sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

John Owen: estudo do capítulo 28, livro IV, sobre o texto de 2 Pedro 3, 9

Segue a refutação a um argumento de Owen baseado em 2 Pd 3, 9.

Em 2 Pedro 3, 9, o Senhor revela Seu desejo à igreja, em meio ao qual diz: “não querendo que alguns se percam”. Essas palavras denotam a possibilidade da perda da salvação por aqueles que estão firmes na graça e na fé, como é o caso do público que recebeu a epístola inspirada. E, segue o Espírito Santo: “senão que todos venham a arrepender-se”.

Esse arrependimento, essa vida de santidade, de penitência, o Senhor ensina para que continuemos na graça, não percamos a salvação. O texto é claro em si, e os muitos exemplos e provas mostrados antes, em contexto e com sólida argumentação, contra as objeções de Owen, mostram que 2 Pd 3, 9 de fato é um texto que implica a redenção universal.

Uma vez que o salvo pode perder a salvação, visto que a salvação vem de Deus em Cristo, segue-se que Jesus morreu por todos.

Mas, Owen afirma que o argumento assim tirado dessa passagem é corromper as palavras do apóstolo. Afirma que o público cristão referido na passagem recebeu bênçãos (2 Pd 1, 4), são amados (2 Pd 3, 1), são opostos aos escarnecedores (2 Pd 3, 3), e não poderia ser que a vontade que Deus tem para com esses, de que nenhum se perca e que todos se arrependem, que essa vontade fosse estendida a todos fora esse grupo dos eleitos.

Muitos do mundo, diz Owen, Deus nunca faz conhecer Sua vontade, não chama ao arrependimento, nunca ouvem sobre o caminho de salvação. Seria loucura afirmar que a vontade de Deus que todos se arrependem tenha a ver com todos e cada um no mundo, mas que estaria restrito ao número dos eleitos.

As contradições à doutrina que Owen estabelece por sua interpretação, seria que Deus não poderia querer que tais venham ao arrependimento, porque, afirma Owen, Ele os cortou desde a infância para fora da aliança, esses são os que Ele odeia desde a eternidade, dos quais Ele esconde os meios da graça, aos quais não irá dar o arrependimento, e assim sabe que é impossível que esses tenham arrependimento sem que seja dado por Deus. Então, conclui que o texto de 2 Pedro 3, 9 trata somente dos eleitos. Ainda, menciona Ezequiel 18, 23.32.

De fato, desses textos citados, Owen afirma que os mesmos corroboram sua intepretação, acima apresentada. No entanto, vejamos mais uma vez que esse não é o caso, e que claramente o ponto de vista de Owen cairá com a força da Palavra de Deus.

Vimos acima, que 2 Pedro 3, 9 de fato ensina que Deus quer a salvação de todos, e que todos se arrependam, e exorta os fieis para que nenhum se perca. Mas, Owen afirma que o Senhor está afirmando isso apenas aos eleitos.

Contudo, a resposta dada pela leitura simples do texto é que se assim fosse não haveria possibilidade alguma de alguém se perder, e nenhuma necessidade de desejar o arrependimento da forma que o texto apresenta. Essa possibilidade de perda da salvação que o texto indica não é compatível com a interpretação de Owen.

Ainda, quando os cristãos são chamados santos, eleitos, amados, etc., isso não é por pura estima humana, reconhecimento apenas externo, uma opinião da perspectiva humana do escritor bíblico, já que a Escritura aí está afirmando a palavra de Deus. É o Espírito Santo quem diz essas palavras.

Também, não se pode afirmar a perda de um só dos eleitos. Como resolver a questão? De fato, todos são eleitos em Cristo, quando creem, e são santos, eleitos, amador por Deus quando continuam na fé. Dessa forma, o Espírito Santo está afirmando o que Deus quer de nós, e nos chamada à conversão. Somos santos e eleitos em Cristo e devemos nos santificar. No fim, somente os eleitos perseverarão, isso é um fato.

Na verdade, o que perde a fé, o que cai em heresia de perdição, o que apostata da fé, não pode estar mais no número dos eleitos em Cristo. Isso significa que muitos podem ser cortados do livro da vida.

E quanto ao texto de Ez 18, 23. 32: “Desejaria eu, de qualquer maneira, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?”.

É verdadeiro, igualmente, que Deus quer que o ímpio de salve. Não é verdade que Deus tirou alguém da aliança, que odeie alguém eternamente, que esconda de alguém os meios da graça, e que negue o dom do arrependimento a quem se abre à graça. Obviamente dirá que abrir-se à graça é efeito da graça. No entanto, temos em vista, com essa expressão, o livre-arbítrio sendo auxiliado pela graça.

Dessa forma, Deus não quer que o ímpio seja condenado, mas que viva a vida eterna. Dessa firma, esses são uns dos textos que mostram mais claramente o livre-arbítrio: “Porque não tenho prazer na morte do que morre, diz o Senhor Deus; convertei-vos, pois, e vivei”.

Assim, também o verso 21 afirma que se o ímpio se converter e guardar os mandamentos, ele será salvo, não morrerá. O texto literalmente está afirmando algo a ser feito para herdar a graça. A conversão, a guarda dos mandamentos, a vida de retidão e justiça, para não morrer e ser salvos. Essa morte poderia ser física e espiritual, pois morrendo fora da graça não encontraria a vida eterna. No entanto, deve ser entendida em primeiro lugar espiritualmente. O ímpio que se converter viverá para sempre. Essa condição é dada por Deus. Essa é a vontade de Deus. Com isso, temos mais uma prova da redenção universal.

Gledson Meireles

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

John Owen: estudo do capítulo 13, livro II

 Capítulo 13


Da aplicação e impetração

Com o respectivo capítulo Owen promete dar o golpe de misericórdia no argumento que toca a aplicação e a impetração. Ele afirma que realmente há distinção entre impetração e aplicação, o que pode ser mantido, mas não há separação, portanto, a doutrina reformada não admite tal separação.

Owen afirma que morte de Cristo não pode ser vista como um remédio em uma caixa, como disponível a todos, indiferentemente. Owen compara a um homem que obtém um ofício para alguém, e questiona se isso ficará inserto, se ele terá o ofício ou não? Seria violência ao senso comum afirmar que algo seria de um homem ou que poderia não ser dele, quando o mesmo foi obtido para ele.

