segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Comentando artigo sobre Mc 3, 21

 

Lendo os artigos sobre Marcos 3, 21, no debate entre Dave Armstrong e Lucas Banzoli, resolvi estudar os textos e compartilhar um comentário, completo, sobre o seguinte artigo: Maria e os irmãos de Jesus achavam que ele estava louco? (Resposta a Dave Armstrong) ~ Lucas Banzoli.

Isso ajuda mostrar os pontos fortes e fracos do debate, o nível das argumentações, o quanto um debatedor está de fato entendendo o lado contrário. É um começo.

Para os protestantes a virgem Maria pecou, e isso eles tentam mostrar pela Bíblia, em raciocínios que procuram falhas e pecados na vida daquela que eles afirmam que foi santa, mas que tão pecadora como todos os demais homens e mulheres.

Essa forma de pensar não é tradicional entre os cristãos, mas surgiu aos poucos, certamente dentro do Protestantismo, que se esforça para negar os dogmas marianos. Os antigos escritores cristãos, que ainda não entendiam a doutrina da imaculada conceição, não criam da forma que é expressa hoje, pois o dogma não havia sido proclamado, e os debates em todo do tema não haviam sido resolvidos, esses eruditos viam em Maria uma mulher perfeita, a segunda Eva, sem pecado, purificada em algum instante do início da sua vida, e que viveu a partir daí sem cometer pecado, não ofendendo a Deus, não ofendendo a Cristo.

No entanto, para os protestantes a coisa é totalmente contrária, pois Maria teria sido uma serva de Deus, igual em patamar a todos os servos de Deus, e que pecava como todo santo peca. Por aí já se depreende que se trata de uma doutrina que não tem respaldo histórico, não flui naturalmente da razão e não está, portanto, em consonância com os dados bíblicos, interpretados em toda a história da Igreja.

Então, agora podemos ver se de fato há indícios bíblicos de pecados de Maria ou se isso é apenas uma elucubração protestante. O protestante parte da suposição de que todos pecaram, e Maria está incluída, e que portanto, ainda que não tenha nenhum pecado dela registrado na Bíblia ela pecou e ponto final. O católico entende que todos pecaram e Maria foi salva e preservada do pecado, não cometendo nenhum, e portanto não há nenhum pecado dela na Bíblia, e nem podia ter, por não existir. Essa é a intepretação bíblica tradicional.

Lendo Marcos 3, 21 é plenamente possível que os que diziam que Jesus estava louco era o povo, que chamou a atenção dos familiares, que preocupados foram até Jesus. É uma intepretação plausível. O povo dizia que o Senhor Jesus estava louco e os judeus afirmavam que estava possuído.

De qualquer forma, os irmãos de Jesus não criam nele, mas isso não pode ser dito de Maria. Se os irmãos de Jesus, ou seja, seus parentes, pensavam que estivesse louco, certamente isso não era a opinião de Sua mãe, que havia crido em Sua santidade, divindade, e sabido de Sua missão, desde os tempos do anúncio do anjo Gabriel, embora ela não soubesse cada detalhe do que se passaria. Assim é que ao ouvir de Jesus que ele devia estar na casa do Seu Pai, o templo de Jerusalém, José e Maria “não compreenderam” aquela afirmação, mas a virgem Maria “guardava” todas aquelas palavras em seu coração, como atesta Lucas 2, 51.

Afirmar que Maria pensou que o Senhor estivesse louco, portanto, não é plausível, não é do bom senso, não é uma interpretação bíblica coerente, não tem respaldo histórico, não é fruto da hermenêutica e exegese cristã católica nesses vinte séculos. É apenas uma “interpretação” protestante que prescinde de tudo isso, e que supõe que os parentes de Jesus, todos eles, inclusive Sua mãe, pensasse tal coisa dele. Eis a única força do argumento. É uma força bastante fraca. Essa leitura "natural" é também superficial.

Portanto, se os parentes de Jesus pensavam que Ele estava fora de si, isso não inclui Sua mãe necessariamente. Não há essa conclusão necessária. E, por último, pode mesmo ter sido o povo que pensou isso de Cristo, forçando seus familiares a irem até onde Ele estava, preocupados com sua segurança diante dos dizeres do povo e dos escribas. Essas duas interpretações são fortes. A primeira é formidável, correta, acredito, a segunda é plausível.

 Vejamos agora o que o Lucas disse a respeito do ponto de vista do Dave.

