Se Deus estivesse guiando os judeus em sua
definição do cânon ao Antigo Testamento, estaria também em outros assuntos,
como o da interpretação do respectivo cânon, com suas doutrinas e práticas.
Estaria confirmando sua decisão de rejeitar o Senhor Jesus Cristo, não
reconhecendo nEle o Messias profetizado no Antigo Testamento.
De fato, seria impossível saber
em que esfera os judeus estariam autorizados de agir (se essa existisse). Os
judeus ficariam com o Antigo Testamento e os cristãos (a Igreja) com o Novo
Testamento. Essa distinção é inexistente.
Entretanto, para quem crê em
Cristo, esse deveria perguntar-se onde está escrito isso na Bíblia? Onde é dito
que os judeus são responsáveis pelo que, e por tudo o que, se refere ao Antigo
Testamento, até a definição do seu cânon, e que a Igreja fica restrita ao Novo? Seria Romanos 11,17? Mas essa passagem mostra justamente que a Igreja é responsável pelo cânon, já que alguns membros judeus foram cortados, e esses são aqueles que definiram o cânon de 39 livros, retirando 7 livros inspirados, ao passo que a Igreja está enxertada na oliveira, e foi a que definiu o cânon de 46 livros.
"Se alguns dos ramos foram cortados, e se tu, oliveira selvagem, foste enxertada em seu lugar e agora recebes seiva da raiz da oliveira" (Rm 11,17) A Igreja em sua parte gentia recebe a seiva da oliveira judaica, pois os ramos que permaneceram na oliveira foram os aceitaram a Jesus Cristo. Assim, a Igreja continua a receber da verdadeira oliveira "a seiva da raiz". Nem todos foram cortados, mas "alguns dos ramos".
Outra verdade é que a Igreja
nunca ensinou tal doutrina de que os judeus tem a autoridade sobre o AT como foi expresso no argumento aludido acima! Em seus decretos, nos concílios, sempre tratou a
Bíblia em sua inteireza, considerando o AT e NT, e definiu o cânon de 73
livros, sendo 46 do AT e 27 do NT. De fato, os judeus negaram o NT em suas decisões
oficiais. Seria essa conclusão aprovada por Deus? E a Igreja definiu o cânon do
AT, seria essa tarefa reprovada pelo Senhor?
Na mesma ocasião, nos respectivos
casos, Deus estaria agindo apenas em parte das decisões? Como saber disso?
Opinião particular é a resposta. E opinião essa contrária a toda a revelação e
história da Igreja, tanto do AT quando do NT.
Sabemos que toda a revelação
bíblica até o tempo de Cristo foi dada aos judeus, os israelitas, que compunham
o Povo de Deus no AT. Por isso, tiveram todos os oráculos, alianças, cultos,
mandamentos, cerimônias, toda a Palavra de Deus na antiga aliança. Foi o povo
preparado para receber o Salvador, mas que O negou (cf. Jo 1,5). Por outro
lado, os judeus que aceitaram a boa nova foram os primeiros membros da Igreja
do NT, e constituíram-se o início do novo Povo de Deus.
Os judeus foram consequentemente
cortados da oliveira da qual faziam parte, e possuem a promessa de serem
enxertados novamente, quando se converterem no final dos tempos (cf. Rm 9). Não
foi tirado dos judeus apenas o Reino, mas os mesmos foram cortados da oliveira,
e portanto não receberam incumbência de definir o cânon bíblico. Assim, como
povo separado da Igreja não tinham os israelitas autoridade de tratar das
questões relativas ao cânon, visto que estavam contra o Messias. A Igreja
continua a revelação antiga, inaugurada em Pentecostes, depois de fundada pelo
Senhor Jesus Cristo. Essa Igreja possui legitimamente o poder de definir o
cânon.
Dessa forma, afirmar que Rm 3,2
seria “prova” de que os judeus definiram o cânon, é uma leitura particular das
Escrituras sem respaldo. Nesse texto São Paulo fala da “circuncisão”, por
exemplo, da sua vantagem, enfim, da vantagem da aliança.
