CATOLICISMO
uma reflexão
em resposta
ao livro de Brian Schwertley –
“Catolicismo Romano – uma análise bíblica.”
Gledson Meireles.
O Reverendo Brian é graduado no Seminário Episcopal da Filadélfia, e
mestre em divindade. Autor de livros eruditos, e traduzido para vários idiomas,
ocupa-se também em analisar o Catolicismo. De suas obras, a presente reflexão
refere-se ao opúsculo de título referido acima.
Autoridade
A Igreja Católica crê na Bíblia, ensina que a Bíblia é a carta de Deus
para nós, que é Cristo o Seu único conteúdo, e a venera “como o próprio Corpo
do Senhor”. Isso porque Deus é o Autor da Bíblia, e por isso “todas as suas
partes” são verdade, são palavras do Espírito Santo (cf. CIC n. 101, 102, 103,
107).
A transmissão da Palavra de Deus por toda a história da vida da Igreja
se deu em primeiro lugar “oralmente”. Depois essa Palavra foi redigida, posta por
escrito, compondo, na era cristã, a Bíblia Sagrada na sua segunda parte, o Novo
Testamento. E assim, pela pregação apostólica a verdade de Deus é conservada
intacta na Igreja. Por esse motivo, a certeza da verdade cristã a Igreja recebe
de duas vias iguais: a Bíblia e a tradição. (CIC n. 82)
A Bíblia ensina que há tradições erradas, como está em Mateus
7:5,7 e 8: “Depois perguntaram-lhe os fariseus e os escribas: Por que não
andam os teus discípulos conforme a tradição dos antigos, mas comem o pão com
as mãos por lavar? (...) Em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são
mandamentos de homens. Porque, deixando o mandamento de Deus, retendes a tradição
dos homens; como o lavar dos jarros e dos copos; e fazeis muitas outras coisas
semelhantes a estas.”
E continua dizendo Jesus: “E dizia-lhes: Bem invalidais o
mandamento de Deus para guardardes a vossa tradição. (v. 9)”. Quando
lemos essas verdades ficamos preocupados com relação à tradição, já que essa é
condenada como algo a desonrar a Palavra de Deus, a invalidar o mandamento. E,
assim, muitos dizem: “Está vendo, a Bíblia condena a tradição!”.
Antes de prosseguirmos, devemos ler mais um pouco a Bíblia: “Então,
irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por
palavra, seja por epístola nossa.” (1 Tessalonicenses 2:15). Essas palavras
estão entre as primeiras escritas no Novo Testamento. São Paulo exorta a estar
firme e guardar “as tradições”, tanto ensinadas oralmente, como por
carta.
Como a Bíblia não possui contradições, então há duas coisas
ensinadas nesses textos: uma se refere às tradições erradas, e outra às
tradições de Deus. Existem, portanto, verdadeiras tradições e falsas tradições.
Por isso, Jesus condena aquelas tradições que afastavam o povo da verdade,
enquanto que Paulo está ensinando que as tradições cristãs não podem ser
deixadas de lado, pois são elas Palavra de Deus.
Assim, quando São Paulo também condena as filosofias e
tradições, está fazendo o que Cristo fez em Marcos 7, não o que está em 1 Tess
2. Em Colossenses 2:8 está escrito: “Tende cuidado, para que ninguém
vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição
dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”. O
texto ensina que devemos nos precaver dos enganos, que vêm “por meio de
filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens”. Não é uma
condenação geral da filosofia nem da tradição, mas especificamente de falsas
filosofias e das tradições humanas.
Quando os escritores cristãos explicavam a doutrina cristã usando
linguagem filosófica para aqueles que a entendiam, eles não estavam ensinando
filosofia, mas ensinavam o Evangelho de forma compreensível aos filósofos.
Assim fez São Paulo citando palavra de filósofos, partindo do conhecimento dos
pagãos para ensinar sobre Cristo (cf. Atos). Essa também foi a metodologia
seguida sistematicamente por São Tomás de Aquino, que conciliou a fé e a razão
de forma magistral.
Desse modo, o ensino de 1 Timóteo 3:16-17: “Toda a Escritura é
divinamente inspirada , e proveitosa para ensinar, para redarguir, para
corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito , e
perfeitamente instruído para toda a boa obra.”, não contradiz o ensino da
necessidade da tradição. Toda a Escritura é proveitosa, é necessária ser lida,
é luz para nossa caminhada. Por isso ensina o Segundo Catecismo da Doutrina
Cristã (106ª edição, Ed. Vozes): “É necessário que todos os cristãos leiam a
Bíblia? Sim; é necessário que todos os cristãos leiam a Bíblia e a estudem com
carinho para poderem participar consciente e frutuosamente da vida da Igreja”.