Quem são esses “que diziam”, em Marcos 3, 21? De fato, o texto afirma que os familiares “ouviram” falar algo de Jesus. Não pode ser que se trata da opinião popular, que “diziam”: Ele está fora da si? É, como dito acima, possível.

Portanto, não é preciso provar que os que disseram de Jesus no verso 21 é diferente daquilo que os mestre disseram, no verso seguinte. Isso está correto. O que não se pode ter certeza absoluta é que todos os familiares de Jesus pensavam isso dele. E, pela exegese bíblica, pelo bom senso, a virgem Maria absolutamente não pensaria isso de Jesus. Poder-se-ia terminar o comentário aqui, mas convém ir mais a fundo.

Então, ou a maioria dos familiares, com exceção de Maria, pelo menos, disseram que Jesus estava louco, ou isso foi dito pelo povo que chegou ao conhecimento dos familiares, que ficaram preocupados com Jesus. Certamente parte do povo era hostil a Jesus, pois grande parte cria em Jesus e estava maravilhada com Ele. Essas duas possibilidades dirimem a questão.

Por isso, Marcos 6, 4 nunca incluiria Maria. Os parentes de sua própria casa poderiam desprezar Jesus. Porém, isso nunca é dito, nem esperado, nem minimamente imaginado da virgem Maria.

Outra prova é que em João 7, 2-5, onde Maria e os irmãos de Jesus estavam presentes, o texto afirma, no final, que “nem os seus irmãos criam nele”. Diferentemente da Sua mãe.

Assim, quando Jesus inclui sua própria casa, isso exclui Maria, pelas razões acima. Até o texto bíblico, onde contextualmente havia citado Maria, quando fala da descrença mostra que somente “seus irmãos” eram os sujeitos. Em nenhum lugar se diz ou se infere isso de Maria.

Até mesmo o autor do artigo ao pensar que Maria era “totalmente” crente, quando os irmãos de Jesus não eram, já prepara a resposta concordando com o que se disse acima. Deveria pensar nisso.

A conclusão que o autor do artigo chega, a partir da intepretação da gramática grega, supõe que o povo fala bem de Jesus, estava aplaudindo suas ações, e ouvindo isso seus familiares saíram para prendê-lo, afirmando que Ele estava louco. Isso leva a crer que os familiares de Jesus eram mais incrédulos que o povo.

Isso está em contradição com Marcos 6, 4, onde os patriotas, os familiares, e os que viviam na própria casa são ditos como desprezadores do profeta, ou seja, uma alusão ao que estavam fazendo com Jesus.

Dessa forma, a análise grega não ajudou e inseriu um dado que contradiz o contexto maior. Assim, a frase pode ser corrigida da seguinte maneira, pensando que o povo, os da pátria, estavam denegrindo a imagem de Jesus e falando coisas negativas sobre Ele. Ouvindo isso, seus familiares foram até ele. Muitos dos familiares, com certeza, tinham opinião negativa sobre Sua missão, mas não Sua mãe, como vimos. A interpretação mantem esse dado intacto, pois está usando linguagem geral, sem que incluía toda e qualquer pessoa, pelos motivos estabelecidos.

Eles ouviram o que? Algo positivo ou negativo? Parece que ouviram algo negativo.

Ouviram e saíram para o pegar. Pode ser que ouviram que “ele estava fora de si”, e muitos pensaram ser esse o fato, saindo para prendê-lo.

Ao invés de ouvirem bem de Jesus e pensarem que estava louco, ouviram algo grave e concordaram, saindo para deter-lhe na Sua missão. Faz sentido? Parece que sim. E se não faz, diante da explicação do grego, onde disseram que Jesus estava fora de si para justificar sua saída para prendê-lo (Chegamos à conclusão que foram “os seus”, os mesmos que ouviram seu discurso e saíram para o prender. )? Permanece o fato que Maria, com certeza, não pensava isso do Filho, e saiu com os parentes, não crentes, porque, como mãe, naturalmente estava aflita pelo que poderia acontecer com Ele, temendo por sua integridade diante do que diziam uns e outros, talvez. O mais provável é a conclusão anterior, ou seja, que grande parte do povo, que desprezou Jesus, diziam coisas ruins dele. Isso desmonta a interpretação do artigo.

Na suposição de que os familiares não foram até Jesus para ajudá-los, mas para ir contra ele juntamente com o povo, isso torna a interpretação mais descabida ainda, tornando a posição dos familiares igual à dos mestres em gravidade. É novamente um sinal de que não é a interpretação correta. E, portanto, torna plausível a interpretação do Dave Armstrong.

