A Idade Média surgiu por uma
influência direta do trabalho da Igreja Católica. No início da Idade Média a
Igreja Católica foi o ponto de encontro e de união entre duas culturas
importantes para a civilização de todo o período, fazendo desse encontro o que
foi a cultura, a sociedade, Cristandade, durante um milênio.
O império Romano caiu em 476
e a Igreja, única instituição que restou, foi herdeira natural dele.
“Desde o princípio, por sua própria natureza, o clero
estava distanciado dos demais cristãos.”
A hierarquia não foi um
produto da história, mas a mola propulsora que engendrou tudo o que foi
realizado na história da Igreja. Apenas algumas regras administrativas foram
introduzidas no século IV. O celibato obrigatório já aparece em Concílio, na
Espanha, em 306. Antes disso, existia em sua caráter opcional.
Por sua vez, as heresias
contribuíram para a formação e a organização da hierarquia.
“Qualquer idéia que parecesse herética era, então,
submetida à apreciação do bispo local.”
Os bispos eram os
responsáveis por manter a pureza doutrinal. Isso é o mesmo que encontramos no
primeiro século, nas sete cartas às igrejas da Ásia.
“Entretanto, a figura dos concílios não eliminava uma
tendência que se
fazia sentir desde os primeiros tempos, a da constituição de uma monarquia
eclesiástica.”
O lugar ocupado pelo
papa é garantido mesmo diante da importância dos concílios. Quando sínodos
locais se mostraram ineficientes para combates grandes e poderosas heresias, o
papel do papa foi preponderante:
“Foi em razão disso que o bispo de Roma se sobrepôs a seus
pares, podendo usar a partir de fins do século IV o título de papa, quer dizer,
pai de todos os cristãos.”
O papa é o pai de todos
os cristãos. É preciso lembrar que nesse período o Oriente e o
Ocidente tinha uma só Igreja Católica, a qual reconhecia a autoridade do papa.
Nos primeiros três séculos
(anos 1-100, aproximadamente a partir de 33, de 100-200 e de 200-300) os papas
não buscaram explicitamente estar em lugar de destaque nas questões de governo:
“Seu
poder foi se construindo ao sabor das circunstâncias.”
No século IV já se
pode ver o bispo de Roma reconhecido em autoridade sobre os demais bispos:
“Outro fator foi o apoio que o bispo de Roma recebeu — a
autoridade sobre os outros bispos foi-lhe concedida em 378 e confirmada e
ampliada em 445 — do imperador, desejoso de fortalecer e dar prestígio à sua
capital.”
No século VIII o papa
buscou a justificação para o poder que possuía na prática, e sem intenção:
“Por fim, gozando na prática de um poder e de um prestígio
que não tinha a
princípio buscado, o papa elaborou em meados do século VIII a grande
justificativa para aquela situação.”
A doação de Constantino serviu
para esse fim. Tratou-se sim de um documento ilegítimo, mas não como uma
falsificação da forma como hoje entende-se o termo. Tais documentos tinham a intenção
de justificar reivindicações reconhecidas e legítimas, como era a do papado.
Os monges
Começa então o período do crescimento do monasticismo, a vida reclusa dos monges.
Gledson Meireles.Os monges
Começa então o período do crescimento do monasticismo, a vida reclusa dos monges.
“No início, muitas dessas pessoas procuravam o isolamento
para fugir ao contato com o crescente número de cristãos superficialmente
convertidos.”
Parte do clero
tornou-se monacal, ou seja, adotou vida solitária de monge, para fugir às
influências maléficas do mundo, por causa do esfriamento espiritual já em
grande parte sentido nesse tempo.
Santo Antão inicia
esse modelo de vida espiritual (251-356) e São Pacômio o estrutura de modo que os
monges deviam reunir-se num mesmo local.
São Bento (480-547)
estabeleceu um clero regular, o preceito ora
et labora, utilizando de regras anteriores e introduzindo melhorias. O
trabalho alcança uma compreensão bastante influente na cultura que se desenvolvia:
“Enfim, orar é uma forma de trabalhar, trabalhar é uma
forma de orar.”
Para a evangelização
das massas os beneditinos desempenharam um papel fundamental:
“Graças a essa espiritualidade vigorosa, a Ordem
Beneditina conheceu até o século XII imenso sucesso e cumpriu um papel de primeiríssima
grandeza.”
Para os que pensam
que os monges, escolhendo vida solitária, estavam afastados do povo e
desobrigados da pregação, o fato era que a evangelização aconteceu em grande
escala por seu ministério:
“Em busca de isolamento, mas também de novas almas a
converter para sua fé, os beneditinos alargaram as fronteiras da Cristandade
ocidental.”
O poder temporal enfraquece a Igreja
A influência da
Igreja na sociedade, na esfera temporal, teve um gradual desenvolvimento, e
como base estava o seu poder espiritual. No tempo dos carolíngios o poder
temporal começou a aumentar significativamente. O Estado Pontifício surge da
natural relação com o poder político, e em 754-756 Pepino, o Breve, faz doações
de terra ao papa, iniciando assim nova fase na história da Igreja.
“A Igreja, levada pelos acontecimentos, estabeleceu com os
francos “uma sociedade onde o papa ocupou, primeiro, o lugar de sócio menor,
depois de igual, pretendendo, por fim, a direção suprema””
Dessa fase algumas
mudanças foram empreendidas pelo rei. O dízimo voluntário na antiguidade
torna-se obrigatório em 585 e ganha peso de Estado em 765. Nessa relação o
Estado ainda possui maior influência que a Igreja:
“Estreitavam-se, portanto, as relações Estado-Igreja, com
predomínio do primeiro na época de Carlos Magno.”
