domingo, 14 de outubro de 2018

Tiago

O Apóstolo Tiago é um dos mais controversos no que tange à sua identificação, pois na doutrina protestante atual ele é tido como “irmão de Jesus” e, por isso, não pertencente aos doze apóstolos.

Essa questão aparece na importante obra “Apóstolos: verdade bíblica sobre o apostolado” (considerando para este artigo as páginas 101-107), do renomado reverendo Augustus Nicodemos, da Igreja Presbiteriana.
Pode haver duas aproximações importantes: a primeira, levando em conta que Tiago é apóstolo, e a segunda, tendo como premissa que Tiago não é apóstolo.
Para responder ao pastor Augustus, serão testadas as duas, e considerados os seus argumentos.
Um Tiago aparece em Mateus 13,55, entre os irmãos de Jesus (cf. Mt 12,47). O mesmo se encontra em Marcos 6,3. Em Marcos 3,21.31 esses irmãos de Jesus são apresentados como não crendo nEle, pois pensavam que estaria louco.
O mesmo aparece em Lucas 8,19, sem a informação de que os seus o julgavam fora de si.
Em João 7,3-5 é revelado que “nem mesmo os seus irmãos acreditavam nele”. (v. 5)
No mesmo capítulo, em Marcos 3, há a escolha dos doze apóstolos, e na lista há dois apóstolos chamados Tiago. É de se esperar que um deles seja o mesmo que os citados nos textos acima.
No relato, um Tiago é filho de Zebedeu e o outro de Alfeu. Nenhum outro apóstolo, a não ser João, que é irmão de Tiago de Zebedeu, é identificado por meio seus pais. Nem mesmo André, irmão de Pedro, é citado imediatamente a ele (no verso 16), mas vem no verso 18. (cf Mc 3, 16-18)
Nos Atos dos Apóstolos, encontramos Tiago, filho de Zebedeu, morto por Herodes. (Atos 12,2) E no mesmo capítulo, no verso 17, aparece outro Tiago, importante na igreja, pois Pedro pede que o avisem de sua libertação da prisão: “Comunicai-o a Tiago e aos irmãos”. Esse mesmo Tiago é figura de destaque no concílio de Jerusalém, por ser líder da igreja de Jerusalém.
De fato, o Concílio foi composto pelos “apóstolos e anciãos", que em grego é “ἀποστόλους καὶ πρεσβυτέρους” “apostolous kai presbyterous”, ou seja, a tradição literal seria “apóstolos e presbíteros”.
Com toda certeza, Tiago está ali no grupo dos apóstolos e não dos presbíteros, e isso é confirmado pela comparação com outros passos bíblicos. Em Atos 21,18 vemos que os anciãos vão reunir-se na casa de Tiago quando da chegada de Paulo. Assim, vemos que ele liderava o grupo de anciãos (presbíteros).
Em Gálatas 1,19 temos: “Dos outros apóstolos não vi mais nenhum, a não ser Tiago, irmão do Senhor”. Está claro por essas palavras de Paulo que Tiago é apóstolo.
No entanto, a dúvida surge por meio de um outro sentido das palavras (εἰ μὴ - se não), como é traduzido em Lucas 4,27: “mas nenhum deles foi limpo senão o sírio Naamã (εἰ μὴ Ναιμὰν)”. Um mas seria possível: “mas somente o Sírio Naamã”. A frase anterior, “mas nenhum deles” é escrita com kai (que significa mais comumente e, em alguns casos pode ser traduzido também por mas): “kai oudeis auton”. Assim, ainda que o “mas” fosse introduzido em Gl 1,19, o sentido, obnubilado por isso, continuaria o memos: “Dos outros apóstolos não vi nenhum, mas Tiago o irmão do Senhor”.
Entretanto, a tradução “senão” é a mais comum, e que está de acordo com as palavras de Paulo e o papel de Tiago nas Escrituras, como um dos doze apóstolos de Jesus. A tradução “mas” é possível, mas a menos possível das duas. E ficará menos ainda quando outras passagens lançarem luz sobre essa de Gálatas 1,19.
Aprofundando o sentido o texto, vê-se que as palavras ei me não seriam necessária se Tiago não fosse apóstolo. Seria dispensável falar de Tiago aí.
Por exemplo, se Paulo não tivesse encontrado nenhum dos demais apóstolos, ele poderia ter dito: “Dos outros apóstolos não vi nenhum”, não citando Tiago.
Essa foi a primeira vez que São Paulo foi a Jerusalém, sendo apresentado por Barnabé: “apresentando-o aos apóstolos (pros tous apostolous)” (Atos 9,27). Dessa forma, a passagem refere-se a Pedro e Tiago como APÓSTOLOS. Confira isso nesse  artigo.
Em Gálatas 1,19 o mesmo sentido outra vez. Em 1 Coríntios 15,5-9 o faz mais uma vez.  De fato, em 1 Coríntios 15, 5-9, São Paulo lista uma série de aparições de Jesus. Jesus aparece:
 Versículo 5:
1º - a Cefas,
2º - aos Doze,
 