Imaginem a virgem Maria, prendendo Jesus, e autorizando e concordando com os que pensavam em fazer isso, no sentido: “o de prender alguém, tomando-o à força e violentamente.”? Pode uma coisa dessa? Pode, pelo pensamento protestante. Não pode, pelos motivos acima elencados. Alguém pode refutar esses motivos, um por um? Esteja à vontade.

De qualquer, forma, entenda que a interpretação de que os familiares de Jesus pensaram em prendê-lo, à força, não é descartada. Apenas é afirmando que isso não foi o pensamento de Maria.

Jesus usou da ocasião para estabelecer que o mais importante são os laços espirituais. Não é dito que não foi até Sua família lá fora. Isso o evangelho não quis reportar, deixando apenas o essencial, ou seja, aquele que faz a vontade de Deus é parente de Jesus, ou seja, como irmão, irmã e mãe. Alguém duvida que Maria tinha fé em Jesus e fazia a vontade de Deus? É óbvio que essa não é uma postura cristã.

Agora, mais uma vez, alguém duvida que muitos dos parentes de Jesus não criam nEle e certamente queriam prendê-lo? Conforme Mc 6, 4 e Jo 7, 25, isso está claro. Isso está de acordo com a interpretação defendida aqui.

Então, passemos agora às partes onde o autor analisa as traduções, os comentaristas protestantes e católicos e passa à conclusão do artigo. Vejamos se o que diz pode demover o que foi estabelecido acima.

Ainda que o artigo do Lucas Banzoli seja bem detalhado, mostrando várias versões para a passagem de Mc 3, 21, apontando para a falta da palavras “pessoas” no original grego, que aparece nas traduções em inglês, há mais detalhes que o mesmo não verificou.

O texto também não tem a palavra “família”, que é traduzida por “amigos” em versões de grande peso, como é o caso da KJV, a Bíblia do Rei Jaime, ou rei Tiago, considerada por muitos como versão perfeita, em inglês, algo como que uma tradução inspirada do texto original, tamanha a sua reputação. É bom considerar isso, já que não tendo a palavra “família” no original, a introdução dela em inglês, nas traduções em geral, é um caso de “interpretação”, válida por sinal, e que está conforme o bom senso. Resta os estudos mostrarem se ela é plausível ou não.

O grego traz “οἱ” “παρ’” “αὐτοῦ”, o que traduzido é: “aqueles” “pertencendo a” “ele”. Ou seja: os seus. Quem são? Certamente seus familiares. Outras versões trazem seus amigos. O termo “ἔλεγον” é traduzido como “eles estavam dizendo”. Pode ser traduzido “disseram” também.

Quando se lê o texto, não se encontra a palavra família, nem pessoas, nem amigos no original. Portanto, se trata de uma tradução que está dependendo muito do contexto para verificar o sentido, para identificar essas pessoas.

A Fleming Bridgeway Bible Commentary concorda que somente os parentes de Jesus pensaram que ele estivesse louco. Não cita Maria nessa acepção, por motivos óbvios.

A Adam Clarke Commentary é mais vaga e diz “seus parentes” apenas. Talvez também não incluía Maria nesse pensamento. Caso sim, foi um erro do comentário.

No comentário Dr. Constable´s Expository Notes, a ideia é que a família de Jesus teve a melhor das intenções, que o verbo kratesai é tomar custódia ou assumir comando, e não a prisão de alguém, nesse contexto. Aí está um estudo sério que contradiz a conclusão do Lucas Banzoli, que tanto criticou esse sentido do verbo usado pelo Dave Armstrong. Enfim, o sentido cabe no contexto de Mc 3, 21. As palavras duras do apologista protestante contra o apologista católico nesse quesito não seriam necessárias.

No Gill´s Exposition of the Entire Bible, de John Gill, são usadas as palavras parentes e amigos, para o que está no original. Lembre-se que as palavras em si não estão lá, mas pelo visto o expositor considerou que muitas pessoas próximas a Cristo foram citadas ali. Concorda que eles, familiares e amigos, tinham a melhor das intenções. Isso concorda com a interpretação do Dave Armstrong, tanto criticada no artigo.

No Henry´s Complete Commentary on the entire Bible, de Matthew Henry, entende que se trata de “seus parentes”, citando para isso Jo 7, 5, o que certamente entende o comentarista que não se aplica a Maria. Por isso, escreve: “Seus parentes, muitos deles...”. Mais um ponto favorável à interpretação católica, bastante robusta.

