Em Hebreus, capítulo
10, temos um grande ensinamento sobre o sacerdócio de Cristo, o sacrifício
salvífico, a nova aliança. Nesse ensino todo, há uma verdade que os cristãos católicos
creem, e anunciam, e que tem a ver com a salvação e o perigo de perdê-la pela
recusa de continuar seguindo a Cristo, pela deserção da Igreja, pelo pecado
mortal.
Isso está claramente
ensinado nos versículos 26 a 39, um grande contexto sobre essa verdade. “Se abandonarmos voluntariamente, já não
haverá sacrifício para expiar este pecado”. Eis uma admoestação ao Povo de
Deus. Se alguém abandona por sua própria vontade o convívio com Cristo, já não
há fora da Igreja nenhum sacrifício capaz de dar o perdão dos pecados. A
passagem é cristalina ao afirmar que há possibilidade de sair do convívio com
Deus pelo voluntário abandono. É o fiel que pode decidir isso, e não Deus que o
afasta.
Continuando essa
verdade, o versículo 27 fala do “juízo tremendo e o fogo ardente que há de
devorar os rebeldes”. A recusa em continuar é uma rebeldia. Somente por vontade
própria, por um coração rebelde, o cristão pode negar a graça. Ainda, o autor
compara a transgressão da Lei de Moisés, que era punida com a morte, e afirma
que existe pior castigo para quem “calcar aos pés o Filho de Deus”.
Assim, o abandono
voluntário, a rebeldia, o calcar o Filho de Deus, significam a mesma coisa, e o
castigo é pior que a morte. Com essa afirmação sagrada refuta-se a doutrina que
nega o fogo do inferno, afirmando o aniquilamento dos ímpios, pois se o castigo
é pior que a pena de morte, infere-se que esse fogo devorador é um castigo
espiritual tremendo, e não parece ser temporário. Mas não é o lugar de tratar
desse pormenor.
Ainda, o mesmo verso 29
afirma o pecado de “profanar o sangue da aliança, em que foi santificado”. É o
cristão que foi santificado pelo sangue de Cristo e volta atrás. “E ultrajar o
Espírito Santo, autor da graça”. Calcar os pés a Cristo, profanar Seu sangue, ultrajar
o Espírito Santo, é o mesmo pecado mortal. É importante notar que a Escritura
afirma que o sangue “em que foi santificado”, no qual foi santificado. Trata-se
de verdadeiros cristãos que receberam a salvação, o perdão dos pecados pelo
sangue de Jesus, e foram iluminados pelo Espírito Santo, com a graça que dom de
Deus.
A passagem inteira
mostra que o afastamento dessa bênção salvífica é possível. Continuando, o
texto esclarece ainda mais quando diz que “o Senhor julgará o Seu povo”. Não
está falando do mundo, dos ímpios, dos incrédulos, dos infiéis, mas do Seu
povo. Aqui é refutada a doutrina dispensacionalista de que há a Igreja e o Povo
de Deus, que seria somente o judaísmo, como já foi refutado em outra parte ao
estudar uma passagem da epístola aos Romanos, pois existe somente o Povo de
Deus que é a Igreja. Também não é correto afirmar que nesse tempo a salvação será pelas obras,
e por isso há possibilidade de perder a graça salvífica e ser condenado, pois a
Escritura fala somente de uma nova aliança, definitiva, sem qualquer mudança de
plano salvador.
Essas são tentativas de
fugir dos ensinos do texto, já que ele é claro ao afirmar que é possível
perder a salvação.
O verso 32 diz: “Lembrai-vos
dos dias de outros, logo que fostes iluminados”, o que evidencia a salvação, e o
verso 35 fala da necessidade da perseverança “para fazerdes a vontade de Deus e
alcançardes os bens prometidos”. Outra vez, trata-se de bens eternos, da salvação. Não há
lugar para duas leituras, com se fossem oferecidos bens temporais para um
plano, e bens eternos para outro, como quer uma interpretação
dispensacionalista.
Nem significa somente galardão pelas obras, distinto da
salvação. O contexto mostra que é da salvação que o autor sagrado está falando.
E continua, deixando muito claro para o que deixa a fé, e que perde o agrado de
Deus, pois contrasta-se a ruína e a salvação. Perder o ânimo, desistir, deixar
a fé, para a ruína, ou manter a fé para a salvação. Não poderia afirmar que os
que caem na ruína estão salvos como os outros, pois não é uma leitura possível,
como quer o dispensacionalismo. Também não significa uma mera aparência de fé,
de falsos cristãos, que apostataram aparentemente, pois nada disso é dito no
contexto. A passagem é claramente uma admoestação para a Igreja da possibilidade de perder a
graça da salvação.
O reformado dirá que a
possibilidade apresentada no início é apenas uma retórica, e que o “se a
abandonarmos voluntariamente” não pode jamais existir, porque o eleito não
abandona nunca, ou se abandona ele volta e persevera. Essa interpretação vem de
outra fonte e não do texto sagrado, e contradiz todo o contexto, que é claro
por si, com foi mostrado acima. Parece ser irrefutável a interpretação acima.
Com essa verdade, não
se nega o dom da perseverança final, não se nega a eleição e a predestinação
para a salvação, mas ensina-se que há livre-arbítrio, há possibilidade de cair
da graça e perder a maior das bênçãos, que é a salvação, e, portanto, pode
haver verdadeiros crentes que voltam atrás e negam a fé.
Gledson Meireles.
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