quarta-feira, 20 de novembro de 2024

Livro: Muito antes de Lutero - refutação: O recebimento da justiça de Cristo

Refutação: O recebimento da justiça de Cristo

 

As citações em que se vêem os padres da Igreja falando do recebimento da justiça de Cristo pelos crentes, citadas por Busenitz, seriam um prenúncio da doutrina dos Reformadores.

Um exemplo, talvez o mais evidente, segundo o autor reformado, seria da Epístola a Diogneto, na qual ele escreve que: “Pois o que mais conseguiria cobrir nossos pecados exceto sua justiça”, falando da “doce permuta”, onde a “perversidade de muitos fosse oculta em um único justo, e a justiça de um justificasse muitos transgressores”.

Essas palavras estariam “em plena concordância com a visão clássica da Reforma”, mas também estão em total conformidade com a perspectiva Católica ensinada no Concílio de Trento.

E não podia ser diferente, pois a doutrina de Trento é a mesma doutrina da Sagrada Escritura e testemunhada pelos padres da Igreja.

Mas, há um ponto em que devemos nos deter mais. O autor protestante não diz que essa doutrina escrita por esse autor do século segundo é igual à dos reformadores, mas que os “pais prenunciam a doutrina” dos reformadores sobre a justiça imputada de Cristo. Assim, o que Diogneto escreveu está em total concordância com o Concílio de Trento, mas, talvez, apenas seria exemplo do preparo para o desenvolvimento da doutrina dos reformadores.

Jordan Cooper, por sua vez, explica a passagem de Diogneto como se fosse idêntica a dos Reformadores, onde a justiça de Cristo é colocada sobre o pecado mas não infundida, causando transformação interior. Para Cooper, isso seria coerente com a afirmação do autor Diogneto, onde fala da justiça alheia.

Contudo, diferentemente da doutrina dos reformadores, é um fato que Diogneto não escreve que o pecado é apenas coberto sem deixar de existir. Não diz que a justificação é apenas a não imputação do pecado e imputação da justiça. Diz sim, que a perversidade de muitos fica oculta no único justo e a Sua justiça justifica muitos transgressores. Essa linguagem é linguagem católica.

Isso se entende de forma realista, pois o que para Deus é oculto não existe. Se os pecados ficam ocultos para Deus na justificação do pecador, é porque eles são perdoados, destruídos, e a justiça de Cristo cobre o seu lugar, limpando a alma pecadora.

A Bíblia afirma: “Ora, sabemos que o juízo de Deus contra aqueles que fazem tais coisas corresponde à verdade” (Romanos 2, 2). Deus não pode imputar a justiça de Cristo sem que ela seja dada ao pecador, e não imputar o pecado se o mesmo continua no pecador. A imputação da justiça inclui sua infusão na justificação e a não imputação significa ao mesmo tempo o perdão e a destruição do pecado.

Imputar a justiça e não transferi-la realmente ao justificado e não imputar o pecado que está no pecador é mentira. Por outro lado, o juízo de Deus corresponde à verdade. Quando Deus justifica o ímpio, o ímpio é declarado justo, pois, recebe a justiça de Cristo.

Um ponto importante é que o Concílio de Trento não ensina que a justiça do pecador possa justificar. Por isso, o pecador não pode vangloriar-se, pois não é sua própria justiça a base da justificação. Esse ponto é mantido na doutrina dos reformadores protestantes.

Agora com citação de São Basílio (300-379), no século quarto, Busenitz fala da justificação não pela própria justiça, mas o pecador é justificado unicamente pela fé em Cristo.

Obviamente, como diz Michael Haykin, São Basílio se opõe fundamentalmente à noção de que o homem possa salvar-se a si mesmo por meio das boas obras. E afirma que esse texto de São Basílio era um dos citados pelos reformadores para provar que a doutrina reformada não era nova.

Vamos notando aqui como é comprovada a doutrina por meio da patrística. O autor Nathan Busenitz citou a Carta a Diogneto, do século II, e agora cita São Basílio do século IV.

Vemos que isso é o que faz a Igreja Católica. Por exemplo, para corroborar a doutrina da imaculada conceição, que é combatida pelos protestantes, a Igreja cita fontes do século II, III, IV e assim por diante, de modo a formar um corpo de textos para reforçar o argumento.

A próxima citação é de São João Crisóstomo (347-407), do quarto século e início do quinto século. Ele afirma que o propósito da morte de Cristo foi fazer o bem em nós...a fim de nos tornar justos. Os pecados não foram somente abolidos na cruz mas a justiça de Cristo foi concedida, diz São João Crisóstomo.´

Ainda, Cristo se fez pecador para tornar justos os pecadores. Obviamente não se trata de tornar-se pecador ontologicamente, mas ser vítima do pecado, sem pecado, inocentemente, para que os pecadores, de fato, se tornem realmente justos.

E São João Crisóstomo especifica a palavra da Escritura, afirmando que São Paulo não escreveu que Jesus se tornou pecador, mas “pecado” para que fôssemos feitos “justiça”.

Cristo que não pecou e não conheceu pecado, Se tornou pecado, no sentido de vítima inocente oferecida em sacrifício, para que o pecador que não operou para a justiça e não conheceu a justiça, tenha a justiça d de Cristo.

E afirma que a justificação não é por obras, pois não se pode encontrar nenhuma mancha, “mas pela graça, caso em que todos os pecados são destruídos”. É claro que se os pecados são destruídos eles deixam de existir. É a mesma doutrina do Concílio de Trento.

Mas Busenitz entende bem a permuta, onde Cristo assume a culpa do pecador e a Sua justiça é dada ao pecador. Deus tratou a Cristo “como uma oferta pelo pecado sobre a cruz”, como explicado acima. E afirma que os crentes não são justos por hábito, e conclui o autor protestante: “mas Deus, por causa de Cristo, os trata como qualitativamente justos (em termos de sua condição perante ele”. Esse ponto está errado.

Como afirmado antes, Deus não trata os pecadores justificados “como qualitativamente justos”, mas infunde a justiça de Cristo para que sejam de fato justos, não com justiça própria, mas com a de Cristo. E a partir daí construam a justiça própria com as boas obras que Deus preparou.

São João Crisóstomo  escreve: “fomos, de uma vez por todas, libertos da punição, e despidos de toda iniquidade, e fomos também renascidos do alto, e ressuscitados, tendo sepultado o velho homem, e fomos redimidos, santificados, levados à adoção, justificados, e feitos irmãos do Filho Unigênito, e herdeiros do mesmo corpo juntamente com ele, e reconhecidos como sua carne, até mesmo como um corpo com a cabeça, fomos unidos a ele!”

