quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma: Mt 25, 31-34

Resposta ao tópico sobre Mt 25, 31-34

O Reino entregue no fim do mundo, em Mt 25, 31-34, certamente, é o reino já completo, preparado por Deus aos salvos, não é nesse sentido o mesmo reino já presente entre nós desde os dias de Cristo, na terra, não é a Igreja militante, como reino de Deus no mundo através da história, não é o reinado de Cristo nas almas, não é o reino do céu que já está sendo desfrutado pelos santos no céu à espera da ressureição, mas é o reino que foi preparado e que será inaugurado no último dia. É, em um sentido, o Reino esperado por todos, que será a Nova Jerusalém descida do céu, o que explica que todos entrarão lá no mesmo momento.

Esse argumento é da mesma natureza que o autor do livro usa ao tentar refutar o sentido do “até” em Mt 1, 25, quando diante da argumentação de que o reinado de Cristo até certo momento não significa que depois da entrega que Ele fizer do Reino ao Pai haveria cessação do reinado do Filho. A refutação seria que o reinado seria diferente, de uma natureza diversa. Dessa forma, o até teria sentido de mudança, ou seja, o reinado de fato cessaria, mas haveria a partir daí um reino diverso, de outra natureza.

Usando mesma categoria de argumentação, que é plausível, o Reino entregue em Mt 25 é de natureza diversa, é pleno e será recebido por todos naquele mesmo dia. Sendo assim, seria como dizer que o reino preparado desde a fundação do mundo ainda não está inaugurado pelas almas santas no céu. Somente quando esse reino for consumado, após o juízo, é que todos entrarão nele.

Dessa forma, não significa que ninguém ainda entrou no reino, que estaria vazio de almas, onde somente Deus e os anjos, ou mesmo, alguns como Moisés, Enoque e Elias estariam. Por exemplo, Elias não poderia receber o reino, pois já teria recebido? Não se trata disso. Significa, antes, que o reino será consumado após o Juízo, e todos conhecerão esse reino eterno em sua forma que Deus preparou para todos nós no último dia.

Jesus disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar.” (João 14, 2). Jesus foi para o céu onde há muitas mansões (monai) e foi preparar (hetoimasai) um lugar (topon) para nós.

Portanto, isso parece corroborar o fato de Jesus ir preparar um lugar para os salvos. Isso quer dizer que não havia, em algum sentido, um lugar já pronto, no céu, nesse Reino, mas que isso iria ser obra de Jesus, preparando esse lugar. As muitas moradas que o Reino possui estão sendo preparadas para cada um dos salvos. Pode-se dizer, assim, que ainda está em preparação, para ser dado no dia do Juízo.

Então, da mesma forma que Jesus não dirá no dia do Juízo que todos “continuem” no Reino, mas que recebam o Reino, Ele disse que ia preparar o lugar no céu, e não que iria esperar o dia para entregar esse lugar que já estava preparado. Portanto, esse argumento refuta a dificuldade que o autor introduziu para entender essa entrega do Reino.

Isso já refuta a dificuldade de que Jesus disse que o Reino já estava preparado. Não significa que não havia ninguém lá, nesse reino, como se não houvesse nenhuma alma no céu. É o mesmo que diz João 14, onde Jesus diz que iria “preparar” um lugar, que é o mesmo que dizer de um lugar nesse reino já preparado desde a fundação do mundo.

É uma linguagem que mostra o sentido da espera que a Igreja deverá experimentar até o dia da volta de Jesus. O Reino está preparado desde a fundação do mundo, e Jesus foi ao céu para preparar um lugar para cada um nesse Reino. Disse ainda, que assim que tivesse terminado viria: Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e vos tomarei comigo, para que, onde estou, também vós estejais.

Ninguém deve usar de ingenuidade para argumentar o motivo da demora em preparar esse lugar espiritual, desde que sabemos que Jesus ainda não voltou para consumação dos séculos. Esse preparo está nas mãos e autoridade do Senhor Jesus Cristo. Portanto, esse argumento contra a imortalidade da alma não fica de pé diante disso. Assim como o Reino já preparado não foi inaugurado, suas mansões ainda não estão preparadas.

Essa entrada no reino após a ressurreição é a entrada na Jerusalém celestial, descida do céu, preparada por Deus. A entrada da alma no céu, no reino do céu, após a morte, pode ser diferenciada, como foi explicado, da mesma forma que o reinado de Jesus pode, plausivelmente, ser diferenciado do reino que terá com o Pai após consumação de todas as coisas. Dessa forma, não é exigido crer que as almas não estejam no reino dos céus já desde a morte de Jesus Cristo, mas apenas entender que o Reino preparado por Deus está aguardando a todos, com lugares preparados, para serem ocupados, de uma forma especial, diversa. É um modo de entender esses detalhes, segundo as palavras do evangelho.

Então, pode-se dizer que as almas do céu, que já experimentam a felicidade e a glória do reino dos céus, ainda não estão nesse reino preparado, nessa mansão que o Senhor está preparando, pois o reinado será diverso, o Reino terá algo diverso, pleno, para a plenitude do ser humano salvo e ressuscitado. Esses detalhes não negam o que a teologia bíblica já mostra, como está no Catecismo da Igreja Católica, onde os salvos já reinam com Cristo, já possuem visão beatífica, já estão no reino eterno (Ap 22, 5). Esses argumentos servem para mostrar que é possível entender essa entrada no reino no último dia mesmo crendo na imortalidade da alma.

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