Então, toda tradição que devemos guardar, segundo 1 Tess 2:15, está de
acordo com a Escritura.
A Tradição não é encontrada somente em cada escrito cristão, mas
pelo consenso dos padres, que de certa forma existe sim. Igualmente existem as
práticas cristãs cristalizadas durante a história e que foram fundamentadas
pela Palavra de Deus. Principalmente, porém, a tradição é transmitida pelas
decisões conciliares. Desse modo, a tradição é um comentário da Bíblia.
Nosso Senhor Jesus criticou severamente os líderes judeus, mas não
negou-lhes a autoridade: “Dizendo: Na cadeira de Moisés estão assentados os
escribas e fariseus.”(Mateus 23:2) E quanto ao que eles ensinavam, Cristo
ordenou ao povo a seguir: “Todas as coisas, pois, que vos disserem
observeis.” (v. 3)
Estar na “cadeira de Moisés” constitui autoridade legítima,
passada por tradição, por isso o dever da obediência. No entanto, a hipocrisia
dos chefes era tamanha, e Cristo disse para não imitar-lhes os maus exemplos “porque
dizem e não fazem”.
Então, sabemos que Deus rejeita tradições de homens, mas nos manda
guardar Suas tradições, rejeitou as tradições judaicas que impediam o
povo a obedecer o mandamento de Deus, mas confirmou a autoridade dos escribas e
fariseus mandando o povo a obedecer-lhes, confirmando as tradições legítimas.
A Igreja ensina que ler a Bíblia é necessário, para conscientização e
participação na Igreja, crescimento na santidade, enfim, para o conhecimento de
Jesus Cristo. As vezes que a Igreja limitou o uso da Bíblia foram motivadas por
questões localizadas, e as proibições duraram variados tempos em lugares
diferentes.
E um fato de que a doutrina da Igreja é verdadeira é que: quando a
Bíblia ganhou maior circulação, com a invenção da imprensa, e diante dos
ataques protestantes, e etc., a doutrina católica foi confirmada, exposta
claramente, definida dogmaticamente, em todos os pontos atacados pelos
reformadores. Nunca foi costume católico a proibição da Bíblia, mas sim, sua
divulgação, por meios santos e eficazes, segundo as circunstâncias da época.
Os cristãos na Idade Média liam a Bíblia seguindo o método Lectio
Divina e eram versados nas Escrituras, além de que, assíduos na santa
Missa, até mesmo os analfabetos entendiam verdades que muitos letrados do
século 21 ainda não são capazes de entender.
Desse modo, quando alguém pregar que a tradição não deve ser seguida,
pergunte: “a que tradição se refere?”. Se disser que a tradição verdadeira foi
inteiramente escrita na Bíblia, peça provas e argumentos bíblicos. Se não puder
oferecê-los, um bom diálogo bíblico poderá ser proveitoso para o entendimento
exato de que o Senhor Jesus fala na vida da Igreja Católica por suas sãs
tradições, que são harmoniosas com a Bíblia.
Breve reflexão - Autoridade: Schwertley faz oposição entre
tradição e Palavra de Deus, como se houvesse apenas tradições errôneas. É seu
primeiro equívoco. A Igreja Católica tem a Bíblia e a Tradição como Palavra de
Deus, e o Magistério como defensor dessa Palavra. A Bíblia é comentada pela
Tradição, anunciada pelo Magistério, e tudo fundamenta-se nela. O
Protestantismo, por sua vez, ainda que admita a tradição e a autoridade da
Igreja, não as tem como infalíveis, o que abre espaço para inovações, como tem
acontecido. E, de fato, o princípio Sola Scriptura não é bíblico.
A posição católica quanto à Bíblia é de profunda veneração. A Igreja
anuncia a Palavra de Deus destemidamente. Afirmar que a Igreja “teme” a
Escritura é uma posição bastante incompatível, no mínimo, com os dados
históricos, que vão muito além dos que foram citados pelo autor.
Imagens na Adoração
Devemos pensar nessa questão. Os judeus usavam imagens em sua adoração
ao Deus único. Não podiam representar a Deus, que não tinham visto, e nem
podiam imitar as nações pagãs. No entanto, Deus tinha ordenado a confecção de
certas imagens, como a arca com os anjos sobre a tampa, as imagens de anjos, as
imagens de bois, de flores e etc., que ensinavam coisas espirituais, e eram
tratadas com reverência religiosa profunda pelo Povo de Deus.