Note o leitor que São João Crisóstomo fala da libertação da punição, do perdão, da regeneração, da ressurreição espiritual, da redenção, da santificação, da adoção, da justificação, tudo como sendo o mesmo momento. O mesmo que é ensinado no Concílio de Trento, e diferentemente do que é ensinado pelos Reformadores.

A imensurável justiça de Cristo é a base pela qual Deus declara justo o pecador, conforme 2 Coríntios 5, 21, porque Deus dá ao pecador a justiça de Cristo e não apenas  imputa a justiça como sendo o pecador, como já explicado acima. Assim, o entendimento protestante da imputação apenas é um erro grave.

O Cânon 10 do Concílio de Trento ensina: “Se alguém disser que os homens são justos sem a justiça de Cristo, pela qual Ele mereceu para nós sermos justificados, ou que é por aquela justiça mesma que eles são formalmente justos, que seja anátema.” Então, a justiça humana não pode justificar.

Assim, ensina o Cânon 11: “Se alguém disser que os homens são justificados ou pela imputação somente da justiça de Cristo ou pela remissão dos pecados somente à exclusão da graça e da caridade que é derramada nos seus corações pelo Espírito Santo, e que é inerente neles, ou mesmo que a graça pela qual somos justificados é somente o favor de Deus, que seja anátema”.

Portanto, é preciso que o cristão católico creia que a justificação acontece quando Deus declara justo o pecador, tornando-o justo verdadeiramente, e perdoando seus pecados, ao mesmo tempo em que derramada o amor nos corações perdoados pela ação do Espírito Santo. É como algo forense e transformador no interior do ímpio. limpando o seu pecado e santificando-o.

Assim, o que escreve São João Crisóstomo está de acordo com o Concílio de Trento e tem essa oposição à doutrina dos reformadores.

Continua citando São João Crisóstomo, quando diz que fomos comprados e adornados pelo sangue de Cristo e nos igualamos a anjos e arcanjos. Isso significa o que está acima explicado no Concílio de Trento, que na justificação há também a ação interna do Espírito Santo. De fato, continua São João Crisóstomo, ensinando que os redimidos estão revestidos do próprio Rei.

Não se trata apenas de tirar a capa do pecado e por o manto de Cristo, mas recebê-lo por ter sido declarado justo e tornado justo nessa justiça.

A citação de São João Crisóstomo, citada em seguida, corrobora essa leitura: “Aqueles que, por sua fé em Cristo, haviam abandonado o fardo de seus pecados como uma velha capa...”. Se os pecados são abandonados, ficaram para trás, como acontece ao deixar uma velha capa. O homem assim perdoado não está com seus antigos pecados por baixo da capa, mas deixou-os naquela capa velha deixada. O fardo dos pecados é equiparado à capa que é tirada.

Assim, ele fala da “luz da justificação”, que ilumina a alma, e não apenas que cobre o pecado.

Essa linguagem não “está de acordo com a ênfase da Reforma na natureza extrínseca da justiça imputada de Cristo, com a qual o crente é revestido”.

Nathan Busenitz afirma que o corpus patrístico prenuncia distinções importantes da doutrina reformada. Uma dela é a necessidade da justiça extrínseca, a qual vem de Deus. Mas isso é o mesmo que ensina o Concílio de Trento. Não é a justiça própria que justifica, é necessária uma justiça extrínseca. Sem a justiça de Cristo não há justificação, e quem ensinar isso seja anátema, declara o concílio.

A imputação do pecado do crente a Cristo é algo pacífico, pois Jesus se fez pecado por nós, e a imputação da justiça alheia ao crente é também aceitável, contanto que a justiça seja derramada no interior do justificado.

A continuidade que há entre os pais da Igreja e o Concílio de Trento é clara. Quanto às ênfases dos Reformadores, nada é encontrado no corpus patrístico.

E o autor protestante tenta através da investigação histórica uma aproximação entre o entendimento de Santo Agostinho e o dos reformadores, pois entende que está em conformidade.

Em nota há uma citação de São Cirilo de Jerusalém (313-386) que mostra que a justiça que pode ser acumulada por uma vida de boas obras é dada por Cristo instantaneamente. Mas isso corrobora a leitura católica de sempre.

A justiça através das boas obras, na graça de Deus, que pode ser alcançada por muitos anos é recebida gratuitamente e imediatamente na justificação: “Para os justos, foram muitos anos sendo aprazíveis a Deus; mas o que lograram alcançar após muitos anos de bem fazer, esse Jesus agora lhes concede em uma hora apenas. (Homilia sobre a Humildade, 20, 3)”

Dificilmente Lutero escreveria algo assim, pois ensinava que as obras antes da justificação são pecaminosas e mesmo as boas obras na graça não contam em nada para a salvação. Ao passo que São Cirilo fala naturalmente das obras dos justos, alcançadas aos poucos durante a vida, e as compara com a obra imensa concluída por Cristo que pode ser recebida pela fé.

Gledson Meireles.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Livro: Glórias de Maria, Santo Afonso Ligório: o amor de Maria por nós

 

A grandeza do amor de uma mãe. O amor de mãe é um impulso necessário de sua natureza, afirma Santo Afonso. Ele cita Isaías 49, 15.

Depois, citando Eclo 24, 24, ensina que Maria é nossa mãe por amor e não pela carne. “Ela nos ama tão grandemente porque ela ama a Deus tão grandemente”. Essa é a beleza da mariologia. O cristão deve guardar essas palavras com santa devoção. Essa é a razão do seu amor.

O amor de Maria por Deus é o maior. Assim, ninguém nos ama mais do que ela, afirma Santo Afonso. Obviamente não se compara ao amor de Deus por nós. Mas falando das criaturas, a que nos ama mais é a virgem Maria nossa mãe.

Deus nos deu Seu filho único por amor. São Boaventura afirma que Maria nos deu seu filho único por amor. Não se trata nunca de igualar Maria a Deus, nem de colocar seu amor no mesmo patamar do amor de Deus, mas de apresentar seu amor por nós que está imergido no amor de Deus.

A coragem de Maria é superior àquela de Abraão, que a levaria mesmo a sacrificar Jesus por nós. São palavras fortíssimas para engrandecer essas virtudes marianas, mas que estão de acordo com a doutrina bíblica.

Santo Afonso fornece um exemplo de poderosa oração: “Muitos corretamente rezam, Senhor, concede-me as graças que Maria pede por me”, pois os desejos de Maria são melhores que os nossos.

Santo Anselmo pede a Jesus e a Maria a graça para amá-los. Assim, a graça vem de Cristo, por intercessão de Maria. Isso está no mesmo modelo do fato de Caná da Galileia, onde Jesus fez o milagre a pedido de Maria.

