segunda-feira, 2 de janeiro de 2017


PARTE BÍBLICA

A arca da aliança

Farão uma arca de madeira de acácia; seu comprimento será de dois côvados e meio, sua largura de um côvado e meio, e sua altura de um côvado e meio. Tu a recobrirás de ouro puro por dentro, e farás por fora, em volta dela, uma bordadura de ouro.” (Êxodo 25,10-11)

A bela arca da aliança foi construída e colocada no Tabernáculo. Foi feita de madeira de lei, e revestida de ouro por dentro, tendo bordadura de ouro por fora, e quatro argolas de ouro, por onde deveriam passar os dois varais de madeira também cobertos de ouro, para quando fosse transportada. (cf. Êxodo 25,10-16)

Por cima da arca havia dois querubins de madeira cobertos de ouro, sobre a tampa, também de ouro puro. De entre os querubins, do meio deles, o Senhor Deus vinha falar a Moisés: “Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa, do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as minhas ordens para os israelitas.” (v. 22) A arca era a imagem sagrada onde era guardada a Lei dos 10 mandamentos.[1]

 

Habitação de Deus no Templo

Deus estava no Tabernáculo, como afirma o verso 8 do mesmo capítulo 25 de Êxodo: “Eles me farão um santuário e habitarei no meio deles”. No entanto, a Sagrada Escritura afirma que o Senhor Deus não habita em casa feita por mãos humanas, mas afirma também que, tanto a Tenda da Reunião quanto o Templo eram, de alguma forma, e em certo sentido, a habitação de Deus entre o povo. Portanto, devemos entender esse modo de habitação do Senhor.

A Escritura mostra que Deus dignou-Se em vir frequentemente encher o santuário com Sua glória, guiar o povo, dar Suas instruções, falar com os judeus. E o lugar da comunicação dava-se do meio dos querubins, que são duas imagens de escultura de anjos dourados, em cima da tampa de ouro puríssimo sobre a arca da aliança.

Com a construção do templo em Nome do Senhor (1 Reis 5,3), no ano 480 da saída dos israelitas do Egito (1 Reis 6,1), a arca foi nele colocada. No templo de Salomão, a arca da aliança ficava no Santo dos Santos, onde havia dois querubins de oliveira cobertos de ouro. (1 Reis 6,23.28) Esses eram imponentes e tinham aproximadamente cinco metros de altura (10 côvados).

Assim, o templo era muitíssimo venerado, pois as orações eram ouvidas quando eram feitas nele, as mãos eram erguidas em direção a ele, o estrangeiro devia nele rezar[2], e quando os judeus estivessem distantes do templo, por causa das guerras, deviam rezar para a direção de Jerusalém e do Templo. É necessário observar a distinção da importância espiritual própria de Jerusalém e do valor espiritual também do templo. Por isso não é dito apenas Jerusalém, ou somente é referido o templo, mas ambos são mencionados: Jerusalém e o Templo, sendo o Templo a localização mais exata, o lugar onde está simbolizada a habitação de Deus:

Quando o céu se fechar e não cair mais chuva, por terem pecado contra vós, se vierem orar neste lugar, dando glória ao vosso nome e se converterem de seus pecados por causa e sua aflição”. (1 Rs 8,35)

Se um homem, se todo o vosso povo recorrer a vós com orações e súplicas e se cada um, reconhecendo a chaga de seu coração, levantar as mãos para este templo”. (1 Rs 8,38)

Porque se ouvirá falar da grandeza de vosso nome, da força de vossa mão e do poder de vosso braço – quando vier orar neste templo, ouvi-o do alto dos céus, do alto de vossa morada, ouvi-o e fazei tudo o que esse estrangeiro vos pedir”. (1 Rs 8,42-43)

Quando o vosso povo partir para a guerra contra os seus inimigos, seguindo o caminho que lhe indicastes, se vos invocarem com o rosto voltado para a cidade que escolhestes, para o templo que edifiquei ao vosso nome, ouvi do alto dos céus as suas preces e súplicas e fazei-lhe justiça”. (1 Rs 8,44-45)

A Bíblia afirma que o Senhor assenta-Se sobre os querubins, e é nessa simbologia que a arca foi construída: “Davi pô-se a caminho com toda a sua gente, indo a Baala de Judá, para trazer dali a arca de Deus, sobre a qual é invocado o nome do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os querubins.”. (2 Samuel 6,2)

Os versos 43 e 45 mostram que Deus tem a morada no alto dos céus, o que diferencia de sua habitação no templo. Definitivamente, Deus habita o céu, mas há um modo de habitação no Templo. Por isso, ao pôr-se diante da arca devia-se invocar o Nome de Deus, para que viesse ter com o povo ali, na arca, que era guardada no lugar santíssimo do templo. Como dito antes, Deus vinha ao templo para enchê-lo com Sua presença e glória, para habitar entre o povo, mas era uma habitação especial, pois a Bíblia é clara ao afirmar, ainda que entendendo e considerando a onipresença de Deus, afirma que o Senhor Deus mora nos céus. A habitação do Senhor no templo é uma habitação diferente, que serve de referência ao povo, e que tem sua acepção espiritual, e por isso é, nesse sentido profundo, a Casa do Senhor.

