Capítulo ainda em estudo, mas já disponibilizado, para que possa ajudar aqueles que estudam o tema.
Capítulo 11
Sobre
os fins imediatos da morte de Cristo
Segundo Owen, Cristo
morreu na cruz e intercede para que os bens adquiridos sem aplicados sobre
todos pelos quais morreu. As passagens apresentadas são Mateus 18, 11, também
Lucas 19, 10. Cristo veio cumprir a vontade de Deus de recuperar pecadores
perdidos. Assim, se Cristo não recuperasse quem Ele veio salvar, Ele falharia
no Seu propósito. Owen argumenta que se o propósito de Deus é salvar por meio
de Cristo, todos pelos quais Cristo morreu devem ser salvos.
No entanto, Jesus
várias vezes revelou Sua tristeza diante da recusa dos pecadores, o que não
faria sentido, visto que Ele é Deus e conhece o coração de todos, e não estaria
decepcionado pela resistência de pecadores que não estivessem no sacrifício
salvífico que iria realizar na cruz.
Em todo o contexto, o
Senhor Jesus nos mostra que o servo, aquele que foi perdoado por Deus através
do sacrifício de Sua cruz, que é o único meio de perdão, esse mesmo servo pode ter
seus pecados levados em conta uma vez que não perdoe seu irmão (cf. Mateus 18,
23-35)
A parábola é claro
quanto ao assunto, que diz que o Senhor tratará da mesma forma como foi tratado
aquele o servo. De fato, o servo havia sido perdoado, e após o perdão cometeu o
pecado contra seu irmão, não perdoando. Foi por isso chamado pelo Senhor e
castigado por ele.
Essa passagem pode
falar do purgatório, que purifica penas dos pecados ou pecados veniais,
cometidos sem plena culpa, com voluntária maldade. Mas, pode tratar da perda de
um salvo, uma vez que na teologia protestante essa passagem é entendida que o
homem não conseguirá nunca pagar a sua dívida, referindo-se às penas do
inferno. Se o pecado é mortal o servo estaria condenado, uma prova de que o
salvo pode deixar a graça, e pode ser perdido alguém pelo qual Cristo morreu,
que recebeu de fato em si o perdão dos pecados. Assim, quando o Senhor afirma
que veio salvar os perdidos, Ele veio salvar a todos (cf. Mateus 18, 11).
Por implicação, pode-se
afirmar que aqueles que já estavam à espera do Messias são as ovelhas, os que
se desgarraram podem ser hereges, apóstatas, e todos os pecadores que ainda não
faziam parte do rebanho. Dessa forma, a redenção universal é pressuposta em
todo o contexto.
A mesma doutrina
encontramos na conversão de Zaqueu. Ele quis a presença do Salvador,
procurando-o. Arrependeu-se dos pecados. Aceitou a graça. Em Lucas 19,20-22
servo mau havia recebido a mesma quantia, a mesma graça, e não fez nada com
ela, conforme as exigências do Senhor. O senhor tomou-lhe de volta o dinheiro,
assim como o Senhor retira sua graça daquele que a deixou em vão. O servo perdeu
a salvação. A comparação possibilitada pela parábola é contrária à noção de que
aquele homem não era servo, pois o Senhor o chamou e deu a ele a mesma quantia
que dera aos demais.
O verso 23 mostra que o
senhor daquele homem esperava os juros daquele dinheiro que tinha dado para que
ele o administrasse. Essa é a hora do juízo onde Deus espera o resultado do uso
da Sua graça. Não pode alguém receber graça salvífica a não ser pela morte de
Cristo. É a possibilidade da perda da graça: “Chamou dez dos seus servos” (v. 13). De fato, era um dos dez.
Assim, Cristo veio salvar o que estava perdido (cf. Lucas 19, 9), e há os que
se perdem por não usufruírem da graça recebida. Prova-se que Cristo morreu por
todos.
Aquele serve havia
recebido a graça para poder agradar seu senhor, mas não o fez. Isso mostra a
graça necessária a todos, para a salvação, e o livre-arbítrio que pode seguir
ou não, para obedecer ou não. O servo mau preferiu não obedecer às ordem: “Negociai até eu voltar” (v. 13), ainda
que conhecesse o senhor e soubesse do seu rigor (cf. v. 23). Eis a graça
necessária, eis o livre-arbítrio, eis a redenção universal.
Quando é dito que Cristo
veio salvar Seu povo (cf. Mt 1, 21), Owen afirma que isso significa a completa
e perfeita salvação do povo pelo qual Cristo veio salvar. Mas, tal coisa não é
necessária de se concluir. O povo de Israel esperava o Messias, o Salvador.