De fato, a presença de Deus era simbolizada e efetuada pela Arca
da Aliança, e o Senhor falava do meio dos querubins. E no Santo dos Santos
havia imagens enormes de anjos.
Sendo assim, a Igreja herdou o costume antigo e aos poucos foi
utilizando imagens na adoração a Deus. As imagens não são adoradas, mas
veneradas, tidas com respeito pelo que representam.
Basta lembrar que os cristãos que sofriam perseguições usavam
imagens, pintadas nas paredes, com cenas da Sagrada Escritura, e também aos
poucos crescia o uso das esculturas como arte cristã. Todavia, não se curvavam
diante das imagens dos deuses falsos, e eram martirizados por não compactuarem
com a idolatria.
Assim, os cristãos católicos faziam, e continuam a fazer,
distinção entre a verdadeira veneração e a adoração dos ídolos, que são coisas
diferentes. A proibição do Êxodo 20 se restringia às imagens dos falsos deuses,
que eram os ídolos. Está escrito: “Não farás para ti imagem de escultura,
nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem
nas águas debaixo da terra.”(Êx 20:4)
Contudo, quando as imagens eram para usos religiosos e não
tivessem relação com o paganismo, Deus mesmo ordenava sua confecção. Dessa
maneira, Deus disse a Moisés: “E disse o Senhor a Moisés: Faze-te uma
serpente ardente, e põe-na sobre uma haste; e será que viverá todo o que, tendo
sido picado, olhar para ela.”(Núm 21:8)
Aquela serpente foi utilizada por Deus para curar os israelitas e
constituiu um tipo de Cristo: “E, como Moisés levantou a serpente no
deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado”. (Jo 3:14)
Se a prostração, ou o curvar-se diante de uma imagem constituísse
idolatria, isso teria ocorrido muitas vezes na Bíblia, como no caso de Josué,
que prostrou-se quase um dia inteiro perante a Arca. (Jos 7:6)
No entanto, ainda que a Arca não era uma imagem do Deus invisível,
se tratava de uma imagem que O simbolizava. Desse modo, numa “guerra de
imagens” o Deus de Israel prostrou o deus falso dos filisteus, Dagon. (1 Sm 6)
Fazer imagens de escultura nunca foi o problema, mas sim a prática de
adorá-las. Isso é o que a Bíblia ensina, como visto acima. O povo de Deus era
castigado quando caía em idolatria.
Breve reflexão do capítulo 1: Brian Schwertley (e Martyn
Lloyd-Jones) entende que a Igreja Católica “ensina” a “adorar” imagens, quando
a mesma Igreja condena a adoração de imagens, e qualquer idolatria. Os atos de
beijar, ajoelhar, curvar-se, prostrar-se, podem ser adoração ou simples honra,
respeito, homenagem, o que chama-se mais propriamente de veneração. A Bíblia
não fornece base para a extinção de imagens na Igreja. Pode ser verificado que
o culto a Deus no Antigo Testamento admitia imagens, por ordem divina. A
proibição de imagens é inovação, sem fundamento bíblico. Numa análise mais
refletida da Bíblia, alguém verá que o uso da imagem é lícito, que a Igreja
Católica guarda essa prática, e que o Protestantismo introduziu um erro ao
condenar esse costume cristão. Aliás, não é natural que o homem tenha aversão a
imagens, pelo contrário. O que a Igreja faz é evangelizar e orientar o povo
cristão para um uso sadio e bíblico desses objetos, para honra e glória de
Deus. A Bíblia ensina que o Senhor dos Exércitos se assenta sobre os querubins (cf.
1 Sm 4,4; 2 Sm 6,2). Essa simbologia era retratada na Arca da Aliança, que
tinha dois querubins sobre o propiciatório, e era de onde o Senhor falava.
Sendo assim, a proibição de imagens é mais um exemplo de tradição humana que o
Protestantismo adotou.
Maria
O primeiro ensino mariano bastante atacado no Protestantismo atual é o
da imaculada conceição de Maria. Afirma-se que Cristo foi o único sem o pecado
original. E para corroborar essa doutrina citam-se Romanos 5:12,18; Hb 4:15; 1
Cor 15:21-22 e outros textos.
A Igreja ensina que a virgem Maria é uma criatura que foi salva por
Jesus Cristo. A sua salvação, porém, aconteceu no instante da concepção. Esse
privilégio ocorreu para que Maria não tivesse estado sob o domínio do pecado.
