domingo, 5 de fevereiro de 2023

Livro: A História não contada de Pedro, refutação do capítulo 15

Será que essa resposta é “fraca”?

 

Capítulo 15

A Missão Secreta de Pedro

Roma é a Sé Apostólica, desde São Pedro, o primeiro dos apóstolos. O tempo em que Pedro viveu em Roma não é de todo conhecido. É um período que não é fácil calcular. No entanto, sua estadia lá é histórica, não uma “lenda”. Os 25 anos do episcopado de Pedro foram sugeridos por uma hipótese gerada de cálculos feitos a partir de listas episcopais, e registrada no Chronicon.

Portanto, mesmo esse período de vinte e cinco anos está registrado em obra histórica do século quarto.

A Bíblia não nega que São Pedro esteve em Roma, e isso já é um começo de conversa para quem tem tanta “certeza” de que o apóstola jamais pisou na capital do Império Romano da época.

No máximo, lendo as páginas sagradas do Novo Testamento, haveria um silêncio sobre isso. Não se falaria nada sobre Pedro estar em Roma, ter ido lá, ter lá permanecido, nem haveria qualquer negação desse fato histórico.

No entanto, há evidências desse fato em 1 Pedro 5,13, que será tratado em capítulo específico.

Quando Jesus menciona que Seu Nome será pregado em Jerusalém, Judeia e Samaria, que foram os primeiros centros do Cristianismo, isso não indica que Roma não fosse considerado importante local de introdução do Evangelho. É procurar demais em um versículo uma prova contra tamanha evidência histórica.

De modo algum, quando o Senhor fala de Jerusalém, a primeira e mais antiga sede, Judeia e Samaria, Ele sugere algo nesse sentido.

Certamente, nosso Senhor estava apenas falando dos primeiros locais onde o evangelho iria estabelecer-se, até chegar aos confins da terra. E antes de chegar aos confins da terra, com total certeza, iria à capital do Império, sob o qual estava a Palestina do tempo de Cristo. Ou alguém duvida que a fé cristã, tão importante, essencial, vida e salvação para a humanidade, não seria pregada em Roma logo no início? É óbvio que isso não faz parte da argumentação, e nem precisaria, mas é bom refletir.

 De fato, a Epístola aos Romanos prova que Roma tratava-se de local singular e de importância tamanha, que a fé dos romanos era conhecida em todo o mundo (cf. Rm 1,8; At 23,11). Isso é digno de nota, pois em outros lugares os cristãos do primeiro século já elogiavam, já tinham como algo de certa fama, a fé dos cristãos de Roma.

É verdade que até Atos 8,1 nenhum apóstolo arredou o pé de Jerusalém! É muito provável, pelo que os dados bíblicos apontam.

Pedro permanecia em ambiente Palestino. O livro passa boa parte de sua argumentação tentando desmentir os 25 anos do papado de Pedro em Roma. Mas isso não é preponderante, ou seja, os vinte e cinco anos sendo o período total ou não, não importa. Sendo que esse tempo não é essencial para a doutrina do primado, o livro desperdiça considerável parcela de energia contra algo de pouca monta, de importância menor.

Já temos aqui dois argumentos que caem fragorosamente: as fontes históricas falam da estadia de Pedro em Roma, e o Novo Testamento não nega isso, mas sugere fortemente, e evidencia esse dado histórico. Ainda, o tempo que São Pedro permaneceu em Roma não é importante para a doutrina do papado. O importante é o fato.

No tempo do Concílio de Jerusalém, Pedro estava naquela cidade, portanto, Pedro estava em Jerusalém. Esse Concílio se deu em 49 d. C. Possivelmente, e não com total certeza, São Pedro foi a Roma em 42 d. C. Certamente, porém, não permaneceu por lá, mas saiu com a expulsão dos judeus sob o imperador Cláudio. Então, é muito claro que não se pode afirmar que São Pedro nunca teria saído de Jerusalém até aquele tempo. Ele foi a Roma em 42 d. C., e estava em Jerusalém em 49 d. C. Ninguém poderia supor que o apóstolo não pudesse viajar naqueles tempos. Apenas há silêncio sob a questão.

O Edito do Imperador expulsou os judeus em 49 d. C., não de 41 a 54. Certamente, de 49 a 54 d. C., conforme Mark Bonocore.

Nesse tempo, é provável que Pedro foi expulso de Roma, com todos os judeus, e, por isso, estava em Jerusalém. O imperador reinou de 41 d. C. a 54 d. C., mas expulsou os judeus após cerca de 8 anos do seu reinado, em 49 d. C. Isso confirma os dados bíblicos.

