quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

James Jordan sobre iconografia

Scott Hahn escreveu um livro chamado Rome Sweet Home. O teólogo protestante James B. Jordan afirma, a partir desse título, que o católico quer uma casa na terra, e nossa casa deveria ser Deus. No entanto, não é fato que o católico queira uma casa na terra. Em outro escrito, o teólogo afirma que Scott se tornou católico por causa dos ídolos, e o chama de apóstata, juntamente com Frankie Schaeffer. Scott tornou-se católico, e parece que o último tornou-se ortodoxo. Para Jordan, eles estavam à procura de ídolos!

Para quem conhece Scott Hahn verá que isso não combina com o cristão católico ele é. Trata-se de um homem convertido, culto, autor de importantes livros após sua conversão.

Então, o que o título do livro quer dizer apenas é que alguém voltou à verdadeira fé ao voltar à fé católica, enquanto estamos na Igreja Militante, e usa o lar doce lar em inglês com o trocadilho que utiliza a palavra Roma, que rima em inglês com lar (Rome – Home). Somente isso. Algo que não deveria ser alvo de crítica.

Jordan, falando do que chama de “iconolatria”, afirma que o coração pecaminoso do homem não regenerado odeia a Deus e quer se curvar a objetos feitos pela mão do homem. Isso significa que, segundo opinião de Jordan, o cristão que usa imagem não é cristão, não é fiel, é um não regenerado, ou seja, não é eleito, não é filho de Deus. E, resumindo, caso contrário, irá deixar a iconolatria.

Agora, reflitamos um pouco sobre o curvar-se a objetos. O coração do homem tende a curvar-se a objetos, diz o teólogo. Isso não parece ser tão fácil afirmar, já que o curvar-se é parte da idolatria, não a idolatria em si. O coração do homem tende à mentira, ao mais cômodo, ao que está mais de acordo com a vontade própria, a ser indulgente consigo mesmo, a procurar o que agrada a si.

Portanto, para o cristão que usa imagem, e tem de fato o coração regenerado, ele olha o curvar-se diante de uma imagem ou alguém como aquilo que o ato de fato é: uma submissão, um colocar-se sob a mesma missão, por exemplo, quando se venera um santo, portanto trata-se de uma reverência, de uma honra, o que está tudo incluso no conceito de veneração. Curvar-se, ajoelhar-se e prostrar-se tem a ver com a humildade, o serviço, a honra ao outro. Isso é muito cristão, bastante contra a natureza pecaminosa. O pecador não regenerado não se curva facilmente, a não ser por motivos que nutram seu coração pecador. Não é o caso de honrar as imagens pelo que representam, e de fato, não é o caso de sacrificar-se a Deus obedecendo-Lhe.

O pecado da idolatria é o de por outro ser no lugar do verdadeiro Deus e prestar-lhe as homenagens dignas somente a Deus. Curvar-se diante de outros deuses é parte do pecado de idolatria. O fato das religiões fazerem imagens e adorá-las está no pecado de idolatria, pelo que erram no alvo, no sentido, atribuindo a outra coisa algo que é próprio de Deus.

Mas, afirma James Jordan que curvar-se diante de imagens seria ódio a Deus. O cristão verdadeiro amaria mais a Deus do que o odiaria. Assim, os cristãos autênticos não usariam imagens.

Essa leitura é muito radical e tem a sua origem há muitos séculos, mas especialmente a partir do século 16, na ala reformada da Reforma Protestante. Essa parte do protestantismo tende a ver uma imagem ou ícone como algo em si, atrelado a um sentido próprio, como um ser à parte, separado daquilo que representa. Isso seria um ídolo, no sentido pagão mais crasso. Contudo, não é o ponto de vista cristão, não é o que o Cristianismo sempre ensinou sobre as imagens, que são apenas representações de realidades santas.

Dessa forma, o uso de ícones e imagens é de acordo com a natureza do homem, que faz uso material na sua existência, mas não impede, antes, auxilia em sua dimensão espiritual.

