O artigo que serviu de base para o comentário abaixo é: Qual é a primeira lista completa do Canon do Novo Testamento?
Santo Atanásio, em 367,
fornece a lista de livros do Novo Testamento. É o primeiro documento que traz a
lista total. O autor afirma que isso não pode ser indício de que o cânon é
tardio, pois não se pode medir a
existência do Novo Testamento apenas pela
existência de listas. A forma como livros eram usados evidencia um cânon
funcional.
Pois bem. As listas são
documentos históricos, fontes que revelam o que estava ocorrendo em determinado
período, e portanto se a primeira documentação é do século IV, ano 367, é
porque, possivelmente, com muita probabilidade, antes disso havia dúvida e o
cânon não estava fechado.
Pensando em algum dogma
cristão, se um documento é do quarto século o protestante irá afirmar que é
bastante tardio, e que o documento, virtualmente pode-se dizer, pois é o que
substancia a argumentação protestante, o documento seria a prova de que antes
tal dogma era desconhecido, tal doutrina não existia, não tinha tomado forma, não
havia sido desenvolvida. E não adianta mostrar evidências indiretas de elemetos
doutrinais tratados anteriormente. Mas, quando o assunto é algo em que há
concordância entre católicos e protestantes, como é o cânon do NT, então as
listas apenas não falam tanto.
E qual o motivo disso?
É certamente porque sendo as listas bem tardias, é fato que o cânon não era de
conhecimento geral na Igreja, não havia uma definição formal, os cristãos não
sabiam ao certo quais eram os livros inspirados com cem por cento de certeza.
No entanto, o protestante que afirma que o cânon se impôs e foi sendo recebido e reconhecido por toda a Igreja,
pelas comunidades locais, sem a necessidade de uma autoridade, de concílios e
etc., que definissem o cânon, então as listas de fato não podem medir tanto. É apenas para uma reflexão.
Então, continuando, ao
afirmar que havia um cânon funcional,
o argumento não acrescenta absolutamente
nada ao que a Igreja Católica ensina. De fato, quanto mais próximo dos
apóstolos são os documentos, os livros bíblicos são citados, tanto os do
Antigo, quanto os do Novo Testamento, como Escritura inspirada, e portanto
havia a consciência canônica, o que não necessariamente, e não factualmente,
significa que o cânon fosse definido. O argumento é esse, e portanto está
estabelecido, sendo impossível negar.
Se o cânon do NT era
para Orígenes mais estável do que se imagina e estava amplamente resolvido, não muda o caso, já que em todo o
período que se segue, até fins do século quarto, a definição geral não foi
alcançada.
E quanto à
infalibilidade da Igreja, em questões de fé e moral, e na questão da definição
do cânon, que é imprescindível para a salvação, já que é do conhecimento da
Bíblia, e de Cristo, por implicação, que está atrelado todo o processo, o autor
acredita na falibilidade da Igreja, ainda que tenha certeza de que a mesma não
errou ao receber os 27 livros do Novo Testamento, conforme o testemunho
histórico.
Mas, o raciocínio que
utiliza, ainda que interessante, não faz do argumento católicos “tão ruim”,
como afirma, pois a posição católica continua solidamente de pé, mesmo diante
da argumentação que o autor propõe. “Do
que adianta um magistério infalível, se os fieis que terão que receber e
interpretar a mensagem são falíveis? A possibilidade de se interpretar errado
continua de pé.”
A Bíblia é infalível,
inspirada, inerrante. Coloque a Escritura no lugar de magistério infalível e
perceberá que o argumento não é correto: “Do
que adianta uma Escritura Sagrada infalível, se os fieis que terão que receber
e interpretar a mensagem são falíveis? A possibilidade de se interpretar errado
continua de pé.”. É verdade. Portanto, temos que partir de raciocínios,
sobre princípios bem sólidos, que nos deem certeza de que em tal lugar podemos
crer com certeza absoluta. Isso é verdade em relação à Bíblia, que sabemos ser
a Palavra de Deus, como da Igreja, pelo mesmo processo.
Portanto, é um assunto
bastante profundo, complexo, de sutilidade impressionante que escapou ao autor.
Se a primeira lista é
de Santo Atanásio ou não, se está clara ou não em Orígenes, etc., é algo que
faz parte dos estudos, muito importantes para entender o processo de decisão
eclesiástica a respeito do cânon, mas não contem nenhuma dificuldade para a
posição católica.
Certamente aqui, então,
se tem em vista negar o papel da autoridade eclesiástica na definição infalível
do cânon. Mas os mesmos princípios são usados de forma incoerente quanto se
trata de provar doutrinas e dogmas, por mais claros que sejam.
E para terminar, pense
a respeito de uma afirmação de um santo do quarto século. Santo Epifânio no
quarto século escreveu que não era possível saber se Maria morreu ou não. Isso
é interpretado pelos protestantes como sendo um testemunho de desconhecimento
do dogma da assunção, que foi definido com 1950. Que o leitor reflita.
Gledson Meireles.
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