Pensar que o tempo inteiro do governo de Cláudio identifica aquele período de expulsão dos judeus é um erro que o livro supõe para impossibilitar a presença de Pedro em Roma nesse período. É uma suposição falha do livro. É pensar que do primeiro ano de império daquele governante até o último nenhum judeu pisou mais em Roma. É um argumento falho.

Na época, se Pedro era perseguido, e havia sido libertado da prisão por Providência Divina, e pregou em Roma nessas condições, entende-se que não havia lá uma estrutura semelhante à do Vaticano atual, com construções imponentes, como uma basílica, e numa organização comparável à encontrada 20 séculos mais tarde. Não há lugar para isso no tempo de perseguição do século 1. Por isso, São Paulo mora em casa alugada, e não numa igreja que funcionasse como sé apostólica. Certamente, esse item já está respondido.

Considerando o período de 42 a 61 d. C. São Pedro deve ter estado em Roma de 42 a 48, ou 49. Se residiu lá ou não, não é possível afirmar com certeza. Pode certamente ter morado em Roma durante esses anos.

A respeito das saudações na carta aos Romanos, e a não referência a Pedro, deve-se ao fato de que nessa época o apóstolo estava em Antioquia (57-58). Pelo que consta, a volta de Pedro a Roma deu-se após os anos 60 d. C. Mais uma vez os dados bíblicos são confirmados por essas informações históricas.

A essa altura, o livro mostra que esse é o ponto do argumento mais forte que poderia apresentar contra o primado: “Se isso não é suficiente para mostrar que Pedro não era bispo de Roma sob nenhuma circunstância, não sabemos que argumento poderia ser capaz de abrir os olhos espirituais daqueles que “tem seus olhos tampados, e não conseguem ver; e suas mentes fechadas, e não conseguem entender” (Is.44:18).” [ênfase no original] (p. 160).

Se Pedro não estava em Roma nesse tempo, da escrita da Epístola aos Romanos, e esse é o motivo porque Paulo não o menciona, está respondido tal argumento que o livro julgou ser tão incisivo. Além do mais, por algum motivo silencia-se, em vários lugares, a respeito de Pedro. Quando Pedro saía de Roma, isso não significa que deixasse de ser o líder daquela Igreja. É muito simples entender isso.

Não é necessário referir-se pormenorizadamente ao argumento sobre a saudação da Igreja na “Ásia”, aludida no livro como premissa presente na apologia em sites católicos. O que foi escrito acima já é suficiente para mostrar que Pedro, na época em que Paulo escreve aos Romanos, está em Antioquia.

São Paulo deveria dar testemunho de Jesus em Roma. Mas, tal não significa que os romanos não conhecessem o Nome de Jesus, e que não fossem cristãos. Pelo contrário, São Paulo elogia sua fé. Quem havia evangelizado Roma? A História incontestavelmente mostra que foi São Pedro.

Há indícios de que os primeiros cristãos em Roma foram aqueles que vieram de Jerusalém após o Pentecostes, mas que o estabelecimento da Igreja na cidade eterna foi feito, em especial, por São Pedro, e também por São Paulo.

Em Atos 28,15 São Paulo chega, com prisioneiro, a Roma. São Pedro não é mostrado entre os visitantes do apóstolo. Onde estava? É possível que estivesse em Roma. Desde Atos 12,17, como mostra Bonocore, Pedro estava sendo procurado pelas autoridades judaicas, e não poderia visitar Paulo nessas condições, visto que o mesmo estava no cativeiro para ser julgado. Certamente, esse é o motivo pelo qual Pedro desaparece de cena a partir de Atos 12.

É um dado bíblico que mostra fundamento para não mencionar Pedro. De fato, nem mesmo o lugar o Espírito Santo quis revelar, por motivos óbvios da perseguição, e apenas afirma que o apóstolo foi para outro lugar.

Na página 159 o livro menciona a viagem de Paulo a Jerusalém, onde foi recebido por Tiago. Interessantemente, visto seu estilo, bastante esclarecedor de sua posição, o autor não elucida que essa ocasião se deu pela visita de Paulo a Pedro. Ou seja, São Paulo foi justamente a Jerusalém, onde São Tiago era bispo, para ver o apóstolo São Pedro. Ele não foi visitar Tiago, mas Pedro, é necessário frisar, visto que o livro não o fez, mas a Bíblia é clara nesse ponto.

Quando o autor faz menção desse fato, em outro lugar, não aponta essa especificidade importante, de modo a não refletir sobre o fato. São Paulo foi a Jerusalém justamente para conhecer o apóstolo São Pedro.

