domingo, 29 de setembro de 2024

Livro: Nenhum caminho leva a Roma

Refutação:


4.1.1 Querubins de ouro e serpente de bronze


            O apologista protestante afirma que o argumento de que Deus mandou fazer querubins e uma serpente de bronze é uma tentativa de maquiar a idolatria.

            Primeiro vem o ato de fabricar imagens. O apologista protestante afirma que esse não é o problema principal, pois é mais importante o que se faz com as imagens.

            Ele afirma que os querubins da arca não eram objetos de veneração. Diante dessa afirmação devemos dizer que ela está errada. Os querubins e a arca eram venerados no Antigo Testamento.

Os judeus veneravam a arca e também os querubins, de modo que esse objeto de culto recebia a máxima honra. Isso é o que chamamos de veneração.

            Depois, o autor afirma que o povo não tinha contato com a arca. Podemos dizer a partir disso que o argumento da veneração é ainda mais fortemente provado.

De fato, a arca ficava a maior parte do tempo no santo dos santos. Esse é o lugar santíssimo do templo, o lugar especial, onde o Sumo sacerdote entrava uma vez por ano.

Desse modo, pode-se imaginar o grande apreço, respeito, amor e reverência que os judeus tinham pela arca, onde se voltavam para o local onde ela se encontrava para adorar a Deus.

Esse sentimento e os gestos que brotam dessa piedade é o que chamamos veneração. O apologista pode encontrar outro termo. Não tem problema, desde que admita o fato.

Então, cobrir a arca durante os transportes lembra o que se faz com o santíssimo sacramento (a hóstia consagrada) em procissões. É uma veneração intensa em relação à arca da aliança. Portanto, esse cuidado religioso para com a arca prova que a mesma era venerada.

Agora, vejamos o caso da serpente de bronze construída por Moisés. A serpente de bronze foi construída por ordem de Deus para curar os mordidos pelas serpentes.

Assim, Deus usou de uma imagem para curar. É um fato. Essa imagem é símbolo de Jesus Cristo. Portanto, uma imagem usada para ensinar uma verdade religiosa, por meio de símbolo. Trata-se de uma imagem religiosa, uma imagem sagrada.

Desse modo, os judeus, olhando para a imagem, criam que receberiam a cura por aquele ato.  Tinham  fez na graça que receberiam por fitar a imagem da serpente. Assim, por esse pensamento e reconhecimento, com respeito e devoção pelo que Deus havia ordenado, eles veneravam a arca.

Por muito tempo a arca foi mantida naquele lugar. Os judeus mais tarde começaram a adorá-la. Isso mostra que da veneração surgiu um culto de idolatria. Então foi preciso destruí-la. O problema não estava com a imagem, é claro, mas com os gestos de idolatria. Não se trata de qualquer gesto, mas gestos que brotam de um coração que não tem mais a verdade doutrinal sobre a imagem.

Antes, a serpente era um meio que Deus usou para curar, ensinando algo importante ao povo. Agora, o povo considerava a própria imagem como uma entidade, chamando-a Noestã. Esse foi o erro combatido pelo rei Ezequias.

Desse modo, pode-se dizer que algo bom tornou-se mau para o povo? Não. Foi o pecado de idolatria que fez isso. Não foi a imagem que deu ocasião ao mal, mas o pecado que gerou esse mal.

A imagem era boa, pois foi feita segundo a vontade de Deus. A idolatria do povo é que foi motivo para a destruição da imagem.

Isso lembra o que São Paulo fala a respeito da lei de Deus, que é santa, justa e boa, mas pelo pecado a lei foi usada pelo pecado para gerar a morte: “Então, o que é bom se tornou em morte para mim? De maneira nenhuma! Mas, para que o pecado se mostrasse como pecado, ele produziu morte em mim por meio do que era bom, de modo que, por meio do mandamento, mostrasse como o pecado é extremamente mau.” (Romanos 7).

A lei não se tornou em morte para o cristão. Assim, a imagem também não se tornou um ídolo para o povo judeu.

O pecado produziu a morte “por meio do que era bom”, ou seja, por meio da lei. Então a morte é obra do pecado e não da lei.

Assim, usando esse exemplo, a idolatria foi o que produziu o mal, e não a imagem. O pecado usou a imagem para manifestar-se. E, como a imagem foi usada por Deus, a culpa de idolatrá-la foi apenas do homem.

Portanto, quando o rei Ezequias destruiu a imagem, e esse ato foi do agrado de Deus, isso se deve ao fato que o rei deu fim à idolatria. Foi algo necessário para aquela ocasião, a destruição da imagem.

Assim, os querubins e a arca justificam sim o uso das imagens pelos cristãos, pois fornece o princípio de que as imagens religiosas podem ser usadas para ensinar verdades importantes do evangelho.

Os atos de veneração como ajoelhar, acender velas, incensar e fazer procissões são parte da veneração, e podem ser feitos como veneração e não como ato idolátrico.

Se os cristãos entendem que as imagens são símbolos que podem ser usados para o ensino de verdades espirituais e que sua veneração atinge o que elas representam, temos o culto de veneração com base bíblica.

Gledson Meireles.

sábado, 28 de setembro de 2024

Livro: Nenhum caminho leva a Roma, de Juan Roberto de Oliveira

Refutação do livro: Nenhum caminho leva a Roma.

11.2 - Pecado de Maria

            A ideia de que a virgem Maria foi preservada do pecado original tem razão bíblica. O texto de Romanos 3, 23-24 ensina que todos pecaram e todos carecem da justificação. Assim, a virgem Maria pecou e precisou da justificação por meio de Jesus Cristo. Mas, em que sentido a virgem Maria pecou? Ele realmente teve que contrair o pecado original e pecar em sua vida pessoal? Vamos prosseguir antes de analisar essa questão.

O texto de Romanos 5, 12 afirma que a morte passou a todos e por isso todos pecaram. E o questionamento protestante é que, uma vez que Maria foi preservada do pecado original mesmo nascendo de uma mãe pecadora, por que o mesmo não poderia ter sido feito em relação a Jesus? Maria poderia ter permanecido pecadora e Jesus ter sido imaculado.

Essa doutrina levaria a considerar a mãe de Maria como preservada do pecado original, e sua avó e assim por diante, até chegar a Eva. No entanto, se temos que Deus é o autor do perdão, da purificação, da justificação, então vamos chegar à conclusão que Deus agiu na pessoa de Maria no momento da concepção e purificou-a do pecado original pelos méritos de Cristo. A sua mãe, que pela tradição chamava-se Ana, tinha o pecado original, assim como o seu pai Joaquim, e isso iria com certeza gerar uma filha com o pecado original. É preciso crer que Deus fez a purificação no instante da concepção, de modo que a virgem Maria foi salva naquele momento.

Por isso, o termo mais adequado não é purificação, mas preservação. No entanto, para ficar mais claro, a purificação se dá porque todos pecaram em Adão, inclusive a virgem Maria, e para a conceição no ventre materno sua natureza precisou ser purificada ou preservada do pecado.

Somente Cristo não podia pecar, por ser Filho de Deus, e Deus mesmo na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, e não podia receber uma natureza maculada. Portanto, Deus podia purificar aquela natureza que Cristo recebeu, mas foi mais perfeito dar-lhe uma mãe purificada, de modo que na geração de Jesus não houve participação do pecado. Em outros termos, a virgem Maria não cometia pecado com Jesus em seu ventre. Por tudo isso, é concebível pensar na santidade de Maria, na sua imaculada conceição.

Jesus não foi concebido pelos meios naturais, e por isso não contraiu o pecado original, sendo um milagre sua concepção. Mas como vimos, também a mãe do Senhor Jesus não foi concebida com o pecado, de modo que Jesus foi gerado nessa “arca” santa, o que convinha à Sua dignidade de Deus.

A Escritura fala diretamente que Jesus não teve pecado, como está em Hebreus 4, 15. Isso não exclui outras pessoas. De fato, quando São Paulo escreve que assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram, ele não estava afirmando que todos morreram, pois a Escritura diz: Henoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou (Gênesis 5, 24). Isso quer dizer que Henoc não passou pela morte.

Também está escrito: Continuando o seu caminho, entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo com cavalos de fogo separou um do outro e Elias subiu ao céu num turbilhão (2 Reis 2, 11). Então, o profeta Elias também não morreu.

Portanto, todos morreram significa que morreram em Adão, que o salário do pecado é a morte, e que inevitavelmente todos morrerão. A única forma de não passar pela morte é por uma dádiva de Deus, diretamente agindo para que a morte não aconteça, como foi o caso de Henoc e Elias. Portanto, Romanos 5, 12 não diz que houve exceção, mas lendo as Escrituras descobrimos que pelo menos há duas exceções.

Também é preciso notar que o arrebatamento de Henoc e Elias não contradiz o texto de Romanos 5, 12, pois esse trata do estado natural de todos os seres humanos, e o arrebatando foi algo sobrenatural, feito por Deus como exceção. Por isso, vemos que a Escritura não indica claramente as exceções quando trata de um assunto geral. É preciso ler a Escritura inteira para percebermos essas verdades. Ainda, há verdades que são menos claras, e precisam de maior escrutínio do texto para aprendê-las.

Uma dessas verdade é a imaculada conceição, pois o texto afirma que todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, e a morte passou a todo o gênero humano, porque todos pecaram, incluindo a virgem Maria, que pecou em Adão, mas essa foi milagrosamente perdoada e justificada e recebeu a glória. O texto não trouxe claramente essa exceção, como vimos, pois não é da natureza da Escritura apontar sempre essas qualificações.

Outra forma de entender essa verdade é que Henoc e Elias pecaram em Adão, e morreram em Adão, mas foram perdoados e justificados, e foram livres da morte, que é a lei do salário do pecado, e foram para a glória. Eles morreriam naturalmente, mas foram individualmente preservados da morte. E o texto não diz isso nessa passagem, mas aprendemos essa verdade por exegese.