No entanto, essa comparação parece não ser adequada para a verdadeira doutrina da redenção, porque Cristo adquire para nós a salvação mas nós dá verdadeira condição a ser cumprida. Esse é o ponto nevrálgico da questão que dispensa a comparação acima, já que a salvação é de fato aplicada sob a condição da fé.

Mas, ainda, Owen afirma que seria contrário à razão que a morte de Cristo, na intenção de Deus, devesse ser aplicada a quem não terá parte nos seus méritos. A opinião oposta à de Owen seria que a morte de Cristo é aplicada a todos e os seus frutos nunca são feitos conhecer à maior parte desse todos.

O autor está tratando da questão dos réprobos, que morrem na condenação, mas que tiveram oportunidade de serem salvos, porque Cristo morreu por eles, mas que eles nunca experimentaram os frutos da salvação.

No entanto, essa problemática não afeta a doutrina da redenção, que é eficaz, suficiente a todos, poderosa em si mesma, mas que a aplicação está condicionada, e os que não cumprem o exigido pela sabedoria amorosa de Deus, não podem tomar parte naquilo que se recusaram a experimentar.

A suposição de que a morte de Cristo deve ser feita conhecida a todos, ao ponto de dizer que alguém que morre, no Novo Testamento, após Cristo, e não conheceu nada sobre Ele e Seu sacrifício, irá ser certamente condenado não é uma suposição bíblica.

De fato, no Antigo Testamento não eram salvos somente membros do povo judeu, quando todas as nações estavam na condenação. De fato, Romanos 1 deixa claro que é era possível que os gentios alcançassem a graça pelo conhecimento de Deus e obedecendo à lei natural, o que é bastante difícil e incomum, tratando-se apenas dessa possibilidade.

Ainda, no Novo Testamento a graça foi manifestada por Cristo e a sua superabundância garante ainda mais o necessário para que todos sejam salvos segundo a vontade de Deus. Assim, ainda que alguém não conheça o evangelho é possível que seja salvo por Cristo. Deus quer a salvação de todos, Cristo morreu por todos, a Igreja intercede em favor de todos, e dessa forma é possível que alguém abrace a graça de Deus e seja salvo por Cristo, segundo a misericórdia e o incomparável amor de Deus.

Em continuação, Owen afirma que seria contrário à razão que o resgate fosse pago para os cativos, para sua libertação, e ainda assim os cativos não fossem libertados e deixados ir embora. Cita, logo a seguir, Mateus 20, 28, que diz que Cristo deu a vida em resgate de muitos. Sim, mas o resgate está condicionado, e não é dado absolutamente e imediatamente.

Entretanto, na cruz o pagamento perpetrado por Cristo só é dado àquele que estiver na aliança com Cristo por meio da fé. Essa condição é necessária, e não apenas o pagamento, o que torna a distinção e separação da impetração e aplicação absolutamente necessária.

Ainda, Owen diz que seria contrário à Escritura. Owen considera o argumento de que Cristo comprou por Sua morte todas as coisas não absolutamente, mas, sob condição. A condição seria, de acordo com os argumentos propostos, a “não resistência da redenção oferecida”, “uma rendição ao convite do evangelho”, “a fé”.

Assim, Owen afirma reconhecendo que essa condição de fato deve ser apresentada a todos. A todos, pelos quais Jesus morreu, deve haver um meio para saber disso, para conhecer Cristo e o Seu sacrifício, e está somente no poder de Jesus dar a eles esses meios. Nessa ocasião, Owen faz uma comparação, que pode ser resumida no caso de um médico que pode curar tal doença, podendo curar todos que fossem a ele, e enviasse alguém para anunciar isso, o único representante, e essa pessoa não anunciasse a todos. Isso revelaria que tal pessoa não deseja a cura de todos.

Essa comparação é feita na suposição de que o evangelho deve ser absolutamente pregado a todo o que deverá ser salvo. Caso contrário, todos os que nunca ouviram o evangelho serão condenados. Essa objeção já está respondida, visto que Deus quer a salvação de todos, enviou Cristo para salvar o mundo, e deseja que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.

A razão usada por Owen para argumentar dessa forma, pode ser empregada contra a doutrina reformada que contraria a revelação de que Deus deseja salvar a todos, quando apela para o sentido metafísico e afirma que na verdade Deus não quer que todos sejam salvos, visto que envia o Filho para salvar, como único meio de salvação, sob a condição da fé, que é adquirida pelo mesmo Filho a todos pelos quais morreu, onde muitos serão deixados na ignorância do Nome de Cristo, e muitos serão deixados na incredulidade, não havendo graça alguma pela qual pudessem chegar à fé, o que contraria a revelação.

Por isso, o problema é que a Escritura não diz que aquele que não ouvir algo do evangelho estará irremediavelmente perdido, já que Hebreus 11, 6 afirma que a fé em Deus e em Seu poder de retribuir a quem o serve é o fundamento para agradar a Deus. Ainda, é doutrina bíblica que os que não conhecem a Lei podem seguir a Deus através da Lei natural. Todos os que forem salvos dessa maneira são salvos por Cristo. No entanto, é um meio extraordinário, que somente Deus sabe como funciona, o que exclui a missão ordinária da Igreja de anunciar a salvação, ensinar e batizar a todos. Isso não é afirmar a salvação de todos os que não ouvem o evangelho, mas reconhecer a possibilidade da graça de Deus em Cristo chegar a eles de alguma forma.

Mas Owen questiona se a condição está no poder de todos cumpri-la ou não. Se a resposta for positiva, todos podem crer, o que seria falso. Se a resposta é negativa, então o Senhor irá conceder a graça de crer ou não? Se irá conceder, por que nem todos creem e são salvos? Se não irá conceder, então a impetração, a obtenção da salvação e redenção, seria que Deus intenciona que Cristo morrerá por todos, mas eles não terão o bem se eles não cumprirem o que Deus sabe que eles não são capazes de forma alguma de cumprir, e que somente Deus pode capacitá-los a realizar a condição, e em relação à maior parte deles Deus não irá fazer.

Owen pergunta, então, se essa é a intenção de Cristo de morrer para o bem deles? Ou Cristo morreu por eles para expô-los à vergonha e à miséria? Seria como prometer algo a um cego sob a condição de que ele veja.