No Ellicott´s Commentary for English Readers, de Charles John Ellicott, é mostrado que o original, que está “aqueles dele”, se refere aos seus “amigos”, ou, como diz adiante, “aqueles de sua casa”, e explica, sua mãe e irmãos, como são citados adiantes, são alguns dos que pensavam que Jesus estava fora de si: “devemos ver neles alguns que eles enviaram com o mesmo objetivo”. Portanto, mais uma vez o comentarista não vê esse pensamento para a pessoa de Maria. Mais um que concorda com a interpretação católica, que está conforme a Palavra de Deus e o bom senso.

O Cambridge Bible for Schools and Colleges, de John Perowne, parece entender que Maria pensou que Cristo estava fora de si, como havia pensado os demais. Sendo assim, pelo exposto acima, que ficou bastante claro, esse comentário é superficial, contendo esse equívoco. Pelo visto, até agora, tudo reforça a interpretação católica.

Craig Evans afirma que era opinião da família de Jesus e não do povo, de que estava fora de si. Se pensou em incluir Maria nessa, errou.

A opinião de Ray Stedman mostra que a família de Jesus teve boas intenções ao pensar que Ele havia elouquecido. William L. Craig pensa que a opinião era dos familiares de Jesus. Será que pensou isso de Maria também? Sendo assim, Craig equivocou-se.

E a opinião geral dos católicos sobre quem disse “ele está fora de si” é que foi a família de Jesus. Não foi Maria, mas muitos dos seus, dos familiares e amigos, dos próximos a Ele, como fica claro pela leitura do grego original.

Os comentários católicos que parecem incluir Maria como tendo opinião de que Jesus tinha perdido a cabeça está em falha nesse ponto. Os motivos já foram expostos acima, que parecem ter estabelecido que essa leitura não é compatível com oi ensino da Bíblia sobre a virgem Maria.

E o comentário de Teofilato corrobora a posição católica, de que muitas pessoas, amigos, parentes, compatriotas, podem estar naquela expressão “os seus”, que está no original. Não se fala que Maria tenha tido tal opinião.

Por tudo isso, quando se diz que não é totalmente certo de que aquelas pessoas que estavam próximas a Jesus fossem identificadas como sua mãe e irmãos. É um ponto que o comentário que o Dave cita traz à tona, ponto criticado severamente no artigo, mas que tem seu valor, pelo exposto antes.

Se outros saíram junto com os irmãs e mãe de Jesus, isso não é necessário que fique expresso cada vez que essas pessoas sejam aludidas. Na passagem onde se que que sua mãe e seus irmãos estão lá fora, isso é mostrado porque a ocasião é utilizada por Jesus para falar da relação espiritual entre Ele e seus discípulos. Não é uma prova contra tudo o que foi dito acima. Mas, de fato, também não se nega, nenhuma vez, que os familiares de Jesus estejam relacionados no cerne da questão. O que não se pode ter em mente é que Maria tenha pensado que Seu filho estava louco. Longe disso.

Os seus, no original, inclui a família biológica, mas não é certo totalmente que é restrito a ela. Por isso, grandes tradutores e equipes de tradução viram “amigos” nessa expressão, explicaram como compatriotas, mesmo sabendo que era um semitismo para familiares também.

Contexto bíblico: não inclui Maria como tendo opinião errada sobre Jesus. Já explicado, repita-se. Gramática: ainda assim traz problemas se interpretado como feito no artigo, como já demonstrado. Grego: inclui até amigos e compatriotas, o que está conforme Mc 6, 4. Consenso acadêmico: não inclui Maria como tendo opinião errônea sobre o Senhor Jesus. Católicos em geral irão concordar.

E, no fim: “Ele diz que, mesmo que eu estivesse certo na minha forma (e de todo mundo) de interpretar o texto, isso ainda não incluiria Maria (porque Maria precisa ser imaculada, ou o dogma romano é falso):”.

Preste atenção que tudo exclui Maria do contexto dessa opinião, sem tratar diretamente da doutrina da imaculada conceição, mas mostrando que a Bíblia, os comentários em geral, não colocam Maria nesse quesito. E, sabendo que Maria foi imaculada, não poderia mesmo estar nesse meio. E quanto à opinião protestante, falhou na tentativa de contá-la como concordando com ideias equivocadas da sua família. Essa também foi a opinião do Dave.