Do mesmo modo, a virgem Maria pecou em Adão, mas foi preservada do pecado em sua pessoa individual. É algo totalmente bíblico. É uma verdade que segue todos os parâmetros da revelação.

Há também a objeção de que Maria não foi escolhida por ser sem pecado. De fato, Deus não escolheu Maria porque a mesma não tinha pecado, mas, pelo contrário, Ele a fez sem pecado para que a mesma fosse a mãe do Messias.

Se o Messias teria de vir da descendência de Davi (cf. Is 9, 7, Lc 3, 23-38), não era qualquer casal israelita que poderia ser o escolhido, apenas por ser do povo judeus. Deus escolheu uma virgem, chamada Maria, e um homem justo, chamado José. Eles cumpriam o requisito, mas o chamado é que faz a diferença. Se Maria não fosse da descendência de Davi, Deus não a escolheria, não a teria preparado. Pelo exposto, a objeção não é importante.

Assim, da mesma forma que Romanos 5, 12 não contraria o fato de Henoc e Elias não terem morrido, não é contrário à imaculada conceição de Maria.

Mas, alguém poderia objetar, que no caso de Henoc e Elias o texto de Romanos não diz expressamente que houve exceção, mas que as outras passagens são claras a respeito do arrebatamento de Henoc e Elias, e que quanto à imaculada conceição a doutrina não tem texto tão claro.

De fato, mas não se pode exigir da Escritura que todas as doutrinas tenham textos inequívocos, diretos e claros, para que se possa crer. Antes, deve-se entender os princípios, e por uma exegese sadia compreender passagens menos claras através de outras mais claras, de modo que seja possível chegar a uma conclusão sólida. Assim acontece com a doutrina da trindade. Para muitos ela é clara, mas há até denominações inteiras que negam a doutrina usando passagens da Escritura. O fato é que a Igreja desde os primórdios ensinou a doutrina da trindade e a mesma pode ser compreendida por um estudo sério da Bíblia. O mesmo também acontece com a doutrina da imaculada conceição. Para compreender cada doutrina é preciso estar aberto no estudo bíblico, e pedir as luzes do Espírito Santo para levar ao entendimento correto.

Quanto à opinião de Santo Tomás de Aquino, que negou a imaculada conceição, é preciso notar que o mesmo cria na santidade de Maria, afirmando que a mesma foi purificada no ventre da sua mãe e nasceu sem pecado, não cometendo pecado em toda a sua vida.

Para Santo Tomás, a virgem foi concebida como pecado original por ter sido concebida naturalmente, pela união dos dois sexos, que transmitiram inexoravelmente o pecado original. Também, o santo doutor enfrentou a objeção de que se ela não fosse concebida sem pecado não teria sido remida por Cristo.

Não tendo como responder, Santo Tomás cria que a virgem Maria herdou o pecado original, mas foi “dele purificada de algum modo especial”. Podemos afirmar que esse modo especial foi feito na concepção, de modo que Cristo foi o preço para essa preservação do pecado. Desse modo, a virgem foi concebida sem o peado original e foi remida por Jesus Cristo. Isso está de acordo com a dignidade de Cristo.

O protestantismo tenta provar que a virgem Maria herdou o pecado original, não foi purificada, pecou durante sua vida inteira, morreu e não foi ressuscitada e nem levada do céu. Essa doutrina é estranha às Escrituras e nunca foi ensinada na Santa Igreja Católica Apostólica Romana. De fato, a teologia bíblica refuta cada ponto dessa doutrina, como o leitor está verificando ao ler o presente estudo.

Santo Tomás certamente aceitaria a posição oficial da Igreja, da forma como o dogma foi proclamado. Ele de fato não aceitava somente esse ponto da imaculada conceição, aceitando todo o resto da doutrina. A purificação teria ocorrido depois da conceição, e ainda no ventre.

 

11.3 PATRÍSTICA CONTRA O DOGMA DA IMACULADA

            O cristão católico deve crer na imaculada conceição de Maria. É uma doutrina santa, bíblica, razoável, bela. É verdade que ela está implicitamente na Bíblia. Também é verdade que a tradição leva a compreender que a virgem Maria não teve pecado algum. A pretensão de mostrar que essas afirmações estão incorretas não teve êxito.

            Abrindo um parêntese, quando o apologista protestante faz o resumo da doutrina, ele parece ter entendido. No entanto, como visto antes, isso é só aparência.

De fato, no resumo, ele diz que a virgem Maria foi preservada no momento da conceição, mas antes, em suas argumentações, usando um argumento bem conhecido, afirmou que para ser imaculada a virgem deveria nascer de uma mãe imaculada, o que torna a conceição imaculada algo transmissível de mãe para filha, não dependente da ação de Deus para fazer a preservação do pecado. Uma vez que se entende que Deus agiu na pessoa de Maria milagrosamente, o argumento cai por terra.

Então, a virgem Maria herdou as consequências do pecado, como fome, sede, cansaço, morte.

 

Refutação: O que não é a imaculada conceição

 

            O autor admite que a imaculada conceição não anula Cristo como Salvador de Maria. É um grande passo.

            Ter sofrido os efeitos do pecado não implica ter tido o pecado original. Outra grande admissão para prosseguimos no estudo.

 

Refutação: As Escrituras não apoiam

 

O apologista usa três passagens bíblicas que considera contrárias à doutrina da imaculada conceição.

A primeira é Lucas 18, 19: Jesus respondeu-lhe: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus”.

O texto é entendido como ensinando que a bondade per si é exclusivamente de Deus. De fato. Mas, o que isso tem a ver com a imaculada conceição?

O texto pode provar que Jesus é Deus: se Jesus é bom, e somente Deus é bom, então Jesus é Deus.

No entanto, isso não prova que todos os seres humanos sejam maus. Há pessoas boas, por participação. Ninguém é absolutamente bom, mas é bom em união com Deus, pela graça, pela participação na vida de Deus pelo influxo da graça.

O texto não diz que não há ninguém que não seja bom, mas que a bondade é algo que somente pode vir de Deus. O homem pode apropriar-se desse bem.

Também, se todos podem ser bons, todos devem procurar a bondade em Deus. Isso significa que os pecadores precisam de Deus para ser bom. Desse modo, a virgem Maria necessitou da graça de Deus para ser boa. Portanto, ela é boa por participação na graça de Deus, para ser a mãe de Jesus.

Como Maria não é exceção, e não é boa por si mesma, mas depende de Deus, o texto de Lucas 18, 19 não tem nada contra a imaculada conceição.

A regra universal de que “só Deus é bom per si” não exclui os anjos que são bons, e os santos que alcançaram a perfeição e são bons, e também os fieis cristãos que estão vivendo na graça e crescendo nas virtudes. Portanto, se Maria é sem pecado é porque esse privilégio foi dado a ela por Deus.

Assim, se a regra diz que somente Deus é bom por natureza, todos os seres bons deve ter união com Deus. Maria é boa. Então, Maria recebeu essa bondade de Deus.

Essa passagem permite um contraste conceitual, e nos leva a reconhecer a implicação desse contraste. Se somente Deus é bom, Maria não é boa “per si”, como diz o autor. O texto contradiz afirmações que dizem que há criaturas santas por si mesmas, como se pela sua liberdade puderam aperfeiçoar-se pelas suas próprias forças.

Então, como sabemos que Maria é boa, pois é o que nos apresenta a Escritura, pois ela é a serva que engrandece o Senhor, entregando-se totalmente a Deus, dizendo: faça-se em mim segundo a vossa palavra, podemos ter certeza que ela está em união com Deus.

Ela não é sem pecado por natureza, mas por graça. Não é boa por sua própria capacidade, mas por estar na amizade de Deus.

Também, o texto não trata do grau de bondade que as criaturas podem chegar, e por implicação não trata do grau de santidade. Mas sabemos que na glória os santos não têm mais o pecado, sendo totalmente santos. No entanto, estar em plena santidade não faz uma criatura ser deusa. Assim, Maria é sem pecado, toda pura, pois esse é o plano de Deus para os salvos. Ela é santa por participação, por efeito da graça imerecida recebida de Deus. Por isso, Lucas 18, 19 está conforme a imaculada conceição.

O segundo texto é Romanos 3, 23: Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus.

Tal passagem sagrada já foi estudada. Mas continuemos. Esse texto não diz respeito a Cristo, mesmo não tendo a indicação clara e explícita para mostrar a exceção. Isso está bem explicado.

No entanto, em relação à virgem Maria podemos chegar á conclusão de sua santidade ao entendermos a santidade de Jesus Cristo e estudarmos textos bíblicos que falam da pessoa da mãe do Messias.

Na eternidade Deus viu todos como pecadores, caídos em Adão. Nessa queda estava a virgem Maria. Então, Deus preparou o meio de santificá-la, predestinando-a para ser a mãe do Salvador Jesus Cristo.

Ninguém pode ser visto por Deus como justo se Deus não o justificar primeiro. Deus justificou Maria. Portanto, Maria é justa.

O terceiro texto é Romanos 5, 12, também já estudo acima: Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso todos pecaram.

Todos pecaram em Adão por ser ele o arquétipo da humanidade. Então, é lógico que Maria pecou em Adão.

A morte está ligada ao pecado, e todos que possuem a natureza decaída morrem. Isso é o que diz o apologista. Tal afirmação já está refutada, quando tratamos de Henoc e Elias que não morreram.

Ainda, se os efeitos do pecado incluem a morte, como citados antes, e os efeitos não provam que o pecado original existe, pois Cristo passou pela morte, então a morte não prova a existência do pecado original naquele indivíduo.

Assim como Henoc e Elias não morreram e possuíam o pecado original, alguém que não tenha o pecado original pode morrer.

Mas, o apologista explica que Cristo morreu por fazer-se pecado por nós. De fato, Cristo morreu no lugar do pecador, sem ter Ele mesmo pecado. Ele de fato morreu, mas o pecado não foi associado ao seu ser, mas assumido para ser expiado como vítima inocente.

