domingo, 11 de agosto de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana: uma avaliação evangélica

Avaliação do tópico:

A doutrina da revelação: Deus vem ao encontro do ser humano

A Sagrada Escritura, artigo 3

Gregg explica que pelo processo interpretativo deve-se buscar os quatro sentidos da Escritura. Os dois sentidos, de que fala o Catecismo, que se tornam seu significado quádruplo.

É um meio de explicar o que o Catecismo afirma em outras palavras. Mas, parece que a exatidão não está sendo total. De fato, o Catecismo fala da uma antiga tradição que distingue dois sentidos (literal e espiritual) da Escritura, onde o sentido espiritual se divide em alegórico, moral e anágogico, e que a concordância entre os quatro sentidos garante a riqueza da leitura vida da Escritura na Igreja. Não afirma que se deve buscar os quatro sentidos mas que tradicionalmente esses quatro garantem uma riqueza para a leitura da Bíblia na Igreja. É algo que não tem implicações sérias, mas parece não ter ficado exposto o sentido que o catecismo traz.

Também, quando se explica o sentido espiritual, Gregg explica como “o sentido não das palavras da Escritura, mas das coisas... No entanto, o Catecismo afirma que não somente o texto da Escritura, mas também as realidades e os acontecimentos. Assim, o Catecismo afirma que o sentido espiritual está nas palavras e nas coisas, e Gregg entendeu que está apenas nas coisas, e não no sentido das palavras. É algo bastante sutil, mas que pode trazer diferenças quando à exatidão da exposição da doutrina católica.

São somente essas observações mais importantes na apresentação de Gregg Allison. Agora, vejamos sua avaliação evangélica do artigo sobre a Sagrada Escritura.

Gregg nota que a revelação divina é a revelação especial, no jargão evangélico. E em geral ele nota concordância com a doutrina protestante.

Quanto à transmissão da revelação divina/Solacriptura, Gregg Allison afirma que  há grande distanciamento entre as duas posições, católica e evangélica. O Protestismo afirma somente a Escritua, e nesse ponto não há tradição. Não seria Escritura mais Tradição, mas a Escritura seria formalmente suficiente. Esse é o princípio fundacional do Prostantismo quanto à Bíblia.

E o teólogo apresenta as razões que o Protestantismo tem para rejeitar a tradição como meio distinto de revelação. A primeira razão é a ideia da Tradição como suplemento ao texto da Escritura.

Pode-se dar uma resposta da teologia católica a isso, mostrando o erro da teologia protestante. Jesus disse em João 16, 12 que ainda tinha muitas coisas a dizer, e que os apóstolos não podiam suportar ainda. Com isso, tem que é de suma importância o que Jesus tinha a dizer.

Então, Calvino afirma que quando os apóstolos puseram por escrito eles escreveram tudo, de modo a não ter mais lugar para lembrar algo relativo a isso de viva voz, todo “o conhecimento perfeito e específico da doutrina evangélica”.

Há um problema aqui que a teologia protestante não consegue resolver. Jesus afirma que há algo mais a ser dito por Ele, o que presume-se que é de suma importância, pois vem de Jesus Cristo, o Filho de Deus, o próprio Deus Filho. Ainda, os apóstolos não podiam suportar naquele momento, o que demostra ser algo de importância real.

Então, mais tarde puderam aprender e suportar, pois o Espírito Santo os guiou a toda a verdade. No entanto, há uma diferença entre ensinar toda a verdade e “deixar registrado por escrito” toda essa verdade. Esse suposição não está no texto, e é algo que a teologia evangélica acrescenta.

São Paulo escreveu: “Assim, pois, irmãos, ficai firmes e conservai os ensinamentos que de nós aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa” (2 Ts 2, 15).

Nesse momento o apóstolo estava inspirado, e ensinada toda a verdade, guiado pelo Espírito Santo. Contudo, ele não o fez por escrito todo o ensinamento, mas parte por escrito e em parte por palavras. E por que não colocou tudo por escrito? Porque tal ordem nunca existiu. Jesus mandou ensinar, mas não indicou o meio obrigatório.

A melhor forma de revelação escolhida foi a escrita, e assim nasceu a Bíblia. No entanto, há espaço para outros modos de ensinar, e Jesus deixou essa possibilidade na Sua Igreja.

Entende-se assim, que algumas coisas ficaram no modo de viver da Igreja, de forma que são palavra de Deus, guardada pelos apóstolos e conservada na Tradição, mas que viveram por meio das práticas da Igreja, conservadas na liturgia, conhecida através dos escritos dos santos padres, etc., que indicam a origem apostólica.