Eis os exemplos bíblicos que Santo Afonso procura para mostrar as glória de mãe de Jesus, com tantas citações dos santos e exemplos da tradição.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Livro: Glórias de Maria, de Santo Afonso Ligório

 Continuando a comentar o livro de Santo Afonso Ligório, Glórias de Maria.

Maria é nossa mãe. Santo Afonso afirma que Maria é mãe de nossas almas e de nossa salvação. No mesmo instante continua afirmando que Jesus veio para restaurar a vida da graça pela Sua cruz. Ou seja, Jesus é o Salvador, e é Ele quem restaura a vida da graça pelo seu sacrifício na cruz. Então, já de início, pode-se pensar que chamar Maria de mãe da salvação tem um sentido diferente.

Isso não significa que o protestante irá reconhecer prontamente essa doutrina, mas que deve estar consciente que, para santo Afonso, a frase “Maria é mãe da salvação” não significa que ela é salvadora ou que tenham dado ao sacrifício de Cristo algo que estivesse falando.

Depois santo Afonso afirma: “Por nos reconciliar, Ele tornou-se Pai de nossas almas”, falando de Jesus, e cita logo em seguida Isaías 9, 6. E conclui: Se Jesus é o Pai das nossas almas, então Maria é a mãe. Isso é o modo de desenvolver a mariologia, muito bíblico e belo. É um verdadeiro devocional cristão católico.

E explica por meio das palavras de São Bernardino que quando Maria deu consentimento para ser a mãe de Jesus ela pediu por nossa salvação, por esse consentimento, e nos carregou no seu ventre. Dessa forma, Santo Afonso como que diz que fomos carregados no ventre de Maria na Pessoa de Cristo, o que é magnificamente bíblico e conforme a tradição da Igreja. E como Maria não teve outros filhos na carne, ela tem os filhos espirituais.

E citando Santo Agostinho, que viveu no século entre quarto e quinto, Maria se tornou nossa mãe também na cruz: Por cooperar na cruz no nascimento dos fieis para a vida da graça, ela se tornou mãe de todos os membros de Cristo”

A citação do Cântico dos Cânticos é muito oportuna: “puseram-me a guardar as vinhas, mas não guardei a minha própria vinha”, afirmando que o sentido dessa passagem é que Maria para salvar muitas almas expôs seu próprio filho à morte. É um modo de associar a virgem Maria ao sacrifício da cruz, pela fé, não como alguém que oferece algo ao infinito sacrifício de Jesus.

Falando da profecia de Simeão, onde uma lança traspassará a alma de Maria, diz Santo Afonso que a lança que traspassou o lado de Jesus também traspassou a alma de Maria. Somos filhos das dores de Maria. Isso nos coloca, como Igreja, associados com Maria no sacrifício nossa mãe de Jesus.

E quanto ao amor de Maria, São Boaventura afirma que o amor que ela teve por Deus Pai e por Deus Filho fez com que ela consentisse na morte do filho para que pudéssemos ser salvos. Mostra a fé de Maria, na sua profundidade, que vendo Deus amando o mundo e Jesus se entregando por amor dos pecadores, ela por amor a Deus consentiu na morte salvífica do próprio filho. Maneira bela de ensinar essa verdade do evangelho.

Mais à frente afirma que Jesus preparou Maria para cooperar na nossa salvação e se tornar Mãe das almas. Cita o fato de Jesus tê-la entregue como mãe de São João apóstolo, entregando Maria a todos os que são Seus discípulos. Como discípulos de Jesus somos filhos de Maria. Não é natural que um cristão não queira ser filho de Maria.

No Salmo 86, 16 Santo Afonso afirma que Davi se pôs sob Maria, antes que ela nascesse, em profecia: “salvai o filho de vossa escrava”.

Maria é nosso refúgio. Santo Afonso escreve: “Bendito seja Deus  que nos deu Maria como seguro refúgio em todos os perigos da vida”. É uma prova de que o sentido de nossa veneração a Maria está dentro do plano de Deus e serve para Sua maior glória, e não uma glória centrada em Maria. Por glorificar Maria o cristão está vivendo a graça dada por Deus para glorifica-Lo ainda mais. Esse é o sentido.

E na oração afirma: Depois de Deus vós sereis meu refúgio. Isso mostra a máxima veneração a Nossa Senhora, acima dos demais santos e anjos, como é costume na Igreja Católica desde sempre, para com a mãe de Jesus.

Dessa forma, trata-se de uma mariologia bastante bíblica e conforme a doutrina do evangelho, que coloca-nos em Cristo e por Ele, o Redentor e Salvador, como filhos de Sua mãe, associados a ela, como salvos por Cristo. Assim como ela associou-se na redenção, temos também que, salvos por Cristo, tem parte na redenção e salvação dos pecadores, quando anunciamos o evangelho, quando rezamos para conversão das almas, quando oferecemos a Deus sacrifícios para clamar por perdão dos pecados. É um belo devocional.

Gledson Meireles.

domingo, 17 de novembro de 2024

Livro: Glórias de Maria, de Santo Afonso Ligório - Comentário, parte 1

Na dedicação do livro a Jesus e a Maria, santo Afonso afirma que Jesus tem prazer naquele que exalta sua mãe e por isso ele publica o livro. O fundamento de Santo Afonso para a exaltação de Maria é o amor a Jesus. Depois, santo Afonso pede a Jesus o amor por Maria. Ou seja, é uma graça amar a virgem Maria. Parece que os leitores protestantes não compreendem essa verdade.

Porque a virgem Maria é a mãe do Rei dos Reis, ela é honrada na Igreja como Rainha. Isso é difícil de entender? É algo fora da doutrina bíblica? Não. Mas por que não aceitar verdade e honra são sublimes?

Santo Afonso elabora mais sobre o título. Começa com o de Rainha da Misericórdia. Então, afirma que a rainha é aquela que tem compaixão pelo necessitado. Então, ao comparar o ofício de rei e rainha, onde o rei tem como obra a misericórdia e também a punição do culpado, e a rainha somente pode ter compaixão e não pode julgar. Assim, Maria recebeu a metade do reino, para exercer misericórdia.

Com isso não se diz que Jesus não tenha misericórdia, mas é uma forma de explicar o papel de Maria no reino de Deus, onde Cristo tem Sua mãe como a rainha de misericórdia.

Citando Salmo 72, 1, Jesus recebeu o cargo de Juiz universal: “Ó Deus, dá ao rei os teus juízes, e a tua justiça ao filho do rei” Com essa ideia, se introduz a misericórdia para que seja exercitada por Maria, a rainha.