Desse modo, Cristo morreu verdadeiramente, mas não pecou. Se alguém assumir que o pecado foi de fato transferido para a pessoa de Cristo, o Salvador teria morrido como vítima culpada, invalidando sua morte vicária. Ele devia ser inocente, assumir a culpa, morrer de verdade, sem pecado. Assim, não foi o pecado que o fez morrer, pois não o tinha. Nem o pecado da humanidade, pois esse não podia ser transferido para Sua Pessoa que é divina.

Cristo morreu por ter herdado a natureza santa mas com efeitos da queda, como citados antes: fome, sede, cansaço, morte. É possível então que o santo pudesse morrer sem pecado.

De fato, a tradição mais antiga da Igreja admite que a virgem Maria morreu, e isso não é objeção contra a imaculada conceição, como ficou claro.

A ideia de que se Maria morreu ela herdou o pecado original não é um raciocínio católico, mas é feito pelo apologista protestante. Isso fica claro pelo fato de São João Damasceno e do papa São João Paulo II ter crido na morte de Maria e ao mesmo tempo ensinar a imaculada conceição, pois são duas verdades que caminham juntas.

O apologista protestante continua a afirmar que se Maria participou da morte isso é possível porque ela teve a natureza pecaminosa. Sim, ela teve a natureza humana idêntica a todos os seres humanos, mas sem o pecado, pois foi preservada. No entanto, é a mesma natureza, que possui os efeitos do pecado.

Outra contradição é a seguinte: Jesus herdou a natureza de Adão antes da queda, pois não poderia ter herdado a natureza pós-queda, pois teria herdado o pecado original. E o motivo seria que Ele foi concebido sem relações sexuais.

O problema é que Cristo foi gerado no ventre de Maria, sendo feito da Mulher (cf. Gálatas 4, 4). Se Maria herdou a natureza pós-queda, como dela seria gerada a natureza antes da queda para formar o corpo de Jesus?

De fato, a natureza antes da queda não tinha efeitos da queda como fome, sede, cansaço e morte. Jesus teve natureza idêntica a todos, com os efeitos acima assinalados.

Então, a natureza de Jesus, que é explicitamente santa, e que herdou essas fraquezas, mostra que esses sinais não são o pecado original. Assim, a natureza de Jesus foi herdada de Maria, pois Cristo nasceu de mulher. Então, é possível concluir sem problemas que Maria foi sem pecado.

Se Maria morreu de amor, no sentido de associá-la a Cristo, como co-redentora, isso não a faz “deusa”, já que é apenas uma associação da pessoa de Maria como discípula fiel de Cristo eleita por Deus para esse papel como a primeira que acreditou. A morte de Maria é uma participação da morte de Cristo. Por isso, ela ressuscitou com Ele.

Maria não herdou o pecado original, não cometeu pecados pessoais, morreu santamente, foi ressuscitada e elevada aos céus em corpo e alma para a glória celestial.

Dessa forma, não há na Escritura nenhuma base para contrariar a doutrina da imaculada conceição.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

É mais difícil ser protestante?

 1ª Refutação de um vídeo do Rafael Pablo

Que Deus nosso Senhor nos ajude a compreender bem cada argumento e cada refutação.

Lutero propôs uma reforma na Igreja que foi se pervertendo.

Segundo o argumento, Martinho Lutero propôs algo mais complexo. Será?

Para a mente protestante sim. Lutero viu que as pessoas compravam indulgências para obterem o perdão dos pecados. Então propôs que, ao invés disso, elas se santificassem, que elas se convertessem verdadeiramente.

Ou seja, Lutero ensinou algo mais difícil: ter acesso às Escrituras, ao invés de crer em tudo o que a Igreja diz, e participar dos rituais, dos sacramentos, e ter uma fé sincera em Cristo e viver uma vida de frutos dos espírito que nascem da fé.

A ideia protestante é que os católicos creem que uma vez que se participa da missa, dos sacramentos, e cumprem as penitências, está tudo bem, pois não é necessário conversão!!!! Nada mais longe da verdade, e mais longe do verdadeiro cristão católico.

Isso é algo que é crido por muitos protestantes, sobre os católicos, desde os dias da reforma.

Lutero teria proposto algo mais complexo, como uma simplificação da salvação que, naquela época, era crida pelos católicos, como: confissão, missa, eucaristia, sacramentos em geral, e pronto, a pessoa estaria salva. Lutero então ensinou que deveria haver conversão.

Mas é justamente essa a doutrina católica. Na verdade, o que havia era uma banalização das coisas, uma vida cristã mecânica, sem espiritualidade, sem conversão. O mesmo Martinho Lutero confessa que não era convertido. Ele temia a Deus, mais do que O amava.

Por isso, nessa observação, Lutero tinha razão. E foi isso que o Concílio de Trento ensinou, naquela mesma época, fazendo a verdadeira reforma da Igreja. E também por isso que Lutero deixou a Igreja.

Na verdade, ele buscava algo que a Igreja já ensinava, mas não encontrou a paz que buscava. Assim, quando encontrou a doutrina da justificação, abandonou as obras piedosas.

O argumento usado pelo Pablo é correto. Lutero não queria destruir a Igreja e não há lugar para pensar isso, pela forma que Lutero propôs a reforma.

Ainda. Se um católico que se converte ao protestantismo disser que é mais difícil ser protestante, isso acontece certamente porque ele não era verdadeiramente católico. De fato, Lutero não foi um católico como deveria ter sido. Ele era sincero, verdadeiro católico de tradição, mas não cristão católico convertido. Deve-se fazer essa distinção.

Aguém poderia ir à missa, rezar o terço, receber os sacramentos, fazer promessas, novenas, peregrinações, e etc. Mas, do mesmo modo, não tinha verdadeiro conhecimento das verdades cristãs, não tinha real conversão a Cristo, não cumpria tudo aquilo por amor a Deus por meio do sacrifício salvífico de Cristo, mas apenas por crer que aquelas obras seriam aceitas por Deus como esforço pessoal e mereceriam a graça de Deus, que recompensaria as obras. Lutero vivia dessa forma como padre, e por isso deixou a Igreja Católica. Todos os que trilham esse caminho acabam se afastando da Igreja Católica. Basta ver os testemunhos, aos montes.

No Protestantismo é ensinado a cuidar da vida espiritual. Na Igreja Católica também.

O exemplo que o apologista oferece é muito significativo: alguém peca mortalmente e se confessa ao padre. E diz que isso não adiantaria!!!!! E, então, o que adiantaria?

A resposta protestante é essa: é necessário mudança, arrependimento, e não cometer aquele pecado novamente!!!!!

Meu Deus!!!!

O apologista mostrou com isso que não conhece a doutrina católica de modo algum, mesmo estudando o catolicismo por anos (por mais de três anos).

A crítica é: o sacramento é um ritual. Não adiante cumprir o ritual, é necessário arrependimento sincero, confissão do pecado, pedido de perdão a Deus. E é isso que o cristão católico faz.

De fato, para ir ao padre e se confessar (cumprindo o ritual, o sacramento), antes é preciso ter arrependimento sincero, e não querer mais cometer o pecado do qual arrependeu-se, pedindo o perdão e a misericórdia de Deus e estando disposto a fazer a penitência para reparar os danos que o pecado deixou em sua alma. É algo muito profundo, espiritual.

E, diga-se de passagem, mais difícil do que para o protestante. De fato, tudo o que o protestante deve fazer o católico também faz. Mas o católico é obrigado pela lei eclesiástica a confessar-se ao sacerdote.

Não se entra aqui no mérito da questão da confissão e seus fundamentos bíblicos, mas na questão real de que para o católico é mais difícil a vida no espírito.

Em outras palavras, o protestante convertido e cumpridor fiel dos seus deveres para com Deus, tem menos a fazer do que o católico convertido.

Por essa razão, o bom protestante quando estuda a doutrina católica tende a tornar-se católico, quando encontra a fé católica e a conhece.

Por outro lado, é bastante improvável que o protestante só de nome ou aparência torne-se católico fervoroso.

Para o católico de tradição, leigo e não praticamente, é muito comum que se torne protestante. Talvez seja a maioria esmagadora, beirando os cem por cento das conversões. Essa realidade pode ser verificada e comprovada.

Se há católicos que não se importam com pecados veniais, isso não é culpa da Igreja. De fato, a doutrina do purgatório mostra o sofrimento que há de ter os que cometem pecados veniais. Portanto, é mais sério do que o apologista protestante supõe.

Assim, se não é pecado mortal, não tá tudo certo. Se é isso que alguns católicos deixam transparecer com suas atitudes, não é o que a doutrina católica ensina. Só para esclarecer.

É óbvio que até a fala do cristão católico deve ser moderada, santa. Sempre foi assim. Basta ver como os padres conversam, como são respeitosos nos gestos e na fala. Assim, são os católicos praticantes em sua maioria. Isso é muito mais uma nota católica do que protestante. É algo notório.

A prática mecânica dos sacramentos não garante a salvação, mas apenas a fé em Jesus. Isso é católico. Nesse ponto, Lutero estava correto.

O que vale é participar de tudo o que a Igreja propõe, com espírito convertido, com espírito de fé, com espírito piedoso.

Foi isso que Lutero viu anos mais tarde, na diferença entre os católicos e os protestantes.

O que o protestante pensa do catolicismo, não condiz com a realidade em que vivem milhares de católicos convertidos.

Pensar que todos os católicos pensam que pecar venialmente está correto, e que participar dos sacramentos e praticar obras é o que leva à salvação (tanto no tempo medieval como atualmente), é uma caricatura mental que se faz do catolicismo, como se isso fosse a realidade medieval (que não era, mas apenas um exemplo do que ocorria em grande parte, exigindo reforma), ou que fosse a realidade até os dias de hoje, o que está longe de ser verdade.

