“A Igreja católica ou universal, a qual é invisível, consiste do inteiro
número dos eleitos”, e “A Igreja
visível, a qual é também católica ou universal sob o evangelho”, consiste
daqueles que professam a verdadeira religião, e seus filhos, “fora da qual não há possibilidade ordinária
de salvação”. (Confissão de Fé de Westminster, capítulo 25, I e II)
No item 4, afirma que a
Igreja visível é às vezes mais ou menos visível, mais ou menos pura. No item 5
afirma que as igrejas mais puras estão sujeitas a erro nelas, mas sempre haverá
uma Igreja na terra adorando segundo a vontade de Deus, e que Cristo é a única
cabeça da Igreja, e que afirma que o papa não pode ser cabeça “em nenhum
sentido”, mas que é o Anticristo. Essa doutrina da Igreja entre os protestantes
é geralmente aceita, e é explicada pelos teólogos protestantes conforme será
mostrado adiante.
Charles Hodge, teólogo
reformado, na sua Teologia Sistemática, volume 2, trata da Igreja sob o título
do “Reino Espiritual de Cristo”. Ele
afirma que esse possui dois aspectos, pelos quais é expresso, incluindo a
relação de Cristo com Seu povo de forma individual e coletiva, que é a Igreja
invisível, e as relações com a Igreja visível, definida como “corpo do povo que professa”.
O texto sagrado de João 3,5
é citado como expressando as exigências de pertencimento ao reino como fé e
arrependimento. Também é referida a conversão, como outra forma de expressar a
mesma realidade, citando Mateus 18,3, e a pureza de vida em 1 Cor 6,9, e ao fim
Gl 5,19-21. Não sendo a profissão externa garantia de pertencimento ao reino
espiritual, ou à igreja invisível, afirma que a igreja é composta somente do
verdadeiramente e interiormente povo de Cristo. 1 Pedro 3,21 é citado entre os
textos que ensinam não ser as cerimônias externas garantidoras da salvação.
Passando a expor a Igreja
visível, sob o título do “Reino visível de Cristo”, afirma que a religião é
essencialmente espiritual, e assim o reino de Cristo é invisível, exceto ao
ponto de que é necessário que esse tenha “manifestações visíveis”. Os cristãos
precisam reunir-se para adorar, admitir e excluir membros, administrar os
sacramentos, para manter e propagar a verdade. E assim, eles formam igrejas.
Essas igrejas são compostas por todos os que professam a verdadeira religião.
Afirma que o “reino de Cristo é católico ou universal”.
Sobre a organização diz que nem as igrejas apostólicas eram todas organizadas
da mesma forma. Um exemplo é a presença fixa de um apóstolo, como em Jerusalém,
em comparação com outras comunidades que não dispunham de um apóstolo vivendo
entre elas, o que configuraria uma organização diversa. Umas tinham diaconisas,
outras não. Disso, afirma que as igrejas sentiram liberdade para organizar, que
a organização é livre, indiferente.
Começando pelas imposições
dos judaizantes, por exemplo, afirma que tiveram que resistir, da mesma forma que
durante os séculos resistem às coisas intoleráveis impostas por papas,
concílios, etc. Então, mostra os termos de admissão na Igreja, que concordam
com os termos espirituais que Cristo exige. O segundo ponto é a intolerância
com a heresia, e que hereges e escandalosos devem ser excomungados.
Portanto, a doutrina sobre a
Igreja, como é ensinada no Protestantismo, enfatiza os termos Igreja visível e
Igreja invisível, e a distinção foi proclamada por Lutero, e por outros reformadores
protestantes. Berkof, outro renomado teólogo reformado, afirma: “Nem sempre se
entendeu bem esta distinção.”