Seguindo o modelo de Ester, aplicando-o a Maria, afirma que assim como Ester pediu pela revogação do decreto do rei, assim o faz Maria. O povo judeu estava condenado pelo decreto real. Ester pede misericórdia pelo povo. O rei revoga o decreto. Maria pede a revogação do decreto de condenação dos pecadores.

As palavras de Mardoqueu são usadas para Maria, pois ela está na casa de Deus e não tem os benefícios somente para ela. Se Ester pode salvar o povo judeu, como pode Deus recusar as orações de Maria? Essa é um forma que santo Afonso utilizou, segundo o texto bíblico, e o entendimento dos padres da Igreja, para realçar a intercessão de Maria.

Todas as palavras que exaltam a misericórdia exercida pela virgem Maria são escritas nesse contexto, que é bastante interessante, de muita inspiração bíblica e de devoção para com a Mãe do Senhor.

Há uma obrigação mútua, querida por Deus. Maria é infinitamente grata por sua eleição para ser a mãe de Jesus. E Jesus tem grande obrigação por ter ela Lhe dado a humanidade. Ele atende todos os seus pedidos. São formas graciosas de falar da intercessão. Por que os protestantes não aceitam tão simples doutrina?

Um caso interessante é contado no livro. Uma mulher pecadora morre. Ela aparece a santa Catarina afirmando que rogou à virgem Maria na hora da morte e foi salva. Então, quando saiu do purgatório ela afirma que vai para o céu louvar a Deus e interceder pela irmã Catarina que tinha encomendado missas pela alma dela.

E importante notar que nessa história a mulher diz que vai para o céu louvar a Deus. Não diz nada sobre a virgem Maria, o que no contexto mostra que a graça obtida por Maria é para a glória de Deus. Assim, em um livro que exalta Maria ao máximo, tem a glória de Deus acima de tudo.


Gledson Meireles.

React ao vídeo: RESPOSTA // Frei Gilson afirma que a Igreja Católica NÃO Erra!

 

1)      A Igreja não poderia nunca cometer erros? RESPOSTA: A Igreja pode cometer e de fato comete muitos erros. No entanto, a Igreja docente, a autoridade instituída por Cristo, essa é coluna e sustentáculo da verdade, como está em 1 Tm 3,15. E uma coluna e sustentáculo só serve se for resistente.

 

 

2)      Mesmo que a Igreja “fosse” infalível essa ideia só faz sentido se você acreditar nas Escrituras em primeiro lugar. O fundamento da infalibilidade da Igreja a Escritura. A Igreja é infalível porque a Bíblia diz que ela é infalível.

RESPOSTA: Isso mesmo. Embora o apologista usou dessas palavras como uma ironia, para deixar os católicos confusos, não percebeu que falou a verdade nesse momento sem perceber: a Bíblia ensina que a Igreja é infalível. Crendo na Bíblia, cremos na infalibilidade da Igreja. É simples.

 

3)      As cartas dos apóstolos já estavam na Igreja nos anos 63 a 65 d. C. As cartas já percorriam a Igreja antes do fechamento do cânon.

RESPOSTA: Correto. Muitos livros eram lidos pelos cristãos. Os livros inspirados eram lidos para a Igreja e tinham autoridade única. No entanto, com o decorrer do anos outros escritos foram reputados como inspirados, como o Pastor de Hermas, enquanto outros, como a 2 Carta de Pedro eram vistas com dúvidas. Assim, foram necessários séculos para a definição eclesiástica do cânon.

 

4)      Timóteo contra as heresias. Vai isso na contramão da interpretação católica de 1 Tm 3, 15? Onde está interpretação correta, na história e teologia de verdade, que o apologista afirmou?

RESPOSTA: De fato, o que São Paulo ensina a São Timóteo confirma a infalibilidade da Igreja. O problema é que os protestantes não entendem o raciocínio. O apóstolo não está afirmando que a Igreja de Éfeso não pode errar. Pelo contrário, naquele momento ele menciona problemas. Então, o que está ocorrendo é que o seu ensino de apóstolo inspirado e enviado por Jesus é correto, é a Palavra de Deus. Ele tem autoridade para ordenar outros, como Timóteo, para ensinar e ser guardião da fé. Assim, a Igreja representada aí pelo apóstolo Paulo e o bispo Timóteo, ensinando a verdade de Deus, sem erro e sem possiblidade de erro, já que São Paulo é inspirado e infalível no ensino do evangelho, então vemos a infalibilidade da Igreja, a coluna e o sustentáculo da verdade.

 

5)      S. Paulo não estaria apelando para a autoridade infalível da Igreja em Éfeso, mas, ensinando como enfrentar as heresias. RESPOSTA: Pense bem. De fato. Ele e Timóteo representavam naquele momento a Igreja infalível.

 

6)            Quem está no comando não está acima da correção. RESPOSTA: Correto. A correção pessoal, quando há falhas, seja de quem for, é legítima. A inspiração se dá no que toca ao ensino da Palavra de Deus, e não à vida pessoal.

 

7)             S. Paulo estaria defendendo o contrário do que os católicos ensinam. Ele estaria dando guia prático de como liderar e viver como cristão? RESPOSTA: Mas isso em nada contraria o que foi escrito acima, e que é doutrina católica.

 

8)             As orientações sobre bispos, diáconos e até como as mulheres deveriam se comportar. Não há tratado teológico sobre a Igreja. RESPOSTA: De fato, a epístola não trata da doutrina da Igreja, mas fala de vários assuntos, de organização, por exemplo. No entanto, esse verso é usado para reforçar que a Igreja é colocada para ensinar a defender a verdade ensinada por Jesus.

 

9)             E qual seria o sentido de 1 Tm 3, 15. O contexto mostra que Paulo não estava distribuindo cheques em branco doutrinários, pois a Igreja não define o que é verdade, pois isso já está definido. Ela não é arquiteta da verdade, e não pode sair inventando novas verdades, dogmas e doutrinas, mas ensinar as verdades que Deus já revelou. RESPOSTA: Isso tudo está correto. A Igreja mantem a mesma verdade que os apóstolos ensinaram. Ela pode interpretar a revelação, explicar, expor, detalhar, definir, etc. É isso o que faz a Igreja durante toda a história. O fato de alguém discordar do modo que é feito é outra questão. A Igreja não inventa e não pode inventar novas doutrinas.

 

10)        Também diz que não é para ensinar doutrinas que não foram já ensinadas expressamente na Bíblia. A Igreja é guardiã e não inventora da verdade. RESPOSTA: nem todas as doutrinas são ensinada expressamente na Bíblia.

 

11)        Que verdade a Igreja deve sustentar a defender? Em Ef 1, 13 afirma que é a Palavra da verdade, o evangelho da salvação. RESPOSTA: É verdade que tudo o que a Igreja defende, como os dogmas por exemplo, é Palavra de Deus.

