segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A Igreja e o papado...

Desta maneira, a Igreja pôde vir a ser o ponto de encontro entre aqueles povos. Da articulação que ela realizou entre romanos e germanos é que sairia a Idade Média.” (ênfase acrescentada)
 
A Idade Média surgiu por uma influência direta do trabalho da Igreja Católica. No início da Idade Média a Igreja Católica foi o ponto de encontro e de união entre duas culturas importantes para a civilização de todo o período, fazendo desse encontro o que foi a cultura, a sociedade, Cristandade, durante um milênio.
 
O império Romano caiu em 476 e a Igreja, única instituição que restou, foi herdeira natural dele.
 
Desde o princípio, por sua própria natureza, o clero estava distanciado dos demais cristãos.”
 
A hierarquia não foi um produto da história, mas a mola propulsora que engendrou tudo o que foi realizado na história da Igreja. Apenas algumas regras administrativas foram introduzidas no século IV. O celibato obrigatório já aparece em Concílio, na Espanha, em 306. Antes disso, existia em sua caráter opcional.
 
Por sua vez, as heresias contribuíram para a formação e a organização da hierarquia.
 
Qualquer idéia que parecesse herética era, então, submetida à apreciação do bispo local.
 
Os bispos eram os responsáveis por manter a pureza doutrinal. Isso é o mesmo que encontramos no primeiro século, nas sete cartas às igrejas da Ásia.
 
Entretanto, a figura dos concílios não eliminava uma tendência que se fazia sentir desde os primeiros tempos, a da constituição de uma monarquia eclesiástica.”
 
O lugar ocupado pelo papa é garantido mesmo diante da importância dos concílios. Quando sínodos locais se mostraram ineficientes para combates grandes e poderosas heresias, o papel do papa foi preponderante:
 
Foi em razão disso que o bispo de Roma se sobrepôs a seus pares, podendo usar a partir de fins do século IV o título de papa, quer dizer, pai de todos os cristãos.
 
O papa é o pai de todos os cristãos. É preciso lembrar que nesse período o Oriente e o Ocidente tinha uma só Igreja Católica, a qual reconhecia a autoridade do papa.
Nos primeiros três séculos (anos 1-100, aproximadamente a partir de 33, de 100-200 e de 200-300) os papas não buscaram explicitamente estar em lugar de destaque nas questões de governo:
Seu poder foi se construindo ao sabor das circunstâncias.”
No século IV já se pode ver o bispo de Roma reconhecido em autoridade sobre os demais bispos:
Outro fator foi o apoio que o bispo de Roma recebeu — a autoridade sobre os outros bispos foi-lhe concedida em 378 e confirmada e ampliada em 445 — do imperador, desejoso de fortalecer e dar prestígio à sua capital.
No século VIII o papa buscou a justificação para o poder que possuía na prática, e sem intenção:
Por fim, gozando na prática de um poder e de um prestígio que não tinha a princípio buscado, o papa elaborou em meados do século VIII a grande justificativa para aquela situação.
A doação de Constantino serviu para esse fim. Tratou-se sim de um documento ilegítimo, mas não como uma falsificação da forma como hoje entende-se o termo. Tais documentos tinham a intenção de justificar reivindicações reconhecidas e legítimas, como era a do papado.

Os monges

Começa então o período do crescimento do monasticismo, a vida reclusa dos monges.

 
No início, muitas dessas pessoas procuravam o isolamento para fugir ao contato com o crescente número de cristãos superficialmente convertidos.”
 
Parte do clero tornou-se monacal, ou seja, adotou vida solitária de monge, para fugir às influências maléficas do mundo, por causa do esfriamento espiritual já em grande parte sentido nesse tempo. 
 
Santo Antão inicia esse modelo de vida espiritual (251-356) e São Pacômio o estrutura de modo que os monges deviam reunir-se num mesmo local.
 
São Bento (480-547) estabeleceu um clero regular, o preceito ora et labora, utilizando de regras anteriores e introduzindo melhorias. O trabalho alcança uma compreensão bastante influente na cultura que se desenvolvia:
 
Enfim, orar é uma forma de trabalhar, trabalhar é uma forma de orar.
 
Para a evangelização das massas os beneditinos desempenharam um papel fundamental:
 
Graças a essa espiritualidade vigorosa, a Ordem Beneditina conheceu até o século XII imenso sucesso e cumpriu um papel de primeiríssima grandeza.
 
Para os que pensam que os monges, escolhendo vida solitária, estavam afastados do povo e desobrigados da pregação, o fato era que a evangelização aconteceu em grande escala por seu ministério:
 
Em busca de isolamento, mas também de novas almas a converter para sua fé, os beneditinos alargaram as fronteiras da Cristandade ocidental.
 
 
O poder temporal enfraquece a Igreja
 
A influência da Igreja na sociedade, na esfera temporal, teve um gradual desenvolvimento, e como base estava o seu poder espiritual. No tempo dos carolíngios o poder temporal começou a aumentar significativamente. O Estado Pontifício surge da natural relação com o poder político, e em 754-756 Pepino, o Breve, faz doações de terra ao papa, iniciando assim nova fase na história da Igreja.
 
A Igreja, levada pelos acontecimentos, estabeleceu com os francos “uma sociedade onde o papa ocupou, primeiro, o lugar de sócio menor, depois de igual, pretendendo, por fim, a direção suprema”
 
Dessa fase algumas mudanças foram empreendidas pelo rei. O dízimo voluntário na antiguidade torna-se obrigatório em 585 e ganha peso de Estado em 765. Nessa relação o Estado ainda possui maior influência que a Igreja:
 
Estreitavam-se, portanto, as relações Estado-Igreja, com predomínio do primeiro na época de Carlos Magno.
 
