Será que essa resposta
é “fraca”?
Capítulo 15
A Missão Secreta de Pedro
Roma
é a Sé Apostólica, desde São Pedro, o primeiro dos apóstolos. O tempo em que
Pedro viveu em Roma não é de todo conhecido. É um período que não é fácil
calcular. No entanto, sua estadia lá é histórica, não uma “lenda”. Os 25 anos
do episcopado de Pedro foram sugeridos por uma hipótese gerada de cálculos
feitos a partir de listas episcopais, e registrada no Chronicon.
Portanto,
mesmo esse período de vinte e cinco anos está registrado em obra histórica do
século quarto.
A
Bíblia não nega que São Pedro esteve em Roma, e isso já é um começo de conversa
para quem tem tanta “certeza” de que o apóstola jamais pisou na capital do
Império Romano da época.
No
máximo, lendo as páginas sagradas do Novo Testamento, haveria um silêncio sobre
isso. Não se falaria nada sobre Pedro estar em Roma, ter ido lá, ter lá
permanecido, nem haveria qualquer negação desse fato histórico.
No
entanto, há evidências desse fato em 1 Pedro 5,13, que será tratado em capítulo
específico.
Quando
Jesus menciona que Seu Nome será pregado em Jerusalém, Judeia e Samaria, que
foram os primeiros centros do Cristianismo, isso não indica que Roma não fosse
considerado importante local de introdução do Evangelho. É procurar demais em
um versículo uma prova contra tamanha evidência histórica.
De
modo algum, quando o Senhor fala de Jerusalém, a primeira e mais antiga sede,
Judeia e Samaria, Ele sugere algo nesse sentido.
Certamente,
nosso Senhor estava apenas falando dos primeiros locais onde o evangelho iria
estabelecer-se, até chegar aos confins da terra. E antes de chegar aos confins
da terra, com total certeza, iria à capital do Império, sob o qual estava a
Palestina do tempo de Cristo. Ou alguém duvida que a fé cristã, tão importante,
essencial, vida e salvação para a humanidade, não seria pregada em Roma logo no
início? É óbvio que isso não faz parte da argumentação, e nem precisaria, mas é
bom refletir.
De fato, a Epístola aos Romanos prova que Roma
tratava-se de local singular e de importância tamanha, que a fé dos romanos era
conhecida em todo o mundo (cf. Rm 1,8; At 23,11). Isso é digno de nota, pois em
outros lugares os cristãos do primeiro século já elogiavam, já tinham como algo
de certa fama, a fé dos cristãos de Roma.
É
verdade que até Atos 8,1 nenhum apóstolo arredou o pé de Jerusalém! É muito
provável, pelo que os dados bíblicos apontam.
Pedro
permanecia em ambiente Palestino. O livro passa boa parte de sua argumentação
tentando desmentir os 25 anos do papado de Pedro em Roma. Mas isso não é
preponderante, ou seja, os vinte e cinco anos sendo o período total ou não, não
importa. Sendo que esse tempo não é essencial para a doutrina do primado, o
livro desperdiça considerável parcela de energia contra algo de pouca monta, de
importância menor.
Já
temos aqui dois argumentos que caem fragorosamente: as fontes históricas falam
da estadia de Pedro em Roma, e o Novo Testamento não nega isso, mas sugere
fortemente, e evidencia esse dado histórico. Ainda, o tempo que São Pedro
permaneceu em Roma não é importante para a doutrina do papado. O importante é o
fato.
No
tempo do Concílio de Jerusalém, Pedro estava naquela cidade, portanto, Pedro
estava em Jerusalém. Esse Concílio se deu em 49 d. C. Possivelmente, e não com
total certeza, São Pedro foi a Roma em 42 d. C. Certamente, porém, não
permaneceu por lá, mas saiu com a expulsão dos judeus sob o imperador Cláudio.
Então, é muito claro que não se pode afirmar que São Pedro nunca teria saído de
Jerusalém até aquele tempo. Ele foi a Roma em 42 d. C., e estava em Jerusalém
em 49 d. C. Ninguém poderia supor que o apóstolo não pudesse viajar naqueles
tempos. Apenas há silêncio sob a questão.
O
Edito do Imperador expulsou os judeus em 49 d. C., não de 41 a 54. Certamente,
de 49 a 54 d. C., conforme Mark Bonocore.
Nesse
tempo, é provável que Pedro foi expulso de Roma, com todos os judeus, e, por
isso, estava em Jerusalém. O imperador reinou de 41 d. C. a 54 d. C., mas expulsou
os judeus após cerca de 8 anos do seu reinado, em 49 d. C. Isso confirma os
dados bíblicos.