Essa distinção refere-se não
a duas igrejas, mas dois aspectos dela, confirmando o fato de haver uma única
Igreja. Se o termo invisível é referente aos santos do céu, então é o mesmo que
a Igreja triunfante, se refere-se à Igreja no fim dos tempos, inteira, completa
dos salvos, então significa a Igreja que estará com o Cordeiro no último dia:
todos os santos. Se é à Igreja espalhada no mundo, que não é possível vê-la
reunida em um só lugar e contemplá-la, então tem-se o que a Bíblia apresenta,
se é a Igreja perseguida, que está escondida aos olhos do mundo, para manter-se
viva e anunciando a salvação, tem-se um aspecto que não encontra-se na Bíblia
com o termo ou o conceito.
Mas, o que está sob o termo
“invisível” não é relativo à Igreja triunfante. Essa é incluída na Igreja
invisível também, como Berkhof afirma. Essa distinção é sobre a Igreja na
terra, a Igreja militante. Berkhof diz: “Em
geral, é feita essa aplicação na teologia reformada (calvinista).”. A
Igreja é visível e invisível. O que isso quer dizer do ponto de vista reformado?
O invisível identifica o espiritual, em conceito, não pelos olhos, já que não é
possível ver o invisível, “e porque é
impossível determinar infalivelmente quem não lhe pertence”, afirma
Berkhof.
Somente quem foi regenerado,
convertido, teve fé verdadeira e comunhão com Cristo é membro da Igreja, que é
invisível por ser espiritual. Então, diz Berkhof: “Que o termo “invisível” deve ser entendido neste sentido, vê-se pela
origem histórica da distinção entre a igreja visível e a invisível na época da
Reforma”.
O objetivo de salientar essa
doutrina é refutar a doutrina que explica a Igreja em seu aspecto externo, como
instituição, representada pela hierarquia, que distribui os dons espirituais,
colocando-se como “sacerdócio mediatário
humano”. A Igreja seria o corpo espiritual de Jesus Cristo, de caráter
invisível, encarnada de forma “relativa e
imperfeita na igreja visível”, sendo perfeitamente encarnada de forma
visível no final dos tempos.
Mas, continua Berkhof: “Naturalmente, a igreja invisível assume uma forma visível.” A
Igreja invisível está na igreja visível, pela qual se expressa. Como ela é
visível? “A igreja é visível na profissão
de fé e conduta cristã, no ministério da Palavra e dos sacramentos, e na
organização externa e seu governo.” Para entender essa doutrina, é indicada
a Confissão de Westminster, que foi comentada no início.
Agora, há outra distinção
importante na doutrina Reformada: a Igreja como organismo e a Igreja como
instituição. Afirma Berkhof: “Não se deve
identificar esta distinção com a imediatamente anterior, como às vezes se faz.”
Essa parte toca a exterioridade da igreja, tendo a ver com a igreja visível,
como corpo visível.
Isso significa que a Igreja
não é somente visível em seus ofícios, mas que a vida dos fieis, o seu
testemunho público, em todas as partes, é a visibilidade da Igreja. Essas duas
características estão fundadas na Igreja invisível. A Igreja instituição tem
como fim formar a Igreja organismo.
A respeito da doutrina
católica diz: “Comumente, os católicos
romanos reconhecem como igreja apenas a ecclesia organizada hierarquicamente.”
E ainda: “E quando os Reformadores
romperam em Roma, não negaram a unidade da igreja visível, mas, antes, a
sustentaram.”
Vejamos agora como o teólogo apresenta a doutrina católica sobre a Igreja. Na introdução do seu estudo da Igreja, afirma da doutrina católica: “Não é Cristo que nos leva à igreja, mas a igreja que nos leva a Cristo”. Sobre a Igreja como communio fidelium ou communio sanctorum “comunhão dos fieis” ou “comunhão dos santos” afirma que a ênfase católica é a Igreja como mater fidelium “mãe dos fieis”, conceito que os reformadores romperam, para introduzir a ênfase da Igreja como organismo espiritual, “como outrora fora feito”. Por isso, na doutrina reformada, o lugar da igreja é minimizado, como mostra Berkhof.