A exigência de Owen na qual fundamenta essa ilustração é que uma vez que a fé é o meio pelo qual se chega à salvação, e que a mesma é dom de Deus, Cristo deveria dar a todos a fé se de fato tiver morrido por todos.

No entanto, a questão que dificulta o entendimento de Owen e dos reformados é que uma vez que não creem na liberdade, no livre-arbítrio do homem, não podem compreender que a fé é um dom divino, mas que ainda há uma cooperação humana que exerce livremente o ato de crer, de modo a receber livremente a graça. Assim, Cristo morreu por todos, concede a graça necessária a todos, e muitos não creem por pura resistência diante da graça. Há muitos exemplos no evangelho, onde Cristo claramente revela Sua identidade, e muitos não creem, e são advertidos por Cristo por recusarem-se a crer. Continuemos com o estudo dos argumentos apresentados.

Então, Owen resolve a questão afirmando que a condição da fé é adquirida para nós pela morte de Cristo ou não é. Se não, isso é injurioso e contra a Escritura. Se sim, por que não é conferida a todos, se Cristo morreu por todos? Não se pode inventar outra condição para que a fé seja dada. Se, então, os que não recusam ou resistem os meios da graça, todos esses receberão os frutos da morte de Cristo? Se for assim os infiéis, os pagãos, as crianças mortas sem ouvirem o evangelho serão salvos.

Outra incompreensão da doutrina da redenção universal, a partir da concepção de que a morte de Cristo tem a impetração e a aplicação unidas, de modo a fazer necessária a aplicação dos frutos a todos, incluindo os meios pelos quais serão aplicados, o que não é a doutrina bíblica. Também não é exato que todos os que não recusam a graça, ou resistem ao seu influxo, estão salvos, porque é necessário crer, ao que possuem o uso da razão, ou não oferecer resistência em caso daqueles que não chegaram ao uso da razão, mas que foram incluídos na Nova Aliança belo batismo. Os que morrem sem o batismo são entregues à misericórdia de Deus.

Na verdade, Cristo morreu por todos e cada um, cada homem e mulher, sem exceção, e adquiriu o dom da fé, a única condição pela qual o pecador que conhece o evangelho pode ser salvo, mas não há nenhuma parte da Escritura que exija que a fé seja dada a todos pelos quais Cristo morreu.

Mas, Owen afirma que, assim, Cristo, seria um mediador pela metade, adquirindo o fim e não os meios. E, enfim, afirma o seguinte: “Cristo não morreu por ninguém sob condição, se eles crerem, mas Ele morreu por todos os eleitos de Deus, para que eles creiam, e crendo tenham vida eterna”.

E, continua, afirmando que não é ensinado que se cremos então Cristo morreu por nós, como se a fé realizasse isso, o ato criando o objeto, mas o contrário, Cristo morreu para que possamos crer. A salvação seria dada condicionalmente, mas a fé, que é a condição, seria adquirida absolutamente.

Essa conclusão, de que a salvação de fato é adquirida pela impetração e aplicação dos frutos e benefícios da morte de Jesus Cristo no pecador, está correta. A distinção mencionada é reconhecida, e é outra correção da doutrina. A condição da fé para que a aplicação da salvação seja feita, também está correta. A fé como dom de Deus, efeito da graça, também está correto. A fé é o meio pelo qual o pecador recebe em si o dom da salvação dada por Cristo.

O problema é que não há na Escritura lugar algum que ensina que a fé é absolutamente adquirida e dada a todos aqueles pelos quais Cristo morreu. Pelo contrário, inúmeros lugares mostram que há resistência final da fé, recusa da graça, perda da fé, pecados que anulam a fé, mostrando que Cristo morreu por todos, que a salvação é condicionada à fé, que a fé é um dom da graça, que o homem tem livre-arbítrio, que pode receber ou recusar a fé. Não há ensino na Bíblia de que a fé é dada absolutamente a todos pelos quais Jesus morreu.

Gledson Meireles.

BRIAN SCHWERTLEY: resposta ao livro Catolicismo Romano - uma análise bíblica, do pastor Brian

 CATOLICISMO

 

uma reflexão

 

em resposta

 

ao livro de Brian Schwertley –

 

 

“Catolicismo Romano – uma análise bíblica.”



Gledson Meireles.

 

O Reverendo Brian é graduado no Seminário Episcopal da Filadélfia, e mestre em divindade. Autor de livros eruditos, e traduzido para vários idiomas, ocupa-se também em analisar o Catolicismo. De suas obras, a presente reflexão refere-se ao opúsculo de título referido acima.

 

Autoridade

A Igreja Católica crê na Bíblia, ensina que a Bíblia é a carta de Deus para nós, que é Cristo o Seu único conteúdo, e a venera “como o próprio Corpo do Senhor”. Isso porque Deus é o Autor da Bíblia, e por isso “todas as suas partes” são verdade, são palavras do Espírito Santo (cf. CIC n. 101, 102, 103, 107).

A transmissão da Palavra de Deus por toda a história da vida da Igreja se deu em primeiro lugar “oralmente”. Depois essa Palavra foi redigida, posta por escrito, compondo, na era cristã, a Bíblia Sagrada na sua segunda parte, o Novo Testamento. E assim, pela pregação apostólica a verdade de Deus é conservada intacta na Igreja. Por esse motivo, a certeza da verdade cristã a Igreja recebe de duas vias iguais: a Bíblia e a tradição. (CIC n. 82)

 A Bíblia ensina que há tradições erradas, como está em Mateus 7:5,7 e 8: “Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos por lavar? (...) Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas semelhantes a estas.”

 E continua dizendo Jesus: “E dizia-lhes: Bem invalidais o mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. (v. 9)”. Quando lemos essas verdades ficamos preocupados com relação à tradição, já que essa é condenada como algo a desonrar a Palavra de Deus, a invalidar o mandamento. E, assim, muitos dizem: “Está vendo, a Bíblia condena a tradição!”.

 Antes de prosseguirmos, devemos ler mais um pouco a Bíblia: “Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.” (1 Tessalonicenses 2:15). Essas palavras estão entre as primeiras escritas no Novo Testamento. São Paulo exorta a estar firme e guardar “as tradições”, tanto ensinadas oralmente, como por carta.