Pensar
que o tempo inteiro do governo de Cláudio identifica aquele período de expulsão
dos judeus é um erro que o livro supõe para impossibilitar a presença de Pedro
em Roma nesse período. É uma suposição falha do livro. É pensar que do primeiro
ano de império daquele governante até o último nenhum judeu pisou mais em Roma.
É um argumento falho.
Na
época, se Pedro era perseguido, e havia sido libertado da prisão por
Providência Divina, e pregou em Roma nessas condições, entende-se que não havia
lá uma estrutura semelhante à do Vaticano atual, com construções imponentes,
como uma basílica, e numa organização comparável à encontrada 20 séculos mais
tarde. Não há lugar para isso no tempo de perseguição do século 1. Por isso,
São Paulo mora em casa alugada, e não numa igreja que funcionasse como sé
apostólica. Certamente, esse item já está respondido.
Considerando
o período de 42 a 61 d. C. São Pedro deve ter estado em Roma de 42 a 48, ou 49.
Se residiu lá ou não, não é possível afirmar com certeza. Pode certamente ter
morado em Roma durante esses anos.
A
respeito das saudações na carta aos Romanos, e a não referência a Pedro,
deve-se ao fato de que nessa época o apóstolo estava em Antioquia (57-58). Pelo
que consta, a volta de Pedro a Roma deu-se após os anos 60 d. C. Mais uma vez
os dados bíblicos são confirmados por essas informações históricas.
A
essa altura, o livro mostra que esse é o ponto do argumento mais forte que
poderia apresentar contra o primado: “Se isso não é suficiente para mostrar que Pedro
não era bispo de Roma sob nenhuma circunstância, não sabemos que argumento
poderia ser capaz de abrir os olhos espirituais daqueles que “tem seus olhos
tampados, e não conseguem ver; e suas mentes fechadas, e não conseguem
entender” (Is.44:18).” [ênfase no original] (p. 160).
Se
Pedro não estava em Roma nesse tempo, da escrita da Epístola aos Romanos, e
esse é o motivo porque Paulo não o menciona, está respondido tal argumento que
o livro julgou ser tão incisivo. Além do mais, por algum motivo silencia-se, em
vários lugares, a respeito de Pedro. Quando Pedro saía de Roma, isso não
significa que deixasse de ser o líder daquela Igreja. É muito simples entender
isso.
Não
é necessário referir-se pormenorizadamente ao argumento sobre a saudação da
Igreja na “Ásia”, aludida no livro como premissa presente na apologia em sites
católicos. O que foi escrito acima já é suficiente para mostrar que Pedro, na
época em que Paulo escreve aos Romanos, está em Antioquia.
São
Paulo deveria dar testemunho de Jesus em Roma. Mas, tal não significa que os
romanos não conhecessem o Nome de Jesus, e que não fossem cristãos. Pelo
contrário, São Paulo elogia sua fé. Quem havia evangelizado Roma? A História
incontestavelmente mostra que foi São Pedro.
Há
indícios de que os primeiros cristãos em Roma foram aqueles que vieram de
Jerusalém após o Pentecostes, mas que o estabelecimento da Igreja na cidade
eterna foi feito, em especial, por São Pedro, e também por São Paulo.
Em
Atos 28,15 São Paulo chega, com prisioneiro, a Roma. São Pedro não é mostrado
entre os visitantes do apóstolo. Onde estava? É possível que estivesse em Roma.
Desde Atos 12,17, como mostra Bonocore, Pedro estava sendo procurado pelas
autoridades judaicas, e não poderia visitar Paulo nessas condições, visto que o
mesmo estava no cativeiro para ser julgado. Certamente, esse é o motivo pelo
qual Pedro desaparece de cena a partir de Atos 12.
É
um dado bíblico que mostra fundamento para não mencionar Pedro. De fato, nem
mesmo o lugar o Espírito Santo quis revelar, por motivos óbvios da perseguição,
e apenas afirma que o apóstolo foi para outro lugar.
Na
página 159 o livro menciona a viagem de Paulo a Jerusalém, onde foi recebido
por Tiago. Interessantemente, visto seu estilo, bastante esclarecedor de sua
posição, o autor não elucida que essa ocasião se deu pela visita de Paulo a
Pedro. Ou seja, São Paulo foi justamente a Jerusalém, onde São Tiago era bispo,
para ver o apóstolo São Pedro. Ele não foi visitar Tiago, mas Pedro, é
necessário frisar, visto que o livro não o fez, mas a Bíblia é clara nesse
ponto.
Quando
o autor faz menção desse fato, em outro lugar, não aponta essa especificidade
importante, de modo a não refletir sobre o fato. São Paulo foi a Jerusalém
justamente para conhecer o apóstolo São Pedro.