É certo que essa fé mecânica sempre é encontrada entre os professos cristãos católicos. Isso existe, e é muitas vezes denunciado pelos padres, que veem pessoas que são professamente católicas, mas que não obedecem às regras da Igreja e vivem contrariamente à fé com suas obras impiedosas. Maioria desses vão à igreja somente em momentos especiais. Outros, os que frequentam, mas que vivem a fé “mecanicamente”, estão como o jovem Lutero, que via nas suas obras o motivo da salvação.

Então, é realmente mais difícil ser cristão católico.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Rafael Pablo e o react ao Padre José Eduardo

O apologista protestante Rafael Pablo fez um vídeo para refutar a lógica da imaculada conceição apresentada pelo padre José Eduardo no programa Inteligência Ltda.

O presente artigo irá lidar com a argumentação do Rafael. Ele afirma que o padre foi extremamente lógico e extremamente errado, e que é possível uma coisa ser lógica e ir contra as Escrituras, contra o próprio Cristianismo. E afirma que o padre ensinou algo extremamente anti-bíblico e anticristão.

Em primeiro lugar o Rafael afirma que nem tudo o que é lógico está dentro do evangelho. A Bíblia estaria cheia de textos e paradoxos que não se enquadram na lógica humana.

Assim, apresenta 1 Coríntios 1, 18-21, onde a Palavra da cruz é loucura para os que se perdem. O que isso quer dizer? Que o evangelho é anti-lógico? Que a Palavra de Deus possui coisas ilógicas? Que o raciocínio sem lógica é encontrado na Bíblia?

O que o autor quer dizer é que há coisas que não se enquadram na lógica humana, não são levadas segundo o raciocínio humano. No entanto, como explicou, parece que está levando ao irracionalismo.

Sendo adepto do Sola Scriptura, o apologista afirma que a Escritura é que dará os argumentos e não se deve tirar os esquemas filosóficos da razão humana.

 

O paralelo entre Eva e Maria

 

O apologista afirma que a Bíblia não faz nenhum paralelo entre Eva e Maria.

Todo protestante, do leigo ao teólogo, entende bem essa afirmação, que simplesmente quer dizer que não há explicitamente o paralelo entre Eva e Maria como há entre Adão e Jesus. Sendo assim, a Bíblia não faz nenhuma vez esse tipo de comparação.

 

Princípio errado e princípio correto

 

Estudando academicamente a Bíblia, é possível encontrar afirmações, mesmo de católicos, de que a Bíblia não faz o paralelo entre Eva e Maria.  Isso diz respeito a um paralelo direto.

No entanto, o que o protestante precisa entender é que sua posição está fundamentada em um princípio subentendido de que se não há o paralelo explícito esse não existe. Assim, dessa forma, se o princípio é correto ele deve ser usado sistematicamente em toda a teologia.

Contudo, ao analisar outras questões, o próprio protestante irá encontrar inúmeras vezes exemplos de algo que não é diretamente afirmado na Bíblia mas está de um modo velado, em seus princípios, de forma tácita, e é importante para estabelecer uma doutrina. Esse sim é um princípio teológico correto.

Assim, está refutado aquilo que fundamentava a crítica de que a Bíblia não apresenta paralelo entre Eva e Maria.

 

A Bíblia não fala que Maria foi concebida sem pecado

 

Como o próprio apologista afirma, esse argumento está ligado ao anterior. Agora, como foi feita a refutação ao anterior, o mesmo princípio derruba essa tese.

Uma vez que a Bíblia diz expressamente que Jesus não tem pecado, mas não faz o mesmo em relação à virgem Maria, o protestante conclui que a Bíblia não ensina que Maria foi sem pecado.

Como esse princípio que requer uma afirmação explícita da Escritura sobre algo para que o mesmo seja correto não é um princípio correto, está refutada a tese.

 

A lógica de Jesus

O último argumento para destruir por completo a “falácia” do padre José Eduardo. Jesus tiraria conclusões totalmente diferentes daquelas que seriam tiradas pela lógica humana.

O primeiro exemplo é de Mateus 25, da parábola dos talentos. Não haveria lógica para condenar aquele que devolveu o talento recebido ao senhor. Não haveria motivo para punição. Então, pode-se dizer, não haveria justiça. Será mesmo que a lógica usada por Jesus contraria as leis da lógica humana? É possível entender o motivo da condenação do servo mau?

Certamente não é isso que o autor quer passar com sua argumentação, como se ensinasse a irracionalidade, mas é preciso trazer esse pormenor para que o leitor saiba como funciona a lógica de Jesus.

A parábola está em Mateus 25, 14-30. No verso 19 está escrito que o senhor daqueles servos pediu-lhes contas.

Isso supõe que era necessário trabalhar com os talentos, e não apenas devolver o que foi recebido, pois do contrário não é lógico pedir contas aos servos. A tarefa não parece ter sido apenas guardar o dinheiro. Ainda, o contexto mostra que aquele trabalho indicava fidelidade.

Então, no verso 27 aquele senhor afirma que o servo preguiçoso deveria ter levado seu dinheiro ao banco para que o mesmo rendesse juros.

Dessa forma, a parábola mostra o motivo do servo ter sido castigado, o que não fere em nada a lógica humana. E o motivo é atestado por inferência, como mostrado: ele deveria lucrar com o que recebeu do senhor até que o mesmo voltasse.

Assim, se o resumo da parábola é: um senhor viajou e deixou seus servos cuidando dos seus bens, para que lucrassem com seu dinheiro e entregasse o dinheiro e os juros ao senhor na sua vinda. Um dos servos não fez o que era para ser feito. Quando o senhor voltou, o servo foi punido.

De fato, a lógica de Jesus segue as leis da lógica que Deus criou para a inteligência humana. Jesus é o próprio Logos, a Razão. Portanto, mais uma refutação ao argumento protestante.

A outra parábola é a dos trabalhadores da vinha. Os trabalhadores que trabalharam mais recebem mais. Isso é lógico. Isso é justo. Mas Jesus subverte a lógica, diz o apologista.

No entanto, tudo é muito lógico, tanto para Jesus, como para a lógica humana, basta entender o que Jesus disse: O senhor, porém, observou a um deles: ‘Meu amigo, não te faço injustiça. Não contrataste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te. Eu quero dar a este último tanto quanto a ti.

De fato, por esse ângulo, ninguém poderia objetar, porque Jesus usou a lógica: a contratação foi feita com cada um, e o salário contratado foi de um denário. Quando o senhor pagou um denário, estava fazendo que o prometeu.

Assim, não adiantaria olhar para o trabalho dos demais, porque não foi outro o valor que o senhor propôs como salário.

Ainda, a parábola está mostrando a bondade daquele senhor. Isso se refere à bondade de Deus. É justo que quem trabalha mais recebe mais. No entanto, Deus pode fazer o que quiser com seus bens, e dar o mesmo salário a quem trabalhou menos.

Sendo assim, ele garante que até os trabalhadores que entrem no trabalho da vinha na última hora receberão o mesmo salário.

Nesse caso, a salvação está sendo mostrada como o salário igual a todos. A lógica permanece, pois Jesus se baseia na permissão que tem o dono de usar dos bens como lhe apraz, o que é justo e lógico.

Assim, como explicou o padre Eduardo em seu react ao react, Jesus revelou a lógica superior, mas não afirmou nada contra a lógica humana.

Jesus não ensinou que todos devem trabalhar, uns mais e outros menos, e todos devem receber o mesmo salário. Pelo contrário, ele afirmou que naquele momento o senhor estava sendo bom, e assim revolveu dar ao que trabalhou menos o mesmo que tinha pago ao que havia trabalhado desde cedo. Então, continua usando a lógica.

Diante disso, deve-se reconhecer que há lógica na Bíblia para a doutrina da imaculada conceição.

 

Vejamos a lógica bíblica

 

No Gênesis 3, 15, Deus põe inimizade entre a serpente e a mulher. Essa passagem é considerada o proto­-evangelho. Então, ela fala de Jesus, mas ao mesmo tempo a mulher tem aí referência importante.

No Apocalipse 12, o Filho que nasce da mulher é levado para junto de Deus. É fácil identificar o Filho, e por consequência a sua mãe.

De forma geral, a Bíblia permite concluir que há um paralelo implícito entre Eva e Maria.

Assim, está refutada a argumentação protestante.

 Gledson Meireles.

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

O Cristão Reformado: eleição incondicional

Refutação da doutrina reformada sobre a eleiçaõ:


Capítulo 3

Eleição Incondicional

 

Deus nos abençoou e nos escolheu para sermos santos, nos predestinou para sermos Seus filhos em Cristo, segundo Sua livre vontade, nos gerou pela Palavra (1 Pd 1, 23), fomos selados com o Espírito, que é o penhor da herança eterna (cf. Efésios 1, 1-14), e formos predestinados a sermos a imagem de Jesus Cristo (cf. Rm 8, 29). Portanto, o eleito deve dar testemunho de vida cristã em obediência a Cristo, na obediência da fé, como está em Romanos 1, 5.

O momento que temos o penhor da vida eterna se dá pelo recebimento do Espírito Santo. A eleição que temos é concretizada quando o Espírito Santo é derramado em nossos corações (cf. Rm 5, 1-5). Por isso, reconhecendo que a eleição, a predestinação e a salvação são momentos distintos, não se deve afirmar que somente os salvos foram eleitos em Cristo, já que o penhor da salvação não se dá biblicamente pela eleição, mas quando o homem crê. E muitos creem e vivem com Cristo e não são finalmente salvos, não sendo eleitos.

Não se pode afirmar que todo o que crê foi eleito no sentido de que recebeu com certeza a graça eficaz. A eleição em Cristo em Romanos 8, 29 refere-se aos que irão realmente perseverar, e mostra que o plano de Deus irá desde a eleição até a glorificação ser aplicado neles. Esse é o plano de salvação.

O plano de Deus é suficiente para todos, garantido em Sua justiça a todos, mas eficaz nos que aceitarem. Os demais foram apagados do livro da vida, ou serão apagados, já que rejeitaram radicalmente a graça.