A parte em que trata da Igreja
na história, antes da Reforma Protestante, afirma: “O surgimento de heresias tornou imperativa a enumeração de algumas
características pelas quais se conhecesse a verdadeira igreja católica.”.
Porque as heresias
asssolavam, tinha-se a ênfase na Igreja como instituição externa, afirma
Berkhof, que recebeu atenção e começou a ser assim concebida: “A catolicidade da igreja recebeu forte
ênfase. As igrejas locais não eram consideradas como unidades separadas, mas
simplesmente como partes componentes da igreja universal uma e única.”[1]
Mostrando a doutrina de São
Cipriano e de Santo Agostinho, afirma: “A
igreja verdadeira é a igreja católica, na qual a autoridade apostólica tem
continuidade mediante a sucessão episcopal.”[2].
Afirma que na Idade Média a
doutrina da Igreja como comunhão dos santos ficou adormecida. E falando de Hugo
de São Vítor, afirma que ensinava: “O rei
ou imperador é o chefe do estado, mas o papa é o chefe da igreja.”.
A doutrina da Igreja sofreu
bastante na época da reforma, entre os protestantes, como igualmente ocorreu no
século 18.
Apresentando a doutrina
católica, o teólogo afirma: “No sentido
estrito da palavra, não é a ecclesia audiens que constitui a igreja, mas, sim,
a ecclesia docens.”
A respeito da catolicidade
da Igreja, afirma Berkhof: “Não é fácil
indicar com precisão onde se acha esta igreja católica visível”.
Quando trata das marcas da
Igreja em geral, ensina o teólogo protestante: “Sentia-se pouca necessidade destas marcas quando a igreja era
claramente uma só.”[3]
E mais: “A consciência desta necessidade já estava
presente na Igreja Primitiva (...)”.
E mais adiante, vem uma
afirmação que coroa o entendimento protestante sobre a Igreja: “Nesse tempo, a única igreja existente não só
foi dividida em duas grandes partes, mas o próprio protestantismo se dividiu em
diversas igrejas e seitas.”.[4]
Entre os reformados, os
teólogos Beza, Alsted, Amesius, Heidanus, Maresius, falavam de uma marca da
Igreja: a pregação da sã doutrina, enquanto outros, como Calvino, Bullinger,
Zanchius, Junius, Gomarus, Mastricht, e Marck afirmavam além disso a
administração correta dos sacramentos, e outros, a saber, Hyperius, Martyr,
Ursinus, Trelcatius, Heidegger, Wendelinus “o fiel exercício da disciplina”.
Berkhof analisa tudo isso, e chamando a primeira marca “por excelência da igreja”,
confirma as três marcas.
Gledson Meireles.
[1] O estudo já
publicado no blog em várias partes, ainda não concluído, para a identificação
da Igreja, mostra isso de maneira clara.
[2] O teólogo esqueceu-se
de mostrar mais. São Cipriano ensinava a necessidade de unidade, de
responsabilidade de toda a Igreja, e mais em cada cátedra episcopal, em prol da
unidade universal. Para isso, mostra que o modelo deixado por Cristo, como está
no evangelho de Mateus 16,18, onde o Senhor inicia a unidade a partir de um:
Pedro. Assim, enquanto todos os apóstolos são iguais em honra a poder, a
unidade tem início em um só dos apóstolos. O princípio do papado, que é de
origem divina, por estar nas Escrituras, não poderia ser mais claramente estabelecido.
[3] Que a Igreja é uma
só, e de fato era assim no tempo apostólico, e fato claro mostrado nos artigos:
Identificando a Igreja.
[4]
As heresias que
existiam não quebraram a Igreja, que foi dividida assim em 1054, e mais tarde
em 1517. Ainda assim, a Igreja Católica original permanece em seu posto e
possui unidade. Para isso, o artigo pode ajudar: http://heresiasrefutadas.blogspot.com.br/2017/04/a-igreja-catolica-romana-e-una.html.
Nenhum comentário:
Postar um comentário