Avaliação do tópico:
A doutrina da revelação: Deus vem
ao encontro do ser humano
A Sagrada Escritura, artigo 3
Gregg
explica que pelo processo interpretativo deve-se buscar os quatro sentidos da
Escritura. Os dois sentidos, de que fala o Catecismo, que se tornam seu significado quádruplo.
É
um meio de explicar o que o Catecismo afirma em outras palavras. Mas, parece
que a exatidão não está sendo total. De fato, o Catecismo fala da uma antiga
tradição que distingue dois sentidos (literal e espiritual) da Escritura, onde
o sentido espiritual se divide em alegórico, moral e anágogico, e que a concordância entre os quatro sentidos
garante a riqueza da leitura vida da Escritura na Igreja. Não afirma que se
deve buscar os quatro sentidos mas que tradicionalmente esses quatro garantem
uma riqueza para a leitura da Bíblia na Igreja. É algo que não tem implicações
sérias, mas parece não ter ficado exposto o sentido que o catecismo traz.
Também,
quando se explica o sentido espiritual, Gregg explica como “o sentido não das
palavras da Escritura, mas das coisas... No entanto, o Catecismo afirma que não somente o texto da Escritura, mas também
as realidades e os acontecimentos. Assim, o Catecismo afirma que o sentido
espiritual está nas palavras e nas coisas, e Gregg entendeu que está apenas nas
coisas, e não no sentido das palavras. É algo bastante sutil, mas que pode
trazer diferenças quando à exatidão da exposição da doutrina católica.
São
somente essas observações mais importantes na apresentação de Gregg Allison.
Agora, vejamos sua avaliação evangélica do artigo sobre a Sagrada Escritura.
Gregg
nota que a revelação divina é a revelação especial, no jargão evangélico. E em
geral ele nota concordância com a doutrina protestante.
Quanto
à transmissão da revelação divina/Solacriptura, Gregg Allison afirma que há grande distanciamento entre as duas
posições, católica e evangélica. O Protestismo afirma somente a Escritua, e
nesse ponto não há tradição. Não seria Escritura mais Tradição, mas a Escritura
seria formalmente suficiente. Esse é o princípio fundacional do Prostantismo
quanto à Bíblia.
E
o teólogo apresenta as razões que o Protestantismo tem para rejeitar a tradição
como meio distinto de revelação. A primeira razão é a ideia da Tradição como suplemento ao texto da Escritura.
Pode-se
dar uma resposta da teologia católica a isso, mostrando o erro da teologia
protestante. Jesus disse em João 16, 12 que ainda tinha muitas coisas a dizer,
e que os apóstolos não podiam suportar ainda. Com isso, tem que é de suma
importância o que Jesus tinha a dizer.
Então,
Calvino afirma que quando os apóstolos puseram por escrito eles escreveram
tudo, de modo a não ter mais lugar para lembrar algo relativo a isso de viva
voz, todo “o conhecimento perfeito e específico da doutrina evangélica”.
Há
um problema aqui que a teologia protestante não consegue resolver. Jesus afirma
que há algo mais a ser dito por Ele, o que presume-se que é de suma
importância, pois vem de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus Filho.
Ainda, os apóstolos não podiam suportar naquele momento, o que demostra ser
algo de importância real.
Então,
mais tarde puderam aprender e suportar, pois o Espírito Santo os guiou a toda a
verdade. No entanto, há uma diferença entre ensinar toda a verdade e “deixar
registrado por escrito” toda essa verdade. Esse suposição não está no texto, e
é algo que a teologia evangélica acrescenta.
São
Paulo escreveu: “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos
que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (2 Ts 2, 15).
Nesse
momento o apóstolo estava inspirado, e ensinada toda a verdade, guiado pelo
Espírito Santo. Contudo, ele não o fez por escrito todo o ensinamento, mas
parte por escrito e em parte por palavras. E por que não colocou tudo por
escrito? Porque tal ordem nunca existiu. Jesus mandou ensinar, mas não indicou
o meio obrigatório.
A
melhor forma de revelação escolhida foi a escrita, e assim nasceu a Bíblia. No
entanto, há espaço para outros modos de ensinar, e Jesus deixou essa
possibilidade na Sua Igreja.
Entende-se
assim, que algumas coisas ficaram no modo de viver da Igreja, de forma que são
palavra de Deus, guardada pelos apóstolos e conservada na Tradição, mas que
viveram por meio das práticas da Igreja, conservadas na liturgia, conhecida
através dos escritos dos santos padres, etc., que indicam a origem apostólica.
Dessa
forma, os apóstolos conheceram toda a verdade salvífica, e a ensinaram de fato.