Esse dado bíblico já mostra o fato da graça suficiente. A recusa da graça suficiente foi o motivo de não receberem a graça eficaz. Portanto, houve o recebimento da graça, e houve a reposta livre.

O eleito irá ser imagem de Jesus, e, portanto, irá tornar-se santo. Deus chama e muitos não respondem. Somente os que respondem são justificados e somente os que perseveram serão glorificados.

Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos. E aos que predestinou, também os chamou; e aos que chamou, também os justificou; e aos que justificou, também os glorificou.” (Rm 8, 29-30)

O texto afirma que Deus chama e justifica aqueles que chama. No entanto, não afirma que existem pessoas que Ele não chama. Uma coisa é afirmar que os que chamou ele justificou. Mas, todos são chamados em Cristo. Há o momento em que o homem responde ao chamado e vai até Cristo, e somente assim é que há justificação. Ainda, os justificados precisam viver a fé, e assim, somente depois de crer é que há a glorificação. Uma vez que há o chamado geral e o chamado eficaz, entende-se que há plausibilidade para dizer que Deus chama a todos. No entanto, há um motivo para a eficácia do chamado apenas dos eleitos.

A aplicação dessas bênçãos no tempo vem após a conversão pela fé. O texto está apenas mostrando o plano de salvação de Deus para os eleitos. Certamente, do ponto de vista eterno, da perspectiva de Deus. A visão do futuro referente aos eleitos não limita a redenção da cruz somente aos que finalmente serão glorificados.

Em sentido amplo essa eleição está disponível a todos em Cristo, mas será aplicada somente aos eleitos conhecidos de antemão que não oferecerão obstáculo à graça. Não se trata de que o livre-arbítrio determinará a graça, ou que a graça limitará o livre-arbítrio, pois aqui há o mistério de como há perfeita cooperação da liberdade com a graça. Deus é soberano e fez o homem dotado de livre-arbítrio.

A Bíblia afirma: “O que impede que eu seja batizado? Se crês de todo coração pode sê-lo” (Atos 8, 36-37). A descrença é o principal impedimento. E aí vemos o livre-arbítrio respondendo à graça. No plano temporal aparece o livre-arbítrio sendo necessário para a realização da salvação pelo poder da graça de Deus. Isso supõe o decreto eterno.

O eunuco foi chamado, quando lia o profeta Isaías, aprendeu do diácono Filipe, foi levado a Jesus Cristo, creu em Jesus, e, depois disso, foi batizado. Então foi justificado e hoje certamente está glorificado.

Segue aquela ordem de João 6, pois aprendeu das Escrituras, que é a Palavra de Deus, reconheceu que Jesus é o Cristo e foi salvo. Sendo assim, o eunuco era um dos eleitos. Na cruz pode-se afirmar que todos são eleitos em Cristo, mas eficazmente somente os que não apresentarem o impedimento pela descrença ou pelo pecado. De fato, a descrença ou o pecado não confessado e arrependido pode afastar de Deus.

Em Romanos 8, 29-30, como em Atos 13, 48 são tratados os eleitos. O chamado da graça eficaz é tratado nessas passagens. Não se trata de dizer que não há outro chamado. O chamado geral é o chamado para a salvação a todos. Nesse chamado há a graça suficiente para que todos respondam ao chamado.

Em nenhum lugar a Bíblia fala que alguém é eleito para crer, mas mostra que somente os que creem recebem as bênçãos de Deus em Cristo. Isso é importante. Assim como em João 1, 12 os que creem recebem o poder de serem filhos de Deus, e em João 3, 16 Deus ama o mundo inteiro e entrega o Filho para que o que crê tenha a vida eterna.

Desde o verso 15 não está escrito que o levantamento de Jesus na cruz foi para fazer todo homem crer, nem que teve intenção de gerar a fé salvadora nos eleitos, mas para que todo o que crê tenha a vida eterna. Essa afirmação já supõe o livre-arbítrio que responde à graça. Aqui encontra-se o mistério.

“Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (João 3, 17).

Alguns podem pensar que o mundo refere-se aos eleitos, e que o mundo é apenas o todo que será representado pela parte salva. Sendo os eleitos salvos, então o mundo foi salvo em sentido expandido, não significando que todas as pessoas foram salvas, mas somente as que creram. Essa é a visão reformada.

No entanto, o mundo nessa passagem não pode se referir aos eleitos, porque logo é dito que será salvo o que crê, e o que não crê já está condenado, não porque não foi eleito, mas porque não teve fé (cf. v. 18). E não adianta tentar justificar afirmando que o decreto eterno deve ser buscado para entender a questão, pois o decreto segue estritamente o que a Escritura revela, e a mesma afirma que Jesus não veio condenar o mundo, mas salvá-lo.

Ainda, o mundo não se refere aos eleitos porque o Filho veio ao mundo e os homens preferiram as trevas, não amaram a luz porque suas obras eram más, falando da maioria que não acreditou em Cristo (v. 19). Os que praticam o pecado é que se tornam escravos, e que são objetos de ira, e que recebem a condenação. É preciso bastante atenção para a afirmação bíblica de que Jesus veio ao mundo e os homens preferiram as trevas. Assim, esse mundo não está estritamente falando dos eleitos, mas de todos.

Os versos 20 e 21 afirmam que os que praticam o mal não vão a Cristo, mas os que praticam a verdade, esses vão a Cristo. Os que praticam a verdade certamente são os que já estavam à espera de Jesus, e por isso suas obras eram feitas em Deus. E foram a Cristo para serem salvos e terem a vida eterna. Estando já na graça suficiente, que é dada a todos, responderam à graça eficaz. São preparados pela graça e pela resposta do livre-arbítrio antes de conhecerem a Cristo.

Entretanto, entre a doutrina reformada e a doutrina católica temos dois diferentes cenários. Para os reformados Deus elege para a fé, onde muitos pecadores que estão totalmente incapacitados de irem a Cristo são salvos, enquanto outros são deixados. Esses que foram deixados não receberam a fé.

Para os católicos, Deus elege os que não impuseram obstáculo à graça, depois de a terem provado, depois de terem sido postos em posição de capacidade para responder ao apelo da graça.

Antes, todos os pecadores que estão totalmente incapacitados de irem a Cristo recebem a graça para conhecerem o Salvador, onde muitos aceitam e são salvos enquanto outros a rejeitam, prontamente, ou a aceitam e depois desistem.

Aqueles que, após o chamado da graça, não oferecem obstáculo a ela, esses são eleitos. Os demais são reprovados. Os eleitos são conhecidos em Romanos 8, 28-30. Esses são considerados no decreto eterno de eleição e predestinação. Na eternidade, Deus deu-lhes a graça eficaz.

Michael Horton afirma que Deus não previu fé e obediência, mas elege mesmo na desobediência. Isso significa que Deus não poderia prever a fé porque sem a graça ninguém teria fé.

O problema é que, para a fé reformada, Deus elege apenas alguns dentre os desobedientes, e essa é a questão crucial que a Bíblia não mostra. A não ser que se está aqui falando apenas da graça eficaz. Não há quem não tenha recebido graça suficiente.

De fato, entre todos os pecadores Deus elege os que recebem o dom da fé e dão frutos, enquanto deixa aqueles que, após serem agraciados, recusam a graça que experimentaram.

Somente os que recusam ao chamado de Deus é que são deixados. Não há escolha arbitrária de uns e reprovação de outros, antes que a graça suficiente seja experimentada de alguma forma por todos.

Em Deuteronômio 7, 6 e 9, 4-5 Deus elege Israel pelos motivos de perversidade das nações e por causa da Sua promessa aos Patriarcas, não por causa da Sua liberdade em escolher nações igualmente perversas.

A Palavra não afirma que Deus escolheu um povo e deixou os demais por seu beneplácito e vontade. Isso o reformado precisa entender. Não existe qualquer passagem bíblica que prova tal afirmação.

Primeiro veja o que a Bíblia fala como razão divina para a escolha de Israel nessas passagens. De fato, são passagens que a teologia reformada utilizada para formular sua teologia. Mas as mesmas não dizem o que os reformados tendem a concluir.

Sabendo que todas as nações são desobedientes, conhecendo a atitude de rebelião das nações, Deus escolheu por meio da promessa que tinha feito desde o início ao patriarca Abraão, antes da formação do povo, e a razão imediata para não os abandonar era a perversidade das demais nações. Não apenas a cabeça dura de Israel, mas as abominações constantes dos gentios. Eis o contexto.

Afirmar que a salvação é do Senhor, ou que a salvação vem do Senhor (Jonas 2, 9) é afirmar o mesmo que a doutrina católica. Isso não quer dizer que nada no povo é considerado por Deus para a salvação, como se contasse só a vontade de Deus para eleger.

Pelo contrário, Deus faz tudo com bondade e justiça, e considera a situação de cada povo para fazer suas escolhas. O contexto mostra o modo pelo qual a salvação vem do Senhor, a forma com que ela atinge o povo, a maneira com que ela é entregue ao povo.

A condição humana pecadora é basicamente idêntica para todos, mas a presciência de Deus não teve atenção à fé e à obediência voluntária de ninguém, mas apenas a resposta à graça. É impossível ter fé sem a graça. Assim, Deus previu aqueles que respondem ao chamado, com abertura de coração a Deus, depois de estarem sob a moção da graça.

Isso é algo diferente, pois não é do livre-arbítrio somente que faz brotar a resposta, mas do livre-arbítrio iluminado pela graça, sustentado e auxiliado pela graça. A graça antecede o livre-arbítrio logicamente, mas age nele enquanto o mesmo concomitantemente responde positiva ou negativamente ao chamado de salvação.

Uma coisa é saber de antemão quem é bom ou quem é mau, e outra é saber de antemão, dentre os maus, quem irá responder livremente e perseverar após ter sido tocado pela graça do chamado e experimentado o momento livre para decisão.

Deus de antemão conheceu os que responderam à graça e pela graça quiseram permanecer. A graça eficaz é dada sobre a graça suficiente recebida.