Parece que o amor aos ícones e imagens não poderia existir entre os cristãos, embora isso sempre tem sido a prática cristã, desde idade mais remota. Não há dados e evidências do período apostólico para pensamos em imagens no culto cristão primitivo, como também não há nenhuma proibição positiva. A proibição concernente aos ídolos é bastante compreensível, mas quanto a imagens e ícones a questão é resolvida de outra forma, mais exegética, teológica, e corroborada pelo testemunho histórico.

Parece que o autor, citando Gn 23, 7.12, quer ensinar que curvar-se diante dos homens é algo cristão, e pode ser praticado sem problemas, e que no paganismo a ideia está atrelada a submissão, o que deveria ser rejeitado, e seria errado. Fo o que transpareceu na posição de Jordan.

No entanto, o texto citado onde Abraão humilha-se diante do povo pedindo e comprando um lugar para sepultar Sara mostra uma veneração, um verdadeiro sinal de humildade, e o povo não curva-se diante de Abraão. A ideia de que os cristãos curvam-se uns diante dos outros não é histórico, não é praticado atualmente, e não é o que o texto citado ensina, e não refuta em nada a ideia de que um rei, por exemplo, legitimamente não se prostre diante do súdito.

Agora, o autor concede que podemos nos curvar e até prostrar-nos diante de autoridades, porque são pessoas e não objetos. Sendo imagens de Deus, os seres humanos estariam no direito de receber essas honras. No entanto, nega que imagens produzidas pelos homens possam ser veneradas. A obra da mão humana não teria esse direito.

Mesmo dizendo isso, o autor não mostra nenhum exemplo de protestantes afirmando isso, nem realizando o que afirma. Não se vê motivos de humildade assim, onde um cristão protestante curve-se ou prostre-se diante de uma realidade sagrada. De fato, esses gestos são lembrado apenas em questões polêmicas, e a tônica é a rejeição, onde os pastores afirmam que o povo de Deus curva-se somente perante Deus.

O autor argumenta de forma confusa, às vezes, como ficou claro acima, e sua posição carece de uma base bíblica mais sólida.

Quanto à diferença na arte decorativa e litúrgica é algo pacífico. No entanto, a questão não resolve o problema, pois não há qualquer proibição em curvar-se diante de uma arte sacra, mas diante de ídolos, que é uma arte sacra determinada, proveniente de algo contrário à fé, de uma essência pagã.

Conforme pensamento que o autor declara em seu texto, a arte sacra poderia existir, desde que não faça parte do culto, que não receba atenção cultual. No entanto, no culto de Israel cada objeto é sagrado, recebe benção, é honrado, tem sentido espiritual, e é venerado como um todo, como quando se considera a veneração do Templo em geral. O autor parece não poder captar esse sentido em todo o cenário que está considerando.

Se não há problema em figurar ou representar Jesus, como é verdade, a partir do momento em que Ele é homem, isso mostra que o princípio da encarnação de fato justifica a obra de arte cristã de imagens e ícones.

No entanto, aceitar isso e afirmar ao mesmo tempo que a arte não possa ser usada em sentido ritual, na liturgia cristã, é algo que não provem do que acaba de ser dito, e deve conter uma justificativa à parte, que não foi apresentada até o momento.

Então, o autor afirma que as igrejas fazem imagens com aspectos humanos a partir da humanidade de Jesus Cristo, comparando isso a paganismo, como se os cristãos não-regenerados, ou seja, falsos cristãos, segundo a opinião do autor, estivessem agindo como pagãos. Ele reconhece que é possível curvar-se e ajoelhar-se diante de homens, e que também é permitido figurar ou representar Jesus na arte. Nega, porém, que as imagens possam ser veneradas, e que possam ser objetos de culto.