Dessa forma, é importante entender que o templo representa a presença de Deus, e a arca de forma especialíssima é a imagem que simboliza essa mesma presença de Deus. No entanto, a arca é apresentada como o “lugar” da aliança, pois ela simboliza o pacto que o Senhor fez com o povo, a aliança sagrada de Deus com Israel. A imagem da arca evoca a realidade da aliança divina: “Preparei um lugar para a arca, onde se encontra a aliança do Senhor, aliança que fez com nossos pais quando os tirou do Egito.” (cf. 1 Reis 8,21)

Deus não estava sempre com a Sua glória em todo o tempo no interior do Templo, como também não estava dentro da arca, nem estava no meio das imagens dos querubins. Ele vinha àquele lugar quando queria falar ao povo, quando julgasse isso necessário. Mas, tinha o santuário do templo como especial lugar para estar na terra, no meio do povo. E, quando desejava mostrar Sua presença, a nuvem enchia o templo.

Por isso, a Escritura afirma que o Senhor Deus habita na nuvem: “Quando os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o Templo do Senhor, de modo que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu ministério; porque a glória do Senhor enchia o Templo do Senhor. Então Salomão disse: “O Senhor declarou que habitaria na obscuridade. Por isso, edifiquei uma casa para vossa residência, um lugar onde habitareis para sempre.”[3]

Essa presença mais marcante do Senhor na nuvem de glória acontecia desde o tabernáculo que Moisés havia construído, e que Deus usava para guiar o povo de Israel. (cf. Êxodo 40,36-38) Então, o templo, e em especial a arca, eram sempre grandemente louvados e venerados pelos israelitas.

 

Davi temeu a Arca de Deus

Depois do episódio ocorrido durante a procissão de transporte da Arca de Deus para Jerusalém, onde Oza tocou na arca e foi ferido de morte por isso, o rei Davi ficou temeroso de receber a arca em sua casa, mandando que a levassem para a casa de Obed-Edom. A arca ficou ali durante três meses. Assim está escrito: “Naquele dia, Davi teve medo do Senhor e disse: Como entrará a arca do Senhor em minha casa?” E não quis deixá-la entrar em sua casa, na Cidade de Davi; mandou levá-la par a casa de Obed-Edom, natural de Gat. Ficou a arca do Senhor três meses na casa de Obed-Edom de Gat e o Senhor abençoou-o com toda a sua família.” (2 Samuel 6,9-11)

Essa passagem mostra que a arca era considerada um objeto de valor religioso máximo, sendo reconhecida em sua acepção de objeto material pelo qual o Senhor tinha enorme zelo. Não somente isso. Deus mesmo ratificava essa crença dos filhos de Israel, pois castigava qualquer deslize para com a arca.

O rei Davi temeu o Senhor pelo que viu acontecer com Oza, e assim não quis receber a arca em sua casa. Sendo levada à casa de Obed-Edom, Deus abençoou a esse como também a toda a sua família. Vê-se então que a arca era considerada uma imagem de grande sentido religioso, que podia trazer as bênçãos de Deus. E isso de fato acontecia.

Foi anunciado ao rei que o Senhor abençoava a casa de Obed-Edom e todos os seus bens por causa da arca de Deus. Foi então Davi e fê-la transportar da casa de Obed-Edom para a Cidade de Davi, no meio de grandes regozijos.” (2 Samuel 6,12) No transporte da arca, com grande pompa e muita piedade, numa procissão magnífica, 1) o rei dançava, 2) o povo gritava de alegria, 3) sacrificavam bois e bezerros, 4) tocavam trombetas. Foi uma verdadeira cerimônia (v. 18), terminada com uma refeição para todos, onde comeram bolo, carne e torta. (2 Samuel 6,19)

Essas expressões de fé do povo de Deus para com a arca foram sempre acolhidas, ratificadas, naturalmente realizadas, e encontram-se entre as práticas religiosas corretas encontradas na Bíblia.



[1] É importante perceber aqui que não é dito que os querubins sobre a arca são o foco do estudo, mas que a própria arca, completa em sua estrutura (obviamente incluindo os querubins) é a imagem que o estudo tem como referência total.
[2] O mesmo sentido de orar. É muito comum, em português, distinguir rezar e orar, tendo a primeira palavra o sentido técnico de repetir uma oração escrita, lendo-a ou de memória, enquanto a segunda é geralmente ligada ao surgimento espontâneo da oração, feita com palavras próprias de quem ora. Porém, tanto a recitação de uma oração pronta como a realização de uma oração espontânea devem ser feitos com fé, brotar do espírito com a intenção de elevar a alma ao Senhor Deus. Isso é o que configura a oração.
[3] 1) Para refletir: Deus habitava dentro da arca da aliança? O que diz a Bíblia?

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