Diz a Escritura: “Ou não tem poder sobre o barro para fazer da mesma massa um vaso de uso nobre e outro de uso vulgar”, falando dessa comparação do vaso e do oleiro, que diz respeito ao uso dos vasos e não à criação dos mesmos.

Esse seria o lugar de Deus afirmar que o oleiro cria vasos para uso nobre e vulgar como Ele cria pessoas para salvar e condenar, mas a Escritura usa a comparação de outra forma.

Deus é comparado ao oleiro no uso que faz dos vasos da ira, tendo paciência para com eles, e do uso que faz dos vasos de honra, mostrando as riquezas da sua glória (vv. 22-23).

Primeiro, porque a Escritura nunca diz que Deus cria algo mal, o que seria contradizer o que toda a revelação ensina, e, portanto, aqui em Romanos 9 não está afirmando a criação de alguém para o inferno, pois Deus não prepara nada para o mal. Por isso, a Escritura não diz que Deus preparou os vasos da ira, mas já fala dos vasos “preparados”, enquanto que, quando diz dos vasos de honra afirma que Ele (Deus) preparou.

É certo que o calvinismo considera que Deus ativamente não condena, mas que permite a condenação. No entanto, afirma que a condenação é feita depois do decreto de Deus determinar a reprovação certa do indivíduo, para que o indivíduo caminhe para a perdição, o que torna o problema insolúvel. Isso ficará mais compreensível quando voltarmos a esse texto em outras argumentações para esse tópico da eleição.

Se Deus apenas escolhesse alguns da massa caída em pecado, onde todos estão em igual condição, sem fazer uma consideração universal, sem dar a graça para que o pecador responda livremente ao chamado, em uma obra de preparação para a salvação de todos, pois todos são parte integrante da massa caída, mas que assim estão porque no pecado de Adão perderam a graça santificante, não seria justo, já que todos não estão no pecado por culpa própria, mas nasceram nesse estado por culpa de Adão e Eva, sendo uma dívida contraída.

Assim, o início desse estado pecaminoso, a concupiscência, não pode por si só levar alguém ao inferno antes que seja oferecida a graça para que livremente possa escolher entre a vida e a morte.

Isso está no princípio do amor e da justiça, e o amor é a base para Cristo vir salvar os pecadores. A doutrina reformada nega esse ponto ao ensinar que o pecado original por si só já é motivo da condenação ao inferno, e que os pecados, ainda que possuam graus, sendo mais ou menos graves, todos são passíveis da condenação ao inferno, o que tornaria a distinção inócua para fins dessa discussão.

A bondade de Deus não permite que pecadores nesse estado sejam condenados. Somente após negarem a verdade, por sua própria atitude livre, e assim ficarem endurecidos, perseverarem contra a graça.

E essa condição é real quando há possibilidade de responder e ter acesso à salvação. E tal condição não nasce ou é consequência de um decreto eterno. Antes ela é a causa levada em conta na escrita do decreto eterno de condenação. Deus não decretou que alguns não responderiam ao chamado, mas decretou que seriam reprovados os que não respondessem.

O leitor compreende que a diferença entre a doutrina católica e a doutrina reformada é tão sutil que muitas vezes não é possível perceber onde está a mesma, e tantas vezes parece coincidir com as afirmações reformadas. É por isso que às vezes parece que os reformados têm razão, por afirmarem as mesmas doutrinas católicas.

No entanto, logo a seguir percebe-se que a teologia reforma faz certas afirmações que contrariam a revelação bíblica. E então, a mesma revelação bíblica contem o antídoto contra conclusões dos reformados.

O que foi dito aqui parece não ter sido suficiente para convencer o reformado. Talvez não seja possível chegar a isso, por vários motivos. Mas, esse convencimento é possível, se o leitor reformado seguir as argumentações uma por uma até o fim.

A Bíblia está guiando cada raciocínio, e os argumentos analisados partem da própria teologia calvinista, e são elaborados por abalizados teólogos. Assim, a refutação dos mesmos afeta o cerne da teologia reformada.

Consideremos agora o que diz Roger Olson, teólogo protestante de confissão batista, com sua teologia arminiana, em relação à eleição incondicional.

Roger Olson discorda um pouco de Cottrell quando esse diz que Deus, na Sua autolimitação, retém o controle soberano.

Olson acredita que esse pressuposto não é assegurado pela sugestão que o autor fez, e não vê conciliação entre não exercer o poder determinista e estar no controle de tudo, e prefere afirmar que Deus está no comando.

Então, o arminianismo de alguma forma argumenta contra o controle total, o que torna sua defesa problemática diante do calvinismo.

É um fato que devemos compreender, já que os argumentos arminianos em relação à teologia Reformada são, às vezes, diversos daqueles levantados pela doutrina católica. E, muitas vezes, são inócuos ao calvinismo, ao contrário dos argumentos católicos, que abalam e demolem os fundamentos da fé reformada.

Outra definição arminiana encontrada em Olson é que o livre-arbítrio libertário, como gostam de chamar, é “a vontade não totalmente governada por motivos e capaz de agir de maneira contrária ao que age”, reconhecendo o mistério, mas afirmando que não é impossível ou ilógico.

O arminianismo, então, ensina a soberania divina autolimitadora. Interessante que, por confrontar o calvinismo, a definição arminiana é que a vontade não é toda governada por motivos, já que o calvinismo afirma o contrário.

Isso significa que Deus deixa de usar o controle em certos momentos ou lugares, para dar ação livre à vontade das criaturas. Assim, a vontade possui momentos que podem agir sem motivos.

Parece ser isso que é explicado pela teologia arminiana aqui, onde o livre-arbítrio pode prescindir de motivos e Deus concede um espaço onde não há controle.

Deve-se afirmar novamente que, embora o arminiano esteja correto na defesa do livre-arbítrio, os argumentos são diversos do que se pode aprender da doutrina católica. Essa argumentação arminiana não é a mesma que o catolicismo emprega no estudo dessas questões, como já visto acima. A visão arminiana dessa espécie de autolimitação de Deus é fraca diante da argumentação calvinista.

No entanto, quando a Igreja Católica ensina a total soberania de Deus, e também apresenta o livre-arbítrio, a solidez da argumentação católica é eficaz contra os equívocos do calvinismo.

Estudando Romanos 9, 9-33, temos que o contexto imediato é o da explicação da promessa de Deus. Sara terá um filho (Rm 9, 9), conforme Gn 18, 10.

O próximo exemplo é o de Jacó e Esaú, como exemplo da “liberdade de escolha de Deus” (v. 11), mostrando nos vv. 12-13 as promessas de Gn 25, 23 e Ml 1, 3. Temos a promessa e a liberdade da eleição.

Então, surge a pergunta: “Haverá injustiça em Deus?”, com resposta biblicamente e logicamente negativa. A injustiça foi sugerida na escolha de Jacó em detrimento de Esaú, e esse foi o motivo da pergunta retórica.

Obviamente não há injustiça em Deus, pois Ele, conforme Gn 33, 19, tem misericórdia e compaixão a quem Ele quer. O verso 16 é profundo, pois afirma que a escolha depende apenas de Deus, em especial, “da misericórdia de Deus”. Esaú e Jacó não havia feito nada para merecer a escolha. Não há nada que possa levar Deus a agir, senão Ele mesmo.

Outra vez, surge o exemplo para mostrar a misericórdia, falada antes, afirmando que o Faraó foi suscitado por Deus para que o poder divino seja mostrado e o Nome de Deus anunciado em toda a terra, como está em Ex 9, 16.

O texto do Êxodo trata do castigo de Deus sobre os egípcios, e Deus não destrói o Faraó para que ele veja e reconheça o poder divino e o Nome de Deus seja glorificado em toda a terra.

O exemplo do Faraó serve para mostrar, de alguma forma, tanto a misericórdia como a justiça, no endurecimento do coração. Deus poderia castigar logo o Faraó, mas não quis, para mostrar o Seu poder. Agora entendemos a paciência de Deus, o controle soberano do Senhor, e toda a Sua sabedoria, sem infringir o livre-arbítrio que deu ao homem.

Em nenhum momento sugere que o Faraó tenha sido determinado a agir com coração endurecido, mas que o mesmo endureceu primeiro seu coração. Essa foi a causa da sua reprovação.

Por isso, voltando o olhar para o decreto divino, deve-se pensar que essa possibilidade tenha sido permitida por Deus, que deu ao Faraó a liberdade de vontade, e isso foi considerado e incluído no decreto eterno, de modo que tudo o que decorre daí foi aceito pela Soberania de Deus, na mente de Deus, desde toda a eternidade, conforme sua sabedoria, bondade e justiça.

Quem pode resistir ao poder de Deus? Diante da pergunta, vem a resposta com a comparação do oleiro, que faz da mesma massa vasos para usos diferentes (v. 20). O oleiro tem poder sobre o barro, então Deus tem poder sobre o homem. E ainda esse poder vai além, pois Deus é origem de todas as coisas.

Da mesma massa há vasos feitos para diferentes usos, e assim Deus usa do homem para diferentes propósitos, como fez com o Faraó, que o negou e endureceu o coração, como está revelado desde o início do livro do Êxodo. Deus usou esse vaso mau tendo paciência com Ele para que mais tarde mostrasse sua justiça.

Deus enderece o coração do Faraó posteriormente como castigo pelo proceder do Faraó, que já vinha tendo atitude hostil a Deus.

Ainda, isso mostra que não há injustiça, pois Deus suporta os vasos da ira para mostrar Sua ira e manifestar Seu poder, e mostra misericórdia com os vasos da misericórdia (v. 22-23). Os tempos e os modos são usados por Deus como Ele sabiamente quer.

Os vasos da misericórdia somos nós, que ele chamou não só dentre os judeus, mas também dentre os pagãos (v. 24). Para isso, o autor cita Oseias 2, 1, onde Deus chama os gentios de povo e Os 10, 22-23 e Isaías 1, 9, onde Israel recebe a promessa de que um rebento será salvo.