 Como a Bíblia não possui contradições, então há duas coisas ensinadas nesses textos: uma se refere às tradições erradas, e outra às tradições de Deus. Existem, portanto, verdadeiras tradições e falsas tradições. Por isso, Jesus condena aquelas tradições que afastavam o povo da verdade, enquanto que Paulo está ensinando que as tradições cristãs não podem ser deixadas de lado, pois são elas Palavra de Deus.

 Assim, quando São Paulo também condena as filosofias e tradições, está fazendo o que Cristo fez em Marcos 7, não o que está em 1 Tess 2. Em Colossenses 2:8 está escrito: “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. O texto ensina que devemos nos precaver dos enganos, que vêm “por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens”. Não é uma condenação geral da filosofia nem da tradição, mas especificamente de falsas filosofias e das tradições humanas.

 Quando os escritores cristãos explicavam a doutrina cristã usando linguagem filosófica para aqueles que a entendiam, eles não estavam ensinando filosofia, mas ensinavam o Evangelho de forma compreensível aos filósofos. Assim fez São Paulo citando palavra de filósofos, partindo do conhecimento dos pagãos para ensinar sobre Cristo (cf. Atos). Essa também foi a metodologia seguida sistematicamente por São Tomás de Aquino, que conciliou a fé e a razão de forma magistral.

Desse modo, o ensino de 1 Timóteo 3:16-17: “Toda a Escritura é divinamente inspirada , e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito , e perfeitamente instruído para toda a boa obra.”, não contradiz o ensino da necessidade da tradição. Toda a Escritura é proveitosa, é necessária ser lida, é luz para nossa caminhada. Por isso ensina o Segundo Catecismo da Doutrina Cristã (106ª edição, Ed. Vozes): “É necessário que todos os cristãos leiam a Bíblia? Sim; é necessário que todos os cristãos leiam a Bíblia e a estudem com carinho para poderem participar consciente e frutuosamente da vida da Igreja”.  Então, toda tradição que devemos guardar, segundo 1 Tess 2:15, está de acordo com a Escritura.

 A Tradição não é encontrada somente em cada escrito cristão, mas pelo consenso dos padres, que de certa forma existe sim. Igualmente existem as práticas cristãs cristalizadas durante a história e que foram fundamentadas pela Palavra de Deus. Principalmente, porém, a tradição é transmitida pelas decisões conciliares. Desse modo, a tradição é um comentário da Bíblia.

 Nosso Senhor Jesus criticou severamente os líderes judeus, mas não negou-lhes a autoridade: “Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os escribas e fariseus.”(Mateus 23:2) E quanto ao que eles ensinavam, Cristo ordenou ao povo a seguir: “Todas as coisas, pois, que vos disserem observeis.” (v. 3)

 Estar na “cadeira de Moisés” constitui autoridade legítima, passada por tradição, por isso o dever da obediência. No entanto, a hipocrisia dos chefes era tamanha, e Cristo disse para não imitar-lhes os maus exemplos “porque dizem e não fazem”.

 Então, sabemos que Deus rejeita tradições de homens, mas nos manda guardar Suas tradições, rejeitou as tradições judaicas que impediam o povo a obedecer o mandamento de Deus, mas confirmou a autoridade dos escribas e fariseus mandando o povo a obedecer-lhes, confirmando as tradições legítimas.

A Igreja ensina que ler a Bíblia é necessário, para conscientização e participação na Igreja, crescimento na santidade, enfim, para o conhecimento de Jesus Cristo. As vezes que a Igreja limitou o uso da Bíblia foram motivadas por questões localizadas, e as proibições duraram variados tempos em lugares diferentes.

E um fato de que a doutrina da Igreja é verdadeira é que: quando a Bíblia ganhou maior circulação, com a invenção da imprensa, e diante dos ataques protestantes, e etc., a doutrina católica foi confirmada, exposta claramente, definida dogmaticamente, em todos os pontos atacados pelos reformadores. Nunca foi costume católico a proibição da Bíblia, mas sim, sua divulgação, por meios santos e eficazes, segundo as circunstâncias da época.

 Os cristãos na Idade Média liam a Bíblia seguindo o método Lectio Divina e eram versados nas Escrituras, além de que, assíduos na santa Missa, até mesmo os analfabetos entendiam verdades que muitos letrados do século 21 ainda não são capazes de entender.

Desse modo, quando alguém pregar que a tradição não deve ser seguida, pergunte: “a que tradição se refere?”. Se disser que a tradição verdadeira foi inteiramente escrita na Bíblia, peça provas e argumentos bíblicos. Se não puder oferecê-los, um bom diálogo bíblico poderá ser proveitoso para o entendimento exato de que o Senhor Jesus fala na vida da Igreja Católica por suas sãs tradições, que são harmoniosas com a Bíblia.

 Breve reflexão - Autoridade: Schwertley faz oposição entre tradição e Palavra de Deus, como se houvesse apenas tradições errôneas. É seu primeiro equívoco. A Igreja Católica tem a Bíblia e a Tradição como Palavra de Deus, e o Magistério como defensor dessa Palavra. A Bíblia é comentada pela Tradição, anunciada pelo Magistério, e tudo fundamenta-se nela. O Protestantismo, por sua vez, ainda que admita a tradição e a autoridade da Igreja, não as tem como infalíveis, o que abre espaço para inovações, como tem acontecido. E, de fato, o princípio Sola Scriptura não é bíblico.

A posição católica quanto à Bíblia é de profunda veneração. A Igreja anuncia a Palavra de Deus destemidamente. Afirmar que a Igreja “teme” a Escritura é uma posição bastante incompatível, no mínimo, com os dados históricos, que vão muito além dos que foram citados pelo autor.

 

 Imagens na Adoração

 Devemos pensar nessa questão. Os judeus usavam imagens em sua adoração ao Deus único. Não podiam representar a Deus, que não tinham visto, e nem podiam imitar as nações pagãs. No entanto, Deus tinha ordenado a confecção de certas imagens, como a arca com os anjos sobre a tampa, as imagens de anjos, as imagens de bois, de flores e etc., que ensinavam coisas espirituais, e eram tratadas com reverência religiosa profunda pelo Povo de Deus.

 De fato, a presença de Deus era simbolizada e efetuada pela Arca da Aliança, e o Senhor falava do meio dos querubins. E no Santo dos Santos havia imagens enormes de anjos.

Sendo assim, a Igreja herdou o costume antigo e aos poucos foi utilizando imagens na adoração a Deus. As imagens não são adoradas, mas veneradas, tidas com respeito pelo que representam.

