segunda-feira, 30 de novembro de 2015

As discussões entre Santo Agostinho e São Jerônimo sobre Gálatas 2,11

Estudo feito em consideração ao artigo Jerônimo e Agostinho debatendo sobre doutrina e interpretação bíblica.
Na querela que surgiu entre São Jerônimo e Santo Agostinho sobre a passagem de Gálatas 2,11, São Jerônimo escreve que a oração de ambos os debatedores é que a verdade prevaleça.[i]

Um dos princípios cristãos católicos de interpretação da Bíblia é descrito por Santo Agostinho, em sua carta a São Jerônimo, e repetido por São Jerônimo, de que a interpretação deve ser literal.[ii]
São Jerônimo inicia mostrando que sua interpretação do evento em Gálatas aludido acima foi condicionada por leituras de outros autores e que estava à disposição do leitor julgá-la correta ou errônea.[iii]

Não querendo ser dogmático naquela questão, sugere a Santo Agostinho escrever sua doutrina e procurar persuadir os bispos a concordar com ele na sua interpretação.[iv]

Falando sobre Gl 1, 18 explica que São Paulo foi a Jerusalém por reconhecer a grande autoridade de São Pedro, e que Paulo não confiaria em sua pregação se não fosse confirmado por Pedro e pelos outros apóstolos.[v]
Pedro estava agindo como que em clara discordância com sua própria regra.[vi] Essa afirmação mostra a autoridade de Pedro.

Então, São Jerônimo escreve a Santo Agostinho para que ele considere, pelo contrário, não as pequenas opiniões dele em seus comentários, mas das seitas heréticas, dos Nazarenos, que eram e sua forma entremeada de Judaísmo e Cristianismo, e tinham introduzido heresia pestilenta.
O ponto mais importante nessa controvérsia, e que São Jerônimo não entendeu, foi que as cerimônias judaicas observadas fortuitamente por um cristão judeu não deveria ser como se fossem salvíficas. São Jerônimo não via motivo para observar algo que não servisse para a salvação, e isso foi sua dificuldade em entender o que escreveu Santo Agostinho.

Chegando ao fim da sua resposta sobre o episódio de Pedro e Paulo na epístola aos Gálatas, São Jerônimo afirma que sua opinião e a de Santo Agostinho são praticamente idênticas.[vii]
Expressando humildade em sua opinião, São Jerônimo afirma que se Santo Agostinho escrever mais uma carta a ele, que está tão distante geograficamente, a Itália e Roma conhecerão o conteúdo da mesma antes que ele a leia.[viii] É como afirmar que, por questão de resolução de São Jerônimo, as discussões ulteriores passarão primeiro pela autoridade magisterial de Roma.

E no final, mencionando sua idade avançada, e sua vida no monastério, fala a Santo Agostinho, que era jovem, e bispo, a entregar-se ao ensino e trazer frutos espirituais do mesmo a Roma.[ix]

1.      As divergências entre Santo Agostinho e São Jerônimo não tocavam o dogma. Divergiam na interpretação de passagens bíblicas, chegando no final à mesma conclusão. Ambos criam que a Lei judaica havia sido abolida, e que não mais obrigava os cristãos, e que os apóstolos Pedro e Paulo, quando praticavam a Lei, faziam por motivos que não fossem contrários ao evangelho.

2.      Magistério infalível existia, embora não foi explicitamente citado na carta. Argumento do silêncio. Mas, ao falar que a carta seria lida primeiro em Roma infere-se o magistério, ou melhor, a autoridade do papa está implícita na carta.

3.      Levando logicamente o que entendeu de Santo Agostinho, disse que isso seria cair na heresia de Cerinto e Ebion. Isso não significa que o mesmo acusasse santo Agostinho de seguir Cerinto e Ebion, ou de ter doutrina semelhante, mas que por suas palavras a lógica levaria a isso. Sabia, porém, que Santo Agostinho tinha a mesma doutrina e prática que ele.[x]

4.      Agostinho não ensinava diferentemente de Jerônimo.

5.      Portanto, era uma questão de levar às últimas consequências as palavras de Agostinho que poderia chegar a ser “doutrina de perdição”, e não que a realidade fosse essa. Prova essa que Jerônimo pede a Agostinho que use sua pena contra as ideias da seita de Cerinto e Ebion, e não contra as suas, que não passagem de um resumo de comentários antigos.

Queira o Senhor Jesus que todas as divisões sejam tais como as que tiveram Santo Agostinho e São Jerônimo como vimos acima.

Gledson Meireles.


[i] cf. I am well assured that your prayer as well as mine is, that in our contendings the victory may remain with the truth.
[ii] but that all things in Scripture are to be received literally as they stand.
[iii] By which I have made it manifest that I did not adopt finally and irrevocably that which I had read in these Greek authors, but had propounded what I had read, leaving to the reader's own judgment whether it should be rejected or approved.
[iv] I do not presume to dogmatize in regard to things of great moment.
[v] In the following context, again, he adds: Then, fourteen years after, I went up again to Jerusalem with Barnabas, and took Titus with me also. And I went up by revelation, and communicated unto them that gospel which I preach among the Gentiles; proving that he had not had confidence in his preaching of the gospel if he had not been confirmed by the consent of Peter and those who were with him.
[vi] No one can doubt, therefore, that the Apostle Peter was himself the author of that rule with deviation from which he is charged.
[vii] Nor is there, after all, a great difference between my opinion and yours: for I say that both Peter and Paul, through fear of the believing Jews, practised, or rather pretended to practise, the precepts of the Jewish law; whereas you maintain that they did this out of pity, not with the subtlety of a deceiver, but with the sympathy of a compassionate deliverer. But by both this is equally admitted, that (whether from fear or from pity) they pretended to be what they were not. As to your argument against our view, that he ought to have become to the Gentiles a Gentile, if to the Jews he became a Jew, this favours our opinion rather than yours: for as he did not actually become a Jew, so he did not actually become a heathen; and as he did not actually become a heathen, so he did not actually become a Jew. His conformity to the Gentiles consisted in this, that he received as Christians the uncircumcised who believed in Christ, and left them free to use without scruple meats which the Jewish law prohibited; but not, as you suppose, in taking part in their worship of idols. For in Christ Jesus, neither circumcision avails anything, nor uncircumcision, but the keeping of the commandments of God.
[viii] And if you happen to write me a letter, Italy and Rome are sure to be acquainted with its contents long before it is brought to me, to whom alone it ought to be sent.
[ix] Do you, who are young, and who have been appointed to the conspicuous seat of pontifical dignity, give yourself to teaching the people, and enrich Rome with new stores from fertile Africa.) [From Jerome to Augustine (A.D. 404) em http://www.newadvent.org/fathers/1102075.htm]
[x] for I know that you are a Christian, and will not be guilty of a profane action

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