Dessa forma, os apóstolos conheceram toda a verdade salvífica, e a ensinaram de fato. O meio que fizeram foi primordialmente por palavras, mas conservadas soberanamente por escrito enquanto outros dados da revelação eventualmente permaneceram por palavras, e foram mais tarde registradas pelos cristãos. Portanto, a forma que a Palavra oral foi conversada não é inspirada como o texto bíblico, mas é Palavra de Deus igualmente. Nenhum escrito patrístico é inspirado, mas testemunha de algo que veio dos apóstolos.

Dessa forma, o texto de 2 Ts 2, 15 tem implicação importante. Ele mostra que naquele instante o apóstolo inspirado os manda guardar algo que não havia sido escrito, o que implica que toda a revelação não foi obrigatoriamente posta por escrito.

E, caso o leitor não percebeu, o que está sendo feito para provar a existência da Tradição é a leitura do texto bíblico. Assim, a Igreja Católica segue, de certa forma, o Sola Scriptura que é distinto do protestante. Enquanto o protestante crê que essas coisas que são Paulo alude como ensinadas por palavras foram todas escritas de alguma forma depois, enquanto que a Igreja Católica sempre entendeu que de fato houve elementos que não forma escritos pelos autores inspirados, mas que foram ensinados por eles de viva voz e ficaram na tradição da Igreja. E o texto bíblico sugere a compreensão católica, pois São Paulo não deixaria algo importante para ser escrito se isso fosse obrigatório, de modo que perdesse a oportunidade de escrever, apenas ordenando que os leitores se lembrassem também do seu ensino oral. É uma prova de que essa parte do ensino, igualmente importante, por ser Palavra de Deus, não foi e nem necessitava ser escrita.

Afirmar que não havia “necessidade de nenhum corpo complementar de tradição de comunicação oral”, não está no texto bíblico. Pelo contrário, o mesmo indica a tradição oral. Essa é a refutação do primeiro ponto posto pelo teólogo Gregg Allison.

A segunda razão por que os protestantes rejeitam tradição seria a demora por que passou o desenvolvimento do conceito.

O próprio texto de 2 Ts 2, 15 é evidente de que o ensino escrito era complementado pelo oral. Alguns ensinamentos por palavra e por carta não seria razoável citar se ambos fossem iguais. São Paulo apenas mencionaria um. Mas não. O texto firma que é necessário ficar firmes no ensinamento que aprendestes. E o modo pelo qual aprenderam, foram dois, por palavras ou por cartas. Há complementariedade.

Em grande parte, o que foi posto por escrito foi aquilo que estava sendo motivo de controvérsia. Entende-se assim as epístolas, por exemplo. Não havia um plano de ensinar a doutrina geral por escrito, mas os autores ensinavam oralmente e escreviam para as comunidades aquilo que era necessário no momento. Ambas as coisas deviam ser conservadas, as tradições e os escritos.

Santo Ireneu fala do plano de salvação conservado por escrito. O que foi escrito é perfeito, não há nada errado. E o que foi deixado oralmente e conservado, segundo fontes fidedignas, é igualmente importante. Santo Ireneu não está ali tratando da tradição e da Escritura, e por isso não se refere aos dois modos ou duas fontes de revelação.

E Gregg admite que para defender a fé contra os hereges que ensinavam possuir a tradição que corrigiria a Escritura, Santo Ireneu fala da tradição que foi ensinada pelos apóstolos e conservada na sucessão apostólica, e cita o texto de Santo Ireneu se referindo à Escritura e à Tradição. Quando o mesmo afirma que a doutrina está preservada nas igrejas apostólicas, isso não é o mesmo que os hereges estavam afirmando. Para os hereges a sua tradição não era a dos apóstolos e nem de Cristo.

Quando Santo Tomás distingue as Escrituras dos escritos dos doutores, isso é o mesmo que a Igreja Católica faz oficialmente, pois não há revelação feita aos padres da Igreja. Eles apenas conservam em seus escritos o que é da tradição. A ideia da tradição desenvolveu-se, não houve mudança, como Gregg entende.

Ver tomás de aquino nota 38

O terceiro motivo que os protestantes apresentam contra a tradição é que essa seria mantida infalivelmente pela Igreja sem a Escritura. Mas isso não é exato. A Igreja é guiada pelo Espírito Santo e isso é feito majoritariamente pela Escritura.

Se a Igreja não é infalível para preservar a verdade, então ela pode ser perdida. É isso que o Protestantismo afirma que ocorreu, e isso é absurdo. A coluna e sustentáculo da verdade não teria serventia.

