A doutrina da imortalidade da alma está cada vez mais
atacada, e, não raro mais, pessoas de diferentes denominações que creem nessa
doutrina estão abandonando-a, até mesmo católicos, pelo que se sabe de algumas
fontes, como a do canal do pastor adventista Leandro Quadros.
Por isso, é necessário continuar investigar as razões desses
convencimentos. Uma obra especial, ancorada especialmente, ao que parece, nos
estudos adventistas, para o caso, é certamente os livros do apologista Lucas
Banzoli, que estão disponíveis e contém inúmeros argumentos, e que estão sendo
veículos da doutrina de que a alma é mortal, e tem convencido pessoas de muitas
igrejas.
Desse modo, mostra-se plausível empreender estudos nessas
fontes, como já feito em alguns artigos publicados neste blog com o título inicial de Imortalidade da alma. Para aqueles que
estão lendo os escritos adventistas, das testemunhas de Jeová, do Lucas
Banzoli, e etc., sobre o tema, e que venham a conhecer os comentários feitos
nesta página a respeito do assunto, que possam com igual fervor analisar os argumentos
e formular suas decisões.
O livro Os Pais da
Igreja contra a imortalidade da alma inicia a discussão com a avaliação do
tema em escritos apócrifos, mostrando que nesses a imortalidade da alma é
ensinada claramente e sem rodeios, e que sendo fonte de doutrina gnóstica, que
combatia nos séculos II e III a doutrina cristã, serviriam de prova de que a
Igreja não ensinava em concordância com o gnosticismo a doutrina da
imortalidade da alma.
Por essa comparação pensa-se em descobrir a forma pela qual a
doutrina deveria ser expressa nos escritos apostólicos e sub-apostólicos, e que
não sendo assim já estaria estabelecida a prova de que o Novo Testamento e os
Padres Apostólicos teriam ensinado diferentemente dos gnósticos nesse
particular.
Sendo assim, a doutrina da imortalidade da alma teria base
puramente pagã, e não constituiria patrimônio cristão.
Por isso, é bom que nos aproximemos dos argumentos mais uma
vez, em terrenos novos, como são outras partes dessas obras citadas, e
continuemos a vasculhar nos dados as verdades que podemos adotar. E se erros
forem encontrados serão igualmente considerados, porem, para sua merecida refutação.
A primeira constatação que se pode fazer, como preâmbulo
nesse campo, é que os apóstolos não empreendem nenhum esforço contrário a essa
doutrina dos gnósticos, que é, como o autor mostra, tão sagaz, clara e
insofismável, o que seria bastante provável receber dura repreensão do Novo
Testamento se fosse diferente sua posição quanto à mesma. Nenhuma palavra se
encontra nesse sentido, o que já é um dado de importância.
A primeira observação no que concerne à crença na
imortalidade da alma é o texto citado da obra “A Vingança do Salvador”. A “descrição
fantástica” que autor faz na citação dessa obra é algo que não condiz com a
imortalidade da alma, mas ao que seria esperado o mortalista perceber: o mesmo
parece, pela tradução utilizada, afirmar que Jesus foi ao hades depois de ressuscitado!
O Lucas apresenta o seguinte texto: “Sem dúvida alguma
morreu; foi dependurado numa cruz e depois de morto dependurado dela; esteve
três dias no sepulcro; depois ressuscitou de entre os mortos e baixou aos
infernos, onde libertou os patriarcas, profetas e a todo humano com
descendência; depois apareceu aos seus discípulos e partilhou a refeição com
eles; e, finalmente, viram-no subir ao céu”.
A cronologia seria: a (1) morte de
Jesus, (2) ser colocado na cruz, (3) ser tirado dela, (4) estar três dias no
sepulcro, (5) ressuscitar, (6) baixar aos infernos), (7) aparecer aos
discípulos e (8) subir aos céus. [1]
Em um texto escrito no período
apontado como de máxima clareza no ensino da imortalidade da alma, e ainda
assim transparecer algo que não coaduna com essa doutrina, em um assunto que
esperaria a mesma clareza, como é o da descida de Jesus ao hades, é fatal para o caso defendido pelo autor. Em outros termos,
é possível que em um texto imortalista alguém introduza uma ideia mortalista,
mas é possível refutá-la ao apresentar o texto em sua completude.
Portanto, a imensidade de obras
citadas que ensinam a imortalidade da alma é bastante pungente para o fato de
que nos séculos II e III essa doutrina era bastante disseminada. Obras usadas
pelo autor, como o Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Tomé, Apocalipse de
Baruque, Evangelho de Judas, Evangelho de Maria Madalena, Evangelho de Filipe,
A Vingança do Salvador, Evangelho de Bartolomeu, Evangelho de Valentino, A
História de José Carpinteiro, Apocalipse de Moisés, Testamento de Abraão,
Evangelho de João, todas elas com textos claros sobre a imortalidade da alma.
O que o livro objetiva é traçar um
contraste desses textos com os escritos dos padres pós-apostólicos e provar que
os mesmos não ensinavam a imortalidade da alma.
É seguramente impossível fazer isso,
já que pela Bíblia foi provada que a imortalidade da alma é a doutrina
original.
O que acontece é normalmente a
diferença essencial da doutrina, com diferença linguística, e outras, mas que
nesse específico não apresenta divergência. Os padres da Igreja, desde os
apostólicos, não ensinam a morte da alma, mas a imortalidade.
E como nos outros escritos, os
apócrifos, isso ficou claro, não é preciso gastar tempo para provar que se
tratava de doutrina muitíssimo conhecida.
Fonte: Banzoli, Lucas. Os pais da
Igreja contra a imortalidade da alma, capítulo 1.
Gledson Meireles.
[1]
O parâmetro aludido acima de que é mais difícil para o mortalista expressar sua
crença não é robusto. Ele nasce apenas de uma comparação dos textos
selecionados mostrando o imortalismo dos gnósticos com inúmeros textos bíblicos
que são interpretados como mortalistas. Parece ser apenas uma constatação
particular e não garante a formulação de um parâmetro para a discussão geral. Assim
sendo, a base tirada dos apócrifos para interpretar os Padres da Igreja não é
tão segura, a ponto de esperar a mesma linguagem, os mesmos elementos, etc. Para
mostrar melhor esse modelo seria preciso muitos textos de autores mortalistas
que podem ser interpretados facilmente como imortalistas. O exemplo do texto de
A Vingança do Salvador é fortíssimo. Aliás, o termo alma aparece no capítulo 9 aberto
para a conotação que lhe queira dar um mortalista: “com todo o meu coração e
com toda a minha alma”. Mesmo no capítulo 33 isso é possível, já que usa a
mesma linguagem bíblica, e essa é interpretada pelos mortalistas conforme seu
sistema: “mas sim confirma minha alma e meu corpo e coloca-os em teu reino”.
Mas o capítulo 7 permite uma leitura já um tanto ambígua: “com minhas próprias
mãos teria dado a morte aos corpos daqueles judeus”. Estaria concedendo à alma
sua natureza imortal¿ No capítulo 20 e em outros fala-se dos corpo de Jesus.
Assim, esse é um exemplo de texto que pode ser lido pelo viés mortalista, ainda
que o autor tenha indicado o mesmo como exemplo de fonte claramente
imortalista. E tal documento é datado do século 8. O que não é possível é
formular uma tese robusta do mortalismo a partir dessas fontes. Como não é
possível pela Bíblia.
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