Primeiro, será mostrado como o Novo Testamento ensina que a vida que Jesus Cristo dá ao salvo já é participação no reino, já é a vida eterna, e por isso supõe que não há quebra nessa vida.
Após isso, será estudado um artigo que tenta refutar a doutrina da imortalidade da alma.
A vida eterna
O Dr. Samuele
Bacchiochi afirma que a alma é o aspecto físico da vida, e também que Jesus
expandiu e incluiu o sentido de vida eterna para o termo alma, que conteria a
vida física e a vida que vai além da presente existência. O presente estudo irá
testar essa hipótese para certificar-se até onde ela é plausível, e se pode
negar a imortalidade da alma.
Portanto,
eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por
vosso corpo, pelo que vestireis...” (Mateus 6, 25). O sentido de alma em Mateus 6,25 é o de vida. A distinção com o corpo é
compreensível. A vida é mantida por alimento e bebida, e o corpo é cuidado com
as veste. Mas, esse sentido é diverso do que se encontra em Mateus 10, 28, pois
aqui a vida pode ser perdida, e é mantida por alimento. Em 10, 28 a vida não
pode ser atingida pelos homens.
Porque
aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver
sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la
(Mt 16, 25). Também aqui o sentido é o de vida, que pode ser perdida e
recobrada. Trata-se, portanto, da ressureição, e da vida eterna, a vida que não
terá fim.
Por isso, não se pode
dizer exatamente que o termo alma
tenha o adquirido o sentido de vida eterna, mas trata-se da vida que será tida
de volta e durará para sempre. Não se pode dessa passagem negar a imortalidade
da alma.
Perder a vida (alma) e
salvá-la tem a ver com a alma, mas o sentido primeiro é o de vida física. Essa
pode cessar e pode ser reativada na ressurreição. É disso que o Senhor está
falando. No entanto, está implícito também o sentido de alma espiritual, como
será visto mais adiante.
Quem
ama a sua vida irá perdê-la; mas quem odeia a sua vida neste mundo, irá
conservá-la para a vida eterna (João 12, 25). Trata-se
também da vida física, que pode ser perdida, e deve ser tida como menor em
comparação com o dom da vida que não terá fim. Por isso, perder a vida aqui não é perder a alma espiritual, mas a vida física
mesmo. Perdendo a vida física por causa de Cristo alcançará a vida eterna. O
conceito de alma espiritual está “embutido” nesse processo.
O texto de João 6, 58
poderia ser interpretado como se os salvos do Antigo Testamento não fossem
ressuscitar. De fato, comeram o maná, mas morreram.
Essa morte é física, certamente, e não espiritual, pois doutro modo se estaria
dizendo que comeram o maná e ainda assim foram condenados, o que não é o caso.
Mas, quando Jesus
afirma de Si mesmo, diz que Quem come
deste pão viverá eternamente, o que parece afirmar que não haverá a morte
física. Contudo, não é isso, e, portanto, é preciso ter o contexto bíblico mais
amplo para aprender essas verdades.
O maná era uma comida
do céu, vinda milagrosamente, mas servia para manter a vida física. Jesus é a
comida espiritual, que dá a vida eterna. Isso mostra que o salvo já participa
da vida em Cristo, está ressuscitado, e, portanto, está na alegria da salvação,
na vida que não pode ser destruída. E, ainda, está com a garantia da
ressurreição.
Sendo assim, não se
pode crer no sono da alma, nem na cessação da existência ou na morte da alma.
Uma vez que o salvo tem a vida eterna,
e já está ressuscitado com Cristo, espiritualmente, o que garante a
ressurreição da carne, que proveito teria na
morte se, ainda assim, ela fosse o fim da existência, à espera da vinda de
Cristo para ser novamente criado?
Jesus afirma que mesmo
os mortos ressurgirão, e os vivos não morrerão (cf. João 6, 25-26). Pode-se
entender dos mortos, como Lázaro, que foi ressuscitado, e que serão
ressuscitados no último dia, e dos vivos, que estão na graça, nasceram em
Cristo, e não morrerão. Como isso
seria possível se a morte daria fim à alma dos salvos, cessando a existência?
Não faz sentido, porque mesmo crendo em Cristo teriam a morte, e a perda
momentânea da graça da vida eterna.
Obviamente, o texto não
exclui a morte natural. O que está afirmando é que o salvo já em vida usufrui
da vida eterna, e que isso ocorre mesmo na morte. É compreensível que na morte
o salvo espera pela ressurreição reinando com Cristo na glória. Mas, no
mortalismo, na morte não há absolutamente nada, ficando patente que há algo
nessa doutrina que não harmoniza-se com as palavras de Jesus.
Pelo batismo já estamos
vivos para Deus, em Cristo Jesus (cf.