 

12)        Não estaria falando da instituição ou concílio da Igreja, decretos e etc. RESPOSTA: por implicação o apóstolo está falando disso sim. Pois os sínodos, concílios, decretos, etc., são os modos pelos quais a Igreja ensina a verdade e combate as heresias.

 

13)        Onde encontrar essa verdade, ou seja, onde ter mais detalhes dessa verdade que é preciso sustentar e defender? São Paulo responde em 2 Tm 3, 15, que é na Escritura. RESPOSTA: Isso também é verdade. Por isso, todas as doutrinas estão em conformidade com a Bíblia.

 

14)        Enfim, o apologista coloca um verso contra o outro. Não entende bem 1 Tm 3, 15 e apresenta 2 Tm 3, 15.

Não aceita que a Igreja não possa errar, e quando o apóstolo diz que a Escritura é útil ele afirma que é a única autoridade.

Também entende a doutrina da infalibilidade da Igreja como se a Igreja pudesse por isso inventar verdades.

A Igreja está sujeita à verdade, afirma o apologista. Contudo, ele não entende que isso é o mesmo que a Igreja Católica ensina. A Igreja é serva da Palavra de Deus. O fato está na discordância doutrinal.

O que acontece quando a Igreja não sustenta e defende a verdade? Ele cita 1 Tm 4, 1-3, que fala das heresias. Então a Igreja cairia em heresia. Poderia a obra de Crista, Seu corpo místico, cair inteiro em heresia? Não. Isso é o que ensina a Bíblia.

E quanto à proibição de casamento, aludida no texto? Onde a Igreja Católica proíbe o casamento?

Isso não é referência ao celibato, já que os candidatos ao presbitério livremente não desejam contrair matrimônio.

A Igreja deve ser guardiã da verdade que está nas Escrituras, e não criadora da verdade. Eis o ensino bíblico. Nesse ponto o apologista está certo, e concorda com a doutrina católica.

Pense bem: como a Igreja seria coluna e sustentáculo e guardiã da verdade se ela pudesse interpretar a Bíblia erradamente e cair na heresia?

 

Gledson Meireles.

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Apocalipse 12: comentário a partir da interpretação reformada

 Comentando a interpretação reformada de Apocalipse 12:


Apocalipse 12

Os reformados entendem que a mulher é símbolo da Igreja, e os dispensacionalistas ensinam que se trata somente da Nação de Israel.

Para a Igreja Católica a mulher significa a virgem Maria, mas também Israel e a Igreja. De fato, é de Israel que em o Messias. No entanto, é na pessoa de Maria que essa promessa se cumpre, pois ela é a Filha excelsa de Sião. Também, é da Igreja que vem Cristo, mas a virgem é a primeira fiel da Igreja, a que recebe o Senhor Jesus Cristo Salvador. Desse modo, a virgem Maria é membro da Igreja que está passando da Antiga Aliança para a Nova Aliança. É filha de Israel e cristã (vv. 1-2).

O autor comenta o versículo 1, em que a beleza de Cristo é refletida na Igreja, o brilho da glória de Deus, sendo coberta da glória de Deus. Isso ajuda a refletir sobre a pessoa da virgem Maria que é vestida do sol, e já possui os bens que serão consumados em toda a Igreja. Ela é imaculada, é santa, é gloriosa.

É verdade que a Igreja é uma só em ambas as dispensações. Essa verdade é corroborada acima. Os judeus que receberam o Messias, Jesus Cristo, se tornaram cristãos.

A mulher tem a lua debaixo dos pés. O autor reformado explica que “ela exerce domínio”. Dessa forma, se entende as glórias de Maria. Cristo tem poder autoridade no céu e na terra. Assim, Maria está em Cristo, entronizada com ele, é membro espiritual da Igreja, como noiva espiritual do Cordeiro, e assim está acima de todo principado e potestade, tendo autoridade espiritual sobre o Diabo e suas hostes. Essa é a verdade sobre a virgem Maria, a primeira que acreditou.

A mulher tem uma coroa de doze estrelas. Ela é vitoriosa, explica o pastor e reverendo. Assim, a virgem Maria, como membro e modelo da Igreja, ela é vencedora, a vitória de Cristo é sua vitória, também o é Sua exaltação, seu triunfo. Ela está assentada no trono para julgar o mundo e os anjos. Essa prerrogativa da virgem Maria é também da Igreja celestial, de todos os remidos, entre os qual ela é a bendita entre as mulheres, e como Homem Jesus é o bendito fruto do seu ventre.

Desse modo, entende-se as glórias e louvores à virgem Maria, a que tem poder, domínio, autoridade, glória, exaltação, triunfo, poder de julgar o mundo e os anjos. Ela é a Rainha dos céus na autoridade do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores.

A mulher está grávida (v. 2). Ela tem a missão de “dar à luz a Cristo segundo a carne”, explica o reverendo. Portanto, se trata da virgem Maria, em pessoa, que teve a grande missão de dar à luz a Cristo. Foi por ela que Cristo veio ao mundo, por meio da Igreja na pessoa de Maria a virgem eleita de Israel.

Deus preparou o povo especial para ser o veículo da chegada do Messias ao mundo, escreve o pastor. Ele fala do processo doloroso, sofrido, em dor é lágrima, onde as forças hostis e artimanhas do Dragão tentaram frustrar o plano de Deus e destruir a criança. Mas Deus protegeu o Seu povo. No entanto, ele não diz uma palavra sobre a pessoa de Maria.

De fato, tudo isso ocorreu em Maria. Foi um processo doloroso. Lembre o leitor que a virgem sofreu com as dúvidas do noivo José. Com certeza muitas outras dificuldades vieram a ela. Deus a protegeu.

Ela foi ao deserto do Egito em fuga para proteger Jesus. Tudo isso foi Providência de Deus, salvando a criança, sua mãe e seu pai nutrício. Deus deu asas a Maria, simbolizando sua proteção. Essa também é a proteção da Igreja em suas dificuldades e tribulações, por 1260 dias.

O Filho da Mulher não deixa dúvidas de quem ela seja. Ele é o Rei que tem o cetro nas mãos. É Jesus. Portanto, sua mãe é Maria. “Seu reinado e universal e irresistível”, explica o reverendo. Assim, a Mulher tem o reinado com Cristo, sendo ela a Rainha.

Ao explicar sobre o Dragão, o reverendo afirma que “O dragão é um ser pessoal”. É verdade. Todos esses símbolos, o da mulher, o do filho e o do dragão significam seres pessoais: Maria, Jesus, Diabo.

