Êxodo 1,19-20
No
livro de Êxodos lemos a respeito de duas mulheres, Sefra e Fua, que eram
parteiras do povo hebreu, e não fizeram o que o faraó ordenou (Ex 1,15) porque
elas temiam a Deus (v. 17).
Por
isso, Deus as abençoou. As parteiras desobedeceram às ordens do rei do Egito,
que mandava matar todos os primogênitos do sexo masculino, e deixaram os
meninos hebreus viverem.
Elas
mentiram ao rei para conservarem suas vidas, mas por temor a Deus não fizeram
mal àquelas criancinhas. Com isso, a Escritura afirma que Deus as beneficiou
por sua obediência (v. 21).
O
projeto de Deus, de fazer o povo hebreu multiplicar, foi posto em ação através
daquela atitude das parteiras. Atitude livre por sinal. E por essa causa, Deus
abençoou as famílias de cada uma daquelas mulheres.
Essa
passagem é uma das muitíssimas que mostram a Soberania de Deus agindo através do
livre-arbítrio das criaturas. A Bíblia não afirma que Deus fez as parteiras
agirem daquela forma, mas afirma que por elas terem feito isso, por temor de
Deus, o povo cresceu e Deus concedeu a prosperidade a cada uma daquelas
parteiras por ter agido em prol do plano divino.
Em
sentido metafísico, onde todos os atos humanos são conhecidos por Deus, temos
de admitir que Deus sabia da atitude das parteiras, e o Seu plano era salvar Moisés,
e com isso salvar dos judeus escravizados no Egito.
Que
natureza tem esse conhecimento de Deus? Dirão os reformados que Deus determinou
tudo isso, e por isso Ele o conhecia. No entanto, a presciência de Deus explica
satisfatoriamente esse fato, e refuta a doutrina acima.
Deus
que conhece toda as Suas obras, e sabendo da maldade que viria do uso do
livre-arbítrio dado à humanidade, soube que o Faraó promulgaria aquela lei vil,
e sabia do bom proceder daquelas mulheres parteiras, de forma a escrever Seu
plano libertador levando em conta todas essas ações livres das criaturas. Por
isso, a Escritura mostra o Senhor abençoando aquelas mulheres, pois agiram com
livre-arbítrio por termo a Deus.
Em
uma doutrina determinista extremada que destrói o livre-arbítrio humano
dir-se-ia que Deus teria determinado a ação do Faraó, determinado a atitude das
parteiras, e tudo ocorreu porque não podia ter ocorrido de outra forma.
Também
poderia ser dito, de forma mesmo rígida, que o faraó e as parteiras foram livre
agentes, sendo responsáveis por suas escolhas, mas tudo estava determinado por
Deus para assim agir, por exemplo, tanto o pecado do faraó quanto a misericórdia
das mulheres parteiras.
Ou
diria outros que o fato do conhecimento de Deus de todas essas coisas faria de
tudo isso um cenário determinado, já que não poderia ocorrer de outra forma que
Deus não soubesse, o que deixaria fora o livre-arbítrio.
Essas
três objeções não possuem fundamento Bíblico, com ficou claro pelo contexto,
pela própria linguagem inspirada, que mostra seres humanos livremente e com
motivos livres obedecendo a Deus e recebendo dEle a bênção.
Em
primeiro lugar, o texto não supõe que tudo estivesse determinado. Em segundo
lugar, conhecer um fato não é determiná-lo. A determinação de um fato se dá na
sua realização. O avião acaba de aterrissar em Porto Alegre. É um fato. Não há
como ele não ter aterrissado mais, impossível que o fato seja desfeito. No
entanto, um observador que viu cinco segundos antes do avião baixar à terra
soube que o avião iria aterrissar ali, por uma forte conjectura. No entanto, por
melhor que fosse a conjectura ela não poderia determinar que o avião estaria em
terra, mas apenas prever o fato.
Ele
não podia também prever infalivelmente que o avião desceria ao chão, pois o
piloto poderia retomar o vôo inesperadamente e aquilo que parecia ser uma
aterrissagem não se concluiria, mas a probabilidade de isso ocorrer seria ínfima
demais, a ponto de ser uma certeza na imensa maioria das vezes que a
aterrissagem de fato iria ocorrer.
Mas,
Deus é infinito e tem conhecimento perfeito, e não meras conjecturas. Deus vê o
futuro como vê o presente, e tudo tem nEle a Sua origem, e tudo funciona
segundo as leis que Ele estabeleceu, e por isso o Senhor pode conhecer mesmo
casos fortuitos.
No
entanto, o conhecimento de Deus não é causa das coisas, mas sabendo dos fatos
que nascem da Sua criação livre, Ele os pode conhecer infalivelmente sem causá-los,
de forma que a realização do fato é pré-conhecida e livre. É infalivelmente
pré-conhecida. Não há possibilidade de erro. Deus soube que o avião iria
aterrissar ali naquele instante porque o fato era verdadeiro e não podia nunca
escapar do Seu conhecimento. Portanto, o conhecimento divino não causou a
aterrissagem do avião.
Da
mesma forma, o fato do Faraó pensar em legislar para exterminar o povo hebreu
não foi determinado por Deus, assim também com a arriscada coragem das
parteiras em poupar os meninos que ajudaram a nascer, embora tudo era conhecido
por Deus de antemão. Por tudo isso, Deus julgou o Faraó e abençoou as
parteiras, por agirem livremente, e serem responsáveis pelas suas atitudes.
Gledson Meireles.
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