Versículo 6:
3º - a mais de quinhentos irmãos,
 
Versículo 7:
4º - a Tiago,
5º - a todos os apóstolos,
6º - a Paulo.
Temos que Tiago é distinto do outro Tiago filho de Zebedeu já na lista dos doze apóstolos. Ele teve papel de liderança nos primeiros dias da Igreja de Jerusalém, o que não seria esperado de alguém que passou a vida inteira de Jesus na terra como “incrédulo”. Ele foi chamado de apóstolo em Atos, Gálatas e 1 Coríntios.
Outros fatos ainda podem ser lembrados, como a sua presença constante na oração depois que Jesus subiu aos céus, antes de Pentecostes, sua posição de coluna da Igreja, evidenciando um apostolado maior (ou precedente)    que o de Paulo, como fica claro em Gálatas 2,9. As passagens não deixam dúvidas.
No entanto, o reverendo Augustus entende que há dúvidas. Ele concorda que “todos os apóstolos” é uma referência aos “doze”. Afirma que Paulo “parece” ter considerado Tiago como apóstolo em Gl 1,19 e aqui, em 1 Cor 15, e afirma que a interpretação é difícil nessa passagem, por motivos da tradução acima analisada.
Ele utiliza de uma interpretação, que concorda em linhas gerais, com que Tiago, sendo líder em Jerusalém, estaria em um nível maior que os presbíteros e menor que os apóstolos, chamando-o de “homem apostólico”.
No entanto, se Tiago fosse esse homem apostólico, como conceituado, seria bispo no sentido de sucessor dos apóstolos. Mas, isso não ocorre senão mais tarde, pois de início os próprios apóstolos eram os líderes máximos, levando até a plenitude a revelação. Não seria possível que um não-apóstolo fosse líder cristão de Jerusalém, que tivesse papel importante no primeiro concílio, se ele não fosse apóstolo, e inspirado. É suficiente notar que Lucas (evangelista, portanto inspirado) e Marcos (evangelista, portanto inspirado), mas não apóstolos, e Silas e Barnabé não desempenharam funções tão importantes nesses primeiros dias da Igreja, como fizeram Timóteo e Tito anos mais tarde.
Então, se é aceito que Tiago é apóstolo, tudo fica mais claro e natural. Do contrário, se o coloca como não pertencente ao número dos doze, então todas essas passagens passam a ter um significado ambíguo, obscuro, duvidoso, incerto, difícil, e assim, considerar-se que Tiago era: um irmão de Jesus, incrédulo, que talvez tenha sido convertido por Jesus após a ressurreição (uma suposição), e se tornado líder da Igreja em Jerusalém (algo pouco provável), escritor do Novo Testamento. Tudo isso éuma  opinião que funda-se em:

1)   Uma tradução pouco provável, diante do contexto da passagem bíblica.

2)   Uma figura não condizente com as evidências que a figura de Tiago possuem no Novo Testamento

3)   Uma negação do sentido claro de todas as passagens estudadas, (sentido claro ou pelo menos aparente, conforme reconhece o autor).

Quando se leva em conta que Tiago é apóstolo todas as passagens são naturalmente entendidas. Quando a tese de que Tiago não é apóstolo é testada, as passagens precisam de elucidações, que forçam seu sentido natural.

Portanto, é preciso concluir com certeza: Tiago, líder em Jerusalém (cf. Atos 12,17), uma das colunas da Igreja (cf. Gálatas 2,9), foi um apóstolo do grupo dos Doze.

Gledson Meireles.

3 comentários:

  1. Olá Gledson Meireles

    Boa tarde

    Parabéns pelo seus artigos.

    Eu entendo que existiram 3 Tiagos mas mesmo assim Santa Maria foi sempre Virgem.

    Tem até uma urna que acharam com uma inscrição que em nenhum momento fala que Tiago era filho de José com Maria.

    Um abraço

    Luiz

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  2. Quem eram os irmãos que não criam nele?

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  3. Os textos não falam, apenas indicam o grupo geral.

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