O rebento refere-se aos filhos da promessa. Os gentios que não buscavam a justiça a alcançaram, todos eles tendo a justiça à sua disposição, devendo somente crer para entrar no Povo de Deus, enquanto Israel que procurava a Lei que justifica, não a encontrou (cf. v. 30), porque procurava a justiça pelas obras.

Em todo o contexto não há eleição de uns e condenação de outros fundados no mero beneplácito divino. O cenário é bastante outro. Há motivos para salvação e condenação.

Pode ser objetado que essa é a forma de ocorrer no tempo, mas que no decreto as coisas são vistas de forma invertida. Deus teria elegido e predestinado os filhos da promessa, que seriam iguais em pecado a todos os demais pecadores, e agora, no tempo, eles estavam apenas usando os meios que Deus preparou para levá-los ao fim desejado, que é a salvação.

Mas, a situação não é simples assim. Deus não age senão na verdade, que é Sua própria personalidade. O caráter de Deus é o fundamento da Sua ação.

Quando os gentios encontraram a justiça pela fé, tudo já supõe que foram livres para atingir esse objetivo, assim como os judeus agiram em liberdade para procurar a justiça pelas obras.

Nada disso foi decretado por Deus, o que tornaria toda a realidade uma mera encenação. O reformado entende que as coisas não podem ocorrer dessa forma. Então, como é muitas vezes objetado, o reformado não consegue compreender como isso acontece, já que tem a livre agência como algo que realmente é produzido pelo ser humano, que age livre de qualquer coerção, e responde pelos seus atos.

Em outras palavras, a noção de livre agência, posta dessa forma, é o exemplo do livre-arbítrio, ao mesmo tempo em que a doutrina reformada nega o livre-arbítrio. O teólogo reformado cai nesse buraco e não consegue sair dele.

O reformado ainda não conseguiu desfazer-se de tantos condicionamentos, o que é compreensível, pois se trata de algo profundo e de delineações bastante sutis. O que está sendo tratado ainda conterá muitas análises bíblicas que irão corroborar essa realidade desde o início.

Em relação a Ezequiel 18, 31, assim diz o Senhor: “Repeli para longe de vós todas as vossas culpas, para criardes em vós um coração novo e um novo espírito. Por que haveríeis de morrer israelitas?”.

Nesse momento o livre-arbítrio é considerado por Deus, e o pecador é exortado a converter-se a fim de criar um novo coração e um novo espírito, que é efeito da graça, pois é Deus quem cria o coração e o espírito quando o homem crê e obedece.

Então, “Não sinto prazer com a morte de quem quer que seja – oráculo do Senhor Javé! Convertei-vos e vivereis!” (Ez 18, 32).

Em todo o contexto, claramente soteriológico, vemos que Deus considera o livre-arbítrio do homem e exorta a que nos convertamos a Ele. Tudo isso supõe que a graça já está à disposição, o conhecimento da Palavra já nos é oferecido, cabe-nos voltar para Deus, deixar as culpas para trás e criar coração e espírito novos com essa graça.

Esse é o ensino bíblico expresso nessas passagens. Em nenhum lugar Deus elege uns e deixa outros por pura vontade. O leitor pode reler os textos para reconhecer que Deus não elege e salva a bel prazer.

Deus também nunca ordena o impossível, nem faz apelos apenas para que os que foram eleitos respondam e os que foram reprovados sejam mais ainda castigados. Esse não é o cenário bíblico.

O que as passagens provam é que a graça precede a conversão, mas que há espaço para o livre-arbítrio, que deve responder para que a conversão se efetive. O povo deve responder a Deus para ter novo coração.

Na perspectiva divina Deus sabe quem responderá ao chamado, e quem O rejeitará. No entanto, não poderia Deus ter decretado que certo indivíduo aceitará o chamado e outro não, quando faz o convite: “Convertei-vos e vivereis”, sabendo que Ele mesmo decretou que um não irá aceitar o convite que Ele faz. Esse cenário seria contraditório e desequilibrado.

Agora, se temos que Deus deu ao ser humano o livre-arbítrio, e soube de antemão quem iria agir a favor ou contra seus apelos de salvação, e ainda quis realizar esse plano, pois a criatura deveria ter a liberdade total para escolher ou não a Ele, então temos que de fato tudo ocorre pela Vontade de Deus. E nesse cenário tudo é compreensível e equilibrado.

A eleição é pela presciência, e Deus não vê o pecador por si só respondendo, pela sua própria força de vontade, mas vê o envolvimento do pecador após o despertar da graça, como age o pecador em relação à própria graça a ele oferecida, como acontece no tempo.

Então, e somente então, Deus elege. Assim, sua eleição é certa. Somente Deus sabe como agir e faz Sua graça eficaz ter todo o seu efeito sem limitar a liberdade. Esse é um mistério de misericórdia.

Essa eleição reflete o que foi decretado eternamente. Para o reformado, Deus prevê somente Sua decisão e misericórdia de salvar alguns. No entanto, para o cristão católico, Deus prevê e conhece os que se dispuseram e permanecerão aos cuidados da graça para os eleger e predestinar. Essa é a Vontade Deus.

Ele prevê aquilo que será o fato da relação entre soberania e livre-arbítrio, em sua perfeita harmonia, conforme Sua vontade. Ele sabe que muitos terão a graça, mas preferirão o mundo, e por isso decidiu que não teriam a graça eficaz. Isso ocorre na eternidade.

O amor de Deus para com todos O impele a oferecer a salvação a todos, e amar mais os que respondem mais à sua amorosa e misericordiosa graça. Mas, dirão alguns, os que respondem mais são os que receberam maior graça. Mas é aí que a relação entre soberania e livre-arbítrio se encontra, não havendo total conhecimento de como funciona perfeitamente essa relação. A graça de Deus vence sempre, mas o livre-arbítrio nunca é limitado e desconsiderado.

Esses foram os que Deus de antemão conheceu, predestinou, justificou e glorificou (cf. Rm 8, 28-30). Se o amor maior de Deus por uns os faz melhores, é certo que, de forma misteriosa, a rejeição da graça e o endurecimento do pecado gera a ira de Deus.

Se isso é assim, então de fato eles rejeitaram a graça de Deus, e Deus não quis vencer essa rebeldia, já que estava no limiar da consideração do dom do livre-arbítrio que Ele mesmo concedeu.

Para o católico a reprovação foi permitida por Deus, mas apesar dessa desgraça Deus tirou a maior das bênçãos, dando Cristo como salvador do pecador. Deus permitiu a queda em Seu decreto. E, a partir da queda, Deus nos deu o Salvador.

Para o reformado a queda é decretada, mas no sentido de determinada a ser permitida, pode-se afirmar. Deus determina que a queda seja permitida a ocorrer. É algo estranho, mas é assim que o reformado entende.

No fim último, foi o decreto de Deus que determinou a queda, e a permissão entra aí como uma forma de não cair no exagero, apenas para explicar seu acontecimento no tempo, o que faz a fé reformada aproximar-se da verdade católica, no entanto sem concordar com ela nesse ponto, o que é problemático.

É um modo que o reformado tem de evitar o exagero na doutrina calvinista, levando a adotar afirmações católicas em suas formulações doutrinais, de modo a aparentemente estar correta em todas as etapas.

Então, afirma a teologia reformada que a queda foi permitida, mas antes, dizem os teólogos, Deus tornou certa a queda por um decreto que levava Adão a livremente pecar.

E mais. Afirmam que o decreto faz consequentemente com que o pecado seja praticado, e não que cause o pecado.  Desse modo, os reformados imaginam que não estão tornando Deus a causa do pecado, mas somente o homem, porque foi o homem quem pecou. No entanto, o homem estava determinado a pecar, não podendo agir de outra forma.

Se Deus deixasse o homem em seus próprios desejos e vontade, todos se perderiam. Essa verdade é compartilhada por católicos e reformados.

No entanto, sabemos que a graça permite o homem escolher a verdade enquanto deixa-o livre nessa escolha, enquanto que o reformado acredita que o homem é escravo do pecado, e que ao ser chamado pela graça não poderia responder se Deus não desse a última palavra.

Isso quer dizer que o homem escravo do pecado diria não à graça, sempre e finalmente, mas Deus garante que no final ele responderá sim. Dessa forma, somente o que Deus quis eleger responderá sim. É uma anulação do livre-arbítrio.

Enquanto que, na fé católica o homem escravo do pecado sempre diria não à graça, por si mesmo, pela sua condição de escravo do pecado, pela sua natureza maculada pelo pecado, mas pelos efeitos da graça ele tem a possibilidade de escolher e responder ou sim ou não a Deus. É um cenário diferente.

O homem, por sua natureza pecaminosa e caída, sempre está em rebelião contra Deus, ainda que chamado pela graça. No entanto, na graça ele pode vislumbrar a misericórdia de Deus e é capacitado a converter-se ou não.

Entendemos melhor Atos 7, 51: “Homens de dura cerviz, e de corações e ouvidos incircuncisos! Vós sempre resistis ao Espírito Santo. Como procederam os vossos pais, assim procedeis vós também.

Se o homem não fosse livre, esses não poderiam realmente responder, e iriam sempre resistir à graça, como creem o reformado. Deus deveria decretar que alguns fossem convertidos pela graça.

No entanto, como o livre-arbítrio é um fato, esses homens de que fala o verso 51 estão resistindo ao Espírito Santo que os chama à conversão. Há um conflito entre a vontade do Espírito Santo, que os quer bem, e a vontade pecaminosa desses homens, que resistem ao Espírito. Somente a doutrina católica explica satisfatoriamente essa passagem.

Essa possibilidade não poderia ser desejada por Deus, como se fosse anterior a qualquer liberdade dada aos homens, apenas para mostrar Sua justiça, onde Ele teria decretado que esses homens resistissem ao Espírito. Nada disso.

