Razão
10: As raízes judaicas Igreja Primitiva
Os cristãos iam às
sinagogas para pregarem o evangelho. Não consta que continuassem a frequentar
as reuniões das sinagogas como parte da doutrina cristã, nem que ensinassem
essa prática aos novos convertidos.
Portanto, supor que ir
às sinagogas significava que suas reuniões religiosas eram nas sinagogas, é ensinar
algo que não se encontra em nenhum texto bíblico. Sabemos que as reuniões
propriamente cristãs eram realizadas nas casas, e especialmente no primeiro dia
da semana (At 20, 7).
O autor admite que isso
não é prova cabal de que os cristãos guardavam o sábado. Também reconhece que “isso
poderia” ser estratégia para ensinar o evangelho. Mas é preciso um pouco mais.
Os textos não apenas afirmam que eles iam às sinagogas, mas mostram que o
intuito era a pregação do nome de Jesus. Portanto, isso é algo claro.
Quanto ao fato da cisão
entre judaísmo e cristianismo ser tardia, é o que mostra a história. De fato, a
Lei santa, justa e boa em todas as suas partes foi abolida em seu aspecto
cerimonial, restando o aspecto eterno e moral, e os cristãos não a tinham como
algo negativo. Assim, é natural que continuassem com muitos dos seus preceitos
sendo guardados, pelos judeus cristãos, em maioria. Mas sua observância obrigatória
era tida como jugo de escravidão.
Então, os cristãos
judeus guardavam o sábado, iam à sinagoga, liam a Escritura e cumpriam os
mandamentos, mas não ensinavam isso como sendo doutrina cristã. Estavam livres
da Lei. É clara a posição do apóstolo dos gentios, que chegou a ser acusado de
ser contra a Lei (cf. Atos 21,21), por pregar a liberdade dos cristãos em
relação à antiga aliança. No entanto, ele mesmo se reconhecia judeu, fariseu,
fiel à Lei, cumprindo alguns preceitos.
Mas, quanto ao aspecto
puramente cristão, é notável que eles pregavam o nome de Jesus, batizavam,
celebravam a ceia do Senhor, se reuniam no primeiro dia da semana, cuidavam dos
pobres, oravam juntos, perseveravam na doutrina dos apóstolos, que já diferia
do ensino do AT nesses pontos citados e noutros mais. Desse modo, todos sabiam que
os cristãos possuíam um credo diferente.
Quanto ao relato do
evangelho de Lucas, que diz que as mulheres descansaram segundo o mandamento,
isso acontece porque naquela época todos conheciam o mandamento do sábado, como
guardado pelos judeus. Assim, não era necessário explicar do que se tratava.
Ainda, os cristãos não mais observavam o sábado, como obrigatório, mas sabiam
que os judeus sim.
Em Atos 9, 2, os
cristão frequentavam as sinagogas mas seguiam a doutrina de Cristo. Em Atos 13,
5, está escrito que pregavam a Palavra de
Deus nas sinagogas dos judeus. Talvez ao dizer “dos judeus” seria uma forma
de expressar melhor que os cristãos iam aos lugares de cultos judaicos, não
cristãos, distinguido essa ação como própria para pregarem o evangelho.
Em Atos 13, 14 São
Paulo e seus companheiros vão à sinagoga para anunciar o nome de Jesus. Isso
fica claro, pois após a pregação, a conversão de muitos, e da inveja dos judeus
locais, eles foram pregar aos pagãos: “Era
a vós que em primeiro lugar se devia anunciar a Palavra de Deus. Mas, porque a
rejeitais e vos julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os
pagãos.” (Atos 13, 46). Fica
evidente que não iam mais às sinagogas aos sábados para anunciar ali o evangelho,
pois estariam voltados à evangelização dos gentios. Quando estavam em outra
localidade, iniciavam novamente a pregação na sinagoga.
Em Atos 14, 1 “segundo
seu costume”, que pelo contexto pode ser lido do costume de ir às sinagogas
anunciar a Palavra de Deus. Isso é o mesmo que está em Atos 17, 2: Paulo dirigiu-se a eles, segundo o seu
costume, por três sábados disputou com eles. O que é corroborado no verso 17: Disputava na sinagoga com os judeus e
prosélitos, e todos os dias, na praça, com os que ali se encontravam. Aqui
é mostrado que a pregação era diária. Aos sábados iam às sinagogas para ensinar
aos judeus, e nos outros dias pregavam na praça.
Agora, comparemos com
essas outras passagens:
Atos 2, 42.46: Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos,
nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações. Havia reuniões
exclusivas para os cristãos. E também, frequentavam
todos os dias o templo. E nas casas: partiam o pão.
Atos 20, 7: No primeiro dia da semana, estando nós
reunidos. Ou seja, no dia da reunião que comumente se fazia pelos cristãos
no domingo. Então, São Lucas relata o ocorrido ali.
Atos 16, 2: No primeiro dia da semana, cada um de vós
ponha de parte o que tiver podido poupar... Isso indica o que já foi
provado nos versos anteriores, que nesse dia havia reunião cristã, e por isso
cada um deveria separar o que havia juntado.
Assim, enquanto nos
versos que mostram os cristãos indo às sinagogas é revelado que o seu objetivo
era a pregação aos judeus, nesses versos sobre o domingo fica evidente que a
reunião era cristã.
Os apóstolos pregavam
todos os dias, nas praças, e aos sábados nas sinagogas. Iam também diariamente
ao templo. E também, diariamente partiam o pão nas casas, que era a eucaristia.
