PARTE BÍBLICA
A arca da aliança
“Farão uma arca de madeira de acácia; seu comprimento será de dois
côvados e meio, sua largura de um côvado e meio, e sua altura de um côvado e
meio. Tu a recobrirás de ouro puro por dentro, e farás por fora, em volta dela,
uma bordadura de ouro.” (Êxodo 25,10-11)
A bela arca da aliança
foi construída e colocada no Tabernáculo. Foi feita de madeira de lei, e
revestida de ouro por dentro, tendo bordadura de ouro por fora, e quatro
argolas de ouro, por onde deveriam passar os dois varais de madeira também
cobertos de ouro, para quando fosse transportada. (cf. Êxodo 25,10-16)
Por cima da arca havia
dois querubins de madeira cobertos de ouro, sobre a tampa, também de ouro puro.
De entre os querubins, do meio deles, o Senhor Deus vinha falar a Moisés: “Ali virei ter contigo, e é de cima da tampa,
do meio dos querubins que estão sobre a arca da aliança, que te darei todas as
minhas ordens para os israelitas.” (v. 22) A arca era a imagem sagrada onde
era guardada a Lei dos 10 mandamentos.[1]
Habitação de Deus no Templo
Deus estava no Tabernáculo,
como afirma o verso 8 do mesmo capítulo 25 de Êxodo: “Eles me farão um santuário e habitarei no meio deles”. No entanto,
a Sagrada Escritura afirma que o Senhor Deus não habita em casa feita por mãos
humanas, mas afirma também que, tanto a Tenda da Reunião quanto o Templo eram, de
alguma forma, e em certo sentido, a habitação de Deus entre o povo. Portanto,
devemos entender esse modo de habitação do Senhor.
A Escritura mostra que
Deus dignou-Se em vir frequentemente encher o santuário com Sua glória, guiar o
povo, dar Suas instruções, falar com os judeus. E o lugar da comunicação
dava-se do meio dos querubins, que são duas imagens de escultura de anjos
dourados, em cima da tampa de ouro puríssimo sobre a arca da aliança.
Com a construção do
templo em Nome do Senhor (1 Reis 5,3), no ano 480 da saída dos israelitas do
Egito (1 Reis 6,1), a arca foi nele colocada. No templo de Salomão, a arca da
aliança ficava no Santo dos Santos, onde havia dois querubins de oliveira
cobertos de ouro. (1 Reis 6,23.28) Esses eram imponentes e tinham
aproximadamente cinco metros de altura (10 côvados).
Assim, o templo era
muitíssimo venerado, pois as orações eram ouvidas quando eram feitas nele, as
mãos eram erguidas em direção a ele, o estrangeiro devia nele rezar[2], e
quando os judeus estivessem distantes do templo, por causa das guerras, deviam
rezar para a direção de Jerusalém e do Templo. É necessário observar a
distinção da importância espiritual própria de Jerusalém e do valor espiritual
também do templo. Por isso não é dito apenas Jerusalém, ou somente é referido o
templo, mas ambos são mencionados: Jerusalém e o Templo, sendo o Templo a
localização mais exata, o lugar onde está simbolizada a habitação de Deus:
“Quando o céu se fechar e não cair mais chuva, por terem pecado contra
vós, se vierem orar neste lugar,
dando glória ao vosso nome e se converterem de seus pecados por causa e sua
aflição”. (1 Rs 8,35)
“Se um homem, se todo o vosso povo recorrer a vós com orações e súplicas
e se cada um, reconhecendo a chaga de seu coração, levantar as mãos para este templo”. (1 Rs 8,38)
“Porque se ouvirá falar da grandeza de vosso nome, da força de vossa mão
e do poder de vosso braço – quando
vier orar neste templo, ouvi-o do alto dos céus, do alto de vossa
morada, ouvi-o e fazei tudo o que esse estrangeiro vos pedir”. (1 Rs
8,42-43)
“Quando o vosso povo partir para a guerra contra os seus inimigos,
seguindo o caminho que lhe indicastes, se vos invocarem com o rosto voltado para a cidade que escolhestes, para o templo que
edifiquei ao vosso nome, ouvi do alto dos céus as suas preces e
súplicas e fazei-lhe justiça”. (1 Rs 8,44-45)
A Bíblia afirma que o
Senhor assenta-Se sobre os querubins, e é nessa simbologia que a arca foi
construída: “Davi pô-se a caminho com
toda a sua gente, indo a Baala de Judá, para trazer dali a arca de Deus, sobre
a qual é invocado o nome do Senhor dos exércitos, que se assenta sobre os
querubins.”. (2 Samuel 6,2)
Os versos 43 e 45
mostram que Deus tem a morada no alto dos céus, o que diferencia de sua
habitação no templo. Definitivamente, Deus habita o céu, mas há um modo de
habitação no Templo. Por isso, ao pôr-se diante da arca devia-se invocar o Nome
de Deus, para que viesse ter com o povo ali, na arca, que era guardada no lugar
santíssimo do templo. Como dito antes, Deus vinha ao templo para enchê-lo com Sua
presença e glória, para habitar entre o povo, mas era uma habitação especial, pois
a Bíblia é clara ao afirmar, ainda que entendendo e considerando a onipresença
de Deus, afirma que o Senhor Deus mora nos céus. A habitação do Senhor no
templo é uma habitação diferente, que serve de referência ao povo, e que tem
sua acepção espiritual, e por isso é, nesse sentido profundo, a Casa do Senhor.