Agora é enfrentar as argumentações finais do Lucas contra essa asserção. Ainda que saibamos que ficou clara a prova de que a virgem Maria não teve qualquer erro de opinião sobre Jesus.

João Batista pode até mesmo ter tido dúvidas quanto a Jesus. Mas o que pensar daquela que soube desde o início que a geração daquela criança em seu ventre se Deus de fato pelo poder de Deus, e que aquela criança era FIHO DO ALTÍSSIMO, o SALVADOR? Como poderia ela pensar que Jesus estivesse fora de Si quando estava em Sua vida pública, uma vez que quando não compreendia bem alguma coisa guardava tudo em seu coração, assim como as palavras que outros diziam dele, como guardou as palavras do velho Simeão? É impensável que se possa comparar uma possível dúvida de João Batista com a de Maria. Veja que no evangelho o pai de João Batista foi castigado por Deus por falhar na fé, enquanto Maria aparece como exemplo de fé, quando se compara as duas cenas da anunciação da concepção de João e da encarnação de Jesus. Pense nisso.

Pensar que Jesus tivesse passado do ponto indica que Suas atitudes tivessem sido muitíssimo diferentes daquelas adotadas desde quando criança, e que Sua mãe não O conhecia tão bem ainda, já aos trinta anos, que pensasse algo que não coaduna bem com a missão do Messias, que ela já conhecia tão bem.

As comparações com a descrença dos discípulos que ouviam as pregações de Jesus também são fracas. Maria não apenas ouvia  o que Jesus pregava, mas, como já dito antes, sabia que Ele era de fato quem era, e sabia bem o que podia realizar. Veja que em Caná ela sabia do poder que tinha para conseguir o vinho para a festa. Os “irmãos” de Jesus não vislumbravam nada disso.

Assim, é impossível, praticamente impossível, que Maria tenha tipo “descrença momentânea”, “incerteza”, “suspeita”. Quando não compreendia algo, guardava tudo no coração. Impensável que saísse desesperada para prender o filho pensando que estivesse louco. Cena deplorável dessa interpretação errônea.

O Dave diz que não há prova de que Maria estivesse entre os descrentes. O Lucas Banzoli acha possível que Maria tenha tido descrença, incerteza, suspeita. Mas, no final das contas, afirma que o evangelista coloca Maria entre os que achavam que Jesus havia enlouquecido.

Supõe que ali só havia a mãe e os parentes de Jesus, quando a Bíblia entrevê que pode ter sido muito mais pessoas. Também pensa que todos ali pensavam o mesmo sobre Jesus, e queriam, “POR ISSO”, prendê-lo, no sentido de levá-lo para casa e prendê-lo lá.

Já está provado neste artigo que Maria é exceção entre os que pensavam que Jesus estava louco. Está provado pela Bíblia, contextualmente, pelo bom senso, pelos comentaristas bíblicos, pelo consenso geral dos comentários bíblicos, pela fé da Igreja em peso. De fato é novidade por Maria entre esses que pensavam na “insanidade” de Jesus.

Se Maria estivesse com a mesma ideia dos demais, as palavras de Jesus de que são seus familiares os que fazem a vontade de Deus poderia ser usada para afirmar que, no contexto, pelo exposto, Maria fazia a vontade de Deus, não tinha essa relação espiritual com Cristo, e portanto era descrente, infiel, pecadora, etc.

É praticamente ir contra tudo o que a Escritura Sagrada, a Bíblia, mostra a respeito de Maria, inclusive a distinguindo na fé quando a questão é tratada diretamente, como João 2, no milagre de Caná, e João 7, onde os “irmãos” são apresentados como descrentes, nunca a virgem Maria. E o evangelista Marcos não coloca Maria em nenhum momento como estando em dúvida, incerta, e muito menos sem fé, diante de Cristo.

Não há, portanto, nada que leve a pensar que Maria tenha cometido pecado. As interpretações desse tipo são fracas, baseadas na hipotética identificação de Mc 3, 21 com 3, 31, como se todos os citados em um texto forem com certeza todos do outro texto, com mesma opinião e atitude. Tudo o que foi mostrado vai contra essa interpretação, que nega o consenso exegético da mesma, o bom senso, as argumentações bem fundadas, os comentaristas protestantes citados no artigo, em geral, e o parecer católico consensual sobre o tema. Parece que não ficou um só argumento importante sem resposta. Os familiares são mostrados nesse âmbito pelos evangelhos, mas nunca a virgem Maria. Pelo contrário. Isso também é uma prova robusta. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo.

Gledson Meireles.

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