 Basta lembrar que os cristãos que sofriam perseguições usavam imagens, pintadas nas paredes, com cenas da Sagrada Escritura, e também aos poucos crescia o uso das esculturas como arte cristã. Todavia, não se curvavam diante das imagens dos deuses falsos, e eram martirizados por não compactuarem com a idolatria.

 Assim, os cristãos católicos faziam, e continuam a fazer, distinção entre a verdadeira veneração e a adoração dos ídolos, que são coisas diferentes. A proibição do Êxodo 20 se restringia às imagens dos falsos deuses, que eram os ídolos. Está escrito: “Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.”(Êx 20:4)

 Contudo, quando as imagens eram para usos religiosos e não tivessem relação com o paganismo, Deus mesmo ordenava sua confecção. Dessa maneira, Deus disse a Moisés: “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo sido picado, olhar para ela.”(Núm 21:8)

 Aquela serpente foi utilizada por Deus para curar os israelitas e constituiu um tipo de Cristo: “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado”. (Jo 3:14)

 Se a prostração, ou o curvar-se diante de uma imagem constituísse idolatria, isso teria ocorrido muitas vezes na Bíblia, como no caso de Josué, que prostrou-se quase um dia inteiro perante a Arca. (Jos 7:6)

 No entanto, ainda que a Arca não era uma imagem do Deus invisível, se tratava de uma imagem que O simbolizava. Desse modo, numa “guerra de imagens” o Deus de Israel prostrou o deus falso dos filisteus, Dagon. (1 Sm 6)

Fazer imagens de escultura nunca foi o problema, mas sim a prática de adorá-las. Isso é o que a Bíblia ensina, como visto acima. O povo de Deus era castigado quando caía em idolatria.

 Breve reflexão do capítulo 1: Brian Schwertley (e Martyn Lloyd-Jones) entende que a Igreja Católica “ensina” a “adorar” imagens, quando a mesma Igreja condena a adoração de imagens, e qualquer idolatria. Os atos de beijar, ajoelhar, curvar-se, prostrar-se, podem ser adoração ou simples honra, respeito, homenagem, o que chama-se mais propriamente de veneração. A Bíblia não fornece base para a extinção de imagens na Igreja. Pode ser verificado que o culto a Deus no Antigo Testamento admitia imagens, por ordem divina. A proibição de imagens é inovação, sem fundamento bíblico. Numa análise mais refletida da Bíblia, alguém verá que o uso da imagem é lícito, que a Igreja Católica guarda essa prática, e que o Protestantismo introduziu um erro ao condenar esse costume cristão. Aliás, não é natural que o homem tenha aversão a imagens, pelo contrário. O que a Igreja faz é evangelizar e orientar o povo cristão para um uso sadio e bíblico desses objetos, para honra e glória de Deus. A Bíblia ensina que o Senhor dos Exércitos se assenta sobre os querubins (cf. 1 Sm 4,4; 2 Sm 6,2). Essa simbologia era retratada na Arca da Aliança, que tinha dois querubins sobre o propiciatório, e era de onde o Senhor falava. Sendo assim, a proibição de imagens é mais um exemplo de tradição humana que o Protestantismo adotou.

 

 Maria

 O primeiro ensino mariano bastante atacado no Protestantismo atual é o da imaculada conceição de Maria. Afirma-se que Cristo foi o único sem o pecado original. E para corroborar essa doutrina citam-se Romanos 5:12,18; Hb 4:15; 1 Cor 15:21-22 e outros textos.

A Igreja ensina que a virgem Maria é uma criatura que foi salva por Jesus Cristo. A sua salvação, porém, aconteceu no instante da concepção. Esse privilégio ocorreu para que Maria não tivesse estado sob o domínio do pecado.

Deve-se entender que seus pais eram santos judeus, mas que tinham o pecado original. Ela herdaria da mãe e do pai a natureza corrompida, e nesse sentido foi igual a todos os homens. Isso significa que a virgem Maria não teve direito à graça, mas recebeu-a gratuitamente. Entende-se assim: no momento em que o Demônio ia tragar aquela criatura, Maria, Deus interveio e a resgatou pelos méritos do sangue de Jesus. Desse modo, a virgem Maria foi salva por Cristo (cf. Lucas 1:46,47). É preciso entender que Maria não foi sem pecado porque não necessitava de salvação, mas, pelo contrário, ela foi sem pecado porque foi salva!

 Por isso também, a virgem Maria não cometeu pecado em toda sua vida. É lógico que não tendo pecado original, e sempre vivendo em obediência a Deus, sua vida foi toda santa.

A virgindade perpétua de Maria é outra divergência que o Protestantismo adotou. Maria foi casada com José, aceitou o plano de Deus para sua vida, foi a mãe do Salvador. Foi casada, pois normalmente uma mãe solteira não viveria naquela época.

Assim, Deus quis que Maria continuasse virgem para testemunhar da concepção virginal de Cristo. Essa doutrina é fundamental no cristianismo.

Quando Cristo é chamado primogênito, que significa primeiro filho gerado, isso não quer dizer que existissem outros filhos de Maria. O filho unigênito é também primogênito, e após oito dias do nascimento era apresentado no Templo.

 Quando se mencionam irmãos de Jesus, entende-se parentes ou primos. Ao contrário do que pensam os protestantes, essa visão tem base bíblica. Os judeus compararam Cristo com sua família humana, pois a conheciam. Em 1 Cor 7 São Paulo fala do celibato e do matrimônio. Maria teve ambos, pois não poderia gerar Jesus como solteira. Naquele tempo não era incomum que casais optassem pelo celibato, e ainda mais pensando nessa santa família de Nazaré.

 Santo Afonso de Ligório foi um verdadeiro profeta de Nosso Senhor, e amou a virgem Maria como bom filho cristão. Suas palavras, grandemente poéticas sobre a virgem Maria são citadas como “blasfêmias”. Isso ocorre porque estão fora do contexto de sua obra, e não se entende a teologia católica que as corrobora. O santo ensinou que Cristo é o Salvador, a fonte da graça, e que Maria é como que um canal, que intercede pelos pecadores, e alcança as graças de Cristo.