O pastor explica que o Dragão não tem a mulher como alvo, mas Jesus. De fato. É por meio dessa simbologia que vemos que no símbolo ao esperar o nascimento de Jesus para devorá-lo mostra que a Mulher é Maria. Ele aguarda que ela dê à luz o Filho. Depois, vendo o Jesus subir ao céu, ele ataca a Mulher, que é protegida. Essa cena lembra a fuga de José e Maria com Jesus ao Egito.

É importante que agora o Dragão quer destruir a Mulher, aludindo ao versículo 13, explica o pastor. Mas o reverendo, nesse momento, esqueceu-se de mostrar que a Mulher recebe ajuda de Deus, é protegida. Ela está longe da cabeça da serpente. Então, o Dragão irritou-se com ela e persegue agora os seus filhos, como é descrito no versículo 17. Mais à frente é citado o verso 17 mostrando a peleja do Dragão contra os fieis.

É verdade que a proteção dada a Maria é dada à Igreja. O Dragão lança rio de mentira e perseguição contra a Igreja, explica o pastor, indicando o versículo 16. Por meio dessa reflexão, pense o leitor no rio de mentira e perseguição que o Dragão tem lançado contra a virgem Maria, ao negar suas graça e glória que o Senhor lhe deu.

Enfim, o sangue do cordeiro vence Satanás. É verdade que não é o sangue dos mártires unidos a cristo. Mas Ap 17, 6 fala da mulher embriagada com sangue dos santos por ter sido a assassina e não porque o sangue dos mártires não possua santidade unidade ao de Cristo. No entanto, é verdade que o sangue que salva é somente o de Jesus Cristo.

Fonte: Estudos no livro de Apocalipse. Hernandes Dias Lopes.

Gledson Meireles.

domingo, 3 de novembro de 2024

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Feliz dia da Reforma Protestante

Que todos nós sejamos um em Cristo Jesus.

Que a Palavra de Deus seja o nosso alimento.

Um só rebanho e um só Pastor.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Vídeo sobre história da Igreja e suas divisões

 

O historiador protestante Lucas Gesta gravou um vídeo interessante e muito bom sobre a história da Igreja mostrando as divisões do Cristianismo durante os séculos.

Aqui vão algumas considerações sobre o vídeo, que nós católicos não concordamos e que certamente foram equívocos do historiador protestante.

O historiador afirma que desde o século I havia pelo menos três grupos, três igrejas diferentes. Quais seriam? Seriam os antioquenos, os joaninos e os jerusalemitas.

Quem são mais exatamente? As igrejas antioquenas seriam aquelas que foram fundadas pelo apóstolo São Paulo.

Essas “vão gerar” quase 70% das cartas e livros do Novo Testamento, que seriam os escritos de São Paulo, os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas.

As igrejas joaninas seriam de outra origem e outro modelo diferente do antioqueno. Os escritos bíblicos citados são o evangelho de João, as cartas de João e o Apocalipse.

E as igrejas jerusalemitas que são judaicas, que não aceitam o rompimento com o mundo judaico, mas querem continuar seguindo a lei. Os escritos bíblicos são as cartas de Pedro, de Tiago e outras cartas não testamentárias, não canônicas.

Seriam todas as igrejas ortodoxas porque compuseram o cânon do Novo Testamento. E não seriam una no sentido institucional, intelectual ou teológico, que formariam três grandes movimentos que se uniriam no século 2.

Essas igrejas, segundo o historiador, seriam como metodistas, adventistas e assembleianos que não são a mesma igreja.

Realmente, esse é o erro básico da tese do autor.

A Igreja fundada por Jesus já estaria desunida no primeiro século. Os cristãos que se uniam sob o evangelho pregado por São Paulo discordariam dos que foram ensinados por São Pedro e São João e que discordariam daqueles que desejavam permanecer cristãos judeus, e que mais tarde essas igrejas se tornariam uma só no ideal católico do século segundo. Há uma confusão aqui.

Em primeiro lugar, como sabemos, todos os apóstolos estavam unidos na fé, na teologia, na moral, na doutrina, no culto. A doutrina ensinada por um apóstolo era idêntica à ensinada por outro.

As igrejas que estavam sendo lideradas por São Paulo estavam unidas com as igrejas fundadas por São Pedro e São João e São Tiago e etc. Desse modo, havia uma única Igreja.

Portanto, no concílio de Jerusalém reuniram-se apóstolos e presbíteros que discutiram um assunto e definiram a doutrina que serviu para todos os cristãos, de todas as localidades.

Desse modo, comparar metodistas, adventistas e assembleianos com as igrejas locais que eram unidas no século primeiro é realmente um erro fundamental.

Todas aquelas igrejas possuíam a mesma fé, moral e culto. Os metodistas, adventistas e assembleianos divergem entre si de modo profundo e em muitas questões, de fé. A liturgia de cada uma é bastante diversa. São muitas as divergências. Até o batismo de uma não é aceito pela outra. Assim, se o um adventista tornar-se assembleiano deverá ser batizado. O mesmo se um assembleiano se tornar adventista. O mesmo de uma não é válido para a outra. Também não podem reunir-se em concílio, pois são igrejas diferentes. E há outras divergências.

No mais, o vídeo é bastante bom e mostram as divisões em várias igrejas no decorrer da história. Só não deixa claro que a Igreja Católica atravessa a história conservando sua doutrina intacta.

Gledson Meireles.

sábado, 19 de outubro de 2024

Livro: Teologia e Prática da Igreja Católica Romana, Gregg Allison

Refutação: Capítulo 11: A vida em Cristo (terceira parte, seção 1, capítulos 1-2)

 

A vocação humana: a vida no Espírito; a comunidade humana

 

Gregg admite que a catequese eclesial ensinada no catecismo é centrada em Jesus Cristo. Outra observação no resumo que faz a lição do catecismo é que a entrada na bem-aventurança depende totalmente da graça divina.

A imagem divina consiste na racionalidade e no livre-arbítrio.

Ao ler a explicação de Gregg Allison sobre as virtudes (artigo 7), o mesmo afirma que a fé deve se fazer acompanhar da esperança e do amor, e que a fé sem obras é morta e não une plenamente  o crente a Cristo e não o torna membro de seu corpo.

Contudo, o artigo 7, no número 1815 do Catecismo, sob o título de As virtudes e a Graça, afirma que  “privada da esperança e do amor, a fé não une plenamente o fiel a Cristo e não faz dele um mebro vivo de seu Corpo”. Esse é o texto impresso e também o que está no Catecismo da Igreja Católica publicado no site do Vaticano.