Os cânones da Igreja
prescreviam sobre a nomeação dos bispos, mas nesse tempo os soberanos tomaram
para si essa incumbência, não como usurpação, mas como serviço cristão:
“Os bispos eram nomeados pelo soberano, contrariamente à tradição
canônica, mas o fato não era considerado uma usurpação, e sim um serviço prestado
pelo monarca à Igreja, quase um dever do cargo.”
A Igreja era a maior
proprietária de terras no Ocidente desde o fim do Império Romano no século V. O
costume da doação foi aconselhado por Santo Agostinho:
“A recomendação de Santo Agostinho (354-430) era seguida
com freqüência: todo cristão deveria deixar à Igreja em testamento “a parte de
um filho”; e caso não tivesse descendentes, deveria nomeá-la sua única
herdeira.”
Na reforma do
monasticismo no século IX o clero secular retoma a primeira escala no processo
de evangelização:
“O clero secular retomava a direção do movimento de
cristianização e o episcopado aumentava seu poder político.”
A intenção de fugir
das intromissões políticas, e baseado em princípios do Evangelho, em que Jesus
é o Rei dos reis, os bispos deveriam ser os conselheiros reais. Com o tempo,
esse costume teve resultado negativo na vida da Igreja, enfraquecendo-a.
“Apesar de não ter sido intenção clerical enfraquecer a
monarquia (mas apenas submetê-la ao controle episcopal), tal teoria contribuiu para aumentar a autonomia da nobreza, o que
teve reflexos negativos sobre a Igreja, com a generalização do sistema
de “igreja própria”, já existente no século VII e que se estenderia até o
século XII.” (ênfase acrescentada)
As igrejas próprias
usurpavam a autoridade, no momento em que os latifundiários faziam as vezes dos
bispos. O controle da Igreja em seu nível administrativo caía assim, na
prática, nas mãos do poder secular, com grande prejuízo espiritual. Os leigos
mandavam na Igreja, de 888-1057.
A Paz de Deus e a
Trégua de Deus foram movimentos criados pela Igreja com o fim de estabelecer a
paz na sociedade, proteger os cristãos, amparar os pobres.
“Como a idéia básica da Paz e da Trégua de Deus era a
preservação da ordem religiosa, social e política desejada por Deus, entende-se
que a partir de fins do século XI ela tenha derivado para a idéia de Guerra Santa,
que procurava impor aquela ordem dentro (Cruzada contra hereges) e fora
(Cruzada contra muçulmanos) da Cristandade.”
Para quem vê no papa
um homem de poder ilimitado ou quase, e lembra-se do fato de que o imperador Henrique
IV enfrentou o frio rigoroso do inverso com roupas de penitência para alcançar
o perdão papal, deve primeiro pensar no seguinte:
“Aproveitando-se do fato, parte da nobreza alemã se
revoltou, levando o imperador a ir até Canossa, no norte italiano, em 1077,
para pedir absolvição ao papa.”
Então, o penitente monarca,
uma vez perdoado e sido retirado da excomunhão, agiu como bom católico submisso
que era. Isso é o que pensam, mas o que ocorreu foi um pouco diferente:
“Isso permitiu a Henrique IV restabelecer seu poder na
Alemanha, eleger um antipapa e marchar contra Roma.”
Mas, e o papa, que
pode mandar e desmandar, como pensam tantos, convocou o seu exército e lutou
contra o rei, destruindo tudo o que via pela frente¿ Na verdade, não. Veja o
que ele fez:
“Gregório teve de fugir, exilando-se na Sicília, onde
morreria pouco depois.”
O mosteiro de Cluny
foi reformado, surgiu do Cisterciense, e no século XIII estava preparado o
tempo em que o papa alcançou poder máximo na esfera temporal.
“Enfim, no século XIII estavam reunidas todas as condições
para o exercício do poder papal sobre a comunidade cristã.”
O tempo de Inocêncio
III foi o maior fulgor, e esse papa antigiu o supremo poder papal sobre a
sociedade. Críticas ocorreram, já que há tanto tempo o poder leigo havia
acostumado-se a imiscuir-se em assuntos eclesiásticos, e de todos os lados o
papado era criticado.
“Eram produto da cultura intermediária, tanto no caso das
manifestações que ficaram na ortodoxia (cistercienses, franciscanos,
dominicanos) quanto no das que caíram na heresia (cátaros, valdenses,
fraticelli).”
Importante o fato de que
cátaros, valdenses e fraticelli eram cristãos católicos caídos em heresia.
Essas heresias
tiveram a oposição e perseguição da Igreja, mas nem todas com o mesmo rigor.
“De postura menos radical, porém, essa seita pôde
sobreviver. A repressão católica a cada heresia era proporcional ao perigo por
ela representado.”
Quando o papado e o
poder temporal envolveu-se em acirrada luta:
“Filipe acusou Bonifácio de ter sido eleito papa
ilegitimamente e em 1303 conseguiu prendê-lo na cidade de Anagni.”
Quando o poder papal
sobre a sociedade estava em declínio, surge também a teoria que ataca o próprio
poder de papa, em sua natureza religiosa. Foi o conciliarismo de 1414.
Continua.
cf. citações de FRANCO JÚNIOR, Hilário.
Idade Média: o nascimento do Ocidente. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora
Brasiliense, 2001, cap. IV, pp. 89-111.
Nenhum comentário:
Postar um comentário