E suas “reuniões em comum” eram especialmente realizadas aos domingos. As idas
ao templo e às sinagogas eram continuidade de seu modo de praticar a religião
como judeus que eram.
Em Atos 25, 7, ao dizer
“contra a lei dos judeus”, também serve para refletir que São Paulo não diz “nossa
lei”, pois em outro lugar fala da Lei de Cristo que é a lei dos cristãos.
São Paulo não estava
transgredindo nada do judaísmo, mas ao mesmo tempo, deve-se lembrar em seguida,
ele não ensinava os preceitos da lei dos judeus aos cristãos de origem gentia.
São Pedro continuava a
guardar a dieta alimentar judaica até Atos 10. De fato, ao comer com os
gentios, que nunca haviam guardado as leis dos judeus, ele poderia encontrar
alimentos que não tinha o hábito de comer, e a revelação que teve na visão
mostra que Deus purificou os alimentos.
São Tiago era líder em
Jerusalém, mas no Concílio a palavra decisiva foi a de São Pedro. As
contribuições de São Tiago são feitas fundamentadas nas palavras do apóstolo
São Pedro.
É verdade que o
afastamento entre judaísmo e cristianismo foi gradual. E os textos citados
acima mostram que isso ocorre no período apostólico, o que explica também a
posição cada vez mais clara que é encontrada nos padres da Igreja.
Por isso, as sinagogas,
com visto acima, não eram o local de adoração dos cristãos, mas locais onde
iam, como judeus que eram, para pregar o evangelho. Os novos convertidos
certamente não eram ensinados a adorar nas sinagogas, especialmente após a
visão dada a São Pedro e após o Concílio de Jerusalém. A pregação aos pagãos
era feita nas praças, e em outros lugares.
Quanto ao nome Igreja
Católica Apostólica Judaica, referindo-se ao período em estudo, o conceito é
bastante exato. De fato, a mesma Igreja Católica é “romana” apenas no sentido
histórico. Naqueles tempos, a Igreja Católica tinha sede em Jerusalém. Sendo
essa transferida a Roma. E a doutrina da Igreja sendo guardada em Roma, essa
característica ficou consagrada na tradição. O cânon bíblico correto foi
preservado em Roma, por exemplo. Os cristãos não teriam mais tarde os 27 livros
do Novo Testamento, nem os conheceriam, se isso não fosse definido pela Igreja
nos seus concílios dos primeiros séculos, incluindo a posição oficial de Roma.
O que a circuncisão
causou como controvérsia supõe algo relativo ao sábado e outras leis
cerimoniais, como já explicado. É certo também que os cristãos deixaram as leis
cerimoniais sobre a alimentação e a circuncisão, o que foi sendo feito aos
poucos, já que não havia proibição de continuar a guardar essas leis, mas
apenas o entendimento de que já não eram mais obrigatórias.
Para entender bem isso,
basta ler a Bíblia com maior atenção. Em Atos 15, 1 está escrito que: Alguns homens, descendo da Judeia,
puseram-se a ensinar aos irmãos o seguinte: “Se não vos circuncidais, segundo o
rito de Moisés, não podeis ser salvos”.
Essa passagem fica mais
clara no verso 5: “Mas levantaram-se alguns
que antes de ter abraçado a fé eram da seita dos fariseus, dizendo que era
necessário circuncidar os pagãos e impor-lhes a observância da Lei de Moisés”.
Ser circuncidado e
observar a Lei de Moisés, essa foi a questão da controvérsia. Se isso era obrigatório,
significava que não se submetendo ao rito e não observando a Lei não poderiam
ser salvos. O Concílio decidiu que não haviam de exigir a circuncisão e a
observância da Lei aos convertidos de origem pagã, mas apenas quatro regras
básicas. Então é claro que não ensinavam o sábado aos novos convertidos, assim
como não ensinavam as leis alimentares, nem sobre as festas, as luas novas, os
votos.
Dessa forma, os que
eram circuncidados a partir de então deveriam saber que o fizeram por outros
motivos, e não porque isso era necessário. Também se cumprissem algo da Lei
estavam fazendo livremente, por motivos circunstanciais. Do contrário, como
está em Gálatas 5, 2, a circuncisão significa a obrigação de guardar a Lei e
estariam separados de Cristo: se vos
circuncidardes, de nada vos servirá Cristo.
E quanto à circuncisão
e observância da Lei: E atesto novamente:
a todo homem que se circuncidar: ele está obrigado a observar toda a Lei.
Isso demonstra que São Paulo não
observava a Lei, não a ensinava aos conversos, excetuando no sentido já
explicado acima. Não se trata apenas de ser livre para circuncidar ou não, mas
de entender que a Lei não era mais obrigatória. Também, de lembrar que o
concílio de Jerusalém apenas exigiu quatro regras nesse mesmo contexto de
circuncisão e Lei, de modo que todos deviam segui-las. Os judeus devotos e
esclarecidos podiam guardar muitos preceitos da Lei, mas não impô-los a
ninguém. E a Igreja oficialmente, que crescia cada vez mais, não fazia qualquer
pregação sobre a obrigatoriedade de Lei, ainda que em fins não salvíficos, mas
pregava o evangelho, a Lei de Cristo, a lei da liberdade, que não mais continha
os preceitos antigos.
(15
Razões para guardar o Sábado – Parte 2 – Reação Adventista (wordpress.com))
Gledson Meireles.