Comentário sobre o artigo O sábado não era um problema para a Igreja Primitiva
O sábado não era
problema para os primeiros cristãos. Os cristãos observavam o domingo, mas eram
livres para observar o sábado.
Jesus aceitou a
teologia dos fariseus. Os fariseus criam na imortalidade da alma. Esse é outro fato
para os mortalistas pensarem, em especial os adventistas. Independentemente
desse fato, o estudo bíblico profundo desse tema prova que a alma é imortal. Os
católicos creem na imortalidade da alma, e todos os estudos bíblicos mostram
que essa é a doutrina. A tradição corrobora.
O fato do sábado
continuar a ser guardado pelos cristãos não é argumento de sua permanência,
como obrigação. O cristão era livre em relação ao sábado, assim como era em
relação às comidas, à circuncisão, às festas. Deve-se considerar esse
princípio.
A questão do sábado e
dos alimentos, por exemplo, eram observadas sem problemas, conquanto não fosse
empecilho para a evangelização. Controvérsias relacionadas a essas prescrições
surgiram, aos poucos, como demonstra Atos 10 e Gálatas 2. Por exemplo, alguém
que impusesse a guarda do sábado estaria em heresia, ou que dissesse ser a
circuncisão obrigatória, ou que as leis sobre os alimentos eram necessárias
para serem observadas.
São Pedro vê animais
impuros, é ordenado matar e comer. Entende que isso tem a ver com a aceitação
dos gentios. Mas é plenamente claro que isso também leva a algo a mais, como o próprio símbolo ensina, a não
mais obrigar os gentios a cumprir as leis alimentares judaicas. Imagine são
Pedro sendo convidado a um almoço na casa de um cristão de origem grega, e
imponto as regras alimentares ali, quando na visão, a ordem que ele ouviu era
para comer animais impuros.
A falta de tempo para
as obrigações religiosas cristãs não era suprida pelo culto no sábado. É certo que
todos os dias podia haver reunião, mas é aos domingos que a principal reunião
semanal acontecia. O sábado era observado, mas sempre o empenho evangelístico
impelia esse costume. Assim é que muitas vezes, ao que parece, São Paulo não
mais ia nas sinagogas, quando havia rejeição por parte da população judaica
daquela região.
O questionamento é importante:
“o gentio se torna parte da Igreja e da
fé judaica apenas aceitando a Cristo? Ou há algo mais que precisa ser feito?
Formou-se duas alas ”.
Mas, isso também trouxe
diferenças para os cristãos judeus. No início, as coisas ficaram abertas, e não
era tão claro o que deveria ser feito. Os apóstolos foram sendo levados pelo
Espírito Santo para ensinar tudo o que Jesus havia ensinado. Eles não mais
precisavam guardar a Lei. Assim, aos poucos foram conscientizando-se a respeito
da circuncisão, da alimentação, dos sacríficos do templo, das festividades e do
sábado.
Todas essas coisas
podiam permanecer, mas não podia mais ser inculcadas como parte da fé cristã.
Elas podiam ser observadas, mas não podiam entrar na Igreja como doutrina e
prática cristã. Essa é a diferença.
Os textos que são
citados, para quem se aproximava da fé
judaica (At 13:14 e 42-44, 16:11-13, 17:1-4, 18:1-4; ver também At 2:46,
3:1-3, 5:20-21, 5:42, 9:2, 13:5, 14:1, 15:21, 17:10-17, 18:19, 19:8-10), mostram
São Paulo indo às sinagogas, segundo o seu costume, e mostram também que o
motivo primordial era pregar o evangelho. E muitas passagens são cuidadosas em
revelar que assim que havia rejeição por parte dos judeus, o apóstolo
dirigia-se aos pagãos, não deixando qualquer vestígio de que aos sábados
voltasse às sinagogas.
É um fato que a guarda
do sábado não foi um ponto discutido, na Igreja, como se fosse um dado em que
os cristãos tivesse dúvidas, mas já era claro que não fazia parte das
obrigações dos cristãos. Assim as festas, as luas novas e os sábados já eram claramente
pontos pacíficos entre os cristãos, mas não entre os cristãos e os judaizantes,
na sua parte herética, que ensinava ser a circuncisão e tudo o mais, inclusive
o sábado, com certeza, necessária para a salvação, o que foi condenado no
Concílio de Jerusalém.
Certamente é disso que
o autor está tratando, embora com outro foco: “Dentre as tradições, incluía-se o vegetarianismo, os jejuns semanais em
dias fixos e maneiras específicas (geralmente ascéticas) de comer, beber,
observar festas e até o sábado.”
Para o autor, o sábado
continuava sendo guardado pelos apóstolos, e era ensinado na Igreja. Essa afirmação
não pode ser encontrada em nenhum versículo do Novo Testamento. Todas as vezes
que o sábado é mencionado, se trata de contexto que desobriga os cristãos. E
são justamente as passagens que o autor conhece (Rm 14:1-6; Gl 4:1-11 e Cl
2:16-17).