Cristo veio salvar seu povo. E, ainda, veio formar o povo novo, de Israel e
todas as nações.
São Paulo afirma que
Cristo veio salvar os pecadores, em 1 Timóteo 1, 15. Isso não significaria a
abertura da porta para que venha quem quiser, não seria para dar um caminho
para a salvação, não para comprar a reconciliação e perdão para quem talvez
nunca irá experimentar, mas salvar de toda culpa e poder do pecado, e da ira de
Deus por causa do pecado. Do contrário falharia no objetivo da Sua vinda. É um
argumento a favor da expiação limitada.
São Paulo afirma que
Jesus o estimou (ἡγήσατο)
como fiel, e o escolheu para o ministério. Trata do chamado interno, da
vocação, que acompanhou sua conversão, e que vem de Cristo Jesus, que conhece o
íntimo do homem. Quando Cristo tem por fiel um homem, é porque de fato ele o é,
pois sua estima não pode errar. Ainda, se a fidelidade é efeito da graça, não é
mesmo verdade que o livre-arbítrio foi considerado nessa transformação,
certamente simultânea, graça-livre-arbítrio, pois chamando alguém ao
ministério, estimando-o por fiel, é o mesmo que dar-lhe a confiança.
Considerando o
conhecimento infalível de Deus, essas palavras são melhores entendidas segundo
o livre-arbítrio do homem, que de um determinismo causado por Seu decreto.
São Paulo ainda fala da
sua ignorância, motivo da misericórdia alcançada por Deus. De fato, Deus não
chama o endurecido que voluntariamente se põe contra Ele. Assim, o apóstolo
afirma que encontrou misericórdia porque (hoti)
sendo ignorante (agnoon) pois agia na
incredulidade, na descrença. Mais uma vez, isso mostra o livre-arbítrio, onde
Deus conhecendo o coração, vê a ignorância do pecador, que age por não conhecer
a fé, e o cumula de graça.
Com essas palavras,
vemos que o zelo pouco esclarecido de Paulo foi contado por Deus, que viu um
homem bem intencionado e ignorante, agindo fora da fé, e por isso deu-lhe a
graça, confiando o ministério de apóstolo, julgando-o digno de confiança. Essas
qualidades que São Paulo tinha eram dons de Deus, mas provenientes de sua
liberdade, que foram levadas em conta para que fosse chamado ao evangelho e ao
ministério apostólico. É o mistério da graça e do livre-arbítrio.
Por isso, quando diz
que Jesus veio “salvar os pecadores”,
São Paulo está falando de todos, considerando a grandeza da graça, da fé e do
amor que há em Jesus. Versos adiante, São Paulo fala daqueles que não
permaneceram no bom combate com fidelidade e boa consciência e naufragaram na
fé (v. 19). Isso mostra mais uma vez, em todo o contexto, com exegese sólida,
que o Senhor dá a graça, e que o homem pode negá-la a ponto de naufragar na fé.
Por isso, Cristo veio salvar os pecadores, para que creiam, para que obedeçam,
para que andem no bom combate e, assim, não naufraguem na fé. Dessa forma,
trata-se de mais uma passagem que ensina a redenção universal.
Cristo veio na carne,
semelhante aos seus irmãos, para expiar os pecados do povo (Hebreus 2, 17.18)
Ele não veio expiar os pecados de alguns, mas de todo o povo.
Ainda, o texto de
Hebreus 2, 14-15, que daria o inteiro fim da dispensação da encarnação e oferta
de Jesus, na libertação dos que o Pai Lhe deu, não a compra de uma
possibilidade de libertação. Não são todos os homens filhos, como os que o Pai
Lhe deu, e todos os homens não são libertados, como podemos perceber facilmente.
Conclui assim que não foi por todos que Jesus tornou-se carne e sangue.
Em Hebreus 2, 10 é dito
que Jesus veio levar “muitos” filhos
à salvação. Não diz todos os filhos, o que na leitura reformada seria de se
esperar. Se a palavra muitos é tecnicamente e mais comumente entendida como em
contraste com todos, referindo-se à alguns entre a totalidade, então está sendo
dito que não são todos os filhos que serão salvos, mas muitos deles. Essa
argumentação é feita apenas para fins de reflexão. Sabemos que todos recebem a
graça para serem salvos, por meio de Cristo.