Em nenhum momento a Igreja alega a infalibilidade para promover doutrinas fora da Escritura. Isso é um equívoco da teologia protestante ao afirmar isso da teologia católica. Deus ilumina a Igreja para guardar a sua Palavra, e não as mentes de todos os fieis. De fato, os hereges surgem no seio da Igreja, e a autoridade eclesiástica é instada pelo Espírito Santo para defender a fé. Esse é o ensino de João 16, 13 e 14, 26. O Espírito Santo está unido à Palavra de Deus, e o faz grandemente por meio do magistério da Igreja. O que a teologia evangélica pensa sobre a iluminação das mentes individuais é praticamente o que a Bíblia está afirmando em relação à autoridade da Igreja docente. De fato, o Espírito Santo lembra à Igreja o que já foi ensinado por Cristo e pelos apóstolos, e não novas revelações.

A quarte razão que a teologia evangélica apresenta contra a tradição é que a Escritura mais Tradição seria estrutura inerentemente instável. E afirma que na prática quando as duas entra em conflito prevalece a tradição: “a autoridade da Tradição sobrepuja a da Escritura”. É o mesmo que dizer que “na prática”, como ensinado pela teologia evangélica, quando a Bíblia e a interpretação particular entram em conflito, “a autoridade particular sobrepuja a da Escritura”. Por isso, a interpretação de uma pessoa é contraposta à da Igreja com sua interpretação oficial, e o membro da igreja se recusa a aceitar a autoridade da mesma, prevalecendo sua interpretação da Palavra.

Se a crítica é que não haveria harmonia entre a Bíblia e a Tradição, isso acontece de fato entre a Bíblia e a intepretação particular de quem acredita ter a mente iluminada pelo Espírito Santo. Se a “promoção” da doutrina da imaculada conceição de Maria é exemplo de que a Tradição é elevada em detrimento da Escritura, o que não dizer das muitas interpretações particulares dos reformadores e muitos outros protestantes que entram em conflito com a Escritura, mas que prevalecem nas tradições das denominações.

Para ensinar a imaculada conceição, a Igreja entende perfeitamente que conforme a Bíblia não há exceções, todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus. Então, em Adão Maria pecou, por direito, por natural herança, por ser filha natural de Adão e Eva  por meio de sua concepção advinda da conjunção de seus pais. Somente Jesus, gerando pelo Espírito Santo, foi exceção nesse ponto. No entanto, entende-se que a salvação da virgem Maria se deu na concepção, fazendo com que de fato ela não herdasse o pecado, pelo mérito do sacrifício de Cristo. Essa doutrina está conforme a revelação bíblica.

Maria não pecou em palavras, ações, pensamentos e intenções, etc., como sugere Gregg. Ela foi isenta do pecado por graça de Cristo. Maria tinha a mesma natureza que todos, mas sua culpa foi removida, ela foi salva, e foi gerada na amizade de Deus. Assim, o dado da Tradição está conforme ao da Escritura.

A observação de Warnick serve para fontes humanas. Mas a tradição não é humana, é Palavra de Deus. O que Warnick observa aplica-se às interpretações particulares. De fato, quando uma interpretação entra em conflito com outro dado da revelação, geralmente a interpretação pessoal se ergue contra a Escritura entendendo que está correta, e confronta a autoridade da Igreja. O intérprete se torna autoridade de facto apesar de dizer o contrário. Apesar de afirmar estar seguindo a Bíblia.

Desse modo, a instabilidade Escritura e intérprete individual em seu livre exame é que deve ser rejeitada. O modelo de revelação como somente a Bíblia cria essa estrutura da forma com que a revelação chegará ao coração do pecador, que seria sua interpretação pessoal, entendida como sendo percebida por sua mente iluminada pelo Espírito Santo. Essa estrutura é falha.

E, por fim, a Tradição como revelação divina como mostrada acima é um acréscimo vindo do início da Igreja, dos tempos apostólicos, e a contradição com a posição protestante do século 16 convida a escolher o modelo anterior, pois a Bíblia sozinha diante do intérprete causa o que foi aludido acima.

A suficiência da Escritura está correta, mas pela perspectiva material, pois ela será interpretada. Se o intérprete pode errar, o ensino que terá não é o da Escritura, mas o próprio erro, e então não saberá o leitor o que é preciso para ser salvo e viver de modo que agrade a Deus. Assim, a Lei do Senhor é perfeita (Sl 19, 7), mas deve ser bem entendida. O cristão tem pleno preparo para fazer isso, conforme 2 Tm 3, 16-17? Não tem, pois deve obedecer à autoridade da Igreja que é autêntica para interpretar a Bíblia e mostrar o que a mesma ensina para sua salvação e para que agrade a Deus.