Mais tarde, em toda sua estadia em Roma, certamente Paulo viu a Pedro. Não o sabemos, porém. Mas é muito provável. A Bíblia não afirma, nem nega. E o argumento ex silencio é inócuo.

Na página 160 o livro alude à ideia de que em Roma havia apenas alguns cristãos, e por isso os judeus de lá não conheciam bem o Cristianismo. Mas, fica difícil entender que a fé dos “alguns” cristãos de Roma fosse tão elogiada, e conhecida em todo o mundo!

Isso não parece harmonizar com pequena quantidade de cristãos. Aliás, a História mostra que por nessa época Roma era habitada por grande quantidade de judeus cristãos, bem como de muitos cristãos gentios. Uma afirmação: Paulo foi visitar a Pedro em Jerusalém, não a Pedro e Tiago. Necessário frisar.

De fato, ele viu Tiago por acaso, e mais nenhum outro apóstolo. Há inconscientemente algo tentando fazer ofuscamento do status de Pedro nesse argumento!

Além do mais, se aqueles judeus que viviam em Roma não tinham conhecimento básico do Cristianismo, deve-se ao fato de ser imigrantes recentes, chegados em Roma após o fim do Edito de Cláudio, que havia proibido a estadia de judeus na capital do Império.

Desse modo, aqueles judeus não sabiam realmente muito a respeito do Cristianismo. No entanto, algo mais é necessário saber. Mark Bonocore mostra que os judeus queriam informação sobre o ministério de Paulo, sobre o Cristianismo entre os gentios, pois parece conhecer as características do Cristianismo em si, como aquele já fundado em Roma, por Pedro. Sabiam, porém, de forma rudimentar, como se fosse uma seita judaica. Assim, afirmam que não sabiam da referência de Paulo enviada de Jerusalém. Pediram a ele suas explicações, e desejavam saber o que Paulo pensava.

Certamente, esse era o motivo por que queriam conversar com Paulo. Além do mais, pode-se atentar ao fato de que se tratavam de judeus não abertos à mensagem cristã, para os quais o cristianismo católico não passava de “seita”.

Na página 165 o livro refere-se a Gl 1,18, e nesse momento tem de reconhecer que Paulo quis conhecer a Pedro, e por isso foi a Jerusalém. Obviamente, nesse tempo, São Pedro nunca tinha ido a Roma, mas essa viagem ocorreu após o ano 42. Quanto a Roma nessa época, estava repleta de judeus.

Sobre a questão do apostolado entre os judeus e entre os gentios, de Pedro e de Paulo, diz o livro: “É lógico que Paulo jamais imaginou que Pedro assim como ele também atuasse entre os gentios.” (p. 167). Essa afirmação deve ser entendida biblicamente.

Para quem lê Gálatas 2,7-8 como "prova" contra o primado de Pedro, e sua estadia em Roma, é necessário um conhecimento bíblico correto e mais aprofundado.

O ministério apostólico não foi instituído para um grupo de cristãos somente. De fato, Cristo ordenou aos apóstolos a pregar o Evangelho a toda criatura (cf. Mt 28, 19-20). Não disse que uns deveriam pregar aos judeus e outros aos gentios. Esse ministério restrito aos judeus foi o ministério de Cristo, antes da Sua morte, antes da cruz, preparando o povo Judeu.

De forma geral, os doze apóstolos iniciaram a evangelização entre os judeus, partindo do modelo deixado por Jesus, e somente depois voltaram-se aos pagãos, como havia ordenado o Senhor.

Assim o fez Nosso Senhor, que veio primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ainda assim, voltava-se circunstancialmente aos pagãos.

Os primeiros doze apóstolos foram iluminados pelo Espírito Santo para anunciar a salvação ao Povo de Israel primeiramente. Então, Deus suscita São Paulo a pregar, também ele, primeiro aos judeus, e depois aos gentios, porém, com o ministério específico entre os gentios, de forma que ficou conhecido na Igreja Católica como o Doutor das Nações.

Tendo esse contexto em mente, sabe-se que São Pedro foi a Roma e ministrava para todos, embora sua especificidade evangélica estivesse endereçada aos cristãos de origem judaica.

Entende-se, portanto, que como chefe da Igreja sempre pregou a ambos os povos. Assim o foi em Antioquia, sua primeira e provisória sede episcopal. A sé do papa era, portanto, nesse tempo, a cidade de Antioquia, pois ali primeiramente lançou as bases da Igreja o apóstolo Pedro.