E o argumento: “Mas o problema não era a guarda do sábado em
si. Como vimos, ninguém questionava isso nos primeiros anos de Igreja. O
problema era todo um conjunto de interpretações e tradições errôneas que
estavam sendo impostas aos gentios.”
No entanto, as doutrinas
da circuncisão, das leis alimentares, das festas e do sábado são discutidas na
mesma natureza, ou seja, de que não mais eram doutrinas do Novo Testamento.
Todas poderiam ser observadas por judeus convertidos, mas não impostas, e não
exigidas dos conversos gentios, e não tornadas parte da doutrina da Igreja.
Esse ponto é o que deve ser entendido.
O modo de guardar o
sábado não foi objeto de discussão. A circuncisão já explica isso, já que é a
porta de entrada para o judaísmo.
A interpretação de que
os cristãos estavam, possivelmente, recebendo críticas quando ao modo de guardar aqueles prescrições,
como luas novas, festas, sábados, não é condizente com o que foi explicado,
harmoniosamente, acima. E é um ponto de vista que contradiz o contexto, fazendo
os cristãos serem obrigados às festividades antigas, às leis alimentares, aos
sábados, à circuncisão até, contanto que não guardem como meio de salvação, ou de forma não conforme o espírito do
evangelho. Essa leitura não pode conciliar-se com o contexto bíblico.
A suposição de que com toda a certeza a Igreja entendeu os
conselhos de São Paulo, mas que a geração
seguinte de crentes tenha esquecido, não compreendido, tomado outra
direção, em questão tão profunda quando o sábado, é muito improvável.
Expulsões, falta de contato maior com os judeus e com os hábitos não explica
muito, ainda mais em tempo tão curto. Os judeus guardavam a Lei em território
estrangeiro sob fortes perseguições. Os cristãos acostumados a guardar
prescrições não se esqueceriam tão rapidamente, e haveria indícios disso em
escritos dos padres da Igreja. Mas, nesse sentido, não existe nenhum.
A explicação de que a
Igreja como novo povo tendia a
procurar outra identidade, uma diferenciação, não explicaria de forma alguma a
adoção de um dia da semana diferente daquele que vinha sendo guardado desde os
dias apóstolos. Se a guarda do sábado tornou-se cada vez mais difícil, os
motivos que acima foram elencados explicam satisfatoriamente. Da mesma forma, a
circuncisão seria algo pacífico, não fosse os judaizantes a colocarem no rol
das práticas necessárias para alcançar a salvação.
Quais seriam as novas
tradições que teriam surgido no desejo de diferenciação? Pelo que foi dito
acima, o sábado foi sendo deixado de lado nas práticas cristãs ao passo que a
Igreja foi crescendo e as exigências judaicas diminuindo, pois os membros
judeus foram tornando-se minoria, o que está conforme foi antes colocado, pois
não se tratava de mandamento em continuidade no Novo Testamento. Mas, ainda, o
sábado tomou outra forma, e continuou a ser honrado na Igreja.
Os apóstolos não tiveram
papel de evitar os esvaziamento das raízes judaicas. Veja que São Pedro afirmou
que as obrigações legais eram um jugo
que não podiam suportar, e São Paulo era tão convicto em suas pregações sobre a
liberdade dos cristãos em relação a tudo o que foi mencionado acima, a ainda
mais, que pensavam estar contra a lei mosaica. Dessa forma, nenhum apóstolo se
esforçava para manter identidade judaica na Igreja, e o que da herança judaica
devia continuar na Igreja, isso podemos observar ainda hoje, nos costumes, na
liturgia, em certas ênfases de espiritualidade, em certas práticas e etc.
O que os apóstolos
deixaram foram princípios que explicam os desenvolvimentos posteriores.
Os apóstolos morrem,
mas ainda muitos bispos e padres católicos eram de origem judaica, que tinham
idade menor que os apóstolos, os nascidos mais próximos do ano 100, e,
portanto, esforçaram-se para manter fiel a mensagem do evangelho.
No comentário sobre os
padres da Igreja em relação ao sábado, o leitor poder encontrar algumas ideias
para entender melhor a posição dos padres quanto ao sábado.
Os motivos que levaram
concílios do quarto século a promulgar leis que dificultavam as relação entre
judeus e cristãos foram circunstanciais. Basta ver que o sábado é entendido
como parte da Antiga Aliança, em uma bela teologia, explicada e mesmo
desenvolvida pelos padres da Igreja, ao lado do domingo, sempre considerado o
dia em que os cristãos celebravam a missa, o dia da ressurreição, do dia do
Senhor.
Por isso, ainda que
certas afirmações na tese do abandono do sábado façam sentido, ela não está
conforme os dados do Novo Testamento, e os escritos desde o segundo século em
diante.
Portanto, os cristãos
não mais guardam o sábado, mas isso não foi um desvio, já que desde o primeiro momento a guarda do sábado foi de escolha
livre na Igreja. A observância dominical é, portanto, de origem apostólica.
Gledson Meireles.
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