Deve-se entender que seus pais eram santos judeus, mas que tinham o
pecado original. Ela herdaria da mãe e do pai a natureza corrompida, e nesse
sentido foi igual a todos os homens. Isso significa que a virgem Maria não teve
direito à graça, mas recebeu-a gratuitamente. Entende-se assim: no momento em
que o Demônio ia tragar aquela criatura, Maria, Deus interveio e a resgatou
pelos méritos do sangue de Jesus. Desse modo, a virgem Maria foi salva por
Cristo (cf. Lucas 1:46,47). É preciso entender que Maria não foi sem pecado
porque não necessitava de salvação, mas, pelo contrário, ela foi sem pecado porque
foi salva!
Por isso também, a virgem Maria não cometeu pecado em toda sua
vida. É lógico que não tendo pecado original, e sempre vivendo em obediência a
Deus, sua vida foi toda santa.
A virgindade perpétua de Maria é outra divergência que o Protestantismo
adotou. Maria foi casada com José, aceitou o plano de Deus para sua vida, foi a
mãe do Salvador. Foi casada, pois normalmente uma mãe solteira não viveria
naquela época.
Assim, Deus quis que Maria continuasse virgem para testemunhar da
concepção virginal de Cristo. Essa doutrina é fundamental no cristianismo.
Quando Cristo é chamado primogênito, que significa primeiro
filho gerado, isso não quer dizer que existissem outros filhos de Maria. O
filho unigênito é também primogênito, e após oito dias do nascimento era
apresentado no Templo.
Quando se mencionam irmãos de Jesus, entende-se parentes
ou primos. Ao contrário do que pensam os protestantes, essa visão
tem base bíblica. Os judeus compararam Cristo com sua família humana, pois a
conheciam. Em 1 Cor 7 São Paulo fala do celibato e do matrimônio. Maria teve
ambos, pois não poderia gerar Jesus como solteira. Naquele tempo não era
incomum que casais optassem pelo celibato, e ainda mais pensando nessa santa
família de Nazaré.
Santo Afonso de Ligório foi um verdadeiro profeta de Nosso Senhor,
e amou a virgem Maria como bom filho cristão. Suas palavras, grandemente
poéticas sobre a virgem Maria são citadas como “blasfêmias”. Isso ocorre porque
estão fora do contexto de sua obra, e não se entende a teologia católica que as
corrobora. O santo ensinou que Cristo é o Salvador, a fonte da graça, e que
Maria é como que um canal, que intercede pelos pecadores, e alcança as graças
de Cristo.
Mãe de Deus
Quando criticam a designação “Mãe de Deus”, logo introduzem heresias. A
Igreja Católica ensina que Deus é eterno. Isso torna claro que é impossível que
Deus tenha origem num ser humano. No entanto, quando os cristãos chamam Maria
de mãe de Deus, estão defendendo a divindade de Cristo. É verdade bíblica que
Maria é verdadeira mãe de Jesus. Assim, Ele tornou-se carne, e é heresia negar
a encarnação (cf. Jo 1:14; 2 Jo 7). Desse modo, é heresia afirmar que Maria é
“mãe do corpo” de Jesus, ou “mãe da natureza” humana de Jesus. Isso introduzia
a distinção nestoriana, heresia condenada pela Igreja. A mãe sempre é mãe da
pessoa inteira. Assim, Maria é mãe da Pessoa de Jesus, que é Deus. [1]
Jesus chamava Maria de mãe, normalmente, como todo judeu. Quando chamou-a
Mulher, estava ensinando que ela é a Mulher de Gn 3:15 e de Ap 12:1, nada mais.
Breve reflexão: Brian Schwertley tentou
refutar um ensino correto. A Igreja Católica ensina que Maria é mãe de Jesus
enquanto homem, e nesse sentido somente sua maternidade toca a divindade, já
que Jesus é Deus. Brian afirma que a Igreja ensina que Maria é mãe do Deus
eterno como se originasse Deus, ensino que a Igreja Católica desconhece. Assim,
mais um ponto que o ensino Protestante falha. É falta de sabedora negar esse
ponto, já que com ela os verdadeiros cristãos defenderam a verdade contra a
doutrina falsa.
Celibato
A prática do celibato é fundamentada na doutrina bíblica. Nosso Senhor
ensinou que há aqueles que são celibatários por amor do Reino dos Céus: “Porque
há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram
castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do
reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o” (Mt 19:12). E São Paulo
afirma: “Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem
como eu.” (1 Cor 7:8s).
