas essas coisas
como continuando após a promulgação do evangelho por Jesus Cristo e a fundação
da Igreja. Significa somente que os cristãos judeus podiam manter certas coisas
da fé judaica sem problemas, pois não eram em si erradas, mas santas e
preparatórias para a fé cristã, e fizeram parte da vida desses cristãos. Não
podiam, no entanto, ensinar como necessário para a salvação e nem como
continuando com o evangelho.
Assim, também, os
apóstolos continuaram a guardar muitas das festividades judaicas, incluindo o
sábado semanal, sem impô-lo aos convertidos, sem também proibi-lo, já que não
havia motivo, nem circunstâncias.
Repousar no domingo
igualmente cumpre o preceito do memorial da criação. Mas, havia, sim, no
sábado, algo figurativo, com vimos, do repouso
em Cristo na graça e o repouso definitivo
no reino do céu. Não se deve esquecer que esse sentido é mantido no sábado,
como explica Hebreus 4. Adorar a Deus como criador faz do domingo o memorial da
criação, o sábado cristão, e como salvador, faz memória da redenção, a doutrina
mais importante (paixão, morte e ressurreição) do Novo Testamento.
A leitura adventista do
sábado a partir da cruz, leva ao mesmo entendimento que há na guarda do
domingo: “É quando contemplamos a cruz
que o descanso sabático se nos apresenta como símbolo especial de redenção.”
É com esse olhar que os cristãos católicos não mais guardam o sétimo dia da
semana, mas o primeiro, que se tornou, por isso, o sábado cristão. Nele podemos
experimentar o perdão, a paz e o descanso
de Cristo, como faz a citação do livro Nisto Cremos.
Quando se lembra Ap 14,
12, 9, de que os cristãos leais a Deus guardam os mandamentos de Deus e a fé em
Jesus, isso mostra claramente que a Igreja Católica tem toda razão de manter a
verdade em todas as épocas da história e ensinar os 10 Mandamentos de Deus,
certamente poucas igrejas da cristandade insistem na guarda dos mandamentos
quanto a Igreja Católica.
No domingo pode-se ter
comunhão com Deus, meditação da palavra, etc., tudo o que se faz no sábado por
ser também realizado no domingo. E a respeito do trabalho, a mesma dificuldade
têm as pessoas de compreender o motivo de não trabalhar aos domingos, e por que
o trabalho aos domingos se torna pecado.
A razão mostrada para a
guarda do sábado, que é a ordem de Deus, é suficiente para o cristão, como foi
durante milênios para todos os que serviram a Deus. No entanto, o mesmo deve
ser dito do domingo, que é guardado por ser entendido como ordem de Deus no
Novo Testamento, e não como proveniente de qualquer autoridade humana.
Interessante que no
sétimo dia o Senhor Deus descansou, e o homem criado podia, já no início da sua
existência, acompanhar Deus em Seu repouso.
O sétimo dia em repouso
com símbolo da entrada do crente no
descanso do evangelho faz sentido, porque o repouso em sentido espiritual é
feito em Cristo. No entanto, o repouso no primeiro dia é igualmente propício
para isso, e não interfere no sentido nem no fato, não prejudica em nada o
entendimento do evangelho. É preciso refletir sobre isso.
Os adventistas creem que
Satanás quis alterar a guarda do sétimo dia. Mas, isso seria verdade apenas se
a guarda em outro dia interferisse no evangelho da salvação, fosse um empecilho
da graça, prevenisse o pecador de ser salvo, o que não faz sentido, não
corresponde ao fato, não é compreensível em termos de doutrina.
Em sua observação
histórica, a guarda do sábado não foi um problema, assim com a guarda de
qualquer outro distintivo judeu, até que as circunstâncias mudaram.
Afirmar que não há
evidências bíblicas de que Cristo ou os apóstolos mudaram o dia de observância
não é de todo certo, já que os sinais são tão fortes que, em conjunto, são
evidências para isso. Em apoio a essa leitura, tem a interpretação e
reconhecimento posterior, já nos primeiros escritos a respeito do tema, vindo
de almas piedosas.
Outra força para a
questão, é que a Igreja em seus pronunciamentos oficiais corroborou a
interpretação de que o domingo e não o sábado é o dia de repouso cristão. Não
houve na história dúvida a respeito, e a Igreja, em concílios e pronunciamentos
papais, sempre ensinou a guarda domingo.
Assim, as passagens
bíblicas mostrando os cristãos reunidos liturgicamente no domingo, as obras dos
primeiros cristãos, os pronunciamentos da Igreja, são um baluarte que provam
que o domingo é o sábado, dia de
repouso e culto a Deus, para o cristão. Ainda, a doutrina do domingo é
maravilhosa, mantendo toda a verdade que o sábado trouxe até os dias de Cristo.
A Bíblia é a primeira
prova de que os cristãos guardavam o domingo com dia de adoração. O segundo
século já traz maiores explicações a respeito. Não se diz claramente sobre o repouso, mas já mostra a adoração feita
nesse dia, o que já pressupõe o repouso que os cristãos tinham para celebrar os
sagrados mistérios da fé.
Não é exato afirmar que
o motivo da Igreja em Roma afastar-se do sábado tenha sido sua busca para
distinguir-se dos judeus. O sábado era guardado como dia de jejum, por exemplo,
para honrar a Cristo, que permaneceu no túmulo nesse dia. Não é dogma de fé,
nem costume universal, e a igreja particular de Roma não introduziu o costume
em outras partes, nem na igreja inteira.