O meio que fizeram foi primordialmente por palavras, mas conservadas
soberanamente por escrito enquanto outros dados da revelação eventualmente
permaneceram por palavras, e foram mais tarde registradas pelos cristãos.
Portanto, a forma que a Palavra oral foi conversada não é inspirada como o
texto bíblico, mas é Palavra de Deus igualmente. Nenhum escrito patrístico é
inspirado, mas testemunha de algo que veio dos apóstolos.
Dessa
forma, o texto de 2 Ts 2, 15 tem implicação importante. Ele mostra que naquele
instante o apóstolo inspirado os manda guardar algo que não havia sido escrito,
o que implica que toda a revelação
não foi obrigatoriamente posta por escrito.
E,
caso o leitor não percebeu, o que está sendo feito para provar a existência da
Tradição é a leitura do texto bíblico. Assim, a Igreja Católica segue, de certa
forma, o Sola Scriptura que é
distinto do protestante. Enquanto o protestante crê que essas coisas que são
Paulo alude como ensinadas por palavras foram todas escritas de alguma forma
depois, enquanto que a Igreja Católica sempre entendeu que de fato houve
elementos que não forma escritos pelos autores inspirados, mas que foram
ensinados por eles de viva voz e ficaram na tradição da Igreja. E o texto
bíblico sugere a compreensão católica, pois São Paulo não deixaria algo
importante para ser escrito se isso fosse obrigatório, de modo que perdesse a
oportunidade de escrever, apenas ordenando que os leitores se lembrassem também
do seu ensino oral. É uma prova de que essa parte do ensino, igualmente
importante, por ser Palavra de Deus, não foi e nem necessitava ser escrita.
Afirmar
que não havia “necessidade de nenhum corpo complementar de tradição de
comunicação oral”, não está no texto bíblico. Pelo contrário, o mesmo indica a
tradição oral. Essa é a refutação do primeiro ponto posto pelo teólogo Gregg
Allison.
A
segunda razão por que os protestantes rejeitam tradição seria a demora por que passou o desenvolvimento do conceito.
O
próprio texto de 2 Ts 2, 15 é evidente de que o ensino escrito era
complementado pelo oral. Alguns ensinamentos por palavra e por carta não seria
razoável citar se ambos fossem iguais. São Paulo apenas mencionaria um. Mas
não. O texto firma que é necessário ficar firmes no ensinamento que aprendestes. E o modo pelo qual
aprenderam, foram dois, por palavras ou por cartas. Há complementariedade.
Em
grande parte, o que foi posto por escrito foi aquilo que estava sendo motivo de
controvérsia. Entende-se assim as epístolas, por exemplo. Não havia um plano de
ensinar a doutrina geral por escrito, mas os autores ensinavam oralmente e
escreviam para as comunidades aquilo que era necessário no momento. Ambas as
coisas deviam ser conservadas, as tradições e os escritos.
Santo
Ireneu fala do plano de salvação conservado por escrito. O que foi escrito é
perfeito, não há nada errado. E o que foi deixado oralmente e conservado,
segundo fontes fidedignas, é igualmente importante. Santo Ireneu não está ali
tratando da tradição e da Escritura, e por isso não se refere aos dois modos ou
duas fontes de revelação.
E
Gregg admite que para defender a fé contra os hereges que ensinavam possuir a
tradição que corrigiria a Escritura, Santo Ireneu fala da tradição que foi ensinada
pelos apóstolos e conservada na sucessão apostólica, e cita o texto de Santo
Ireneu se referindo à Escritura e à Tradição. Quando o mesmo afirma que a
doutrina está preservada nas igrejas apostólicas, isso não é o mesmo que os
hereges estavam afirmando. Para os hereges a sua tradição não era a dos
apóstolos e nem de Cristo.
Quando
Santo Tomás distingue as Escrituras dos escritos dos doutores, isso é o mesmo
que a Igreja Católica faz oficialmente, pois não há revelação feita aos padres
da Igreja. Eles apenas conservam em seus escritos o que é da tradição. A ideia
da tradição desenvolveu-se, não houve mudança, como Gregg entende.
Ver
tomás de aquino nota 38
O
terceiro motivo que os protestantes apresentam contra a tradição é que essa
seria mantida infalivelmente pela Igreja sem
a Escritura. Mas isso não é exato. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo e
isso é feito majoritariamente pela Escritura.
Se
a Igreja não é infalível para preservar a verdade, então ela pode ser perdida.
É isso que o Protestantismo afirma que ocorreu, e isso é absurdo. A coluna e
sustentáculo da verdade não teria serventia.
