São vários os gestos
que podem mostrar a adoração, bem como também o respeito, a honra, a homenagem.
Pode ser a genuflexão, onde a pessoa abaixa-se sobre um dos joelhos para
reverenciar; também pode ser o ato de ajoelhar, onde os dois joelhos são
dobrados até o chão; pode ser a inclinação, onde o corpo volta-se um pouco para
a frente, com um leve abaixar da cabeça; como pode haver a prostração, onde a
pessoa abaixa-se em corpo inteiro à terra, fazendo o rosto descer até o chão.
Essa é a mais espetacular, a maior das reverências.
“Ouvi o sonho que tive: estávamos ligando feixes no campo, e eis que o
meu feixe se levantou e se pôs de pé, enquanto os vossos o cercavam e se prostravam diante dele”.
(Gênesis 37,6-7)
“José teve ainda outro sonho, que contou aos seus irmãos. “Tive – disse
ele – ainda um sonho: o sol, a lua e onze estrelas
prostravam-se diante de mim. Ele contou isso ao seu pai e aos seus
irmãos, mas foi repreendido por seu pai: “Que significa – disse-lhe ele – este
sonho que tiveste?” Viremos, acaso, eu, tua mãe e teus irmãos, a nos prostrar por terra diante de ti?”
(Gênesis 37, 9-10)
O sonho de José não foi
bem aceito entre os seus familiares, pai, mãe, irmãos. Jacó ficou nervoso ao
ouvir o sonho de que ele, sua esposa e demais filhos poderiam vir a prostrar-se
por terra diante do seu filho José. Por esse modo, vemos que a prostração tem
um sentido de reverência profunda, que pode trazer vários significados, como a
servidão, como o reconhecimento de dependência, e a reverência por uma alta
dignidade, como nesse episódio. Nesse caso, José devia prostrar-se diante de
Jacó, e não o contrário, como o sonho havia predito. Isso causou espécie em
Jacó.
Não obstante, alguns
anos mais tarde, os irmãos de José prostraram-se diante dele em Gênesis 42,6 como
havia revelado a profecia: “José era o
governador de toda a região, e era ele quem vendia o trigo a todo o mundo.
Desde sua chegada, os irmãos de José prostraram-se
diante dele com o rosto por terra.”
Assim, mostra-se que os
hebreus saudavam com a prostração mesmo uma autoridade estrangeira, um
governador ou rei pagão, visto que não sabiam que José era hebreu, e
reputavam-no como um desconhecido governante do Egito. Ainda, o sentido que a
prostração obteve ali era impensável para os parentes de José, pois no tempo em
que o sonho foi revelado ficaram muito preocupados e desgostosos com o pensamento
de que iriam prostrar-se diante do seu irmão.
“Os filhos dos profetas que estavam em Jericó, vendo o que acontecera
defronte deles, disseram: “O espírito de Elias repousa em Eliseu”. Foram-lhe ao
encontro, prostraram-se por terra
diante dele, e disseram: “Sabe que entre os teus servos há cinquenta
homens valentes, que podem ir em busca do teu amo. Talvez o tenha arrebatado o
Espírito do Senhor e atirado com ele para algum monte ou para algum vale”. “Não
os mandeis” – respondeu Eliseu”. (2 Reis 2,15)
A prostração também era
feita religiosamente, diante dos homens de Deus, os profetas. Assim, sabendo
que o espírito de Elias, ou seja, que o vigor, a força, as virtudes, os
carismas, que Elias havia recebido, e agora estavam sobre Eliseu, o grupo dos
profetas foi até ele e saudou-o com a prostração. Essa era a veneração que
prestavam a pessoas ilustres, e no caso de Eliseu sua honra devia-se a ser ele
um servo de Deus, sendo, portanto, uma veneração religiosa.
Entretanto, havia de
igual forma a honra política entre o Povo de Deus, prestada ao rei, tanto como
representante de Deus no poder temporal, como ungido do Senhor.
Para entender esses
gestos tão profundos de veneração, devemos contextualizar um pouco. Para isso,
é suficiente ler o capítulo 5 do segundo livro dos Reis. Lá é contada a
história de Naamã, general do exército do rei da Síria. Naamã era um leproso
(v.1)
Aconteceu que uma jovem
de Israel foi capturada e levada para a casa de Naamã, tornando-se serva da sua
mulher. Sabendo que Naamã era leproso, ela disse que o profeta que morava em
Samaria podia curá-lo. (vv. 2-3)
É importante ver a fé
do povo para com o profeta, que era visto como homem em que o poder de Deus
estava, e que podia operar milagres, ainda quando alguém o procurasse com tal
objetivo. O profeta podia operar a cura quando alguém o pedisse.
Naamã fica esperançoso,
e dirige-se ao rei para pedir permissão de ir a Israel a fim de ser curado. O
rei logo concede sua viagem e envia ao rei de Israel dinheiro e presentes,
pedindo que o mesmo cure o sírio: “Ao
receberes esta carta, saberás que te mando Naamã, meu servo, para que o cures
da lepra”. (v. 7. cf. vv. 5-7)
Nós devemos prestar
bastante atenção ao que diz o documento do rei da Síria, sobre o sentido de
suas palavras, e ver a fé que ele testemunha: o rei sírio acreditava que o rei
de Israel podia curar seu servo leproso.
A partir disso, devemos
também comparar com a fé do rei de Israel, a respeito do que foi dito sobre
ele, e como reagiu ao saber daquela incumbência, e o peso que concebia quanto a
estar sobre tamanha responsabilidade.
Assim, disse o rei de
Israel: “Sou eu, porventura, um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que esse me mande dizer que cure um homem da lepra?”
(cf. 2 Reis 5, 7)
Essas palavras
expressam a fé do povo a respeito do poder de curar: esse apanágio é exclusivo
de Deus. Todos sabem que somente o Deus soberano de toda a terra pode curar,
ainda mais uma doença terrível como era a lepra.
Contudo, o rei
mostra-se extremista, e faz uma dicotomia errônea entre o poder de Deus que
pode curar, e o homem que pode ser um intermediário para que essa cura seja
aplicada. O rei expressou sua total indignação contra a esperança do rei da
Síria, “rasgou as vestes” e disse não ser um deus para curar. Embora essas
palavras ajudem a entender a importância da cura, elas mostram um erro
tremendo: aquele rei pensava estar glorificando a Deus, no entanto suas
palavras testemunharam contra ele.
Isso é o que vemos no
verso seguinte: “Quando Eliseu, o homem
de Deus, soube que o rei tinha rasgado as vestes, mandou-lhe dizer: “Por que
rasgaste as tuas vestes? Que ele
venha a mim e saberá que há um profeta
em Israel”.
(continua)
Gledson Meireles.
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