A Igreja Católica não formula doutrina ou prática fora da Escritura, mas tudo está em total consonância com a Escritura, visto ter vindo de Deus, através de Cristo, e por meio da inspiração do Espírito Santos aos escritores do Novo Testamento ao mesmo tempo, pois ensinavam por palavras e por escrito.

De fato, a Igreja não deriva a certeza das verdade apenas da Bíblia, mas também da Tradição, pelos motivos já expostos. Isso não nega que a Bíblia seja suficiente. Seria o mesmo que afirmar que para interpretar a Bíblia não é preciso iluminação da mente pelo Espírito Santo, pois a Bíblia seria suficiente. O protestante pode raciocinar dessa forma, e entender que o papel da tradição é quase que totalmente para fazer entender melhor a Escritura.

Quanto ao argumento de que a Igreja existia sem a Escritura, pela Tradição, esse foi usado por Santo Ireneu contra os hereges. De fato, a Escritura é necessária para o bem e o ser da Igreja, mas a questão é que o Espírito Santo não deixa a Igreja desviar-se. Também, como inspirador da Escritura, não deixa que essa se perca. É simples. O argumento é apenas para mostrar o poder de Deus na defesa da Sua Igreja. E, também, na preservação da Sua Palavra.

Como provado, somente a Escritura é uma estrutura errônea. A Escritura, Tradição e Magistério mantem a verdade da suficiência da Escritura, como já mostrado acima.

A questão das outras autoridades, tradição e Igreja, com falíveis, é problemática. A suficiência da Escritura funciona como provado antes, ou seja, no seio da Igreja. Isso é o que foi entendido sempre, e é afirmado pelos pais da Igreja. O mesmo se entende de 2 Tm 3, 15-17. A Bíblia interpretada corretamente transmite a verdade que que suficiente para ensinar, repreender, corrigir, instruir em justiça, etc. Se mal interpretada, seu ensino não chega ao pecador e esse não pode fazer nada do que foi elencado antes.

A ideia de que o Antigo Testamento era já suficiente para os cristãos, e que os escritos adicionais do Novo Testamento continuam nesse todo suficiente é uma ideia absurda. Para que acréscimo ao que já é suficiente? Esse se tornaria supérfluo.

O princípio Sola Scriptura é entendido como resumo de várias passagens bíblicas, mas como visto, da forma como o Protestantismo concebe, está equivocado. O que Peter Kreeft certamente disse foi que o Sola Scriptura não é um resumo ou decorrência da Escritura ou de outras crenças.

           

A Escritura e sua interpretação

A respeito da importância, inspiração e verdade da Escritura há concordância maior entre a teologia católica e a teologia evangélica, segundo Gregg Allison.

O fundamento da importância da Escritura é distinto. E qual é essa distinção? Allison afirma que a teologia católica associa a Escritura à Eucaristia. Por sua vez, a teologia evangélica apela à inspiração, à autoridade, à suficiência, à necessidade, à clareza, ao poder e à veracidade. E ambas consideram o papel vital da Bíblia na Igreja.

Essa avaliação é interessante é um pouco obscura. Talvez superficial demais. Certamente, bem incompleta. O autor afirma que o fundamento para a importância da Bíblia tem sua associação com a eucaristia no Catolicismo, e no Protestantismo apela à inspiração e etc.

Mas, podemos questionar isso. Para a Igreja Católica o fundamento da importância da Escritura é sua inspiração divina. Ela é importante porque é a Palavra de Deus. E a Escritura é a forma suprema de revelação.

Por isso, é certo afirmar que Gregg não comenta o artigo 3 satisfatoriamente, pois no número 102 do mesmo, o Catecismo afirma que em toda a Escritura há somente uma Palavra: Cristo, que é o “Verbo único” que Deus pronuncia. Então, a Igreja sempre venera a Bíblia como também o Corpo do Senhor.

De fato, aqui, a Igreja está afirmando que a Bíblia fala inteiramente, em todo o seu conteúdo, de Jesus Cristo, e por isso ela é venerada. Também, que a Igreja venera a Eucaristia. São duas coisas. Mas Gregg afirma que o fundamento da importância da Bíblia seria sua associação à Eucaristia, ao passo que o Protestantismo fundamenta a importância da Escritura na inspiração e etc, o que é um assunto totalmente diverso. E o Catecismo ensina no número 104 que a Igreja encontra alimento e força na Sagrada Escritura. Esse então é o alimento e a força necessária para a exisência da Igreja, o ser da Igreja. Afirma também que para que a Escritura não permaneça letra morta é preciso que Crsto nos abra o espírito para compreendermos a Escritura (n. 108).

