São Paulo certamente estava preso em Roma, quando escreveu a
Epístola aos Filipenses. Epafrodito, que pode ter sido o bispo de Filipos, na
Macedônia, levou a carta inspirada de São Paulo aos cristãos daquela cidade.
Isso ocorreu por volta do ano 62.
Portanto, a Igreja Católica tinha menos de 30 anos de missão,
quando esse livro santo foi escrito. Alguns fatos que estavam ocorrendo são
importantes para identificar a Igreja ali presente.
A carta inicia mostrando a hierarquia da Igreja, pelos termos
epíscopo (bispo) e diácono, que não haviam recebido a
conotação técnica para distinguir os bispos dos presbíteros, pois ambos eram
chamados pelo mesmo título. São João Crisóstomo, segundo mostra Challoner, afirma
que também o título diácono era usado para qualquer dos ministros cristãos.
Assim, para diferenciar um bispo de outro, e mesmo entre os diáconos, é
necessária uma análise de suas funções e autoridade.
Já naqueles tempos, alguns ministros cristãos nutriam motivos
de inveja e porfia na pregação do Evangelho, enquanto outros anunciavam santamente.
(v. 15)
São Paulo preocupa-se, fundamentalmente, mais com a
verdadeira doutrina referente a Jesus Cristo, do que pelos sentimentos pelos
quais ela está sendo ensinada, pois para os outros, que a ouvem, é motivo de
salvação. No entanto, para os pregadores, a questão é de tristeza.
De fato, o verso 17 mostra que os maus pregadores eram
inimigos de São Paulo: “E aqueles por
rivalidade, não sinceramente, julgando com isso acrescentar sofrimento às
minhas prisões”. A pregação desses tinha por motivo, de alguma forma não
conhecida, trazer maiores infortúnios ao apóstolo. Talvez sejam esses os
adversários que são mencionados no fim do capítulo.
Sendo assim, no verso 28 São Paulo menciona “os adversários”,
que podem ser os judeus e pagãos que perseguiam os cristãos, mas também os
hereges já aludidos, como estudado acima, aqueles que propagavam seus ensinos por
inveja. Portanto, para eles a situação espiritual não era das melhores.
Aliás, esses não eram vistos como irmãos, antes, receberam
uma advertência duríssima afirmada contra eles: “o que para eles é sinal de ruína, mas, para vós, de salvação, e isso da
parte de Deus”.
Para os hereges a condenação, e para os cristãos fieis a
salvação, tudo “da parte de Deus”, e
não por mera consideração dos homens. Vemos assim, mais uma vez, que já no
início da Igreja os hereges existiam, porém não eram tratados com pouca energia
pela pena dos apóstolos.
Outro problema parece ter ocorrido, ou talvez esteja
relacionado a esses hereges, constituindo o mesmo problema, como vemos no
capítulo 2, verso 21: “pois procuram
atender os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo”. Parece o
mesmo caso de Fl 1,15-17. Esses que não estão preocupados em servir a Jesus não
podem ser bons cristãos, ainda que estejam no posto de colaboradores dos
apóstolos. Temos dessa forma uma reprovação do comportamento indigno de membros
da hierarquia. E não é empregada uma linguagem mansa, mas dura e incisiva.
Em Fl 3,2 diz assim: “Cuidado
com os cães, cuidado com os maus operários, cuidado com os falsos
circuncidados!”. Esses líderes não mantinham a fraternidade apostólica, não
atendiam aos interesses de Cristo, eram maus operários, e falsos circuncidados.
Dessa forma, embora não seja definida a doutrina que pregavam, o modo pelo qual
são denunciados mostra que estão fora da unidade de fé, e não podem ser
seguidos pelos cristãos que estão sob a autoridade de São Paulo, São
Epafrodito, São Timóteo, e os demais apóstolos, presbíteros e diáconos.
A linguagem é violenta, chamando-os de cães, por isso são
falsos mestres, os hereges, os que apresentam-se como circuncisos, sendo talvez
uma alusão aos judaizantes, ou a gentios que passavam por judeus. De qualquer
forma, são “falsos circuncidados”. A isso São Paulo contrapõe a verdadeira
circuncisão, que é espiritual: “Os
circuncidados somos nós, que prestamos culto pelo Espírito de Deus e nos
gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne.” (v. 3) É mais provavelmente
a cristãos judeus, que anunciavam a heresia judaizante, que refere-se São
Paulo.
Portanto, a Igreja em Filipos está subordinada ao ministério
de São Paulo, aos cuidados de Santo Epafrodito, e de São Timóteo.
Por outro lado, os representados pelos falsos mestres, os que
pregam por inveja, os cães e falso circuncidados, os adversários, esses não são
legítimos cristãos, não possuem a verdadeira autoridade, são duramente
condenados, e não são a igreja de Filipos, mas apenas maus cristãos, hereges,
que estavam assolando as almas. Esses ainda não formavam uma seita totalmente
separada da Igreja, mas eram mestres que ainda pregavam em união visível com os
apóstolos, mas que já estavam desautorizados por eles.
Em nenhum lugar da Bíblia é encontrada qualquer conivência
com cisões, divisões, cismas, seitas, heresias, sendo que nada que fira a
unidade é tolerado pelos apóstolos.
Felizmente, porém, é sempre possível identificar a Igreja,
onde ela está, quem é seu porta-voz, quem são os ministros legítimos, qual é a
doutrina que pregam, o que deve ser obedecido, e como devemos nos comportar
diante das seitas.
Gledson Meireles.
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