Assim, a vida celibatária é claramente endossada na Bíblia. O que a
Igreja Católica faz é adotar como regra eclesiástica um princípio mais próximo
ao de Cristo, que também viveu o celibato.
Dessa forma, “não há imposição da vida celibatária, ou proibição do
casamento”, mas, procura-se candidatos que almejam viver o celibato, que não o
vivem por imposição, mas voluntariamente, o que indica vocação e dom, e que
tenham a vocação do sacerdócio, vida religiosa (freiras, monges e etc.). Se
muitos erram a vocação, o problema já não está no costume do celibato.
Essa lei eclesiástica nada tem a ver com o que São Paulo fala em 1
Tm 4:1-3, quando diz que nos últimos tempos haveria quem proibisse o
matrimônio. Essa heresia surgiu em diversos grupos heréticos na história, e
certamente será adotada nos últimos dias, e nada terá a ver com o
Catolicismo. Jesus não proibiu o casamento de Pedro, por exemplo, mas o
próprio apóstolo deixou tudo para seguir Jesus. Certamente, não tinha
filhos. Podemos ler isso em Lucas 18:28-30.
Quando São Paulo afirma do direito de “nós” nos fazer acompanhar
de uma “esposa”, segundo a tradução protestante, mas que significa “irmã”
cristã, ele não se inclui como casado. Então, o mesmo se diz e Pedro (Cefas), e
certamente outros apóstolos. Eusébio de Cesaréia afirma que Paulo cita sua
esposa nas epístolas, referindo-se por certo a essa passagem, o que constitui
erro interpretativo.
Da mesma forma, a afirmação de que Pedro continuava casado, com base
nesse texto, volta-se contra a própria Escritura, pois, por exemplo, além de
estar também incluído no grupo, São Paulo claramente afirmou ser celibatário.
Os que afirmam que deixar a mulher é não obedecer a Deus, desconhecem o
costume judaico. Os judeus afirmam que Moisés viveu celibatariamente após certo
período da sua vida. Essa crença é parte da tradição judaica.
Assim, São Paulo quando escrevia a São Timóteo sobre as
qualificações do bispo, não estava ordenando casamento, mas apenas mostrando
que o bispo não deveria ter sido casado mais de uma vez (1 Tm 3:2).
Breve reflexão - Celibato: Brian Schwertley tentou
refutar disciplina do celibato. A Igreja Católica ensina que tanto o matrimônio
como o celibato são bons. Todo estudioso da Bíblia sabe que o celibato é um dom
especial, menos numeroso, com certeza, e que sempre esteve ligado ao
sacerdócio. Alguns profetas, como Jeremias e João Batista, foram celibatários.
A Igreja Católica não obriga ninguém a deixar a esposa, ou a não contrair o
casamento. Um mito muito difundido é o de que “escândalos” de ordem sexual
teriam ligação com o celibato. Essa asserção é falsa, bastando ver que homens
casados praticam crimes sexuais idênticos, e até piores, que os celibatários.
Pela lei do celibato, que é baseada no Evangelho, sabe-se que a Igreja Católica
adota um princípio sadio. Não há razão bíblica para atacar essa prática. Mais
uma vez o autor equivocou-se na sua reprovação.
Pedro foi o primeiro Papa?
No concílio de Jerusalém Tiago não
foi o seu presidente. No mínimo, deve-se dizer que Pedro e Tiago o presidiram.
S. Tiago era o bispo de Jerusalém, o que explica sua preeminência local, e S.
Pedro era o chefe da Igreja universal.
Basta ver que as
palavras de Pedro decidiram a questão. Tiago apenas sugere algumas coisas, de
acordo com a decisão. A respeito do nome “bispo” (1 Pd 5,1), até o Senhor Jesus
Cristo é chamado de bispo na Escritura: “Porque éreis como ovelhas
desgarradas; mas agora tendes voltado ao Pastor e Bispo das vossas almas.”(1
Pd 2,25). E sobre o envio de Pedro pelos apóstolos, não depõe contra sua
autoridade, já que no Antigo Testamento é dito que os chefes são enviados.
As “razões” que
os protestantes apresentam para negar o primado de Pedro - primeiro Papa, são
gratuitas. A diferença de ministérios (Pedro para os judeus e Paulo para os
gentios) não é prova contra o primado. O apóstolo Pedro pregou o primeiro
discurso evangélico para os judeus e o primeiro para os pagãos, inaugurando assim
a missão da Igreja.