Mais tarde, foi para Roma. Mas, como visto na carta aos gálatas, Pedro convivia tanto com judeus, como com os gentios. Isso fica claro no fato que deu ocasião para que fosse repreendido por São Paulo. Isso prova cabalmente que o ministério petrino não era restrito aos judeus, como se não pudesse habitar com os pagãos, e falar de Cristo a eles. Nada disso. Trata-se, assim, do foco geral e do objetivo principal do ministério apostólico dos apóstolos Pedro (e dos outros onze) e Paulo (com seus colaboradores) [cf. Mark Bonocore].

O que o livro julga ser o golpe mortal contra o primado, afirmando que São Pedro permaneceu em Jerusalém, pois seu ministério não podia ser entre os gentios, está, portanto, refutado.

Como afirma Bonocore, a consideração de 2 Tm como referindo-se à “segunda” prisão de Paulo, isso se deve à Tradição da Igreja, pois não é um fato revelado explicitamente na Escritura. Se o livro aceita esse dado da Tradição, por que não render-se às provas de que Pedro foi bispo de Roma, que a História mostra sem rodeios?

O que houve foi uma leitura pouco atenta da História da Igreja na consideração desse fato. O que foi provado acima é incontestável, mas o livro não o citou corretamente. Por isso, sua argumentação assemelha-se a construir sobre fundamento arenoso.

Em Cl 4,11 São Paulo fala dos únicos colaboradores cristãos judeus entre os gentios. Isso não significa que não havia outros cristãos em Roma!!!! O livro conclui isso: Portanto, ao dizer “únicos”, ele exclui a possibilidade de haver algum judeu além daqueles citados que estivesse com ele em Roma.(p. 170).

Assim, em 2 Tm 4, ao afirmar que somente Lucas estava com ele, isso não significa que não havia cristãos em Roma, mas que do círculo mais próximo do apóstolo, dos seus colaboradores, somente Lucas continuava consigo naquele momento. Excluir a presença de autoridades cristãs em Roma, ou do Cristianismo em geral, no tempo de São Paulo, é algo que a Bíblia não o faz, e o livro conclui isso de um verso que não se refere à questão.

A própria presença de São Paulo em Roma, com seus colaboradores, indica a presença importante de cristãos naquela capital. A Epístola aos Romanos constitui outra prova de considerável peso nessa questão. Assim, de dois versos que não afetam o assunto, o livro usa-os para afirmar que os cristãos e suas autoridades, como conclui, não habitavam Roma. É lastimável tal conclusão.

Afirmar que o fato de Pedro não ser mencionado nas epístolas seria que ele estava sempre de viagem, realmente não explica o caso. Mas, acima, o mesmo foi explicado sem recorrer a tão simples afirmação.

Contudo, lendo os textos bíblicos que o Protestantismo apresenta, e que o livro cita, como prova contra o primado, os mesmos não afirmam o que o livro entende que o façam.

E Jesus, chamado Justo; os quais são da circuncisão; são estes unicamente os meus cooperadores no reino de Deus; e para mim têm sido consolação. (Cl 4,11).

É necessário entender que São Paulo fala dos seus cooperadores no Reino de Deus, como afirmado, indicando aqueles com os quais trabalhava no ministério. Não está afirmando que inexistiam cristãos naqueles tempos fora os citados. Não se pode deduzir isso.

Igualmente em 2 Tm 4,11:Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Será que São Paulo está afirmando que em Roma somente havia ele e São Lucas como cristãos? Pela intepretação do livro essa é a única via para se chegar à resposta.

Mas, a Bíblia, e a história, em nenhum lugar afirmam isso. Apenas, a Bíblia mostra que o apóstolo estava sozinho na prisão, porque seus colaboradores o haviam deixado: Demas por apostasia, Crescente e Tito haviam ido, respectivamente, para a Galácia e Dalmácia. Somente Lucas permaneceu com ele. Esse é o assunto.

O livro tentou tirar a possibilidade de Pedro estar em Roma a partir desses versos, e por eles chegou a esvaziar Roma de cristãos. Provou demais. E, por isso, não provou nada.

Dessa forma, com intuito de “provar” algo além do argumento ex silencio, atribuiu-se a dois versos uma informação que os mesmos desconhecem, e que outras partes da Bíblia desaprovam. Ainda, a tradição mostra justamente o oposto daquilo que o livro tentou inculcar. Outra lacuna do mesmo.

Sendo assim, é necessário repetir que a Igreja não afirma categoricamente que houve um episcopado de 25 anos de São Pedro em Roma, mas que o apóstolo esteve naquela cidade, nela permaneceu, pregou lá o Evangelho, estabeleceu a Igreja e, por fim, foi martirizado sob o império de Nero. Foi o primeiro bispo de Roma, sucedido por Lino.

Gledson Meireles.

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