Em
nenhum momento a Igreja alega a infalibilidade para promover doutrinas fora da
Escritura. Isso é um equívoco da teologia protestante ao afirmar isso da teologia
católica. Deus ilumina a Igreja para guardar a sua Palavra, e não as mentes de
todos os fieis. De fato, os hereges surgem no seio da Igreja, e a autoridade
eclesiástica é instada pelo Espírito Santo para defender a fé. Esse é o ensino
de João 16, 13 e 14, 26. O Espírito Santo está unido à Palavra de Deus, e o faz
grandemente por meio do magistério da Igreja. O que a teologia evangélica pensa
sobre a iluminação das mentes individuais é praticamente o que a Bíblia está
afirmando em relação à autoridade da Igreja docente. De fato, o Espírito Santo
lembra à Igreja o que já foi ensinado por Cristo e pelos apóstolos, e não novas
revelações.
A
quarte razão que a teologia evangélica apresenta contra a tradição é que a
Escritura mais Tradição seria estrutura inerentemente
instável. E afirma que na prática quando as duas entra em conflito
prevalece a tradição: “a autoridade da Tradição sobrepuja a da Escritura”. É o
mesmo que dizer que “na prática”, como ensinado pela teologia evangélica,
quando a Bíblia e a interpretação particular entram em conflito, “a autoridade particular sobrepuja a da
Escritura”. Por isso, a interpretação de uma pessoa é contraposta à da
Igreja com sua interpretação oficial, e o membro da igreja se recusa a aceitar
a autoridade da mesma, prevalecendo sua interpretação da Palavra.
Se
a crítica é que não haveria harmonia entre a Bíblia e a Tradição, isso acontece
de fato entre a Bíblia e a intepretação particular de quem acredita ter a mente
iluminada pelo Espírito Santo. Se a “promoção” da doutrina da imaculada
conceição de Maria é exemplo de que a Tradição é elevada em detrimento da
Escritura, o que não dizer das muitas interpretações particulares dos
reformadores e muitos outros protestantes que entram em conflito com a
Escritura, mas que prevalecem nas tradições das denominações.
Para
ensinar a imaculada conceição, a Igreja entende perfeitamente que conforme a
Bíblia não há exceções, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus.
Então, em Adão Maria pecou, por direito, por natural herança, por ser filha
natural de Adão e Eva por meio de sua
concepção advinda da conjunção de seus pais. Somente Jesus, gerando pelo
Espírito Santo, foi exceção nesse ponto. No entanto, entende-se que a salvação
da virgem Maria se deu na concepção, fazendo com que de fato ela não herdasse o
pecado, pelo mérito do sacrifício de Cristo. Essa doutrina está conforme a
revelação bíblica.
Maria
não pecou em palavras, ações, pensamentos e intenções, etc., como sugere Gregg.
Ela foi isenta do pecado por graça de Cristo. Maria tinha a mesma natureza que
todos, mas sua culpa foi removida, ela foi salva, e foi gerada na amizade de
Deus. Assim, o dado da Tradição está conforme ao da Escritura.
A
observação de Warnick serve para fontes humanas. Mas a tradição não é humana, é
Palavra de Deus. O que Warnick observa aplica-se às interpretações
particulares. De fato, quando uma interpretação entra em conflito com outro
dado da revelação, geralmente a interpretação pessoal se ergue contra a
Escritura entendendo que está correta, e confronta a autoridade da Igreja. O
intérprete se torna autoridade de facto
apesar de dizer o contrário. Apesar de afirmar estar seguindo a Bíblia.
Desse
modo, a instabilidade Escritura e intérprete individual em seu livre exame é
que deve ser rejeitada. O modelo de revelação como somente a Bíblia cria essa estrutura da forma com que a revelação
chegará ao coração do pecador, que seria sua interpretação pessoal, entendida
como sendo percebida por sua mente iluminada pelo Espírito Santo. Essa
estrutura é falha.
E,
por fim, a Tradição como revelação divina como mostrada acima é um acréscimo
vindo do início da Igreja, dos tempos apostólicos, e a contradição com a
posição protestante do século 16 convida a escolher o modelo anterior, pois a
Bíblia sozinha diante do intérprete causa o que foi aludido acima.
A
suficiência da Escritura está correta, mas pela perspectiva material, pois ela
será interpretada. Se o intérprete pode errar, o ensino que terá não é o da
Escritura, mas o próprio erro, e então não saberá o leitor o que é preciso para
ser salvo e viver de modo que agrade a Deus. Assim, a Lei do Senhor é perfeita
(Sl 19, 7), mas deve ser bem entendida. O cristão tem pleno preparo para fazer
isso, conforme 2 Tm 3, 16-17? Não tem, pois deve obedecer à autoridade da
Igreja que é autêntica para interpretar a Bíblia e mostrar o que a mesma ensina
para sua salvação e para que agrade a Deus.
