Um apologista protestante fez um vídeo sobre um motivo (a busca por certeza) que ele considera relevante para que os protestantes se interessem pelo catolicismo, sendo um vídeo diretamente dedicado aos protestantes, e não aos católicos. E acredita que a "aparente certeza" do catolicismo é desastroso para a vida espiritual.
O primeiro é a interpretação bíblica. Se o protestante tem que verificar se o que está sendo pregado no púlpito é o correto, por sua interpretação individual da Bíblia, o católico também o faz, comparando com o ensino que a Igreja sempre ensinou a respeito da Bíblia e da tradição. Assim, ele tem certeza da sua fé, que o que está sendo pregado é Palavra de Deus. E isso não é tão simples de se fazer.
E
o exemplo de Bereia: o apologista afirma que os membros da igreja de Bereia estavam examinando a Bíblia e
julgando o ensino do apóstolo São Paulo, e ainda foram elogiados por ele. Ou
seja, em resumo, pelo que o apologista disse, os bereanos foram na Bíblia para
saber se o ensino do evangelho do apóstolo estava certo.
Na
verdade, os beranos eram judeus, não convertidos ainda. Não eram membros da Igreja,
mas judeus. Então, quando ouviram falar de Cristo, foram examinar nas
Escrituras para saber que aquilo de fato havia sido preanunciado. Certificando-se
disso, converteram-se. Isso é bom.
É
como um não cristão, membro de alguma religião não cristã, que ouve o ensino do
evangelho e procura saber, nos seus conhecimentos prévios, se aquilo que estão
lhe anunciando faz sentido. Ele não conhece o novo ensino, mas tem algo que
pode servir de suporte para mostrar se aquilo é razoável ou não.
Uma
vez que se converte à fé cristã, ele deve agora aprender a nova fé, e não
julgar, o que não sabe.
E
então, os bereanos, continuaram julgando o ensino do apóstolo? Obviamente que
não. Eles tinham o Antigo Testamento, que usaram para saber se Jesus Cristo era
o Messias anunciado pelos apóstolos. Mas, quanto ao Novo Testamento, eles
deviam receber dos apóstolos inspirados e infalíveis, pois o apóstolo era
infalível e devia ser acreditado em seu anúncio do evangelho. Os bereanos
deviam obedecer e crer no que estava sendo ensinado.
Para saber o que é a Palavra de Deus não é apenas um membro da Igreja ir à Bíblia e certificar-se do ensino, pois estaria apenas interpretando a Bíblia contra a interpretação que recebeu da igreja. O que o cristão católico faz é também um exercício bastante árduo, que é certificar-se qual é a verdadeira interpretação, se essa é a posição oficial da Igreja, e assim ter a certeza da fé.
A
respeito do 2º exemplo: A aparente
certeza que a Igreja Católica oferece, mas que vai ter consequências desastrosas
na sua fé é a certeza da Infalibilidade papal.
É
só obedecer, não precisa conferir se está certo ou se está errado, diz o apologista.
E
qual o exemplo bíblico que o apologista protestante utiliza para fundamentar
sua posição contra a certeza da infalibilidade papal: ele apresenta o exemplo
de Gálatas 1, 8.
E
diz que pessoas poderiam entrar na Igreja tentando pregar outro evangelho. Ou o
próprio apóstolo ou mesmo um anjo descido do céu poderia tentar pregar um outro
evangelho. E disse: mas vocês devem ser
anátemas (sic). Nesse ponto, outro equívoco do apologista, pois anátema
deve ser o que pregou o falso evangelho e não o povo fiel.
E
como os gálatas saberiam que o próprio São Paulo estaria ensinando coisas
equivocadas do evangelho?
Ele
disse: Olhando nas Escrituras (!!!).
Será mesmo?
E
continua o apologista: Eles só tinham as Escrituras
para saber se o que o apóstolo estava ensinando estava certo ou errado.
E
mais. O apóstolo não disse: fiquem
tranquilos que eu jamais vou ensinar pra vocês coisa errada, eu jamais vou
ensinar alguma coisa equivocada.
Mas,
poderia ser que o apóstolo viesse a se desviar da fé em algum momento tentando
ensinar algo equivocado. E disse: Vocês
possuem uma forma para verificar se o que estou ensinando está de acordo ou
não!. Verifiquem, não confiem cegamente em mim.
E
disse mais: Não dê atenção àquilo que
estou pregando a não ser que aquilo bata exatamente com as Escrituras.
Essa
é a forma que o protestante tem para fundamentar sua posição solascripturista, utilizando a Bíblia.
Trata-se de um erro bastante rebuscado. Para refutá-lo, vamos à Bíblia. A
confusão acima é bastante profunda, e não é fácil ver onde está o erro.
Em
Gálatas 1, 8 está escrito: Mas, ainda que
alguém – nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho diferente
do que vos temos anunciado, que ele seja anátema.