Em nenhum momento o que é dito
nesse âmbito oferece plausibilidade para afirmar que a Bíblia estaria ensinando
que o judaísmo poderia tratar de questões bíblicas do Antigo Testamento
autoritativamente, e com aval divino, em concorrência com a Igreja. A Igreja
recebeu o poder de ligar e desligar (cf. Mt 16,18), e isso estende-se
logicamente ao cânon.
Não é o NT também Palavra de
Deus, oráculo do Senhor, contendo toda a parte final da revelação para a
salvação do mundo? Seriam os judeus, então, que deveriam ter definido o cânon,
sendo eles os que têm os oráculos do Senhor?
Sabemos que somente após Atos 10
os gentios receberem oficialmente a mensagem cristã. Continuariam os judeus a
ter preeminência e autoridade? Não. As promessas são irrevogáveis de fato, mas,
no entanto, se cumprirão no final, como visto (cf. Romanos 9).
Se os judeus propõem uma
interpretação do Antigo Testamento contrária à interpretação cristã, têm eles
razão? Por que não, se fosse correto o pressuposto acima? Uma vez que o
princípio manda que se ouçam os judeus em assuntos relativos ao AT seria esse o
meio correto a ser adotado. Se não, por qual motivo? Onde está escrito que
somente com relação às determinações referentes à identidade dos livros é que
possuem autoridade? Em que lugar encontrar que suas doutrinas fundamentadas no
AT não estão regendo os cristãos? Sendo assim, mais uma vez vê-se que o
princípio aludido é errôneo.
A Igreja já havia sido separada
da Sinagoga quando a questão do cânon veio à tona. Os cristãos da época do
fechamento do cânon pelos rabinos deveriam saber que suas decisões seriam
acatadas na Igreja. Há provas históricas disso? Não. De fato, não existe a ideia
de que os judeus que negaram o Senhor teriam qualquer autoridade na nova
economia divina a partir disso. É, portanto, mais uma suposição sem fundamento
histórico.
É relevante saber também que o
cânon dos judeus foi fechado tardiamente, e que no século segundo o livro do
Eclesiástico é citado como Escritura inspirada pelos rabinos (cf. Sundberg apud
Matt1618 site). É também um fato que alguns livros estavam sendo questionados
pelos rabinos no século 1, e se o cânon estivesse fechado, de forma imutável
como está, o próprio pensamento de retirar livros dele mostra que o mesmo não
havia sido encerrado de maneira alguma. Vê-se que a teoria que gira em torno de
um cânon de “39” livros como sendo do primeiro século e de autoridade judaica
para a Igreja é uma tradição humana.
Gledson Meireles.
Eles dizem que a igreja só reconheceu e não definiu o canô!
ResponderExcluirOlá Gledson Meireles
ResponderExcluirBoa tarde
Romanos 3:1-2 na verdade ressalta a importância do papel da Tradição, pois considerando que os judeus, e que na verdade eram um determinado número de judeus e não todo o povo e se era um determinado número isso era uma grupo de religiosos que seriam então a Santa Tradição Judaica para definir os Livros que seriam Canônicos então nessa passagem nós já vemos a importância essencial da Tradição e isso se segue na Santa Religião Cristã onde um determinado número de crentes no Senhor que são membros i.e . partes do Santo Corpo de Cristo ( Santa Igreja) e que na verdade é a Santa Tradição Cristã e que deve determinar sob a luz da Providência Divina do Espírito Santo qual é o Cânon correto que a Santa Igreja deve usar.
Então até mesmo se considerarmos a interpretação que o Cânon do Antigo Testamento foi definido pelos judeus mesmo assim o raciocínio é que foi uma Santa Tradição Judaica que estabeleceu isso logo o que Romanos 3:1-2 quer ensinar é a importância essencial da Santa Tradição e obviamente no Cristianismo a Santa Tradição continua viva e é a mesma que define o Cânon Cristão e mesmo se a Igreja definesse que o número de Livros do Antigo Testamento seria igual ao do Cânon dos judeus mesmo assim quem definiria isso seria a Santa Tradição Cristã pois seria a definição da Bíblia Cristã.