A
Igreja Católica não formula doutrina ou prática fora da Escritura, mas tudo
está em total consonância com a Escritura, visto ter vindo de Deus, através de
Cristo, e por meio da inspiração do Espírito Santos aos escritores do Novo
Testamento ao mesmo tempo, pois ensinavam por palavras e por escrito.
De
fato, a Igreja não deriva a certeza das verdade apenas da Bíblia, mas também da
Tradição, pelos motivos já expostos. Isso não nega que a Bíblia seja
suficiente. Seria o mesmo que afirmar que para interpretar a Bíblia não é
preciso iluminação da mente pelo Espírito Santo, pois a Bíblia seria
suficiente. O protestante pode raciocinar dessa forma, e entender que o papel
da tradição é quase que totalmente para fazer entender melhor a Escritura.
Quanto
ao argumento de que a Igreja existia sem a Escritura, pela Tradição, esse foi
usado por Santo Ireneu contra os hereges. De fato, a Escritura é necessária
para o bem e o ser da Igreja, mas a questão é que o Espírito Santo não deixa a
Igreja desviar-se. Também, como inspirador da Escritura, não deixa que essa se
perca. É simples. O argumento é apenas para mostrar o poder de Deus na defesa da
Sua Igreja. E, também, na preservação da Sua Palavra.
Como
provado, somente a Escritura é uma estrutura errônea. A Escritura, Tradição e
Magistério mantem a verdade da suficiência da Escritura, como já mostrado
acima.
A
questão das outras autoridades, tradição e Igreja, com falíveis, é
problemática. A suficiência da Escritura funciona como provado antes, ou seja,
no seio da Igreja. Isso é o que foi entendido sempre, e é afirmado pelos pais
da Igreja. O mesmo se entende de 2 Tm 3, 15-17. A Bíblia interpretada
corretamente transmite a verdade que que suficiente para ensinar, repreender,
corrigir, instruir em justiça, etc. Se mal interpretada, seu ensino não chega
ao pecador e esse não pode fazer nada do que foi elencado antes.
A
ideia de que o Antigo Testamento era já suficiente para os cristãos, e que os
escritos adicionais do Novo Testamento continuam nesse todo suficiente é uma
ideia absurda. Para que acréscimo ao que já é suficiente? Esse se tornaria
supérfluo.
O
princípio Sola Scriptura é entendido
como resumo de várias passagens bíblicas, mas como visto, da forma como o
Protestantismo concebe, está equivocado. O que Peter Kreeft certamente disse
foi que o Sola Scriptura não é um
resumo ou decorrência da Escritura ou de outras crenças.
A
Escritura e sua interpretação
A
respeito da importância, inspiração e verdade da Escritura há concordância maior entre a teologia
católica e a teologia evangélica, segundo Gregg Allison.
O
fundamento da importância da Escritura é distinto. E qual é essa distinção?
Allison afirma que a teologia católica associa a Escritura à Eucaristia. Por
sua vez, a teologia evangélica apela à
inspiração, à autoridade, à suficiência, à necessidade, à clareza, ao poder e à
veracidade. E ambas consideram o papel vital da Bíblia na Igreja.
Essa
avaliação é interessante é um pouco obscura. Talvez superficial demais.
Certamente, bem incompleta. O autor afirma que o fundamento para a importância
da Bíblia tem sua associação com a eucaristia no Catolicismo, e no
Protestantismo apela à inspiração e etc.
Mas,
podemos questionar isso. Para a Igreja Católica o fundamento da importância da
Escritura é sua inspiração divina. Ela é importante porque é a Palavra de Deus.
E a Escritura é a forma suprema de revelação.
Por
isso, é certo afirmar que Gregg não comenta o artigo 3 satisfatoriamente, pois no
número 102 do mesmo, o Catecismo afirma que em toda a Escritura há somente uma
Palavra: Cristo, que é o “Verbo único” que Deus pronuncia. Então, a Igreja
sempre venera a Bíblia como também o Corpo do Senhor.
De
fato, aqui, a Igreja está afirmando que a Bíblia fala inteiramente, em todo o
seu conteúdo, de Jesus Cristo, e por isso ela é venerada. Também, que a Igreja
venera a Eucaristia. São duas coisas. Mas Gregg afirma que o fundamento da
importância da Bíblia seria sua associação à Eucaristia, ao passo que o
Protestantismo fundamenta a importância da Escritura na inspiração e etc, o que
é um assunto totalmente diverso. E o Catecismo ensina no número 104 que a
Igreja encontra alimento e força na Sagrada Escritura. Esse então é o alimento
e a força necessária para a exisência da Igreja, o ser da Igreja. Afirma também
que para que a Escritura não permaneça letra morta é preciso que Crsto nos abra
o espírito para compreendermos a Escritura (n. 108).