Portanto, o que a doutrina católica ensina é que a fé é a raz da salvação. A fé une a Cristo. Mas, como as obras são necessárias, tanto como consequência quanto como exigência da fé, essa fé sem obras não faz de um pecador convertido um membro “vivo” do corpo de Cristo. Assim, a fé une a pessoa a Cristo, mas se não agir pela caridade e pela esperança essa fé é morta e o membro permanece morto no corpo de Cristo.

Gregg explicou que a fé sem o amor e a esperança “não tornma membro” do Corpo de Cristo, o que foi um equívoco. A fé une a Cristo, imediatamente. Uma vez em Cristo, deve-se agir pela caridade, e praticar a virtude da esperança.

Na avaliação que faz dessa parte do catecismo Gregg afirma que “a teologia católica sobre esses tópicos não é explicitamente bíblico”. Talvez tenha se detido aos nomes, a forma de explicação, que utiliza termos diveros. Mas, certamente também, o autor equivoca-se, uma vez que em toda a sua explicação o catecismo baseia-se em citações da Bíblia, e em nenhuma outra fonte. Assim, essa afirmação de Gregg demonstra sua incapacidade de entender a questão. O que ele chama de algo que não foi “explicitamente bíblico” traz a ideia de que o seja implicitamente. A afirmação é de fato um equívoco.

Mas, ainda, o autor afirma que o ensino do catecismo também não é “não bíblico”, mas contribuição da antropologia e da moralidade que não seria algo definitivo e obrigatório.

Ele afirma que as ênfases ou elementos constitutivos dos atos morais humanos lembra os “proponentes da teologia evangélica”. Afirma que o bem e o mal não estão nos atos em si e reconhece a utilidade da doutrina católica sobre a responsabilidade social e outros.

Afirma que a doutrina católica sobre a imagem de Deus é reducionista, porque a Escritura não faz essa identificação limitada, cita investigações sobre a literatura do Oriente Médio a influência de Karl Barth, coisas que serviriam para criticar e afastar e explicação católica.

O ensino católico sobre pecado mortal e venial está fundamento na Bíblia. O texto de 1 João 5, 16-17 assim ensina: “Se alguém vê seu irmão cometer um pecado que não o conduza à morte, reze, e Deus lhe dará a vida; isso para aqueles que não pecam para a morte; não digo que se reze por esse. Toda iniquidade é pecado, mas há pecado que não leva à morte”.

Certamente, a Escritura está tratando da morte em sentido espiritual, da condenação eterna. Assim, há pecado que não leva à morte. Sendo assim, há pecado venial. Então, conclui-se que o pecado que leva à morte é o pecado mortal. É simples o ensino bíblico.

Mas Gregg afirma que a Escritura não faria a distinção entre pecados mortais e veniais. A Escritura distinguira apenas pecados não intencionais e intencionais.

Então, Gregg alude “a ideia da teologia católica de que o pecado venial não requer uma nova infusão de graça santificadora para ser perdoado”.

O mesmo parece mesmo não ter entendido bem. O catecismo ensina que o pecado venial “deixa subsistir a caridade, embora ofenda e fira”. Então, é um pecado que não leva à morte.

Depois, o teólogo protestante afirma que a Escritura ensina os graus de pecados no que diz respeito às consequências que os pecados produzem, que se deteria na gravidade do pecado, para as consequências nas vidas das pessoas, “que perdem a intimidade em seu relacionamento com Deus”. Nega que o pecado assim ensinado na Escritura diz respeito à questão da culpa diante de Deus.

Ou seja, o pecado pode ter variados graus, mas em suas consequências na vida dos pecadores, mas não seriam culpáveis diante de Deus, em caso do cristão salvo e na amizade de Deus. Apenas colocaria a intimidade com Deus em má situação. É algo bastante estranho.

Todos os pecados colocariam a pessoa culpada diante de Deus e sob ira divina. Para isso, cita o texto de Tiago 2, 10-11 e outros. Mas, São Tiago afirma coisas relativas aos pecados diretos contra o Decálogo. Quem não mata mas comete adultério é transgressor da Lei.

O mesmo não acontece com o pecado venial. Uma palavra ociosa, um riso supérfluo, como ensina Santo Tomás, podem ser pecados, mas não são contrários ao amor de Deus e do próximo. Assim, são veniais. O mesmo não pode ser dito da blasfêmia, do perjúrio, do homicídio, do adultério.

Na teologia protestante, se uma pessoa ímpia ofende o seu próximo por uma palavra, em momento de ira, teria a mesma culpa diante de Deus que um adúltero teria. Ou, em outras palavras, e posto isso no caso de cristãos convertidos, se um cristão que ofende uma pessoa por um momento de ira passageira não é culpado diante de Deus da mesma forma que um cristão que comete adultério.

Os pecados seriam iguais, em relação à culpa, mas poderiam ser considerados diferentes em suas consequências nas vidas das pessoas. O adúltero teria sua intimidade com Deus perturbada, mas estaria semrpe na graça e em sua melhor posição diante de Deus. No caso católico, o pecado de adúlterio rompe a amizade de Deus, uma vez que está contra o Decálogo, como São Tiago escreve: “Porque aquele que disse: Não cometerás adultério, disse também: Não matarás” (Tg 2, 11).

Aqui o leitor deve entender melhor a espiritualidade ensinada na Bíblia e aquela que advem da teologia protestante, que são diferentes.

Na teologia protestante apresentada por Gregg o texto de Ezequiel 8, 6.13.15 daria base bíblica para considerar os pecados como maiores ou menos em suas consequências, assim como em Jo 9, 11 onde Judas tem pecador maior.

O problema é que o protestante crê que uma vez perdoado, e justificado, sedu pecado não o tira da amizade de Deus. Uma pequena ofensa e um homicídio seriam igual na culpa. Nenhum desses seria culpável diante de Deus, porque o pecador se arrepende e é perdoado. Para a teologia católica é praticamente improvável que o fiel na graça começa sistematicamente pecados graves, e uma vez cometido experimentará o arrependimento sincero e confessará sua culpa. Adamais, a Escritura afirma: “se viveis segundo a carne, haveis de morrer” (Rm 8, 13). Viver segundo a carne é cometer pecados graves, que levam à morte. Por isso, falando aos cristãos, afirma a Bíblia que os cristãos devem viver segundo o Espírito.

Gregg reclama da falta de atenção dada à Escritura na apresentação do título “A vida em Cristo”. O Catecismo não teria dado atenção à Bíblia “como componente crítico da vivência cristã”, e a atenção praticamente exclusiva com a bem-aventurança humana como propósito de Deus para a vida humana.

Mas o autor protestante não nega que “boa parte dessa seção do Catecismo está fundamentada na Escritura”. Porém, não mostra nehuma que não esteja. Reclama apenas da ênfase dada pelo catecismo, como o leitor verá adiante.