Qual
é o raciocínio do apóstolo São Paulo? Vejamos numa simples exegese do texto:
Mas,
ainda que alguém, nós ou um anjo baixado do céu – vos anunciasse um evangelho
diferente: isso é uma hipótese, usada para frisar que aquilo que os apóstolos e
seus colaboradores anunciaram era inspirado,
infalível, correto, sem sombra de dúvidas, imutável.
E
continua: que ele seja anátema, ou seja, amaldiçoado.
Portanto,
o que São Paulo estava afirmando é que o evangelho que ele anunciou é
infalível. Desse modo, mesmo se o próprio apóstolo vier a mudar de opinião, e a
ensinar algo diferente do que ele mesmo ensinou, que seja anátema, pois a
primeira anunciação do evangelho foi perfeita, infalível, e não pode ser
mudada.
Ainda
que um anjo celestial ensine algo diferente daquilo que o apóstolo e seus
colaboradores ensinaram, que esse anjo seja anátema.
Essa
posição é totalmente diferente daquilo que o apologista protestante explicou
acima. Lá, o mesmo afirmou que o apostolo disse que caso ele mesmo ensinasse
algo diferente, os cristão gálatas poderiam ir à Escritura para conferir se
tudo estava correto, e que não deveriam confiar no apóstolo, mas examinar as
Escrituras.
Não
foi isso que o apóstolo disse. De fato, a mensagem é que eles devem confiar
totalmente no que o apóstolo ensinou. Somente no caso do apóstolo passar a
ensinar algo novo, que eles não aceitem, pois o mesmo apóstolo já havia dito
que se isso ocorresse eles deveriam ficar com o que foi anunciado primeiro.
Assim, até nesse conselho apostólico São Paulo está mostrando sua
infalibilidade: o que ensinou é a verdade imutável, e os mesmos devem em toda e
qualquer circunstância crer no que foi ensinado.
Fica
refutada a posição protestante.
E
mais um dado deve ser levado em conta. A carta aos Gálatas foi escrita por
volta do ano 50 a 52. O primeiro livro do Novo Testamento foi a Epístola de São
Paulo aos Tessalonicenses, escrita no ano 50.
Os
evangelhos foram escritos mais tarde: Lucas em 56 a 58 d. C.; Marcos em 60-65
d. C. e João no ano 98 d. C. Talvez o evangelho de São Mateus existisse em
hebraico, mas não terminado no ano 41 d. C, como se pensou. É certo que a
redação final do evangelho de São Mateus se deu perto do ano 70 d. C.
Portanto,
não havia nenhum evangelho do Novo
Testamento quando São Paulo escreveu aos gálatas. Nenhuma outra epístola, a não
ser a dos tessalonicenses, que haviam recebido uma carta. Nenhum outro livro. Tudo
mais era o Antigo Testamento.
Dessa
forma, nenhum cristão poderia ir às Escrituras para certificar-se se o que São
Paulo estava pregando era correto ou não, porque não existiam essas Escrituras
com o ensino do evangelho do Novo Testamento ainda.
E,
como dito acima, não havia essa incumbência dada a ninguém, pois o ensino do apóstolo
era infalível, e uma vez proclamado foi ratificado pelos mesmos apóstolos como
digno de fé e imutável.
Parafraseando
o exemplo que o apologista protestante utilizou, com a devida correção feita
acima, seria o seguinte: fiquem
tranquilos que eu nunca ensinei pra vocês coisa errada, eu nunca ensinei alguma
coisa equivocada.
Dessa
forma, esse estudo ajuda a compreender a infalibilidade papal que o apologista
criticou.
Outro
ponto é a certeza analítica de salvação: no Protestantismo não existe uma questão
muito objetiva a respeito da sua salvação.
Esse
ponto é muito importante. De fato, o que o apologista explicou é justamente o
contrário. Isso mesmo. Ele coloca o problema do lado católico, quando o mesmo
sempre ficou, tradicionalmente, do lado protestante.
Resumindo,
ele diz que se o católico fizer tudo o que deve ser feito, pode ficar tranquilo
que ele é um salvo.
E
para o protestante, seria mais difícil, porque é preciso sondar o coração, para
saber se foi regenerado por Cristo.
Ou
seja, para o protestante é algo subjetivo, pois se alguém diz que sua fé é
inabalável em Cristo, como salvador suficiente, sondando seu próprio coração
então há certeza de salvação.
A
certeza católica: fazer tudo direito e ter certeza que fez. No final dirá: sou
um salvo.
A
certeza protestante: saber que o coração está em Cristo, que a fé é inabalável
em Cristo como salvador. É salvo e sempre salvo.
Qual
é a certeza que o coração humano corrompido pelo pecado prefere? Obviamente
aquela certeza que ele mesmo se dá: a subjetiva.
A
questão da certeza da salvação sempre foi um ponto debatido, onde a Igreja Católica
afirma que nunca se tem a certeza absoluta que o protestante afirma que existe.
Assim, mesmo que o católico cumpra tudo o que deve cumprir, ele ainda tem a
certeza da esperança da salvação, que é moralmente válida, mas não é aquela
absoluta que o Protestantismo sempre ensinou.
Gledson Meireles.
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