 

 Mãe de Deus

Quando criticam a designação “Mãe de Deus”, logo introduzem heresias. A Igreja Católica ensina que Deus é eterno. Isso torna claro que é impossível que Deus tenha origem num ser humano. No entanto, quando os cristãos chamam Maria de mãe de Deus, estão defendendo a divindade de Cristo. É verdade bíblica que Maria é verdadeira mãe de Jesus. Assim, Ele tornou-se carne, e é heresia negar a encarnação (cf. Jo 1:14; 2 Jo 7). Desse modo, é heresia afirmar que Maria é “mãe do corpo” de Jesus, ou “mãe da natureza” humana de Jesus. Isso introduzia a distinção nestoriana, heresia condenada pela Igreja. A mãe sempre é mãe da pessoa inteira. Assim, Maria é mãe da Pessoa de Jesus, que é Deus.  [1] Jesus chamava Maria de mãe, normalmente, como todo judeu. Quando chamou-a Mulher, estava ensinando que ela é a Mulher de Gn 3:15 e de Ap 12:1, nada mais.

Breve reflexão: Brian Schwertley tentou refutar um ensino correto. A Igreja Católica ensina que Maria é mãe de Jesus enquanto homem, e nesse sentido somente sua maternidade toca a divindade, já que Jesus é Deus. Brian afirma que a Igreja ensina que Maria é mãe do Deus eterno como se originasse Deus, ensino que a Igreja Católica desconhece. Assim, mais um ponto que o ensino Protestante falha. É falta de sabedora negar esse ponto, já que com ela os verdadeiros cristãos defenderam a verdade contra a doutrina falsa.

 

 Celibato

A prática do celibato é fundamentada na doutrina bíblica. Nosso Senhor ensinou que há aqueles que são celibatários por amor do Reino dos Céus: “Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o” (Mt 19:12). E São Paulo afirma: “Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu.” (1 Cor 7:8s).

Assim, a vida celibatária é claramente endossada na Bíblia. O que a Igreja Católica faz é adotar como regra eclesiástica um princípio mais próximo ao de Cristo, que também viveu o celibato.

Dessa forma, “não há imposição da vida celibatária, ou proibição do casamento”, mas, procura-se candidatos que almejam viver o celibato, que não o vivem por imposição, mas voluntariamente, o que indica vocação e dom, e que tenham a vocação do sacerdócio, vida religiosa (freiras, monges e etc.). Se muitos erram a vocação, o problema já não está no costume do celibato.

 Essa lei eclesiástica nada tem a ver com o que São Paulo fala em 1 Tm 4:1-3, quando diz que nos últimos tempos haveria quem proibisse o matrimônio. Essa heresia surgiu em diversos grupos heréticos na história, e certamente será adotada nos últimos dias, e nada terá a ver com o Catolicismo. Jesus não proibiu o casamento de Pedro, por exemplo, mas o próprio apóstolo deixou tudo para seguir Jesus. Certamente, não tinha filhos. Podemos ler isso em Lucas 18:28-30.

Quando São Paulo afirma do direito de “nós” nos fazer acompanhar de uma “esposa”, segundo a tradução protestante, mas que significa “irmã” cristã, ele não se inclui como casado. Então, o mesmo se diz e Pedro (Cefas), e certamente outros apóstolos. Eusébio de Cesaréia afirma que Paulo cita sua esposa nas epístolas, referindo-se por certo a essa passagem, o que constitui erro interpretativo.

Da mesma forma, a afirmação de que Pedro continuava casado, com base nesse texto, volta-se contra a própria Escritura, pois, por exemplo, além de estar também incluído no grupo, São Paulo claramente afirmou ser celibatário.

Os que afirmam que deixar a mulher é não obedecer a Deus, desconhecem o costume judaico. Os judeus afirmam que Moisés viveu celibatariamente após certo período da sua vida. Essa crença é parte da tradição judaica.

 Assim, São Paulo quando escrevia a São Timóteo sobre as qualificações do bispo, não estava ordenando casamento, mas apenas mostrando que o bispo não deveria ter sido casado mais de uma vez (1 Tm 3:2).

Breve reflexão - Celibato: Brian Schwertley tentou refutar disciplina do celibato. A Igreja Católica ensina que tanto o matrimônio como o celibato são bons. Todo estudioso da Bíblia sabe que o celibato é um dom especial, menos numeroso, com certeza, e que sempre esteve ligado ao sacerdócio. Alguns profetas, como Jeremias e João Batista, foram celibatários. A Igreja Católica não obriga ninguém a deixar a esposa, ou a não contrair o casamento. Um mito muito difundido é o de que “escândalos” de ordem sexual teriam ligação com o celibato. Essa asserção é falsa, bastando ver que homens casados praticam crimes sexuais idênticos, e até piores, que os celibatários. Pela lei do celibato, que é baseada no Evangelho, sabe-se que a Igreja Católica adota um princípio sadio. Não há razão bíblica para atacar essa prática. Mais uma vez o autor equivocou-se na sua reprovação.

 

 Pedro foi o primeiro Papa?

        No concílio de Jerusalém Tiago não foi o seu presidente. No mínimo, deve-se dizer que Pedro e Tiago o presidiram. S. Tiago era o bispo de Jerusalém, o que explica sua preeminência local, e S. Pedro era o chefe da Igreja universal.

          Basta ver que as palavras de Pedro decidiram a questão. Tiago apenas sugere algumas coisas, de acordo com a decisão. A respeito do nome “bispo” (1 Pd 5,1), até o Senhor Jesus Cristo é chamado de bispo na Escritura: “Porque éreis como ovelhas desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.”(1 Pd 2,25). E sobre o envio de Pedro pelos apóstolos, não depõe contra sua autoridade, já que no Antigo Testamento é dito que os chefes são enviados.

          As “razões” que os protestantes apresentam para negar o primado de Pedro - primeiro Papa, são gratuitas. A diferença de ministérios (Pedro para os judeus e Paulo para os gentios) não é prova contra o primado. O apóstolo Pedro pregou o primeiro discurso evangélico para os judeus e o primeiro para os pagãos, inaugurando assim a missão da Igreja.

          Uma das evidências de que Pedro era chefe foi a visita de Paulo a ele, e a nenhum outro dos apóstolos (Gl 1,18).