Dessa forma, é
importante entender que o templo representa a presença de Deus, e a arca de
forma especialíssima é a imagem que simboliza essa mesma presença de Deus. No
entanto, a arca é apresentada como o “lugar” da aliança, pois ela simboliza o
pacto que o Senhor fez com o povo, a aliança sagrada de Deus com Israel. A
imagem da arca evoca a realidade da aliança divina: “Preparei um lugar para a arca, onde se encontra a aliança do Senhor,
aliança que fez com nossos pais quando os tirou do Egito.” (cf. 1 Reis 8,21)
Deus não estava sempre
com a Sua glória em todo o tempo no interior do Templo, como também não estava
dentro da arca, nem estava no meio das imagens dos querubins. Ele vinha àquele
lugar quando queria falar ao povo, quando julgasse isso necessário. Mas, tinha o
santuário do templo como especial lugar para estar na terra, no meio do povo. E,
quando desejava mostrar Sua presença, a nuvem enchia o templo.
Por isso, a Escritura
afirma que o Senhor Deus habita na nuvem: “Quando
os sacerdotes saíram do lugar santo, a nuvem encheu o Templo do Senhor, de modo
que os sacerdotes não puderam ali ficar para exercer as funções de seu
ministério; porque a glória do Senhor enchia o Templo do Senhor. Então Salomão
disse: “O Senhor declarou que habitaria na obscuridade. Por isso, edifiquei uma
casa para vossa residência, um lugar onde habitareis para sempre.””[3]
Essa presença mais
marcante do Senhor na nuvem de glória acontecia desde o tabernáculo que Moisés
havia construído, e que Deus usava para guiar o povo de Israel. (cf. Êxodo
40,36-38) Então, o templo, e em especial a arca, eram sempre grandemente
louvados e venerados pelos israelitas.
Davi temeu a Arca de Deus
Depois do episódio
ocorrido durante a procissão de transporte da Arca de Deus para Jerusalém, onde
Oza tocou na arca e foi ferido de morte por isso, o rei Davi ficou temeroso de
receber a arca em sua casa, mandando que a levassem para a casa de Obed-Edom. A
arca ficou ali durante três meses. Assim está escrito: “Naquele dia, Davi teve medo do Senhor e disse: “Como entrará a arca do Senhor em minha
casa?” E não quis deixá-la entrar em sua casa, na Cidade de Davi; mandou levá-la
par a casa de Obed-Edom, natural de Gat. Ficou a arca do Senhor três meses na
casa de Obed-Edom de Gat e o Senhor abençoou-o com toda a sua família.” (2
Samuel 6,9-11)
Essa passagem mostra
que a arca era considerada um objeto de valor religioso máximo, sendo
reconhecida em sua acepção de objeto material pelo qual o Senhor tinha enorme
zelo. Não somente isso. Deus mesmo ratificava essa crença dos filhos de Israel,
pois castigava qualquer deslize para com a arca.
O rei Davi temeu o
Senhor pelo que viu acontecer com Oza, e assim não quis receber a arca em sua
casa. Sendo levada à casa de Obed-Edom, Deus abençoou a esse como também a toda
a sua família. Vê-se então que a arca era considerada uma imagem de grande
sentido religioso, que podia trazer as bênçãos de Deus. E isso de fato
acontecia.
“Foi anunciado ao rei que o Senhor abençoava
a casa de Obed-Edom e todos os seus bens por
causa da arca de Deus. Foi então Davi e fê-la transportar da casa de
Obed-Edom para a Cidade de Davi, no meio de grandes regozijos.” (2 Samuel
6,12) No transporte da arca, com grande pompa e muita piedade, numa procissão
magnífica, 1) o rei dançava, 2) o povo gritava de alegria, 3) sacrificavam bois
e bezerros, 4) tocavam trombetas. Foi uma verdadeira cerimônia (v. 18),
terminada com uma refeição para todos, onde comeram bolo, carne e torta. (2
Samuel 6,19)
Essas expressões de fé
do povo de Deus para com a arca foram sempre acolhidas, ratificadas, naturalmente
realizadas, e encontram-se entre as práticas religiosas corretas encontradas na
Bíblia.
[1] É importante perceber aqui que não é
dito que os querubins sobre a arca são o foco do estudo, mas que a própria
arca, completa em sua estrutura (obviamente incluindo os querubins) é a imagem
que o estudo tem como referência total.
[2] O mesmo sentido de orar. É muito
comum, em português, distinguir rezar e orar, tendo a primeira palavra o
sentido técnico de repetir uma oração escrita, lendo-a ou de memória, enquanto
a segunda é geralmente
ligada ao surgimento espontâneo da oração, feita com palavras próprias de quem
ora. Porém, tanto a recitação de uma oração pronta como a realização de uma
oração espontânea devem ser feitos com fé, brotar do espírito com a intenção de
elevar a alma ao Senhor Deus. Isso é o que configura a oração.
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