Partindo da obra do historiador Veit Valentin é possível chegar
a uma conclusão importante sobre essa “inquisição” tão apregoada e motivos de
acalorados e acirrados debates na apologética católica e protestante.
Para uma averiguação mais geral da questão, abaixo estarão
resumidos ao máximo os textos que fornecem o entendimento do que se pretende mostrar e ajudam
na formação da opinião a respeito desse tema.
Dessa forma, para chegar a ele serão citadas algumas passagens
que podem deixar claras certas nuances, amadurecer o assunto e dar certa solidez
à posição a que se propõe chegar. No final há sugestões de artigos para aprofundamento do tema.
O que o historiador Veit
Valentim diz a respeito do de Lutero em relação aos camponeses:
Primeiro, que Lutero quis ser um conciliador. Mas, vendo que
não tinha esperança de conseguir a paz, pôs do lado dos príncipes.
“... e descarregou como uma bomba
o seu escrito... Um documento de inclemência e de ódio, só compreensível como
arma de combate contra o diabo, que Lutero via atuando ativamente em Tomaz
Münzer e nos seus.”[1]
As autoridades não precisavam de Lutero para defender-se, mas
Lutero foi favorável ao massacre, de acordo com o historiador, que afirma a
indignação do mundo vendo um homem da Igreja “incitando
os poderosos contra os deserdados da sorte”, e a indiferença e até o
ódio que os camponeses tiveram de Lutero a partir de então.
O que o historiador Veit
Valentim diz a respeito da nova Igreja fundada por Lutero:
“Surgem ... teologia e
intolerância; surge a Igreja nacional evangélica, ortodoxa num certo sentido
papista sem Papa, ... uma nova instituição autoritária da fé cristã...”[2]
O que o historiador Veit
Valentim diz a respeito do temperamento de Lutero:
Bem, entre outras coisas, ele afirma sobre Lutero após o casamento
com a ex-freira Catarina von Bora:
“O tom de Lutero nunca foi afável
mas adquiriu por esse tempo uma violência e um descomedimento que podia fazer mêdo.”[3]
O que o historiador Veit
Valentim diz a respeito das aspirações de João Calvino:
“Calvino desde o começo queria
mais do que uma disciplina eclesiástica apostólica; o pregador e professor
aspirava ao poder.”
O historiador afirma que Calvino era rígido pensador, rígido
estadista. Que reduziu Genebra à obediência, que tudo era feito conforme sua
vontade, que a moral religiosa de Genebra era “absolutista e terrorista” (sic).
“Calvino passou a ser a própria
Genebra; nada se realizou na comunidade sem o seu beneplácito.” [4]
Afirma que não havia complacência com nenhuma outra doutrina.
1)
Espionagem:
“Os
professores era espionados pelos discípulos, os pais pelos filhos...”
2)
Execuções:
“...em quatro anos houve... 58
execuções e 76 desterros.”
3)
Muitos inocentes:
“... muitos inocentes foram
acusados, submetidos a processo por bruxaria e condenados à morte.”[5]
O que o historiador Veit
Valentim diz a respeito de Calvino diante de oposições:
“Calvino perseguia a crítica às
suas opiniões com a tortura e a espada, como blasfêmia e sedução.”[6]
Valentim afirma que o calvinismo “era
mais papista que o Papado de então”. Com suas autoridades, eleitores,
anciãos, tribunal, consistório, afirma o historiador, “não
tolerava nenhuma liberdade, nenhum gôzo, nenhuma crítica, qualquer manifestação
de alegria ...”.
Mais adiante, o historiador afirma que o calvinismo
despertava autoridade moral e espiritual. Essa frase agradaria a todos os
reformados, mas ele continua afirmando que, diferentemente do luteranismo, “contra a violência empregava a violência: o que era
contrário a Deus, o que importava em ser também contra Calvino devia, tinha de
ser combatido, exterminado.”[7]
Dessas palavras, faz-se a distinção entre os luteranos e os
calvinistas da época, embora já tenha apontado certa diferença entre as
práticas relativas à liberdade, valor tão ressaltado no século 21, e a forma
com que a igreja nascente luterana concebia seu papel de autoridade. De Lutero
e do luteranismo o retrato é mais quietista e pacífico.
Depois, o historiador mostra o lado calvinista, e da própria
pessoa do reformador João Calvino, como algo bem diferente do espírito liberal
e democrático.
O presente artigo não faz juízo de valor em relação à
historiografia de Veit Valentim, apenas apresenta algumas afirmações suas, para
que o leitor possa conhecer melhor o estilo e julgamentos do autor em relação ao tema chamado de "inquisição protestante". A pergunta
já pode ser respondida. Se isso tem outro nome, ou se foi caso isolado, é outra
coisa. Nisso tudo estão fatos.
Gledson Meireles.
[1] Idem.
p. 265
[2] Idem.
pp. 269-70 O historiador continua falando da ligação das doutrinas antigas, da
fé na Bíblia e etc. O texto acima foi arbitrariamente selecionado apenas para
mostrar certas afirmações do historiador a respeito do assunto. Ele é mais
indulgente com Lutero, afirmando mesmo que, o caso da bigamia de Filipe honra e
revela isenção de preconceito do reformador.
[3]
Tomo II, p. 272
[4] Ibid.
p. 277.
[5] Ibid.
[6] Ibid.
[7] Ibid,
p. 279.
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