Uma das
evidências de que Pedro era chefe foi a visita de Paulo a ele, e a nenhum outro
dos apóstolos (Gl 1,18).
Breve reflexão:
Brian Schwertley considera que as evidências de que os cristãos são iguais, de
que os apóstolos possuem idêntica dignidade, a diferença de ministérios e etc.,
são “provas” contra o primado. É necessário citar dois textos apresentados por
Schwertley: “Pelo qual recebemos a graça e o apostolado, para a obediência
da fé entre todas as gentes pelo seu nome. Entre as quais sois também vós
chamados para serdes de Jesus Cristo. E rogo-vos, irmãos, que noteis os que
promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos
deles.” (Rm 1,5-6;16,17). São essas palavras de S. Paulo uma prova de que
S. Pedro não tinha autoridade em Roma? Como? O texto mostra naturalmente apenas
a autoridade de um apóstolo, inspirado, a uma igreja. Nada mais.
O Papa é infalível?
É preciso responder
diretamente: como pessoa, indivíduo, em sua fé particular, o papa não e
infalível. Ele o é como chefe da Igreja, pelo seu cargo, e quando transmite uma
verdade de fé a toda a Igreja de acordo com a Escritura e tradição, falando
ex-cathedra. Não é qualquer palavra do papa que possui infalibilidade.
Se um papa foi
herege, isso não depõe contra a infalibilidade, mas prova apenas o que foi dito
antes. A heresia de um papa não é imposta à Igreja Católica.
Brian cita casos
de papas promulgando e depois condenando a mesma coisa. Isso necessita de um
estudo detido de cada caso, o que não é feito no pequeno espaço que o autor
dispõe. E também o autor não apresenta os motivos de cada declaração
exemplificada. Isso é fundamental.
Nos momentos em
que existiram “anti-papas” somente um era o legítimo. Lembre-se: somente há
infalibilidade em alguns momentos, de definição de doutrina que obriga a todos.
Não é qualquer pronunciamento doutrinal do papa que contém esse carisma
especial. Aí, o papa é um simples servo de Deus, obediente à Sua Palavra, como
todos devem ser.
Um caso
específico: pelo que consta na história, Joana D´arc foi condenada injustamente
num processo inquisitorial corrupto sem o conhecimento do papa, que tinha
apenas seus delegados naquela região francesa. Assim que o caso foi descoberto,
a santa foi canonizada. Onde está a contradição aí? Simples de resolver, não é
mesmo?
Vigário de Cristo?
O autor faz comparações contrárias ao primado. No entanto, nenhuma delas
desfaz a doutrina. Por exemplo, se o papa diz ser o cabeça dos reinos
terrestres, e Jesus diz que o Seu reino não deste mundo, o autor contrapõe
essas informações como contrárias à doutrina do papa ser o vigário (representante,
não substituto) de Cristo. Mas, Jesus é o Rei dos reis. Portanto, Ele coloca-Se
como o maior entre os reis da terra, sobre todos eles. E o papa apenas é Seu
servo e representante, como chefe da Igreja na terra.
O Confessionário
Brian afirma que a
confissão deve ser feita uns aos outros, para que cada cristã possa orar e
encorajar uns aos outros. Imagina e cena de cristãos confessando barbaridades,
indignas de serem ditas em público, diante de todos na Igreja? É praticamente
contraindicado. Há coisas que podem ser feitas assim, como a Igreja Católica
praticou por muito tempo, mas não tudo.
Tiago 5,16 não
significa confissão mútua, da forma expressa acima. Pelo contrário, significa a
confissão feita aos presbíteros, que vinham conferir o sacramento da unção dos
enfermos.
No entanto, o
autor concorda com as palavras do escriba (Mc 2,7), que nega o poder do perdão
dos sacerdotes. Jesus deu esse poder aos apóstolos (Jo 20,23), que o conferem
em Seu Nome. Não se trata de homens com poderes divinos, mas de um sacramento
conferido seguindo os princípios do Evangelho, conforme a vontade de Cristo.
No Antigo
Testamento havia confissão a Deus, mas igualmente vemos pecados sendo
confessados aos sacerdotes (Números 5,7). Um fato não invalida o outro.