          Breve reflexão: Brian Schwertley considera que as evidências de que os cristãos são iguais, de que os apóstolos possuem idêntica dignidade, a diferença de ministérios e etc., são “provas” contra o primado. É necessário citar dois textos apresentados por Schwertley: “Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência da fé entre todas as gentes pelo seu nome. Entre as quais sois também vós chamados para serdes de Jesus Cristo. E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles.” (Rm 1,5-6;16,17). São essas palavras de S. Paulo uma prova de que S. Pedro não tinha autoridade em Roma? Como? O texto mostra naturalmente apenas a autoridade de um apóstolo, inspirado, a uma igreja. Nada mais.

 

 O Papa é infalível?

          É preciso responder diretamente: como pessoa, indivíduo, em sua fé particular, o papa não e infalível. Ele o é como chefe da Igreja, pelo seu cargo, e quando transmite uma verdade de fé a toda a Igreja de acordo com a Escritura e tradição, falando ex-cathedra. Não é qualquer palavra do papa que possui infalibilidade.

          Se um papa foi herege, isso não depõe contra a infalibilidade, mas prova apenas o que foi dito antes. A heresia de um papa não é imposta à Igreja Católica.

          Brian cita casos de papas promulgando e depois condenando a mesma coisa. Isso necessita de um estudo detido de cada caso, o que não é feito no pequeno espaço que o autor dispõe. E também o autor não apresenta os motivos de cada declaração exemplificada. Isso é fundamental.

          Nos momentos em que existiram “anti-papas” somente um era o legítimo. Lembre-se: somente há infalibilidade em alguns momentos, de definição de doutrina que obriga a todos. Não é qualquer pronunciamento doutrinal do papa que contém esse carisma especial. Aí, o papa é um simples servo de Deus, obediente à Sua Palavra, como todos devem ser.

          Um caso específico: pelo que consta na história, Joana D´arc foi condenada injustamente num processo inquisitorial corrupto sem o conhecimento do papa, que tinha apenas seus delegados naquela região francesa. Assim que o caso foi descoberto, a santa foi canonizada. Onde está a contradição aí? Simples de resolver, não é mesmo?

 

 Vigário de Cristo?

 O autor faz comparações contrárias ao primado. No entanto, nenhuma delas desfaz a doutrina. Por exemplo, se o papa diz ser o cabeça dos reinos terrestres, e Jesus diz que o Seu reino não deste mundo, o autor contrapõe essas informações como contrárias à doutrina do papa ser o vigário (representante, não substituto) de Cristo. Mas, Jesus é o Rei dos reis. Portanto, Ele coloca-Se como o maior entre os reis da terra, sobre todos eles. E o papa apenas é Seu servo e representante, como chefe da Igreja na terra.

 

 O Confessionário

          Brian afirma que a confissão deve ser feita uns aos outros, para que cada cristã possa orar e encorajar uns aos outros. Imagina e cena de cristãos confessando barbaridades, indignas de serem ditas em público, diante de todos na Igreja? É praticamente contraindicado. Há coisas que podem ser feitas assim, como a Igreja Católica praticou por muito tempo, mas não tudo.

          Tiago 5,16 não significa confissão mútua, da forma expressa acima. Pelo contrário, significa a confissão feita aos presbíteros, que vinham conferir o sacramento da unção dos enfermos.

          No entanto, o autor concorda com as palavras do escriba (Mc 2,7), que nega o poder do perdão dos sacerdotes. Jesus deu esse poder aos apóstolos (Jo 20,23), que o conferem em Seu Nome. Não se trata de homens com poderes divinos, mas de um sacramento conferido seguindo os princípios do Evangelho, conforme a vontade de Cristo.

          No Antigo Testamento havia confissão a Deus, mas igualmente vemos pecados sendo confessados aos sacerdotes (Números 5,7). Um fato não invalida o outro.

          Breve reflexão: Brian Schwertley afirma que os textos que os católicos apresentam em favor da confissão auricular não podem ser entendidos assim para não contradizer com o “fato” de que as Escrituras nos mandam confessar diretamente a Deus. O problema é que não existe tal fato! As Escrituras ordenam a confissão a Deus, e vários exemplos mostram homens confessando aos sacerdotes, e sendo purificados pelos sacrifícios antigos. A Escritura permite-nos concluir que Nm 5,7: “E confessará o seu pecado que cometeu; pela sua culpa, fará plena restituição, segundo a soma total, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e a dará àquele contra quem se fez culpado”, também se harmoniza com o que está escrito em Provérbios 28,13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Aqueles pecados foram confessados a Deus, ainda que por intermédio do sacerdote.

 Indulgências

 O autor tenta refutar as indulgências negando o mérito. Mas, a Igreja ensina que o homem não tem méritos, mas os recebe de Deus. Assim, um membro pode interceder por outro, aplicando méritos em favor dos irmãos.

 É isso que o autor fala de santos tão bons que podem ajudar os outros. A Igreja recebeu o poder das chaves, e é por entender essa doutrina que podemos melhor entender as indulgências (cf. Mt 16,19).

 

 Purgatório

 O purgatório é muito incompreendido. O protestante entende que um cristão que vai ao purgatório está recebendo chance de salvação, e isso estaria contrariando o Evangelho.  Entende também que se há qualquer sofrimento por um pecado perdoado, seria pelo fato de que não houve perdão total. Assim, ensinam que todo pecado é mortal, e o perdão não comporta nenhuma pena.

 Contudo, o fato de estar em Cristo não impede que haja penas pelos pecados. Todo pecado será mortal para o não regenerado. E como o homem é pecador, mesmo após o perdão, há pecados que não lhe tiram a graça, mas que devem ser castigados, e mesmo perdoados podem deixar penas. Se as penas são necessárias, a morte não as livrará. Assim, o cristão perdoado poderá enfrentá-las no purgatório, e, portanto, haverá purificação.

 Os judeus oravam pelas almas, o apóstolo São Paulo orou por Onesíforo, já falecido, e a Igreja sempre orou pelos defuntos. Os escritos dos padres testemunham desse fato.

 Breve reflexão - Purgatório: Como Schwertley acredita que não há pena pelos pecados, e afirma que a santidade não justifica diante de Deus, é preciso dizer que ele não compreendeu a doutrina do purgatório. O purgatório é somente para o salvo, é um castigo por consequência de pecados perdoados, ou veniais, e está ligado à santificação e à justiça divina.

 

 Transubstanciação

 Interessantemente, o Protestantismo nega a doutrina bíblica da transubstanciação. Essa doutrina ensina que o Pão e o Vinho se tornam Corpo e Sangue de Cristo.