O autor aceita a liceidade das imagens, mas tem opinião de que não devem ser usadas na Igreja. É uma qualificação importante, pois o que diz é confuso, muitas vezes, já que chama os cristãos que usam imagens como não-regenerados, ainda que aceitando a presença de imagens na Igreja. É certo que o autor tem opinião de que a arte deve apenas ser decorativa. O problema é que subjaz a crítica de que se deve não fazer imagens. De fato, na obra reformada ainda que no ensino parece ser bem incomum uso de imagens para ensinar.

No entanto, a confusão vem logo a seguir, quando o autor passa a ir contra a arte em si, mesmo decorativa. Ele afirma que quando vemos uma figura de Cristo “semana após semana” isso vem a trazer problemas para a teologia, onde uma certa figura de Cristo faria esquecer outra característica sua. Um Jesus gentil ou um governante ou etc. Isso faria ser melhor manter longe as imagens de Cristo!

Geralmente quando não se está raciocinando com dados corretos, acontece esse tipo de problema, essas incoerências, essas contradições. É óbvio que o autor diz para manter a figura longe do local de culto intenso! No entanto, afirma ser correto e lícito o uso de figuras para ensinar. De forma que é estranho pensar que uma figura que esteja na Igreja possa desfigurar um sinal de Cristo, atrapalhando a teologia, enquanto que desenhos e figuras usadas em outros contextos não pudessem servir para evitar suposto problema. Ou talvez não pudessem atrapalhar, segundo o que o autor acentuou.

O autor considera o caso da honra à bandeira, e diz que ela não é o substituto do “pesel de Deus”, não está em contexto litúrgico e não é feita curvação ou prostração diante dela. Isso ele não faria, afirma.

Parece, porém, não ser exato o uso de “pesel” como imagens em geral. Talvez relacionado a Deus sim, pois seria ídolo. Entretanto, o termo é mais usado em sentido de ídolo. Ainda, a questão de prostrar-se, que pelo autor é algo que é feito apenas diante de pessoas, não é biblicamente fundamento, já que na Bíblia pode-se prostrar diante de objetos também. Quem leu os estudos sobre as imagens já está cônscio disso.

O homem está acima da criação. Certo. No entanto, por que as obras de arte feitas por mãos humanas recebem crítica se forem colocadas em ambiente litúrgico para uso litúrgico?

Seria para não colocar-se sob a própria obra? No entanto, a obra não é vista como objeto com valor capaz de atrair a atenção total para si, mas como um sinal que aponta para fora, para Deus, por exemplo. Desse modo, a prostração é para Jesus que é feita, e não para a obra que O represente. Afirma Jordan: “Nós nunca podemos fazer qualquer tipo de ponto de contato religioso”.

O autor faz distinção entre as obras de Deus e as obras dos homens na liturgia. Afirma que o sacramento é algo que Deus faz. No entanto, quando se discute a doutrina do batismo, por exemplo, é fácil ver na teologia reformada, e na teologia protestante em geral, que o batismo torna-se nesse contexto obra feita por mãos humanas. Aliás, não sei se isso é opinião de Jordan. Pelo que observei, ele ensina a morte da alma e crê que os sacramentos são apenas simbólicos, que na comunhão há apenas pão e vinho. Voltemos ao assunto. É preciso maior argumentação nesse quesito, exatidão na linguagem, coerência de raciocínio. O sacramento é algo maior que nós na liturgia, algo que Deus faz, onde o homem deve estar submisso. As imagens seriam algo menor, algo da mão do homem, subordinado ao homem. Quanto ao sacramento do batismo, ao se tratar da questão específica, torna-se obra feita por mãos humanas. É um exemplo de inexatidão na apologética protestante.

Enfim, o autor afirma que fazer imagens é um exemplo de pecado de impaciência, algo que vai contra a visão beatífica, diríamos. Na verdade, a arte cristã é profunda, salutar, e digna de honra. Ela ensina o evangelho da salvação. O autor deveria refletir sobre isso.

http://www.biblicalhorizons.com/rite-reasons/no-36-the-second-word-iv-implications/

Gledson Meireles.

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