Breve reflexão:
Brian Schwertley afirma que os textos que os católicos apresentam em favor da
confissão auricular não podem ser entendidos assim para não contradizer com o
“fato” de que as Escrituras nos mandam confessar diretamente a Deus. O problema
é que não existe tal fato! As Escrituras ordenam a confissão a Deus, e vários
exemplos mostram homens confessando aos sacerdotes, e sendo purificados pelos
sacrifícios antigos. A Escritura permite-nos concluir que Nm 5,7: “E
confessará o seu pecado que cometeu; pela sua culpa, fará plena restituição,
segundo a soma total, e lhe acrescentará a sua quinta parte, e a dará àquele
contra quem se fez culpado”, também se harmoniza com o que está escrito em
Provérbios 28,13: “O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas
o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia.” Aqueles pecados foram
confessados a Deus, ainda que por intermédio do sacerdote.
Indulgências
O autor tenta refutar as indulgências negando o mérito. Mas, a Igreja
ensina que o homem não tem méritos, mas os recebe de Deus. Assim, um membro
pode interceder por outro, aplicando méritos em favor dos irmãos.
É isso que o autor fala de santos tão bons que podem ajudar os
outros. A Igreja recebeu o poder das chaves, e é por entender essa doutrina que
podemos melhor entender as indulgências (cf. Mt 16,19).
Purgatório
O purgatório é muito incompreendido. O protestante entende que um
cristão que vai ao purgatório está recebendo chance de salvação, e isso estaria
contrariando o Evangelho. Entende também que se há qualquer sofrimento
por um pecado perdoado, seria pelo fato de que não houve perdão total. Assim,
ensinam que todo pecado é mortal, e o perdão não comporta nenhuma pena.
Contudo, o fato de estar em Cristo não impede que haja penas pelos
pecados. Todo pecado será mortal para o não regenerado. E como o homem é
pecador, mesmo após o perdão, há pecados que não lhe tiram a graça, mas que
devem ser castigados, e mesmo perdoados podem deixar penas. Se as penas são
necessárias, a morte não as livrará. Assim, o cristão perdoado poderá
enfrentá-las no purgatório, e, portanto, haverá purificação.
Os judeus oravam pelas almas, o apóstolo São Paulo orou por
Onesíforo, já falecido, e a Igreja sempre orou pelos defuntos. Os escritos dos
padres testemunham desse fato.
Breve reflexão - Purgatório: Como Schwertley acredita que
não há pena pelos pecados, e afirma que a santidade não justifica diante de
Deus, é preciso dizer que ele não compreendeu a doutrina do purgatório. O
purgatório é somente para o salvo, é um castigo por consequência de pecados
perdoados, ou veniais, e está ligado à santificação e à justiça divina.
Transubstanciação
Interessantemente, o Protestantismo nega a doutrina bíblica da
transubstanciação. Essa doutrina ensina que o Pão e o Vinho se tornam Corpo e
Sangue de Cristo.
A razão para negar isso, segundo Brian, é que o corpo de Jesus não
poderia estar em todo lugar, já que é finito, não possuindo atributos divinos.
Protestante, APRENDA ISSO: o Protestantismo ensina que Jesus,
mesmo após a glorificação, não pode estar com você e com seu irmão ao mesmo
tempo, já que Ele não seria onipresente.
Ele estaria “espiritualmente” presente, mas, não como Homem, pois
nega-se que a natureza humana acompanhe a divindade. Então, como estaria o
Corpo e o Sangue presentes, se isso é pertencente à natureza humana de Jesus?
Encerra-se aqui uma contradição. É o que se conclui da explicação de Brian
Schwertley.
A Igreja Católica crê diferentemente: nós temos um Mediador, JESUS
CRISTO, HOMEM (1 Tm 2,5). É através da humanidade de Cristo que Ele é mediador
de salvação. Assim, em Sua Pessoa, a Natureza humana participa dos poderes de
Sua Divindade. Cristo pode estar em todos os lugares com Seu corpo glorioso!
As palavras de Cristo na última ceia são literais. Os exemplos de
metáforas usadas pelo Senhor não são idênticos aos relatos da última ceia.
Jesus é a Porta (Jo 10,14), o Templo (Jo 2,19), a Videira (Jo
15,5), o Pastor (Jo 10,14). Sim. É obvio que a metáfora está no substantivo.
Jesus é cada uma dessas coisas simbolicamente. Ele não significa a porta, mas é
a porta (simbólica) pela qual entramos no céu. Ele não significa o Templo (por
que se esse fosse o caso, haveria um templo fora de Cristo), mas é o Templo,
pelo qual adoramos a Deus. Ele não simboliza a Videira, mas é a própria Videira
(simbolicamente falando: a videira nutrindo com sua seiva física seus ramos, ensina
Jesus nos alimentando com Sua graça) e etc.