Sim, Cristo veio em
socorro da raça de Abraão (v. 17), não só em relação à carne, mas também por
meio da promessa. De fato, Cristo veio salvar a todos, mas aplicará a salvação
pela fé, conforme a promessa. Dessa forma, o contexto inteiro, provando a universalidade
da redenção, afirma em Hb 3, 6 que é necessário crer e perseverar até o fim,
como condição para a salvação.
Owen cita as passagens
mais claras, que seriam Efésios 5, 25-26 e Tito 2, 14. Afirmar que Cristo
entregou-se “pela Igreja” e “por nós” seria expressar toda a extensão
e força do Seu sacrifício, portanto, somente pelos eleitos.
No entanto, se um pai
de vários filhos afirma, em determinada ocasião, seu amor por um filho, não
significa que não ame os demais. Assim, expressões que afirmam a entrega na
cruz por alguém, pela igreja, por nós, e etc., não limitam o sacrifício de
Cristo na intenção apenas desses, mas os inclui, já que o sacrifício é
universal, e agora esses estão participando dos seus frutos, e foi igualmente
para isso, para formar Sua Igreja e o povo de Lhe pertence, que Cristo veio ao
mundo. A Escritura revela como isso é feito, e não se trata de que Jesus veio
salvar muitos, mas veio para todos.
Para Owen se a redenção
fosse universal, todos deveriam ser Igreja, Povo de Deus, purificado,
santificado, glorioso, trazido a Cristo, ou então Cristo teria falhado em
relação a grande parte dos homens. Se assim o fosse, a Escritura não daria
tamanha condição como em Hebreus 3, 16, contextualizado, como mostrado acima.
Em relação a João 17,
19, Owen afirma que Jesus não orou pelo mundo, como diz o verso 9. Contudo,
Jesus estava falando dos apóstolos que foram entregues a Ele. Não estava orando
por aqueles que estavam contra o evangelho, por pura dureza de coração, mas
pelos apóstolos e por todos os que irão crer. De fato, tal exemplo realça a
graça e o livre-arbítrio novamente.
Deus quer nos adotar
como filhos, dar-nos o Espírito, trazer-nos para perto dEle. Esses são os
propósitos de Deus, pelo qual Deus o Seu Filho. Assim, Owen afirma que o
sacrifício da cruz não foi feito por todos. Deus fez de Cristo pecado por nós
para que fôssemos justificados. Todos deveriam ser justificados, é o argumento
de Owen.
No entanto, Cristo foi
sacrifício por todos, e a suficiência do Seu sacrifício não diminui se muitos
não O aceitam. Os textos acima apresentados são suficientes para entender isso.
Quando Cristo alcança
para nós a eterna redenção, para purificar nossas consciências (cf. Hebreus 9),
não quer dizer que todos deverão receber esses dons e graças, mas que somente
aqueles que cumprirem as exigências mínimas necessárias, a condição que o
Senhor estabeleceu, esses serão redimidos.
Ainda que a própria
condição seja fruto da redenção, há uma parte do pecador a ser feita, para que
possa receber a salvação, a saber: o ato de crer. A Bíblia afirma que a fé não
é algo que o homem acrescenta, não é obra, e por isso qualquer objeção que faça
da fé uma coisa que o homem adiciona à salvação não é argumento de natureza
bíblica.
Dessa forma, deve-se
ter em mente que Romanos 4 trata do ato de fé como sendo algo do livre-arbítrio
humano ao compará-lo com as obras. O homem pode crer ou realizar obras para
receber o salário justo. Ao que trabalha há uma dívida para com ele. Ao que
apenas crê, Deus gratuitamente Lhe dá a justiça, como se tivesse feito algo.
Essa é basicamente a doutrina de toda a Escritura quanto à justificação. Isso
está de acordo com o dom da fé, recebido de Deus, pois Deus auxilia a liberdade
que deu ao homem e não opera tudo sozinho pela graça. Deus dá a graça de crer
em Cristo (Fl 1, 29), mas o ato de crer ainda é também exercido pelo homem em
seu livre-arbítrio.
Aqueles que na antiga
Lei eram purificados pelos sacrifícios de animais, recebiam legalmente seus
efeitos. Assim, os que são purificados pelo sangue de Cristo são eficazmente
santificados. Deve-se, com isso, saber que todos os filhos de Israel ofereciam
os sacrifícios com fé de que seriam por eles livrados das exigências legais e
purificados dos seus pecados pelo ato realizados. Da mesma forma, na Nova
Aliança somente terão o efeito do sacrifício de Cristo aqueles que forem pela
fé e o batismo introduzidos na aliança, e não que todos pelos quais Cristo
morreu serão eficazmente postos na nova aliança.