Mais
tarde, em toda sua estadia em Roma, certamente Paulo viu a Pedro. Não o
sabemos, porém. Mas é muito provável. A Bíblia não afirma, nem nega. E o
argumento ex silencio é inócuo.
Na
página 160 o livro alude à ideia de que em Roma havia apenas alguns cristãos, e
por isso os judeus de lá não conheciam bem o Cristianismo. Mas, fica difícil
entender que a fé dos “alguns” cristãos de Roma fosse tão elogiada, e conhecida
em todo o mundo!
Isso
não parece harmonizar com pequena quantidade de cristãos. Aliás, a História
mostra que por nessa época Roma era habitada por grande quantidade de judeus
cristãos, bem como de muitos cristãos gentios. Uma afirmação: Paulo foi visitar
a Pedro em Jerusalém, não a Pedro e Tiago. Necessário frisar.
De
fato, ele viu Tiago por acaso, e mais nenhum outro apóstolo. Há
inconscientemente algo tentando fazer ofuscamento do status de Pedro nesse argumento!
Além
do mais, se aqueles judeus que viviam em Roma não tinham conhecimento básico do
Cristianismo, deve-se ao fato de ser imigrantes recentes, chegados em Roma após
o fim do Edito de Cláudio, que havia proibido a estadia de judeus na capital do
Império.
Desse
modo, aqueles judeus não sabiam realmente muito a respeito do Cristianismo. No
entanto, algo mais é necessário saber. Mark Bonocore mostra que os judeus
queriam informação sobre o ministério de Paulo, sobre o Cristianismo entre os
gentios, pois parece conhecer as características do Cristianismo em si, como aquele
já fundado em Roma, por Pedro. Sabiam, porém, de forma rudimentar, como se
fosse uma seita judaica. Assim, afirmam que não sabiam da referência de Paulo
enviada de Jerusalém. Pediram a ele suas explicações, e desejavam saber o que
Paulo pensava.
Certamente,
esse era o motivo por que queriam conversar com Paulo. Além do mais, pode-se
atentar ao fato de que se tratavam de judeus não abertos à mensagem cristã,
para os quais o cristianismo católico não passava de “seita”.
Na
página 165 o livro refere-se a Gl 1,18, e nesse momento tem de reconhecer que
Paulo quis conhecer a Pedro, e por isso foi a Jerusalém. Obviamente, nesse
tempo, São Pedro nunca tinha ido a Roma, mas essa viagem ocorreu após o ano 42.
Quanto a Roma nessa época, estava repleta de judeus.
Sobre
a questão do apostolado entre os judeus e entre os gentios, de Pedro e de
Paulo, diz o livro: “É lógico que Paulo jamais imaginou que Pedro assim como
ele também atuasse entre os gentios.” (p. 167). Essa afirmação deve ser
entendida biblicamente.
Para quem lê Gálatas
2,7-8 como "prova" contra o primado de Pedro, e sua estadia em Roma,
é necessário um conhecimento bíblico correto e mais aprofundado.
O ministério apostólico
não foi instituído para um grupo de cristãos somente. De fato, Cristo ordenou
aos apóstolos a pregar o Evangelho a toda criatura (cf. Mt 28, 19-20). Não
disse que uns deveriam pregar aos judeus e outros aos gentios. Esse ministério
restrito aos judeus foi o ministério de Cristo, antes da Sua morte, antes da
cruz, preparando o povo Judeu.
De forma geral, os doze
apóstolos iniciaram a evangelização entre os judeus, partindo do modelo deixado
por Jesus, e somente depois voltaram-se aos pagãos, como havia ordenado o
Senhor.
Assim o fez Nosso
Senhor, que veio primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Ainda assim,
voltava-se circunstancialmente aos pagãos.
Os primeiros doze
apóstolos foram iluminados pelo Espírito Santo para anunciar a salvação ao Povo
de Israel primeiramente. Então, Deus suscita São Paulo a pregar, também ele,
primeiro aos judeus, e depois aos gentios, porém, com o ministério específico
entre os gentios, de forma que ficou conhecido na Igreja Católica como o Doutor
das Nações.
Tendo esse contexto em
mente, sabe-se que São Pedro foi a Roma e ministrava para todos, embora sua
especificidade evangélica estivesse endereçada aos cristãos de origem judaica.
Entende-se, portanto,
que como chefe da Igreja sempre pregou a ambos os povos. Assim o foi em
Antioquia, sua primeira e provisória sede episcopal. A sé do papa era,
portanto, nesse tempo, a cidade de Antioquia, pois ali primeiramente lançou as
bases da Igreja o apóstolo Pedro.