Os cânones da Igreja prescreviam sobre a nomeação dos bispos, mas nesse tempo os soberanos tomaram para si essa incumbência, não como usurpação, mas como serviço cristão:
 
Os bispos eram nomeados pelo soberano, contrariamente à tradição canônica, mas o fato não era considerado uma usurpação, e sim um serviço prestado pelo monarca à Igreja, quase um dever do cargo.
 
A Igreja era a maior proprietária de terras no Ocidente desde o fim do Império Romano no século V. O costume da doação foi aconselhado por Santo Agostinho:
 
A recomendação de Santo Agostinho (354-430) era seguida com freqüência: todo cristão deveria deixar à Igreja em testamento “a parte de um filho”; e caso não tivesse descendentes, deveria nomeá-la sua única herdeira.
 
Na reforma do monasticismo no século IX o clero secular retoma a primeira escala no processo de evangelização:
 
O clero secular retomava a direção do movimento de cristianização e o episcopado aumentava seu poder político.
 
A intenção de fugir das intromissões políticas, e baseado em princípios do Evangelho, em que Jesus é o Rei dos reis, os bispos deveriam ser os conselheiros reais. Com o tempo, esse costume teve resultado negativo na vida da Igreja, enfraquecendo-a.
 
Apesar de não ter sido intenção clerical enfraquecer a monarquia (mas apenas submetê-la ao controle episcopal), tal teoria contribuiu para aumentar a autonomia da nobreza, o que teve reflexos negativos sobre a Igreja, com a generalização do sistema de “igreja própria”, já existente no século VII e que se estenderia até o século XII.” (ênfase acrescentada)
 
As igrejas próprias usurpavam a autoridade, no momento em que os latifundiários faziam as vezes dos bispos. O controle da Igreja em seu nível administrativo caía assim, na prática, nas mãos do poder secular, com grande prejuízo espiritual. Os leigos mandavam na Igreja, de 888-1057.
 



A Paz de Deus e a Trégua de Deus foram movimentos criados pela Igreja com o fim de estabelecer a paz na sociedade, proteger os cristãos, amparar os pobres.

 

Como a idéia básica da Paz e da Trégua de Deus era a preservação da ordem religiosa, social e política desejada por Deus, entende-se que a partir de fins do século XI ela tenha derivado para a idéia de Guerra Santa, que procurava impor aquela ordem dentro (Cruzada contra hereges) e fora (Cruzada contra muçulmanos) da Cristandade.

 

Para quem vê no papa um homem de poder ilimitado ou quase, e lembra-se do fato de que o imperador Henrique IV enfrentou o frio rigoroso do inverso com roupas de penitência para alcançar o perdão papal, deve primeiro pensar no seguinte:

 

Aproveitando-se do fato, parte da nobreza alemã se revoltou, levando o imperador a ir até Canossa, no norte italiano, em 1077, para pedir absolvição ao papa.”

 

Então, o penitente monarca, uma vez perdoado e sido retirado da excomunhão, agiu como bom católico submisso que era. Isso é o que pensam, mas o que ocorreu foi um pouco diferente:

 

Isso permitiu a Henrique IV restabelecer seu poder na Alemanha, eleger um antipapa e marchar contra Roma.

 

Mas, e o papa, que pode mandar e desmandar, como pensam tantos, convocou o seu exército e lutou contra o rei, destruindo tudo o que via pela frente¿ Na verdade, não. Veja o que ele fez:

Gregório teve de fugir, exilando-se na Sicília, onde morreria pouco depois.”

 

O mosteiro de Cluny foi reformado, surgiu do Cisterciense, e no século XIII estava preparado o tempo em que o papa alcançou poder máximo na esfera temporal.

 

Enfim, no século XIII estavam reunidas todas as condições para o exercício do poder papal sobre a comunidade cristã.

 

O tempo de Inocêncio III foi o maior fulgor, e esse papa antigiu o supremo poder papal sobre a sociedade. Críticas ocorreram, já que há tanto tempo o poder leigo havia acostumado-se a imiscuir-se em assuntos eclesiásticos, e de todos os lados o papado era criticado.

 

Eram produto da cultura intermediária, tanto no caso das manifestações que ficaram na ortodoxia (cistercienses, franciscanos, dominicanos) quanto no das que caíram na heresia (cátaros, valdenses, fraticelli).

 

Importante o fato de que cátaros, valdenses e fraticelli eram cristãos católicos caídos em heresia.

 

Essas heresias tiveram a oposição e perseguição da Igreja, mas nem todas com o mesmo rigor.

 

De postura menos radical, porém, essa seita pôde sobreviver. A repressão católica a cada heresia era proporcional ao perigo por ela representado.

 

Quando o papado e o poder temporal envolveu-se em acirrada luta:

 

Filipe acusou Bonifácio de ter sido eleito papa ilegitimamente e em 1303 conseguiu prendê-lo na cidade de Anagni.

 

Quando o poder papal sobre a sociedade estava em declínio, surge também a teoria que ataca o próprio poder de papa, em sua natureza religiosa. Foi o conciliarismo de 1414.
 
Continua.

Gledson Meireles.

cf. citações de FRANCO JÚNIOR, Hilário. Idade Média: o nascimento do Ocidente. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Brasiliense, 2001, cap. IV, pp. 89-111.

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