Cristo recebeu a
maldição da Lei na cruz, em nosso lugar. Assim, podemos agora pela fé em Cristo
ser salvos.
Owen cita o texto de Cl
1, 21-22, que trata da reconciliação. O mesmo não ajuda a tese do autor, que
afirma que a reconciliação operada na cruz deve ser aplicada eficazmente
somente nos eleitos porque foi somente para eles preparada.
Algo contrário lemos na
passagem de Colossenses 1, 21-22, com inclusão do verso 23, para melhor
contextualização. O verso 22 trata a
reconciliação aplicada no salvo, através da morte de Cristo. O verso 23 fornece
a condição: “se de fato continuais na fé” (εἴ
γε ἐπιμένετε τῇ πίστει, ei ge epimenete te pistei). Sem essa
condição não há como apresentar-se santos, imaculados, irrepreensível a Deus.
Como poderia uma condição dessa ser dada em contexto de clara reconciliação com
Deus aplicada no pecador se tal possibilidade fosse ausente? Impossível.
Entretanto, em Cl 3,
12-13 todos são chamados de eleitos, santos, e perdoados por Deus. Não é de
crer apenas em uma linguagem que trata da aparência exterior e da estima
humana, mas de fato, em realidade para todos os que estão na fé. Então, no próprio texto que trata da salvação
é dada também a condição para permanecer nela.
Pela doutrina bíblica,
Abraão é o pai dos judeus, segundo a carne e segundo a promessa De fato, é pais
dos circuncidados, e não só desses, mas principalmente dos que creem (cf. Rm 4,
12). Tornou-se pai de todas as nações, pela promessa, porém é pai daquele que
crê. Assim diz a Escritura: “E assim se tornou o pai de todos os incircuncisos
que creem” (Rm 4, 11).
As nações foram feitas
herdeiras (cf. Ef 3, 6). Disso, entende-se todas as nações, em geral,
resguardando a condição da fé, que é igualmente exigida dos judeus naturais. O
texto de Ef 2, 13-16 trata dessa verdade, da união dos dois povos, gentios e
judeus, reconciliando-os pela cruz de Cristo. Não há necessidade intrínseca
para ler o texto no sentido exigido pela interpretação de Owen, onde a
reconciliação deverá certamente ser aplicada a em favor dos quais Cristo fez
reconciliação. De fato, a condição de permanecer na fé para a salvação dos
reconciliados depõe contra essa leitura.
Sabe-se que Owen tem
tais exortações como suposições impossíveis, com meios empregados para manter
os eleitos na fé, ensinando-os o que seria se tal condição não fosse cumprida.
No entanto, tal leitura é patentemente forçada, e o contexto da Escritura a
dispensa. De fato, todos são exortados, a possibilidade é verdadeira, e muitos
provam-na por não esforçarem e não perseverarem.
O argumento então seria
de que os que naufragam na fé nunca foram de fato regenerados e santificados, e
foram apenas iluminados para conviverem temporariamente entre os crentes.
Deve-se responder a isso com a verdade da Escritura que mostra sem
qualificações crentes que por pura negligência espiritual deixam a graça. Nem
todos os que se separam da Igreja estão entre os que “não eram dos nossos”, pois há de fato os que entram na igreja por
motivos nada espirituais, enquanto muitos firmemente creem por um tempo, para
posteriormente esfriarem na fé.
Quando a Escritura
revela que Cristo morreu pelos pecadores, reconciliando inimigos, isso
significa a redenção universal. A reconciliação particular é dada por condição.
Assim, é entendida a comparação da reconciliação quando éramos pecadores,
ocorrida na cruz. Agora já reconciliados seremos salvos, pois já estamos
justificados. É como o fundamento para a graça da fé alcançada na cruz, agora
dependendo da abertura à graça.
Cristo adquiriu a
Igreja pelo Seu próprio sangue, Atos 20, 28, porque é por meio do sangue que os
pecadores alcançam o perdão e formam a igreja, e não porque Cristo na cruz
tinha um número limitado de pessoas para serem salvas. A certeza de Rm 8, 33-34
é um convite a todos nós, que cremos em Cristo, a nos confiarmos a Deus, na
esperança da salvação, que é um certeza da salvação que temos em Cristo
Da mesma forma, o reino
de sacerdotes daqueles que foram resgatados da terra pelo sangue de Cristo, Ap
5, 9-10, trata-se da declaração do resultado da cruz, sem limitar a extensão do
sacrifício somente aos que foram salvos. E Dn 9, 24 fala do selo e expiação dos
pecados. Isso também não garante a todos a aplicação dos méritos alcançados.
