“E se alguém se aproximava para se
prostrar diante dele, estendia a mão, detinha-o e beijava-o. Assim
fazia Absalão com todos os israelitas que vinham procurar o rei para qualquer
julgamento. E desse modo conquistou os corações dos israelitas.” (2 Samuel
15,5-6)
O gesto de prostração
mostrava profunda reverência diante de quem se prostrava. Isso exprimia a
humildade daquele que se prostrava, era um modo de humilhação do coração. Dessa
forma, Absalão pôde ganhar muitos para o seu partido ao dispensar os que vinham
a ele de se prostrar.
Assim, quando alguém
aproximava-se para ir prostrar-se, como era de se esperar, Absalão logo tomava
a atitude de impedir que isso fosse feito, e ele mesmo mostrava outros gestos para
convencer o outro, como o beijo, passando-se como alguém humilde. Os israelitas
sentiram-se lisonjeados por ter sido elevados por Absalão naquela atitude de
reverência, pois quando iam fazer a prostração Absalão tocava-os e detinha-os
do gesto, fazendo ele mesmo uma reverência diversa. Ele devolvia ao súdito a
reverência através do beijo.
Com essa escritura,
temos expresso o valor do ato de prostrar-se. Sendo ele uma atitude bastante
humilde, quando isso foi dispensado naquele momento, a pessoa entendia aquilo
como uma demonstração de notável caráter, por não fazer questão de uma
reverência que lhe era devida, mostrando assim uma atitude lisonjeira. Não
demorou, portanto, para que os israelitas ficassem do lado de Absalão.
A prostração diante do
rei era um dever. Assim, vemos a mulher da cidade de Tícua, que foi mandada por
Joab à presença do rei, para uma trama contra Absalão. Ela foi até o rei Davi: “A mulher veio, pois, de Tícua e
apresentou-se ao rei; lançou-se por terra e
prostrou-se, dizendo: “Salva-me, ó rei, salva-me!”. (2 Samuel 14,4)
Após o rei Davi
perceber que aquilo era um plano de Joab, perguntou à mulher que confessou a
verdade. Então, ela disse a Davi: “... és
tão sábio como um anjo de Deus, para
saber tudo o que se passa na terra.” (2 Samuel 14,20) São palavras
que denotam a veneração de uma pessoa perante o rei, e que está de acordo com a
dignidade real. Em outras palavras, essa veneração é mostrada na prostração,
nas palavras e no reconhecimento: o rei é comparado a um anjo do Senhor que
possui conhecimento além do humano.
Quando Davi fala a Joab
sobre sua resolução, após ter ouvido a mulher, observemos como foi a atitude de
Joab:
“Joab prostrou-se com o rosto
por terra e abençoou o rei, dizendo: “Agora, o teu servo reconhece que ganhou o teu favor, ó
rei, meu senhor, pois que o rei cumpriu o desejo de seu servo”. (2
Samuel 14,22)
Passando dois anos Absalão
vai à presença de Davi: “Joab foi ter com
o rei e contou-lhe tudo. Absalão foi chamado, entrou na presença do rei e prostrou-se diante dele com o rosto por
terra. E o rei o beijou”. (1 Samuel 14,33) Vemos assim que Absalão
fazia com o rei, beijando aquele a quem ele amava, como fez com seu filho Joab.
O que mudou, porém, foi deter que os outros viessem até ele e o saudasse com a
prostração, sinal da servidão. Ele mesmo devotava aqueles gestos e sentimentos,
e alegava não exigir isso dos outros para com ele.
Absalão queria tomar o
trono real, e proclamou-se rei em Hebron. Davi fugiu, pois sabia não poder
resistir a um ataque de Absalão.
Então, transportaram a
arca, o sacerdote Sadoc e os levitas, e mostrou Davi a veneração que tinha para
com a arca e o tempo:
“Veio também Sadoc com todos os seus levitas, trazendo a arca da aliança
de Deus. Depuseram-na, enquanto Abiatar subia e até que tivesse passado todo o
povo que tinha saído da cidade. Disse então o rei a Sadoc: “Reconduz a arca de
Deus à cidade. Se eu achar graça aos olhos do Senhor, ele me reconduzirá e
me fará revê-la, bem como o lugar de sua habitação.” (2 Samuel
15,24-25. Cf. prostração em 2 Reis 2,15 e 2 Reis 5) Davi deseja viver, e voltar
a Jerusalém, e por isso pede a graça de rever a arca e o templo onde ela
habita.
Diante desses fatos
incontestáveis, temos a prostração como gesto de veneração importante praticado
pelos judeus, em diversos contextos, tanto social como político e, sobretudo,
religioso. Acrescentam-se ao fato as palavras de reconhecimento, tais como
“senhor”, e o testemunho da “graça” alcançada diante o soberano humano, como as
expressões floreadas afirmando que o rei é um “anjo” que tudo ou muito conhece
do que se passa na terra. Ainda, é importante a distinção que se faz da arca do
Senhor e do templo em que ela habita, fato já demonstrado, expressando o
sentimento tanto por um como pelo outro, e devotando gestos de veneração
igualmente por ambos.
1)
Coloque-se no lugar de um fiel
israelita, e veja se você é capaz, como servo de Deus no Novo Testamento, de
curvar-se ou mesmo prostrar-se diante de um servo de Deus, e expressar-lhe
homenagens chamando-o de anjo, afirmando que obteve dele a graça de ser
atendido, ou que você é capaz de ter os sentimentos tão altos como tinham os
judeus para com a arca e o templo.
Gledson Meireles.
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