Afirma-se que o sábado
continuou a ser guardado do segundo ao quinto século. O que o historiador
Sócrates escreve é interessante, pois afirma que as igrejas celebravam os
sagrados mistérios no sábado, não falando do repouso, como foi a aludida
exigência acima.
Certamente referindo-se
a escritos de tais épocas sobre o fato, afirma-se que cristãos do quarto e
quintos séculos muitos adoravam no sábado e no domingo. Sabendo da razão para a
observância dominical, o adventismo não a aceita. A ressurreição de Cristo e a
autorização dEle para que isso ocorresse não é explicação reconhecida na IASD,
e o documento afirma que não há no segundo e terceiro séculos nenhum autor
citando um texto bíblico para a autorização da mudança.
Mas, para isso
acontecer deveria ter uma controvérsia a respeito, uma importante opinião em
relação à continuação do sábado em lugar do domingo, ou uma forte negação da
guarda do domingo, para que as obras apologéticas apresentassem argumentos
nesse âmbito. Sendo algo pacífico, não haveria controvérsia.
Se Barnabé, Inácio,
Justino, Ireneu, Tertuliano, Clemente de Roma, Clemente de Alexandria,
Orígenes, Cipriano, Vitorino, etc., ou outro autor que viveu próximo ao tempo
de Jesus, não forneceu instrução sobre o domingo, não é prova de que não a
conhecesse. De fato, não há nas obras desses cristãos algo que possa indicar
que ensinassem o sábado.
Se o dia do sol era o
primeiro da semana, para o paganismo, o segundo, o terceiro, o quarto, o
quinto, o sexto e o sétimo também tinham seus deuses, e sua importância na vida
dos gentios. Dessa forma, muitos traziam suas crenças e superstições que
estavam ligadas às divindades de cada dia da semana. Afirmar que o dia do sol
tenha sido um fator para a guarda do domingo não é correto, nem que algo do sol
tenha sido introduzido na liturgia, de forma a se considerar influência pagã no
Cristianismo, visto que Jesus é a luz do mundo, o sol da humanidade,
ressuscitou no primeiro dia da semana, após o sábado, e isso explica
biblicamente esses conceitos que estão presentes na liturgia católica, sem
recorrer a qualquer outra fonte.
Os pagãos criam no
solis dies, dia do Sol, que era o primeiro da semana judaica, como também no
saturni dies, o dia de Saturno, o sábado judaico, como os dia da Lua, de Marte,
de Mercúrio, de Júpiter e de Vênus. Em português não foi herdada tal influência
nos nomes, que ficaram Domingo (dia do Senhor), Sábado (Shabbath hebraico), e os demais com segunda, terça, quarta, quinta
e sexta feiras, com influência católica.
A Bíblia não afirma que
a observância do domingo tem origem no “mistério da iniquidade”, em
nenhum lugar, basta procurar um texto para isso e não encontrará. Os apóstolos
teriam sido os primeiros a tratarem do tema, se isso tivesse ocorrido, se
houvesse tido mudança do dia de adoração e repouso sem a devida autoridade de
Deus.
De fato, ao falar sobre
as heresias e vãs filosofias, cita o sábado entre as questões que não deviam
mais obrigar os cristãos. Ninguém deverá julgar os cristãos por questões de
comida ou bebida, nem de festas, luas novas e sábados, que são sombras do que havia de vir, sendo que a
substância pertence a Cristo (cf. Cl
2, 16-17). Esse é o sábado do sétimo dia, que não é de obrigação cristã. Lendo
Hebreus 10, 1, aprendemos que Lei tem a sombra
das boas coisas que deviam vir.
A Bíblia fala dos holocaustos ao senhor, aos sábados, luas
novas e nas solenidades, os holocaustos
da manhã e da tarde, dos sábados, do princípio de cada mês e das festas do
Senhor, e afirma é segundo a lei
eterna prescrita a Israel, e ainda os sacríficos aos sábados, nas neomênias e nas três festas do ano, ou
solenidades, conforme o que está em 1 Crônicas 23,31; 2 Crônicas 2, 4, 8, 12-13,
31, 3.
Portanto, era essa
afirmação de São Paulo, de que as festas ou festividades ou solenidades ou
festivais, nem as luas novas ou neomênias e nem os sábados obrigavam mais os
cristãos, refere-se também ao sentido cerimonial do sábado.
Não há qualquer texto
que indique que o dia de adoração seria mudado como exemplo de corrupção doutrinal. Nenhum dos padres
da Igreja afirma isso, e o consenso do padres a respeito do domingo prova que a
doutrina é de origem apostólica.
As profecias mostram
que a Igreja Católica é o Reino de Deus na terra, fundando nações, influenciando
culturas com o evangelho, dando origens a santas e belas instituições, e nunca
como poder que massacra, oprime e persegue. A Igreja reconhece seu papel em
instituir leis conforme o evangelho,
e nunca mudar leis divinas, instituir leis contrárias, etc.
Como provado acima o
sábado não foi quebrado, mas permanece na guarda do domingo, que mantem toda a
doutrina. Isso não ocorria em Israel, conforme Isaías 56 a 58, onde nenhum
exemplo há de que os israelitas guardassem outro dia, mas profanavam o dia de
sábado, que deveria ser restaurado. Os cristãos nunca fizeram isso, de forma geral,
em sua doutrina. Antes, sempre guardaram o sábado do Senhor no dia do Senhor.
Assim, o sábado continua a ser observado.
Gledson Meireles.