Rm 6, 11). Isso seria danificado pelo conceito de morte da alma. Como o salvo é
vivo em Cristo, estando vivo fisicamente e também vivo espiritualmente para
Deus, ele continuará vivo ainda que no estado de morte física. É a implicação
da doutrina. Assim, a morte natural não impedirá usufruir a vida da graça para
Deus em Cristo. Dessa forma, implica o estado intermediário, onde a alma do
salvo já vive com Deus.
Outra passagem que
sugere a vida na morte é 2 Coríntios 5, 8-9, onde saindo do corpo e partindo para habitar com Cristo é o
mesmo que agradar a Deus estando ausente. E, mais, é viver em
união com Cristo, ainda que estiver no
sono. É possível “viver” com
Cristo em estado de vigília, que é estar acordado e vivo, usufruindo da vida
física no corpo, ou no sono, dormindo, após a morte, que é estando morto
fisicamente e vivo espiritualmente.
Esse ensino bíblico de
que a vida da graça é dada já neste
mundo é difícil de conciliar com a “morte da alma”, pois isso cessaria o ser,
resultando o fim da vida da graça, dando fim à vida eterna já experimentada
pelo salvo neste mundo. Seria a vida eterna impedida pela morte, pois no estado
intermediário não haveria existência do salvo.
Se a morte sela o fim
para o ser humano, colocando-o na inexistência, salvos e perdidos mortos não
usufruiriam de mais nada. Nesse momento salvos e condenados estariam em igual
situação, não podendo ter a graça de Deus.
No entanto, Jesus
afirma que os crentes não morrerão.
Isso não pode ser fisicamente, já que a morte continua em voga, e a Bíblia
afirma que a morte será o último inimigo a ser destruído. Então, se a vida
eterna já possuída pela fé “cessa” na morte, como explicar isso, onde o que é
eterno deixará de existir por um período longo e voltará a ser reabilitado apenas
na volta de Jesus?
Essa vida só pode ser
espiritual. Dessa forma, o morto continua a experimentar a vida da graça. O
condenando, que está vivo neste mundo, e morto pela perspectiva da graça,
morrerá, fisicamente, como o salvo, mas também espiritualmente, por não ter
tido e exercido a fé em Jesus Cristo. Assim, o que é condenado morrerá. O salvo
não morrerá.
Se a morte fosse o fim
da existência, os dois morreriam. O salvo e o condenado morreriam, deixando de
existir, e a diferença estaria apenas na vida após a ressurreição, onde somente
o condenado morreria. A sentença então é somente para a morte eterna.
No entanto, na
perspectiva da imortalidade da alma, isso é mais claramente compreendido. O
salvo morre assim como o condenado, mas continua a viver para Deus em Jesus
Cristo, reinando com ele, no céu, pela graça, enquanto o condenando experimenta
a separação de Deus pela morte espiritual.
O morto em Cristo será
ressuscitado, mas também o condenado passará pela ressurreição. Assim, não é
apenas a retomada da vida que está sendo distinguida aí, mas a vida pela graça. O morto salvo viverá na
ressurreição. O vivo salvo não passará pela morte. Sendo comum essa vida eterna na graça a todos os salvos,
vivos e mortos, então não há cessação de existência.
Com isso em consideração,
entende-se melhor a visão de Apocalipse 20, 4, onde as almas são vistas
sentadas em tronos. Logo, após, São João explica que são os mártires que voltaram
a viver e reinaram com Cristo por mil anos. Esses mil anos certamente são o
estado intermediário, já que os outros mortos não voltam à vida, que é a
ressurreição corporal. Se é a vida da graça, então as almas não estavam “mortas”
no sentido de inconsciência ou mesmo de inexistência, mas isso apenas significa
que a graça permite a glória da alma antes da ressurreição da carne.
Textos que falam da imortalidade da alma
No artigo, o autor
tentou uma explicação “mais plausível” para os textos que tratam da imortalidade
da alma. De fato, esses textos mostram os salvos com Deus, o que implica em
afirmar que a alma é imortal.
A Bíblia não mostra a
imortalidade da alma como a esperança cristã, mas a ressurreição dos mortos. No
entanto, essa doutrina é derivada da Bíblia, e é entendida por implicação em várias
passagens.
Por isso, ao falar da
ressurreição é pressuposta a imortalidade da alma. De fato, Deus é Deus dos
vivos, porque para Ele todos vivem. É importante notar esse realismo para Deus,
pois é difícil pensar que Deus pense “como se” tivessem vivos. É mais provável
que estejam vivos na graça, e por isso vivem para Deus.
O Antigo Testamento
tinha uma noção bastante reduzida a respeito do estado dos mortos. Mas, isso não
significa que não cressem na alma. Em 1 Sm 28, 15 vemos Samuel (na verdade, a
sua alma) falando com o rei Saul, afirmando que “subiu” à terra para conversar
com ele.