 A razão para negar isso, segundo Brian, é que o corpo de Jesus não poderia estar em todo lugar, já que é finito, não possuindo atributos divinos.

 Protestante, APRENDA ISSO: o Protestantismo ensina que Jesus, mesmo após a glorificação, não pode estar com você e com seu irmão ao mesmo tempo, já que Ele não seria onipresente.

 Ele estaria “espiritualmente” presente, mas, não como Homem, pois nega-se que a natureza humana acompanhe a divindade. Então, como estaria o Corpo e o Sangue presentes, se isso é pertencente à natureza humana de Jesus? Encerra-se aqui uma contradição. É o que se conclui da explicação de Brian Schwertley.

 A Igreja Católica crê diferentemente: nós temos um Mediador, JESUS CRISTO, HOMEM (1 Tm 2,5). É através da humanidade de Cristo que Ele é mediador de salvação. Assim, em Sua Pessoa, a Natureza humana participa dos poderes de Sua Divindade. Cristo pode estar em todos os lugares com Seu corpo glorioso!

As palavras de Cristo na última ceia são literais. Os exemplos de metáforas usadas pelo Senhor não são idênticos aos relatos da última ceia.

 Jesus é a Porta (Jo 10,14), o Templo (Jo 2,19), a Videira (Jo 15,5), o Pastor (Jo 10,14). Sim. É obvio que a metáfora está no substantivo. Jesus é cada uma dessas coisas simbolicamente. Ele não significa a porta, mas é a porta (simbólica) pela qual entramos no céu. Ele não significa o Templo (por que se esse fosse o caso, haveria um templo fora de Cristo), mas é o Templo, pelo qual adoramos a Deus. Ele não simboliza a Videira, mas é a própria Videira (simbolicamente falando: a videira nutrindo com sua seiva física seus ramos, ensina Jesus nos alimentando com Sua graça) e etc.

          O caso da ceia é diverso: Jesus diz que o pão é o Seu corpo que será entregue. Usando a mesma estrutura, o Pão é Jesus de qualquer forma. Ele não “significa”, mas é.

          Quanto à proibição de comer sangue, não se impõe aqui. Cristo nos dá literalmente, mas de forma espiritual, o sangue como alimento. Se isso fosse incorreto, o seria também simbolizá-lo. Dessa forma, as igrejas protestantes estariam representando um pecado, ao celebrar a ceia, pois comiam e bebiam simbolicamente o que literalmente (embora espiritualmente) não lhes seria permitido.

          Entende-se, dessa forma, que Cristo não daria Sua carne e sangue como as carnes e sangue de animais nos açougues, mas Seu corpo e sangue se tornam verdadeiramente comida e bebida espiritual, mas literalmente, glorificados.

          A adoração da hóstia é, portanto, adoração a Cristo. Se porventura a hóstia não se tornasse Cristo, como supõem os protestantes, ainda assim os católicos estariam adorando a Cristo, pois creem que ali não há mais pão e vinho, mas Jesus Cristo vivo sob aparência de Pão e Vinho. Não há adoração de bolachas!, não há fetichismo. Pelo contrário, essa própria reflexão aqui mostra que esse nem de perto é o caso em questão.

          Brian afirma que “Cristo é sacrificado milhares de vezes a cada dia no ritual da missa”. Essa não é a fé católica, mas a fé que o protestante pensa ser católica.

          A ceia que os protestantes celebram não é pensada como comunhão com o único sacrifício? Então, o mesmo crê os católicos.

          A Igreja ensina que Jesus morreu uma só vez. Seu sacrifício se torna presente, mas não é repetido. É renovado, sendo o mesmo, não outro idêntico. Isso acontece porque o valor do sacrifício é eterno.

 

          A doutrina católica romana da justificação

 Será que um protestante tem corajem de ensinar abertamente que basta crer e viver da forma que quiser e alguém será salvo? Então, não é correto reclamar da Igreja Católica que exige uma vida de boas obras dos fieis cristãos.

 Quem é o Salvador? JESUS CRISTO. Se não fosse assim, não adiantaria uma vida inteira em esforços e práticas de boas obras, tudo seria em vão. Portanto, somente Jesus garante salvação, mas não deixa de ser exigente quanto à vida dos seus seguidores.

 Desse modo, se alguém quer ser coerente, terá de admitir que existem várias obras que caracterizam a vida digna de Cristo, ou melhor, a vida de um seguidor dEle. E então somente substituirá as obras católicas por aquilo que julga ser correto! A base, portanto, é a mesma.

 O protestante dirá que as obras estão no rol da santificação, enquanto já está justificado. Mas, quem será salvo, se não tiver obras para santificar-se? Poderá entrar no céu com uma vida repleta de pecados? A resposta coerente é não. Dir-se-á que não teve fé verdadeira! Então, a santificação, mesmo nesse sistema protestante, deve estar entrelaçada com a salvação. Em termos práticos é idêntico ao que ensina a Igreja Católica.

 Breve reflexão – Schwertley compara a suposta doutrina bíblica com aquilo que entende da doutrina católica. Ambas, na verdade, são idênticas. No entanto, o autor não percebe, e põe-se a criticar a doutrina católica. A doutrina bíblica é que a fé e obras são necessárias para a salvação.

 Conclusão

 A doutrina católica é totalmente bíblica. Somente um grande mal-entendido é que serve de base para criticá-la. Permanecer católico é estar guardando toda a verdade cristã. Não há esse católico salvo “apesar” do Catolicismo, mas os católicos são salvos por Cristo por estarem crendo na verdade, que é Jesus, e tudo o que Ele deixou na Igreja Católica.

 À pergunta de Brian Schwertley eu respondo prontamente: “Você  precisa perguntar seriamente a si mesmo: Eu sou um católico romano porque eu estudei a Bíblia e descobri que sua doutrina é idêntica à da igreja?” SIM. “Ou sou um católico romano porque nasci na igreja? (...)” De fato, nasci num lar católico e fui batizado, mas somente recebi de Deus a conversão na adolescência, e comecei a ler a Bíblia atentamente e ver o que dela ensinavam a Igreja Católica e várias outras igrejas protestantes. Num estudo bastante sistemático, constatei que a Igreja Católica é fidelíssima à Escritura.

Gledson Meireles.