O caso da ceia é
diverso: Jesus diz que o pão é o Seu corpo que será entregue. Usando a mesma
estrutura, o Pão é Jesus de qualquer forma. Ele não “significa”, mas é.
Quanto à
proibição de comer sangue, não se impõe aqui. Cristo nos dá literalmente, mas
de forma espiritual, o sangue como alimento. Se isso fosse incorreto, o seria
também simbolizá-lo. Dessa forma, as igrejas protestantes estariam
representando um pecado, ao celebrar a ceia, pois comiam e bebiam
simbolicamente o que literalmente (embora espiritualmente) não lhes seria
permitido.
Entende-se, dessa
forma, que Cristo não daria Sua carne e sangue como as carnes e sangue de
animais nos açougues, mas Seu corpo e sangue se tornam verdadeiramente comida e
bebida espiritual, mas literalmente, glorificados.
A adoração da
hóstia é, portanto, adoração a Cristo. Se porventura a hóstia não se tornasse
Cristo, como supõem os protestantes, ainda assim os católicos estariam adorando
a Cristo, pois creem que ali não há mais pão e vinho, mas Jesus Cristo vivo sob
aparência de Pão e Vinho. Não há adoração de bolachas!, não há fetichismo. Pelo
contrário, essa própria reflexão aqui mostra que esse nem de perto é o caso em
questão.
Brian afirma que
“Cristo é sacrificado milhares de vezes a cada dia no ritual da missa”. Essa
não é a fé católica, mas a fé que o protestante pensa ser católica.
A ceia que os
protestantes celebram não é pensada como comunhão com o único sacrifício?
Então, o mesmo crê os católicos.
A Igreja ensina
que Jesus morreu uma só vez. Seu sacrifício se torna presente, mas não é
repetido. É renovado, sendo o mesmo, não outro idêntico. Isso acontece porque o
valor do sacrifício é eterno.
A doutrina católica romana da justificação
Será que um protestante tem corajem de ensinar abertamente que basta
crer e viver da forma que quiser e alguém será salvo? Então, não é correto
reclamar da Igreja Católica que exige uma vida de boas obras dos fieis
cristãos.
Quem é o Salvador? JESUS CRISTO. Se não fosse assim, não
adiantaria uma vida inteira em esforços e práticas de boas obras, tudo seria em
vão. Portanto, somente Jesus garante salvação, mas não deixa de ser exigente
quanto à vida dos seus seguidores.
Desse modo, se alguém quer ser coerente, terá de admitir que
existem várias obras que caracterizam a vida digna de Cristo, ou melhor, a vida
de um seguidor dEle. E então somente substituirá as obras católicas por aquilo
que julga ser correto! A base, portanto, é a mesma.
O protestante dirá que as obras estão no rol da santificação,
enquanto já está justificado. Mas, quem será salvo, se não tiver obras para
santificar-se? Poderá entrar no céu com uma vida repleta de pecados? A resposta
coerente é não. Dir-se-á que não teve fé verdadeira! Então, a santificação,
mesmo nesse sistema protestante, deve estar entrelaçada com a salvação. Em
termos práticos é idêntico ao que ensina a Igreja Católica.
Breve reflexão – Schwertley compara a suposta doutrina
bíblica com aquilo que entende da doutrina católica. Ambas, na verdade, são
idênticas. No entanto, o autor não percebe, e põe-se a criticar a doutrina
católica. A doutrina bíblica é que a fé e obras são necessárias para a
salvação.
Conclusão
A doutrina católica é totalmente bíblica. Somente um grande
mal-entendido é que serve de base para criticá-la. Permanecer católico é estar
guardando toda a verdade cristã. Não há esse católico salvo “apesar” do
Catolicismo, mas os católicos são salvos por Cristo por estarem crendo na
verdade, que é Jesus, e tudo o que Ele deixou na Igreja Católica.
À pergunta de Brian Schwertley eu respondo
prontamente: “Você precisa perguntar seriamente a si mesmo: Eu sou um
católico romano porque eu estudei a Bíblia e descobri que sua doutrina é
idêntica à da igreja?” SIM. “Ou sou um católico romano porque nasci na
igreja? (...)” De fato, nasci num lar católico e fui batizado, mas somente
recebi de Deus a conversão na adolescência, e comecei a ler a Bíblia
atentamente e ver o que dela ensinavam a Igreja Católica e várias outras
igrejas protestantes. Num estudo bastante sistemático, constatei que a Igreja
Católica é fidelíssima à Escritura.
Gledson Meireles.