Pois bem. A crítica reflete aquilo pelo que a teologia protestante é conhecida. Cita 2 Timóteo 3, 16-17. Toda boa obra é capacitada por Deus por meio da Sua Palavra.

Exegese dos textos de 2 Timóteo 3, 16-17 e Efésios 4, 11-15.

O texto bíblico de 2 Timóteo 3, 16-17 estaria ensinando que somente a Bíblia deve ser obedecida em matéria de fé e moral, como autoridade suprema e infalível.

De fato, o texto afirma que: toda Escritura é inspirada por Deus. Sendo assim, é verdadeira, não pode errar.

A Escritura é útil para ensinar. Essa utilidade nos leva a aprender por meio da Escritura, e usá-la para o ensino.

Também, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Os erros devem ser combatidos pela autoridade da Escritura, as repreensões devem ter como base a Palavra de Deus, e a formação na justiça deve ser pautada em seu ensino.

Por ela, o homem de Deus se torna perfeito. Pelo ensino da Bíblia o homem de Deus chega à perfeição. Então, todo o ensino para a salvação está na Bíblia.

E, ainda, o homem é capacitado para toda boa obra. Tudo o que deve ser feito e praticado tem sua fonte na Bíblia.

Agora, vejamos mais um texto bíblico para nosso proveito espiritual. A passagem é de Efésios 4, 11-15.

O versículo 11 mostra que o Espírito Santo constitui na Igreja os apóstolos, os profetas, os evangelistas, os pastores, os doutores.

E isso é feito para o aperfeiçoamento dos cristãos. Ou seja, as autoridades da Igreja visam levar os cristãos à perfeição. E mais: para o desempenho da tarefa que visa à construção do corpo de Cristo. Eis uma tarefa importante das autoridades citadas: construir o corpo de Cristo.

E o texto continua, mostando até quando essa tarefa deve ser feita: até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de Cristo.

Então, o ministério da Igreja leva à unidade da fé, e ensina a verdade par ao conhecimento de Jesus Cristo, até levar o homem à fase adulta da fé, na maturidade de Cristo.

E mais. Para que não continuemos crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina; ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores.  Assim, a autoridade da Igreja previne das heresias.

Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. E pela pratica das boas obras, a caridade, o crescimento em tudo, por meio desse ministério da Igreja, no corpo de Cristo.

Dessa forma, a Bíblia está ensinando sua autoridade, de Escritura inspirada, e a autoridade da Igreja, constituída pelo Espírito Santo.

Ao harmonizar os dois textos temos que a Bíblia é inspirada por Deus, e a Igreja é constituída por Cristo. A Bíblia é útil para ensinar, repreender, corrigir e forma na justiça. A Igreja trabalhar para a perfeição dos cristãos, para construção do corpo de Cristo, para a unidade da fé, para o crescimento dos cristãos na fé em Cristo. Isso só pode ser feito pela Palavra de Deus.

Se o homem aprende e é corrigido pela Palavra da Bíblia, isso é feito pela autoridade da Igreja, pois e essa que é a responsável pela unidade da fé. Conclui-se que a Bíblia é Palavra de Deus inspirada e a Igreja ensina a Palavra de Deus fielmente, infalivelmente.

Ainda, o autor não mostrou o que a teologia protestante teria oferecido algo mais do que a teologia católica ao apresentar a Escritura. Quando diz que a Escritura é mais do que palavras, mas que realiza o que comunica, isso é o mesmo que a teologia católica ensina.

E o autor afirma, como primeiro exemplo, que o ato de declaração de Deus na justificação, “o pronunciamento legal de Deus” segundo o qual os seres humanos não são culpados, mas justos, afirma o seguinte: “Porque a declaração feita os torna justos”.

Essas palavras soam como católicas. De fato, o autor não faz, como os refermados costumam fazer, a diferença da declaração de Deus na justificação, que não tornaria justo o pecador, mas apenas o imputaria como justo, pois a justiça teria sido imputada a ele. Mas Gregg usa o verbo tornar-se, afirmando que o pecado se torna justo, o que é doutrina católica. Então, não há o que objetar.

E, adiante, afirma que a teologia evangélica “lamenta a escassa atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus”. Mas a atenção que a teologia católica dá à Palavra de Deus é plena. Não se entende esse lamento.

Quando a Igreja afirma que o fiel pode viver uma vida digna do evangelho por meio da graça e dos dons do Espírito Santo, isso é assumido como o alimento da Palavra de Deus. O autor parece não ter compreendido.

Também, ao ensinar que o fiel deve estar conforme a mente de Cristo, e o seguimento do Seu exemplo, isso é ensino da Palavra de Deus. Assim também os outros elementos citados por Gregg no seu estudo do Catecismo. O papel da Escritura para a vida em Cristo explicitado nas Bem Aventuranças, nos Mandamentos e na Regra de Ouro, seria tudo o que se diz da Bíblia. O autor achou pouco. E quando apresenta a forma como deveria ser, não acrescenta nada. De fato, não compreendeu o que o Catecismo ensinou.

Quando o catecismo ensina que a Bem-Aventurança humana é o propósito estabelecido por Deus para a existência humana, o autor afirma que a teologia evangélica tem profunda decepção a respeito disso.

Ele admite que “a exaltação futura do fiel é de importância extraordinária na visão bíblica da bem-aventurança futura reservada aos cristãos”, mas afirma que a oportunidade foi perdida por não ter ensinado que o ser humano foi criado por Deus para glorificá-Lo em sua vida. É interessante que o autor estudou o catecismo e não entendeu que na doutrina católica só a graça basta, e a glória de Deus é o que busca todo cristão católico.

Nesse ponto o catecismo apenas está enfatizando o plano de Deus para que o salvo viva as bem-aventuranças, como foi admitido por Gregg que é realmente ensino bíblico de suma importância.

Como o mesmo não compreendeu que o salvos glorificarão a Deus por toda a eternidade e que isso é ensino da teologia católica, verifica-se que sua compreensão da mesma foi limitada.

O catecismo não ensina que o fim supremo do ser humano acaba nele mesmo, mas que é orientado a Deus, e, portanto, acaba em Deus. Esse lamento que o autor expressou é lamentável.

Vimos que a teologia protestante contem erros importantes. Também notamos que Gregg não compreendeu bem certos ensinos e ênfases do Catecismo. De fato, no artigo 2, ao resumir o ensino das bem-aventuranças, o catecismo ensina: “As bem-aventuranças nos colocam diante de escolhas decisivas com relação aos bens terrenos; purificam nosso coração para que aprendamos a amar a Deus sobre todas as coisas.”


Gledson Meireles.