Começando
pelo documento Didaquê (60-90), que fala da herança da terra aos santos, passando
por Policarpo (69-155), que diz: “Aquele que o ressuscitou dos mortos também nos ressuscitará, se fizermos a sua vontade, se caminharmos
em seus mandamentos,” (ênfase
no artigo original), Santo Irineu (130-202), São Justino (100-165), Pápias
(70-155), com a confirmação dessa realidade por São Jerônimo e Eusébio de
Cesaréia, no século IV, o autor mostra o que encontrou em seu estudo.
Mas,
como pede o seguinte favor: “Se alguém tiver um testemunho contrário que remeta a algum Pai da Igreja
do século I ou II, por favor, me informe, para que eu possa incluir alguma
coisa nos outros quadros. O resultado, até agora, é esmagador em favor do
pré-milenismo.”, o que escrevi pode
servir de ajuda. Ajuda essa não para apenas enriquecer o quadro com novas
informações, mas para mudar essencialmente o que foi dito no artigo, se
possível.
O autor afirma ter estudado todos os primeiros padres da
Igreja e não encontrado um único deles que não advogasse o milenarismo.
“Após estudar
todos os escritos dos primeiros Pais, não tive acesso a absolutamente nenhum
que cresse em outra coisa que não o milenarismo, o que torna enormemente
improvável que essa doutrina não tenha vindo dos apóstolos, a não ser que todos
os primeiros Pais tivessem sido facilmente enganados por Papias (conforme a
teoria fracassada de Eusébio), ou se entraram em conluio para corromper a
doutrina apostólica (teoria igualmente fracassada).”
Sendo assim, é pouco provável que
eu inclua alguma novidade para o autor aqui, embora eu acredito que posso fazer
isso. O autor explica a razão da mudança da visão pré-milenista para o
amilenismo do seguinte modo: “Um fenômeno que
ocorreu progressivamente na medida em que os Pais da Igreja do início do
terceiro século foram abandonando a doutrina da mortalidade natural e adotando
o ponto de vista imortalista foi a substituição do pré-milenismo pelo
amilenismo, e da eternidade na terra pela eternidade no Céu.” (fonte indicada
no artigo)
Pois bem. Iniciando por São Justino, esse afirma que era de
opinião de que haveria um reino milenar literal com a reconstrução de
Jerusalém, mas que muitos cristãos de fé pura e piedosa não pensavam assim.
Essa informação não o tira do grupo dos milenaristas, mas introduz uma
informação essencialmente diferente, pois mostra que opinião diversa da que advogava
era mantida por cristãos de correta doutrina.[1]
Veja a afirmação: “muitos que pertencem à pura e piedosa fé, e são verdadeiros
cristãos, pensam de outra forma”. Ou seja, muitos cristãos verdadeiros não
criam no mileranismo, e não são rejeitados por São Justino, pois essa opinião
pessoal dele não era percebida como de essência herética, nem a dos demais.
Dessa forma, São Justino não demonstra
uma opinião robusta, como se fosse de origem apostólica, de forma a não aceitar
outros pontos de vista. Esse dado mostra que a posição de São Justino não
advoga uma tradição apostólica para aquilo que ensina. Era o que podemos afirmar que uma interpretação
plausível.
Por
essa razão, está errado afirmar que todos os cristãos criam da mesma forma que
Justino, ou seja, no reino milenar ou milênio literal na terra: “Justino
(100-165) não apenas mostra sua opinião pessoal do assunto, como também afirma
que todos os cristãos de bem estavam convictos de que haveria um milênio
literal na terra.>”
(ênfase no artigo original) Foi uma leitura errada do que escreveu São Justino
no final do capítulo 80 em seu Diálogo com Trifão.[2]
Ele diz que ele e outros cristãos que estavam corretos em todos os pontos criam
no milenarismo, e não que todos os cristãos corretos criam assim.
São
Justino, Santo Ireneu, discípulos de São Policarpo, e tantos outros cristãos
fieis, mas também os hereges, criam na fase de 1000 anos literais do reino de
Cristo na Terra.
Porém,
São Clemente de Roma cita a habitação dos salvos na terra, mas isso não prova
que advogasse o milênio.
Hegesipo
(170) também não era milenarista. Ele escreveu que Cristo viria no fim dos
tempos, em glória, para julgar os vivos e os mortos e dar recompensa a todos
conforme as obras.[3] Essa não
é uma posição pré-milenista. De fato, ele não menciona os mil anos, e afirma
que o reino começa a partir do juízo final, com a recompensa dada aos salvos.
Essa é a posição da Igreja Católica.
O
Pastor de Hermas foi uma obra considerada inspirada por muitos nos primeiros
séculos. Por isso, é de uma autoridade inegável. Foi escrita no início do
segundo século, e não há nela a doutrina do pré-milenarismo.
Além
disso, alguns fatos devem nos auxiliar a pensar que o pré-milenarismo não foi a
visão totalmente mantida desde a era apostólica. Por exemplo, Tertuliano foi
milenarista, mas Orígenes não. Na mesma época Hipólito adotava o milenarismo,
assim como consta o mesmo de São Cipriano.
Assim
também parece ter sido o caso, comparando Lactâncio, milenarisa, e Eusébio,
contrário a essa doutrina, ambos vivendo no mesmo período. Foi assim que, anos
mais tarde, Santo Agostinho forneceu uma crítica ampla sobre o tema, explicando
como original a doutrina do amilenismo. A Igreja nunca favoreceu a posição milenarista.
Gledson
Meireles.
[1] “I am not so miserable a fellow, Trypho, as to
say one thing and think another. I admitted to you formerly, that I and many
others are of this opinion, and [believe] that such will
take place, as you assuredly are aware; but, on the other hand, I signified to
you that many who belong to the pure and pious faith, and are true Christians, think otherwise.”
(Dialogue with Trypho, 80)
[2] “But
I and others, who are right-minded Christians on all points,
are assured that there will be a resurrection of the dead, and a thousand years in
Jerusalem, which will then be built, adorned, and enlarged, [as] the prophets Ezekiel and
Isaiah and others declare.” (site www.newadvent.org)
[3]
“Being
then asked concerning Christ and His kingdom,
what was its nature, and when and where it was to appear, they
returned answer that it was not of this world,
nor of the earth, but belonging to the sphere of heaven and angels, and would
make its appearance at the end of time, when He shall come in glory, and judge
living and dead, and render to every one according to the course of his life.” (ênfase dada para o artigo no site
pesquisado.)
Nenhum comentário:
Postar um comentário