domingo, 18 de novembro de 2018

Existiu uma Inquisição Protestante?

Partindo da obra do historiador Veit Valentin é possível chegar a uma conclusão importante sobre essa “inquisição” tão apregoada e motivos de acalorados e acirrados debates na apologética católica e protestante.

Para uma averiguação mais geral da questão, abaixo estarão resumidos ao máximo os textos que fornecem o entendimento do que se pretende mostrar e ajudam na formação da opinião a respeito desse tema.

Dessa forma, para chegar a ele serão citadas algumas passagens que podem deixar claras certas nuances, amadurecer o assunto e dar certa solidez à posição a que se propõe chegar. No final há sugestões de artigos para aprofundamento do tema.

O que o historiador Veit Valentim diz a respeito do de Lutero em relação aos camponeses:

Primeiro, que Lutero quis ser um conciliador. Mas, vendo que não tinha esperança de conseguir a paz, pôs do lado dos príncipes.

... e descarregou como uma bomba o seu escrito... Um documento de inclemência e de ódio, só compreensível como arma de combate contra o diabo, que Lutero via atuando ativamente em Tomaz Münzer e nos seus.[1]

As autoridades não precisavam de Lutero para defender-se, mas Lutero foi favorável ao massacre, de acordo com o historiador, que afirma a indignação do mundo vendo um homem da Igreja “incitando os poderosos contra os deserdados da sorte”, e a indiferença e até o ódio que os camponeses tiveram de Lutero a partir de então.

O que o historiador Veit Valentim diz a respeito da nova Igreja fundada por Lutero:

Surgem ... teologia e intolerância; surge a Igreja nacional evangélica, ortodoxa num certo sentido papista sem Papa, ... uma nova instituição autoritária da fé cristã...[2]

O que o historiador Veit Valentim diz a respeito do temperamento de Lutero:

Bem, entre outras coisas, ele afirma sobre Lutero após o casamento com a ex-freira Catarina von Bora:

O tom de Lutero nunca foi afável mas adquiriu por esse tempo uma violência e um descomedimento que podia fazer mêdo.[3]

O que o historiador Veit Valentim diz a respeito das aspirações de João Calvino:

Calvino desde o começo queria mais do que uma disciplina eclesiástica apostólica; o pregador e professor aspirava ao poder.

O historiador afirma que Calvino era rígido pensador, rígido estadista. Que reduziu Genebra à obediência, que tudo era feito conforme sua vontade, que a moral religiosa de Genebra era “absolutista e terrorista” (sic).

Calvino passou a ser a própria Genebra; nada se realizou na comunidade sem o seu beneplácito.[4]

Afirma que não havia complacência com nenhuma outra doutrina.

1)   Espionagem:

Os professores era espionados pelos discípulos, os pais pelos filhos...

 

2)   Execuções:

...em quatro anos houve... 58 execuções e 76 desterros.

3)   Muitos inocentes:

... muitos inocentes foram acusados, submetidos a processo por bruxaria e condenados à morte.[5]

O que o historiador Veit Valentim diz a respeito de Calvino diante de oposições:

Calvino perseguia a crítica às suas opiniões com a tortura e a espada, como blasfêmia e sedução.[6]

Valentim afirma que o calvinismo “era mais papista que o Papado de então”. Com suas autoridades, eleitores, anciãos, tribunal, consistório, afirma o historiador, “não tolerava nenhuma liberdade, nenhum gôzo, nenhuma crítica, qualquer manifestação de alegria ...”.

Mais adiante, o historiador afirma que o calvinismo despertava autoridade moral e espiritual. Essa frase agradaria a todos os reformados, mas ele continua afirmando que, diferentemente do luteranismo, “contra a violência empregava a violência: o que era contrário a Deus, o que importava em ser também contra Calvino devia, tinha de ser combatido, exterminado.[7]

Dessas palavras, faz-se a distinção entre os luteranos e os calvinistas da época, embora já tenha apontado certa diferença entre as práticas relativas à liberdade, valor tão ressaltado no século 21, e a forma com que a igreja nascente luterana concebia seu papel de autoridade. De Lutero e do luteranismo o retrato é mais quietista e pacífico.

Depois, o historiador mostra o lado calvinista, e da própria pessoa do reformador João Calvino, como algo bem diferente do espírito liberal e democrático.

O presente artigo não faz juízo de valor em relação à historiografia de Veit Valentim, apenas apresenta algumas afirmações suas, para que o leitor possa conhecer melhor o estilo e julgamentos do autor em relação ao tema chamado de "inquisição protestante". A pergunta já pode ser respondida. Se isso tem outro nome, ou se foi caso isolado, é outra coisa. Nisso tudo estão fatos.

 
Sugestões de leitura: 1 2

 
 
Gledson Meireles.


[1] Idem. p. 265
[2] Idem. pp. 269-70 O historiador continua falando da ligação das doutrinas antigas, da fé na Bíblia e etc. O texto acima foi arbitrariamente selecionado apenas para mostrar certas afirmações do historiador a respeito do assunto. Ele é mais indulgente com Lutero, afirmando mesmo que, o caso da bigamia de Filipe honra e revela isenção de preconceito do reformador.
[3] Tomo II, p. 272
[4] Ibid. p. 277.
[5] Ibid.
[6] Ibid.
[7] Ibid, p. 279.

Nenhum comentário:

Postar um comentário