Deus criou tais homens livres, com uso do livre-arbítrio, e conhecendo perfeitamente todas as possibilidades de uso da liberdade, e vendo o futuro como se estivesse presente, soube perfeitamente que tais homens ouviriam as moções do Espírito Santo e a pregação do evangelho, obviamente dada pela graça suficiente, e ainda nesse estado de chamado de graça iriam resistir ao Espírito, decretando essa realidade. Foram esses homens que determinaram sua vontade, causando sua resistência, e não o decreto. O decreto de Deus incluiu esse cenário e considerou essa rejeição como motivo de reprovação.

Por isso, a passagem menciona que muitos resistiram ao Espírito Santo, e pelo contexto mostra que a resistência foi definitiva.

Não há ensino de que a graça é apenas momentaneamente resistível, e que no final sempre ela venceria nos que foram predestinados, e que por isso seria sempre irresistível.

Não há passagem que ensine isso, e não houve até o momento textos da Bíblia que possam dar base para formular essa doutrina.

Assim, a eleição de Jacó e rejeição de Esaú, antes de nascer, para provar a liberdade de escolha de Deus, é uma passagem usada para a eleição incondicional.

No entanto, esse texto não tem sentido soteriológico, mas mostra apenas a eleição de Israel, e também não tem implicações soteriológicas, caso contrário contradiria o que já foi expresso acima, em todas as demais passagens bíblicas. Portanto, seu sentido místico deve estar conforme toda a revelação, e não apenas fundamentado em alguns textos isolados.

Mais adiante voltaremos a ler essa passagem com maior profundidade. O que o reformado deve entender é que a passagem não diz e não conclui que Deus decreta a salvação de uns e decreta a permissão da condenação de outros por puro beneplácito. E isso tem sido provado a cada passo, com as devidas argumentações bíblicas e demonstrado a falta de qualquer prova para a asserção calvinista.

Esse ponto da eleição é também patrimônio da doutrina cristã católica. Não há o que objetar ao se afirmar que Deus salva por pura misericórdia por meio da sua graça, sem quaisquer obras e méritos da parte do homem. Essa é doutrina católica desde sempre, pois está na Escritura Sagrada. Santo Tomás de Aquino a explicou extensamente. A mesma já havia sido esboçada por Santo Agostinho.

O que envolve esse ponto em discussão tem a ver com as afirmações calvinistas desde o século dezesseis, principalmente quando a questão foi resolvida no século dezessete no Sínodo de Dort, realizado na cidade de Dortrecht, em 1618-1619, pois quando já separados da Igreja Católica os protestantes reuniam-se para tratar da suas questões internas. Esse sínodo cristaliza a tradição reformada, em aspectos importantes e fundamentais para o desenvolvimento dessa teologia protestante.

Anos antes, a Igreja Católica havia dado suficiente contribuição para essa questão, quando em 1607 impôs parâmetros ortodoxos para prevenir a heresia, deixando aberta a discussão no campo católico, sem anatematizar nenhuma escola teológica.

Na Holanda a Igreja Reformada possuía a Confissão de Fé Belga e o Catecismo de Heidelberg, como dois documentos de orientação doutrinal, de persuasão calvinista. A partir das discussões introduzidas pelo também calvinista Jacó Armínio (1560-1609), surgiram então questões que levaram, como era seu desejo, mas que só aconteceu após sua morte, à realização de um sínodo, como mencionado antes, que atingiu esfera internacional.

Ali nasceram os cânones sinodais, o que ficou conhecido como os cinco pontos calvinistas, em contraposição aos pontos formulados pelos seguidores de Armínio em 1610, como uma representação, chamada Remonstrance, nomeando seus defensores de remonstrantes. Esse são os atuais arminianos.

Portanto, nos cânones estabelecidos ficou a doutrina reformada de acordo com a interpretação dada por João Calvino e condenada aquela de Jacob Arminius. De fato, a Institutas da Religião Cristã escrita por Calvino é expressão reconhecida de autoridade da teologia reformada, como afirma Earle E. Cairns.

Tendo essa contextualização histórica, continuaremos a tratar o ponto sobre a eleição incondicional que é um dos cânones reformados. Sobre esse ponto não teria nada a objetar se a afirmação fosse apenas que as obras não são causa da eleição. No entanto, esse cânone ensina que Deus dá o dom da fé aos que foram eleitos e predestinados desde a eternidade pelo decreto divino, mas não dá esse dom aos que foram deixados para a perdição.

Alguns receberão a verdadeira fé e outros não. Uns poderão até apresentar um tipo de fé momentânea ou por algum tempo, mas logo apostatarão, porque são do número dos perdidos que não receberão nunca o dom da fé que é instrumento de salvação.

Esse particular está em contradição com a doutrina católica que ensina que todos recebem a graça suficiente para serem salvos. De fato, a fé é oferecida a todos, mas por causa da recusa de muitos, esses não exercem fé e recebem a dura condenação. É um caso de séria divergência.

Embora os reformados neguem o livre-arbítrio, eles crêem que o homem é livre, possuindo livre agência, até mesmo algumas vezes usando o termo livre-arbítrio, sendo responsável pelas suas escolhas, e ensina que todos indistintamente estão em rebelião contra Deus.

Essa explicação não tem, aparentemente, diferença da doutrina católica. No entanto, afirma que somente os eleitos serão convertidos no meio dessa massa caída, por terem sido alvos da salvação na eternidade.

O problema é que a teologia reformada ensina que a liberdade que o homem segue sua natureza, caída ou regenerada, o que introduz problemas sérios quando analisada detalhadamente, pois isso não é o mesmo que livre-arbítrio. Isso é de fato negar o livre-arbítrio. Não é igual ao livre-arbítrio que eles rejeitam, nem igual ao livre-arbítrio que a doutrina católica ensina. Em alguns momentos os reformados conceituam livre agência como o que se entende como livre-arbítrio, e em outros nega-o frontalmente em suas apresentações.

Para entender melhor, é afirmado que o decreto de Deus visaria salvar muitos dentre os perdidos, deixando os demais seguirem o próprio caminho, ensinando que o decreto não está impelindo ninguém para tal e nem impedindo que venha a se converter. Portanto, essa explicação encontra lugar no coração de muitos porque ela tem aparência de verdade e usa linguagem que transmite um conceito verdadeiro.

É verdade que Deus não impele ninguém ao mal, nem que impeça de ouvir e aceitar o Evangelho. Mas, sabemos que os que não aceitam a salvação são livres para assim agirem. Eles recebem o apelo do Evangelho, são alcançados pela graça do chamado e, já postos pela graça em condição de responder a Deus, são capazes de aceitar ou recusar a graça. É igualmente verdadeiro que Deus não impede que o homem salvo escolha o mal, nem que force o ímpio a vir a Cristo.

Também não se trata da graça preveniente colocar o pecador em estado de neutralidade para capacitá-lo a escolher entre o bem e o mal, mas de suprir pela força suficiente da graça o que ele não tem, e habilitar o pecador inclinado ao pecado a vislumbrar o bem da graça e poder assim nesse estado pecaminoso aceitar a graça ou resisti-la. Muitos resistem.

É óbvio que Deus é soberano, e poderia vencer qualquer resistência. Não o faz em todos. Qual o motivo? É de se esperar que seja assim se os seres humanos são livres. Também, é de supor que a justa medida da graça eficaz é exercida de modo a convergir com o livre-arbítrio.

Se o reformado disser que a graça não anula a livre agência, como Olson afirma de uma opinião de Boettner, o que se deve entender é que sendo a livre agência uma consequência do decreto divino para agir conforme a natureza, que é pecaminosa, a partir da queda, decretada também, causando por si mesma o pecado, se o decreto de predestinação faz a graça vencer a resistência do pecador, sem anular sua liberdade, mas mudando seu coração, em última análise isso seria o mesmo que dizer que Deus fez o coração ser pecaminoso até o momento em que Ele mesmo faria esse coração tornar-se santo, que não faz sentido de forma alguma, diante da revelação bíblica, e do bom senso, entretanto explica de fato que na teologia reformada na há livre-arbítrio. O livre-arbítrio é negado, tal afirmação encontra esse problema conforme apontado acima.

Para os católicos, a liberdade é considerada por Deus para receber a graça eficaz. Para a teologia reformada as coisas não são bem assim. Os ímpios deixados segundo as inclinações de sua própria natureza agem contra Deus livremente porque não estão no decreto divino de salvação, e não recebem a graça da salvação porque Cristo não teria morrido por eles, e a fé nunca estaria disponível para eles. Esse ponto será refutado no respectivo lugar durante o estudo, mas já pode ser percebido que não possui equilíbrio com a revelação bíblica.

Os ímpios possuem natural rebelião contra Deus por viverem na natureza pecaminosa, mas não lhes seria oferecido nada que os pudesse tirar desse estado, já que não existiria meio disponível, pois a morte de Cristo não teria comprado nada, em termos de salvação, para essa parte da humanidade.

No entanto, quando lemos as Escrituras não encontramos esse cenário. Isso é típico do calvinismo, e não da Bíblia. Encontramos ensinada na Bíblia a doutrina cristã católica da salvação adquirida na cruz em favor de todos, em todas as Escrituras, e nada que soe de acordo com essas terríveis afirmações acima. Calvino afirmava que Deus predestina para a condenação pelo seu próprio prazer e pela Sua Vontade. É o que continua a ser afirmado pelos reformados desde as decisões do Sínodo de Dort.

Por causa disso, muitos pensavam que não importava a vida que levassem, pois se fossem do número dos eleitos seriam salvos, se dos reprovados seriam condenados. Foi um equívoco de muitos, mas pensavam na lógica usando as premissas reformadas, como fazem alguns.

Não há muitos que creem totalmente nessa afirmação, já que logo afirmam que é necessária uma vida de boas obras também. Esse assunto já foi tratado, e deve-se lembrar que essa doutrina, fruto de conclusões contidas em certas premissas reformadas, não encontram apoio nem no meio reformado histórico. A santidade é necessária na vida cristã. Nesse ponto, o reformado concorda com o católico.


Gledson Meireles.