Afirma ainda que a teologia evangélica concorda em parte com a teologia católica, pois há diferenças quanto à interpretação. A diferença principal se dá no fundamento da abordagem adotado para interpretar a Escritura. O Protestantismo afirma a clareza da Escritura, então ela é compreensível aos cristãos e esses são responsáveis e capazes de interpretar a Bíblia.

Esse ponto é importante. De fato, a Igreja Católica não se exprime oficialmente dessa maneira. Como pode qualquer pessoa ser capaz de interpretar a Bíblia? Em que sentido? Allison explica. Cita Deuteronômio 30, 11-14, quando Moisés disse que o mandamento que Deus ordena não é difícil demais. E afirma que a palavra está perto, na boca e no coração.

De fato, ali não se deve entender toda a Bíblia, mas o mandamento moral que Deus estava ensinando. Esse é um ponto que mostra o equívoco da teologia evangélica ao tentar tirar dessa passagem implicações maiores. De fato, nem a teologia evangélica afirma que toda a Bíblia é clara, mas apenas os pontos necessários à salvação.

Depois, cita Dt 31, 9-13, onde está escrito que a Lei deveria ser lida para que o povo a ouvisse. A leitura da Lei para que todos ouçam e obedeçam.

De fato, se trata da clareza geral, e não da interpretação da Bíblia feita por cada um dos israelitas, que ouviam a leitura, nem para os cristãos de hoje. Então, existe uma inteligibilidade contínua. Se bem explicado, esse ponto não é negado pela Igreja Católica.

A Bíblia é lida e compreendida por todos. Gregg cita, entre outros versículos, Neemias 8 e Atos 17, 10-12. Há coisas obscuras, mas o que Deus quis revelar está suficiente claro (Dt 29, 29). A Escritura é acessível e inteligível para o Povo de Deus, e isso é a clareza da Escritura.

Ainda assim, não está clara essa doutrina. De fato, é notório que nem todos compreendem a Bíblia quando a leem ou ouvem sua leitura. Nem todos os cristãos a compreendem assim.

Então, o autor afirma que essa doutrina é uma das razões que fizeram os reformadores traduziram a Bíblia, também é motivo para que os protestantes distribuam Bíblias, e incentivem a leitura pessoal e estudos bíblicos em família.

Menciona o Concílio Vaticano II que incentivou a leitura e o estudo da Bíblia, mas que isso empalidece quando se compara isso ao que há entre os protestantes.

De fato, se a Bíblia é clara, não deve haver tanto estudo para procurar fazer entender seu sentido. Portanto, a clareza está em certas coisas e não em todas. Então, esse tópico de Gregg não explica que a doutrina protestante sobre a clareza ensina que a Bíblia é clara nas verdades fundamentais, que levam à fé em Jesus Cristo e à salvação.

Nesse ponto nenhum cristão católico discorda. Quanto aos estudos protestantes sobre o conteúdo a Escritura, esses estudos indicam que há dificuldade imensa, de modo a fazer surgir escolas teológicas diversas, aparecerem muitas interpretações, muitas vezes conflitantes, mostrando que se trata de um terreno vasto e de uma dificuldade evidente. Assim, Deus quis revelar essas coisas, e ainda assim elas são difíceis de compreender. Esse ponto refuta a afirmação categórica da teologia protestante acima, pelo menos da forma como foi colocada.

Ainda, a leitura da Lei em Neemias 8, a todo o povo, afirma que Josué, Bani, Serebias, Jamin, Acub, Sabatai, Hodias, Maasias, Celita, Azarias, Jozabad, Hanã, Falaías e outros levita explicavam o sentido, de maneira que se pudesse compreender a leitura. Havia necessidade de explicação da leitura da Lei ao povo.

A exposição de Gregg sobre a clareza da Escritura no respectivo tópico do seu livro é insuficiente para provar seu argumento e é facilmente refutada. Se a Escritura é compreensível a todos os cristãos, então os cristãos católicos a compreendem quando leem e ouvem sua leitura na Igreja. Todos já entendem o pontos fundamentais. Se há necessidade de estudo e explicação, então entra aí a autoridade da Igreja. Essa questão não é mostrada por Gregg Allison nesse tópico.

Gledson Meireles.

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