Afirma
ainda que a teologia evangélica concorda em parte com a teologia católica, pois
há diferenças quanto à interpretação. A diferença principal se dá no fundamento
da abordagem adotado para interpretar a Escritura. O Protestantismo afirma a clareza da Escritura, então ela é
compreensível aos cristãos e esses são responsáveis e capazes de interpretar a
Bíblia.
Esse
ponto é importante. De fato, a Igreja Católica não se exprime oficialmente
dessa maneira. Como pode qualquer pessoa ser capaz de interpretar a Bíblia? Em
que sentido? Allison explica. Cita Deuteronômio 30, 11-14, quando Moisés disse
que o mandamento que Deus ordena não
é difícil demais. E afirma que a palavra está perto, na boca e no coração.
De
fato, ali não se deve entender toda a
Bíblia, mas o mandamento moral que Deus estava ensinando. Esse é um ponto que
mostra o equívoco da teologia evangélica ao tentar tirar dessa passagem
implicações maiores. De fato, nem a teologia evangélica afirma que toda a
Bíblia é clara, mas apenas os pontos necessários à salvação.
Depois,
cita Dt 31, 9-13, onde está escrito que a Lei deveria ser lida para que o povo
a ouvisse. A leitura da Lei para que todos ouçam e obedeçam.
De
fato, se trata da clareza geral, e não da interpretação da Bíblia feita por
cada um dos israelitas, que ouviam a leitura, nem para os cristãos de hoje.
Então, existe uma inteligibilidade contínua. Se bem explicado, esse ponto não é
negado pela Igreja Católica.
A
Bíblia é lida e compreendida por todos. Gregg cita, entre outros versículos,
Neemias 8 e Atos 17, 10-12. Há coisas obscuras, mas o que Deus quis revelar
está suficiente claro (Dt 29, 29). A Escritura é acessível e inteligível para o
Povo de Deus, e isso é a clareza da Escritura.
Ainda
assim, não está clara essa doutrina. De fato, é notório que nem todos
compreendem a Bíblia quando a leem ou ouvem sua leitura. Nem todos os cristãos
a compreendem assim.
Então,
o autor afirma que essa doutrina é uma das razões que fizeram os reformadores
traduziram a Bíblia, também é motivo para que os protestantes distribuam
Bíblias, e incentivem a leitura pessoal e estudos bíblicos em família.
Menciona
o Concílio Vaticano II que incentivou a leitura e o estudo da Bíblia, mas que
isso empalidece quando se compara
isso ao que há entre os protestantes.
De
fato, se a Bíblia é clara, não deve haver tanto estudo para procurar fazer
entender seu sentido. Portanto, a clareza está em certas coisas e não em todas.
Então, esse tópico de Gregg não explica que a doutrina protestante sobre a
clareza ensina que a Bíblia é clara nas verdades fundamentais, que levam à fé
em Jesus Cristo e à salvação.
Nesse
ponto nenhum cristão católico discorda. Quanto aos estudos protestantes sobre o
conteúdo a Escritura, esses estudos indicam que há dificuldade imensa, de modo
a fazer surgir escolas teológicas diversas, aparecerem muitas interpretações,
muitas vezes conflitantes, mostrando que se trata de um terreno vasto e de uma
dificuldade evidente. Assim, Deus quis revelar essas coisas, e ainda assim elas
são difíceis de compreender. Esse ponto refuta a afirmação categórica da
teologia protestante acima, pelo menos da forma como foi colocada.
Ainda,
a leitura da Lei em Neemias 8, a todo o povo, afirma que Josué, Bani, Serebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita,
Azarias, Jozabad, Hanã, Falaías e outros levita explicavam o sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura.
Havia necessidade de explicação da leitura da Lei ao povo.
A
exposição de Gregg sobre a clareza da
Escritura no respectivo tópico do seu livro é insuficiente para provar seu
argumento e é facilmente refutada. Se a Escritura é compreensível a todos os
cristãos, então os cristãos católicos a compreendem quando leem e ouvem sua
leitura na Igreja. Todos já entendem o pontos fundamentais. Se há necessidade
de estudo e explicação, então entra aí a autoridade da Igreja. Essa questão não
é mostrada por Gregg Allison nesse tópico.
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