Mais tarde, foi para
Roma. Mas, como visto na carta aos gálatas, Pedro convivia tanto com judeus,
como com os gentios. Isso fica claro no fato que deu ocasião para que fosse
repreendido por São Paulo. Isso prova cabalmente que o ministério petrino não
era restrito aos judeus, como se não pudesse habitar com os pagãos, e falar de
Cristo a eles. Nada disso. Trata-se, assim, do foco geral e do objetivo principal
do ministério apostólico dos apóstolos Pedro (e dos outros onze) e Paulo (com
seus colaboradores) [cf. Mark Bonocore].
O que o livro julga ser
o golpe mortal contra o primado, afirmando que São Pedro permaneceu em
Jerusalém, pois seu ministério não podia ser entre os gentios, está, portanto,
refutado.
Como afirma Bonocore, a
consideração de 2 Tm como referindo-se à “segunda” prisão de Paulo, isso se
deve à Tradição da Igreja, pois não é um fato revelado explicitamente na
Escritura. Se o livro aceita esse dado da Tradição, por que não render-se às
provas de que Pedro foi bispo de Roma, que a História mostra sem rodeios?
O que houve foi uma
leitura pouco atenta da História da Igreja na consideração desse fato. O que
foi provado acima é incontestável, mas o livro não o citou corretamente. Por
isso, sua argumentação assemelha-se a construir sobre fundamento arenoso.
Em Cl 4,11 São Paulo
fala dos únicos colaboradores cristãos judeus entre os gentios. Isso não
significa que não havia outros cristãos em Roma!!!! O livro conclui isso: “Portanto, ao dizer “únicos”, ele exclui a
possibilidade de haver algum judeu além daqueles citados que estivesse com ele
em Roma.” (p. 170).
Assim, em 2 Tm 4, ao
afirmar que somente Lucas estava com ele, isso não significa que não havia
cristãos em Roma, mas que do círculo mais próximo do apóstolo, dos seus
colaboradores, somente Lucas continuava consigo naquele momento. Excluir a
presença de autoridades cristãs em Roma, ou do Cristianismo em geral, no tempo
de São Paulo, é algo que a Bíblia não o faz, e o livro conclui isso de um verso
que não se refere à questão.
A própria presença de
São Paulo em Roma, com seus colaboradores, indica a presença importante de
cristãos naquela capital. A Epístola aos Romanos constitui outra prova de considerável
peso nessa questão. Assim, de dois versos que não afetam o assunto, o livro
usa-os para afirmar que os cristãos e suas autoridades, como conclui, não
habitavam Roma. É lastimável tal conclusão.
Afirmar que o fato de
Pedro não ser mencionado nas epístolas seria que ele estava sempre de viagem,
realmente não explica o caso. Mas, acima, o mesmo foi explicado sem recorrer a
tão simples afirmação.
Contudo, lendo os textos
bíblicos que o Protestantismo apresenta, e que o livro cita, como prova contra
o primado, os mesmos não afirmam o que o livro entende que o façam.
“E Jesus, chamado Justo; os quais são da
circuncisão; são estes unicamente os meus cooperadores no reino de Deus; e para
mim têm sido consolação.” (Cl 4,11).
É necessário entender
que São Paulo fala dos seus cooperadores no Reino de Deus, como afirmado,
indicando aqueles com os quais trabalhava no ministério. Não está afirmando que
inexistiam cristãos naqueles tempos fora os citados. Não se pode deduzir isso.
Igualmente em 2 Tm 4,11: “Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e
traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério.” Será que São Paulo está
afirmando que em Roma somente havia ele e São Lucas como cristãos? Pela
intepretação do livro essa é a única via para se chegar à resposta.
Mas, a Bíblia, e a
história, em nenhum lugar afirmam isso. Apenas, a Bíblia mostra que o apóstolo
estava sozinho na prisão, porque seus colaboradores o haviam deixado: Demas por
apostasia, Crescente e Tito haviam ido, respectivamente, para a Galácia e Dalmácia.
Somente Lucas permaneceu com ele. Esse é o assunto.
O livro tentou tirar a
possibilidade de Pedro estar em Roma a partir desses versos, e por eles chegou
a esvaziar Roma de cristãos. Provou demais. E, por isso, não provou nada.
Dessa forma, com intuito
de “provar” algo além do argumento ex
silencio, atribuiu-se a dois versos uma informação que os mesmos
desconhecem, e que outras partes da Bíblia desaprovam. Ainda, a tradição mostra
justamente o oposto daquilo que o livro tentou inculcar. Outra lacuna do mesmo.
Sendo assim, é
necessário repetir que a Igreja não afirma categoricamente que houve um
episcopado de 25 anos de São Pedro em Roma, mas que o apóstolo esteve naquela
cidade, nela permaneceu, pregou lá o Evangelho, estabeleceu a Igreja e, por fim,
foi martirizado sob o império de Nero. Foi o primeiro bispo de Roma, sucedido
por Lino.
Gledson Meireles.