Luiz
A Paz de Cristo, Luiz.
ExcluirÉ plausível sua interpretação, ressaltando o valor que o cristão deve reconhecer na Sagrada Tradição.
Até mais.
Olá Gledson Meireles
ResponderExcluirBoa noite
Sim, seu comentário está certíssimo o cristão deve sim reconhecer o importante e essencial papel da Sagrada Tradição pois é a mesma que organizou e montou a Bíblia, sem ela não teria a Bíblia.
Os protestantes costumam argumentar que Deus inspirou os crentes para escreveram a Bíblia só que não é só isso pois o mesmo Deus que inspira capacita os crentes atraves da Santa Tradição a montar a Bíblia e ilumina pelo Espirito Santo os crentes para a correta interpretação pois assim há harmonia no propósito de Deus.
Um abraço
Luiz
A Paz de Cristo.
ExcluirLuiz, é necessário que os protestantes entendam isso, pois parece não ser claro para eles o fato da Igreja ter definido o cânon, que é o mesmo que estamos falando aqui, ou seja, que a Igreja reconheceu o cânon por iluminação do Espírito Santo, através da Tradição. Esse ponto deve ser esclarecido, pois essa é a verdade, e muitos ainda não a reconhecem.
Obrigado pelos comentários.
Gledson.
Olá Glaysom
ResponderExcluirBoa noite
O argumento que somente reconheceu já mostra que houve uma participação importantíssima da Santa Tradição Cristã pois se reconheceu é porque pelo lógica tomou conhecimento e sem tal conhecimento não poderia definir que fazia parte da Bíblia Cristã.
então a Sagrada Tradição Judaica não poderia reconhecer mas somente a Santa Tradição Cristã pois se trata da formação do Cânon Cristão. E considerando que a Santa Tradição Judaica definiu teve que ter a aprovação da Santa Tradição Cristã e para tal aprovação a Santa Igreja teve que analisar o Cânon.
Não tem sentido a Santa Tradição Cristã reconhecer algo que não tivesse conhecimento ainda mais de algo tão importante pois a Igreja é o sustentáculo e coluna da verdade e observe que isso está escrito porém deve estar corretamente compreendido pelos cristãos e a Santa Tradição esclarece essa compreensão.
Luiz
Outros falam que a igreja ortodoxa é que nós deu a bíblia ou que a igreja católica não era a Romana.
ExcluirOlá Gledson Meireles
ResponderExcluirBoa noite
Essa questão da importância da Santa Tradição na formação do Cânon realmente é essencial pois veja embora as denominações protestantes não aceitem a Santa Tradição Católica eles aceitam de alguma forma uma Doutrina nas denominações pois quando uma pessoa vai em uma denominação a mesma já encontra pronta uma doutrina já estabelecida e quem fez isso foi um determinado número de pessoas daquela denominação e a pessoa quando aceita tal denominação na verdade segue a interpretação teológica daquela denominação tanto é que algumas tem estudos bíblicos.
Ora, se tem estudos bíblicos é porque algumas pessoas acreditam que Espírito Santo está agindo nos crentes da denominação na compreensão teológica daquela denominação e então elas organizaram tal estudo para justamente passar para as pessoas que entram para a denominação e o estudo é a explicação de como eles entendem a Bíblia.
Então é como se fosse uma Tradição.
Um grande abraço
Luiz
Olá Gledson Meireles
ResponderExcluirBoa noite
O entendimento Católico Apostólico Romano sobre a relação entre a Bíblia e a Tradição é muito bom e importante pois nos leva a considerar um entendimento mais profundo da Fé Cristã como um todo em perfeita harmonia.
Um grande abraço
Luiz
A Paz de Cristo, Luiz!
ExcluirBom comentário!