Há, portanto, a condição da fé.
Nossa vida é ligada à
morte de Cristo, João 6, 33. O Pão do céu dá vida ao mundo. Esse mundo não é
limitado aos eleitos, mas é realmente o mundo inteiro. Por isso, é justamente
um texto que afirma que Cristo veio dar vida ao mundo, esse mesmo mundo que jaz
na iniquidade, sem vida, sob a ira de Deus, morto em pecado. Cristo oferece Sua
vida a todos.
Owen afirma que isso
significa o mundo das ovelhas, citando João 10, 15.28. E mais, 2 Tm 1, 10 e por
final Rm 5, 6-10. Seriam as passagens contra a redenção universal. São Paulo
esforçou-se em favor dos eleitos, para que eles possam obter a salvação (cf. 2
Tm 2, 10). De fato, o Senhor conhece os que são Seus. No entanto, há o mistério
do livre-arbítrio em reposta à graça, o que explica esse esforço pela salvação
também (kai) dos eleitos.
Ao ler os efeitos da
morte de Cristo não se pode concluir que foram alcançados somente por alguns.
Owen, porém, afirma que a suposição é suficiente, a inferência é clara pela
Escritura e o argumento sólido. Mas, o que os textos sagrados citados mostraram
serve para responder os argumentos de Owen.
Muitos lugares apontam
aqueles pelos quais Jesus morreu, referenciados como “muitos”. Com referência a Mt 16, 28, o contexto define que se trata
de fato de muitos. Is 53, 11, Mc 10, 45, Mt 20,28, Hb 2,10. Se a palavra muitos
não é suficiente para restringir a obra de Cristo a alguns, argumenta Owen, pois
reconhece que a palavra muitos significa às vezes “todos”, como em Rm 5, 19, ele
afirma que nessas passagens citadas o sentido é realmente de muitos. E menciona
textos onde os muitos são apresentados com qualificações que não condizem com
todos, mas somente com os eleitos.
Um texto citado na
objeção que Owen pretende responder é Daniel 12, 2, o qual usa a palavra muitos
com o sentido de todos. Ele inicia sua resposta afirmando que o argumento não é
tirado apenas da palavra muitos, mas das qualificações anexadas à palavra.
Quando se divide uma população, e afirma algo em relação à uma parte,
entende-se que se refira somente a ela. Ainda, explica que os textos citados,
de Rm 5, 19 e Dn 12, 2 não são necessariamente referentes a todos. Em Dn pode
ser lido muitos para a vida e muitos para a vergonha e em Rm 5 não há
comparação entre número e número.
Cristo carregou nossos
pecados em Seu corpo, morreu por nossos pecados, foi feito maldição por nós. No
entanto, também é ensinado que temos de morrer para o pecado, pela fé, para que
vivamos para a justiça (1 Pd 2, 24, 3, 18; Isa. 53, 6; 1 Cor. 15, 3; Gal 3, 13)
Owen afirma, em
resposta às objeções, que está apenas expondo e desdobrando a mente da
Escritura e não adicionando a ela. Em resposta sobre o texto de João 10, 15, explica
a diferença entre os que creem e não creem: o “fundamento para esses atos está em suas diferentes condições em
respeito ao propósito de Deus e amor de Cristo”, citando como aparente nos
versos 26 e 27.
Na conversa que teve
com os judeus, Jesus afirma que se fizesse as obras de Deus, não precisariam
crer nEle (me pisteuete moi), e
continua: “Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras;
para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim e eu nele.”
(João 10, 38). Essa passagem contextualiza todo o capítulo em questão ao
livre-arbítrio para crer ou não crer.
Nas palavras de Owen,
aqueles judeus que não eram ovelhas e por essa causa não podiam crer, por não
serem ovelhas, pela impossibilidade que foi imposta por sua condição de estarem
fora do propósito salvífico de Deus.
No entanto, Jesus
mostra que eles podem crer, dando a oportunidade de crerem a partir das obras,
para que saibam e compreendam que o Pai está em Cristo e Cristo no Pai, o que é
o mesmo que dizer que eles serão pelas obras de Cristo levados à fé em Cristo e,
portanto, à salvação. Não falaria isso se houve uma impossibilidade intrínseca
como foi mencionado antes. Se eles não eram ovelhas e não podiam ouvir a voz de
Jesus, pela leitura calvinista, pelo contrário Jesus está agora revelando um
caminho que pode levá-los a crer.
Gledson Meireles.
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