segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

(continuação): entendendo o gesto da prostração...

Enquanto o rei disse não ser “deus” para curar, mostrando que somente Deus pode conferir a cura, o profeta apresenta sua própria pessoa, dizendo a Naamã que “venha” até ele, e que por isso haverá a manifestação de que há “profeta” na terra de Israel, a manifestação do próprio profeta. Notemos bem as palavras e atitude do rei e as palavras e atitude do profeta: o rei alegou estar entregando a glória a Deus, enquanto o profeta Eliseu mostrou-se, ele mesmo, ser um homem capaz de operar a cura naquele pagão atingido pela lepra. E o fez com sua confiança em Deus.

Quem glorificou a Deus? O rei que disse ser incapaz de curar, porque só Deus pode fazer isso? Ou o profeta que colocou-se na frente da questão e disse: “Que ele venha a mim e saberá que há um profeta em Israel”?

Muitos atualmente, com falsa modéstia, e falsa humildade, determinados por falsa doutrina, agem como o rei, afirmando que não aceitam a honra e a glória, e que entregam toda honra e glória somente a Deus. Diferentemente, o homem de Deus aceitou a honra de ser considerado o homem e profeta do Senhor que pode realizar aquele prodígio.

O desenrolar da história tornará muita coisa às claras. Primeiramente, Eliseu age por meio de um mensageiro. Ao invés de ir pessoalmente falar com Naamã, ele envia um porta-voz dizendo o que Naamã deve fazer. (2 Reis 5, 10)

Naamã expressa sua fé tanto no profeta como em Deus, quando diz o que pensavam que deveria ser feito, e o que esperava que acontecesse:

“Naamã se foi, despeitado, dizendo: “Eu pensavam que ele viria em pessoa e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar afetado e me curaria da lepra. Porventura, os rios de Damasco, o Abana e o Farfar não são melhores do que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lava neles e ficar limpo?”. (2 Reis 5,11-12)

Naamã sabia que o poder do profeta provinha de Deus. Sabia que ao invocar o Senhor e colocar a mão sobre ele, por esse gesto poderia obter a cura. Assim, Naamã estava glorificando a Deus e ao profeta de Deus. De fato, a glória do profeta é devida à glória de Deus, e ao crer no profeta estava ele crendo em Deus.

Muitos agem erroneamente pensando que atribuir qualquer honra a um homem tiraria a honra de Deus, e que isso seria idolatria, e fazendo assim estão imitando a postura do rei. Deviam, antes, tirar de exemplo a verdade mostrada pelo profeta, e imitar seu bom exemplo.

Naamã pediu a Eliseu a permissão de continuar a acompanhar seu senhor ao templo do deus pagão Remon, mas o faria apenas para ajudá-lo, e não para adorar com ele aquela divindade pagã.

Então disse: “Entretanto, que o Senhor perdoe ao teu servo o seguinte: Quando o meu soberano entrar no templo de Remon para adorar, apoiando-se no meu braço seja-me permitido também me prostrar no templo de Remon. E que o Senhor perdoe-se esse gesto ao teu servo. Eliseu respondeu: “Faze-o tranquilamente”. E Naamã o deixou.

A atitude de Eliseu é de uma lucidez incrível, tanto mais para o tempo em que isso aconteceu. Diante das intrigas entre Israel e as nações pagãs, e da proibição do Êxodo e do Deuteronômio, como de toda a doutrina bíblica, contra as divindades pagãs, e da prostração diante delas, permitir que um homem que reconheceu o Deus de Israel frequentar o templo pagão e ainda prostrar-se diante de um deus estrangeiro é de uma grande profundidade teológica. Essa passagem mostra que mesmo o ato de prostrar-se pode mudar de significado segundo o que passa-se no interior da pessoa, e é isso que constitui a verdadeira adoração. O determinante da adoração acontece no espírito do adorador, e é mostrado no ato físico.

Assim, o sírio sabendo o valor do ato de prostração, pede perdão quando isso ocorrer, pois não tinha mais a intenção de adorar o deus Remon: “E que o Senhor perdoe esse gesto ao teu servo”, sendo isso aceito pelo profeta Eliseu: “Faze-o tranquilamente”, que significa: “Vai em paz”, conforme nota da Bíblia Ave-Maria. Naamã iria prostrar-se sem adorar.
 
Gledson Meireles.

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