A crença de Saul e dos
seus contemporâneos, era de que os mortos estão no sheol. De fato, se não cressem que os mortos existissem espiritualmente,
não haveria nenhuma possibilidade de pensar em consultá-los.
Todo o relato do capítulo
deixa claro que se trata de Samuel e a falta de qualquer negação bíblica sobre
a realidade da alma imortal, nessa passagem, provam que a doutrina da imortalidade
da alma é totalmente bíblica.
Afirmar que foi um demônio
que apareceu no lugar de Samuel pode enfraquecer a argumentação, mas ainda
assim era crença de Saul e do Povo de Israel que as almas existem após a morte.
Se ainda assim, disser que essa crença estava errada, e não era de todo o povo,
percebe-se que Saul cria firmemente nisso. Alguém poderá dizer que apenas isso
prova que o rei estava errado.
Mas, ainda um
argumento. A Bíblia afirma que realmente foi Samuel quem apareceu, e não contexto
não há nada que possa ser encontrado contra a imortalidade da alma. E, assim,
se mostra que os argumentos mortalistas, em textos mais claros, se mostram
fracos.
Interessante a
interpretação dada, de que o corpo é corpo e a alma é o “eu” que virá reabitar
o corpo. Então, o corpo destruído não é o “eu”, que saiu e foi destruído também,
mas que será recriado e colocado no corpo novamente. É uma possibilidade de
leitura da explicação dada.
A tentativa foi
interessante, mas afirmar que o corpo não é a pessoa inteira, e que a personalidade
dorme, não ajudou o caso, já que para o mortalismo a morte do corpo, na visão
holista, onde nada se separa, é a extinção, no mesmo corpo, da personalidade.
Atingir o corpo é matar também a personalidade. O problema com essas leituras
para explicar o texto claro de Mateus 10, 28 é que elas demostram o erro de doutrina.
E, ainda. O texto diz
que Deus pode lançar corpo e alma na geena.
Imagine corpo e personalidade como a leitura aqui. Os homens não matam a
personalidade, mas na visão mortalista essa mesma personalidade que não foi
morta pelos homens, morreu igualmente na morte do corpo, que foi morto pelos homens. Não faz sentido.
Afirmar que a corrupção
da personalidade é que faz perecer tudo, corpo e personalidade, é uma estratégia
também interessante, mas não está no contexto. De fato, as tentativas de
explicar essa passagem sempre naufragam. E a mesma fica mais forte ao longo das
explicações da imortalidade da alma por todo o livro. Basta conferir.
Em Lucas 23, 43 o bom
ladrão esperava entrar no Reino quando esse fosse estabelecido, volta de
Cristo. Mas Jesus afirma que naquele dia, hoje,
estaria com Ele no Paraíso. Foi impressionante. Eles desceram à mansão dos
mortos e subiram ao céu quando Jesus voltou para o céu na ascensão.
O texto de Filipenses
1, 23 é irrefutável. A morte é lucro para o cristão. Se a vida é Cristo, como a
morte seria mais? É o fato do encontro com Cristo que faz da morte ser melhor
que a vida física.
Outra realidade, é que
São Paulo estava deixando os cristãos, e portanto cria que estaria com Cristo
antes deles, o que não faz sentido explicar que o apóstolo estava pensando,
nesse momento, na ressurreição.
Será que o “partir” e
estar com Cristo apenas significa que a morte “não era pesada” para o apóstolo
São Paulo? Que dizer dessa explicação: “Ao
sair deste mundo, mesmo entrando num estado de sono inconsciente que poderia
durar séculos, ele seria ressuscitado, passando a estar com Cristo no segundo
seguinte.”
No entanto, nesse dia
todos estarão com Cristo. O que São Paulo deixa claro no momento é que sua
morte estava se aproximando, e desejaria que fosse logo, para estar com Cristo,
e não para esperar tanto, em inexistência. Pode-se notar o quanto essa interpretação
não se harmoniza em nada com o que São Paulo está tratando. E o arrebatamento
seria uma interpretação possível aqui? Certamente não. Isso porque em 2 Cor 5,
8 o “ausentar-se” do corpo é idêntico ao “partir e estar com Cristo” aqui. Se
trata da morte.
A possibilidade de estar fora do corpo (2 Cor 12, 2-3) e as almas debaixo do altar (Ap 6, 9) são, de fato, alusão à imortalidade da alma. Entretanto, as almas recebem vestes brancas para aguardar o juízo de Deus sobre a terra. Isso significa que de alguma forma participam, na glória, antes da ressurreição. O altar, os gritos, as vestes, o repouso, tudo é simbólico, afirmando algo que se passa com os mortos, do lugar e do estado que as almas estão.
Algo inexistente recebendo vestes
antes da ressurreição não faria sentido, seria uma ação espiritual de Deus para
os mortos que não teria nenhuma validade, já que não existiriam. Portanto, essa
leitura é igualmente problemática.
Gledson Meireles.
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