segunda-feira, 16 de maio de 2022

Reação Adventista: imortalidade da alma

Primeiro, será mostrado como o Novo Testamento ensina que a vida que Jesus Cristo dá ao salvo já é participação no reino, já é a vida eterna, e por isso supõe que não há quebra nessa vida.

Após isso, será estudado um artigo que tenta refutar a doutrina da imortalidade da alma.


A vida eterna

O Dr. Samuele Bacchiochi afirma que a alma é o aspecto físico da vida, e também que Jesus expandiu e incluiu o sentido de vida eterna para o termo alma, que conteria a vida física e a vida que vai além da presente existência. O presente estudo irá testar essa hipótese para certificar-se até onde ela é plausível, e se pode negar a imortalidade da alma.

Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis...” (Mateus 6, 25). O sentido de alma em Mateus 6,25 é o de vida. A distinção com o corpo é compreensível. A vida é mantida por alimento e bebida, e o corpo é cuidado com as veste. Mas, esse sentido é diverso do que se encontra em Mateus 10, 28, pois aqui a vida pode ser perdida, e é mantida por alimento. Em 10, 28 a vida não pode ser atingida pelos homens.

Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la (Mt 16, 25). Também aqui o sentido é o de vida, que pode ser perdida e recobrada. Trata-se, portanto, da ressureição, e da vida eterna, a vida que não terá fim.

Por isso, não se pode dizer exatamente que o termo alma tenha o adquirido o sentido de vida eterna, mas trata-se da vida que será tida de volta e durará para sempre. Não se pode dessa passagem negar a imortalidade da alma.

Perder a vida (alma) e salvá-la tem a ver com a alma, mas o sentido primeiro é o de vida física. Essa pode cessar e pode ser reativada na ressurreição. É disso que o Senhor está falando. No entanto, está implícito também o sentido de alma espiritual, como será visto mais adiante.

Quem ama a sua vida irá perdê-la; mas quem odeia a sua vida neste mundo, irá conservá-la para a vida eterna (João 12, 25). Trata-se também da vida física, que pode ser perdida, e deve ser tida como menor em comparação com o dom da vida que não terá fim. Por isso, perder a vida aqui não é perder a alma espiritual, mas a vida física mesmo. Perdendo a vida física por causa de Cristo alcançará a vida eterna. O conceito de alma espiritual está “embutido” nesse processo.

O texto de João 6, 58 poderia ser interpretado como se os salvos do Antigo Testamento não fossem ressuscitar. De fato, comeram o maná, mas morreram. Essa morte é física, certamente, e não espiritual, pois doutro modo se estaria dizendo que comeram o maná e ainda assim foram condenados, o que não é o caso.

Mas, quando Jesus afirma de Si mesmo, diz que Quem come deste pão viverá eternamente, o que parece afirmar que não haverá a morte física. Contudo, não é isso, e, portanto, é preciso ter o contexto bíblico mais amplo para aprender essas verdades.

O maná era uma comida do céu, vinda milagrosamente, mas servia para manter a vida física. Jesus é a comida espiritual, que dá a vida eterna. Isso mostra que o salvo já participa da vida em Cristo, está ressuscitado, e, portanto, está na alegria da salvação, na vida que não pode ser destruída. E, ainda, está com a garantia da ressurreição.

Sendo assim, não se pode crer no sono da alma, nem na cessação da existência ou na morte da alma. Uma vez que o salvo tem a vida eterna, e já está ressuscitado com Cristo, espiritualmente, o que garante a ressurreição da carne, que proveito teria na morte se, ainda assim, ela fosse o fim da existência, à espera da vinda de Cristo para ser novamente criado?

Jesus afirma que mesmo os mortos ressurgirão, e os vivos não morrerão (cf. João 6, 25-26). Pode-se entender dos mortos, como Lázaro, que foi ressuscitado, e que serão ressuscitados no último dia, e dos vivos, que estão na graça, nasceram em Cristo, e não morrerão. Como isso seria possível se a morte daria fim à alma dos salvos, cessando a existência? Não faz sentido, porque mesmo crendo em Cristo teriam a morte, e a perda momentânea da graça da vida eterna.

Obviamente, o texto não exclui a morte natural. O que está afirmando é que o salvo já em vida usufrui da vida eterna, e que isso ocorre mesmo na morte. É compreensível que na morte o salvo espera pela ressurreição reinando com Cristo na glória. Mas, no mortalismo, na morte não há absolutamente nada, ficando patente que há algo nessa doutrina que não harmoniza-se com as palavras de Jesus.

Pelo batismo já estamos vivos para Deus, em Cristo Jesus (cf. Rm 6, 11). Isso seria danificado pelo conceito de morte da alma. Como o salvo é vivo em Cristo, estando vivo fisicamente e também vivo espiritualmente para Deus, ele continuará vivo ainda que no estado de morte física. É a implicação da doutrina. Assim, a morte natural não impedirá usufruir a vida da graça para Deus em Cristo. Dessa forma, implica o estado intermediário, onde a alma do salvo já vive com Deus.

Outra passagem que sugere a vida na morte é 2 Coríntios 5, 8-9, onde saindo do corpo e  partindo para habitar com Cristo é o mesmo que agradar a Deus estando ausente. E, mais, é viver em união com Cristo, ainda que estiver no sono. É possível “viver” com Cristo em estado de vigília, que é estar acordado e vivo, usufruindo da vida física no corpo, ou no sono, dormindo, após a morte, que é estando morto fisicamente e vivo espiritualmente.

Esse ensino bíblico de que a vida da graça é dada já neste mundo é difícil de conciliar com a “morte da alma”, pois isso cessaria o ser, resultando o fim da vida da graça, dando fim à vida eterna já experimentada pelo salvo neste mundo. Seria a vida eterna impedida pela morte, pois no estado intermediário não haveria existência do salvo.

Se a morte sela o fim para o ser humano, colocando-o na inexistência, salvos e perdidos mortos não usufruiriam de mais nada. Nesse momento salvos e condenados estariam em igual situação, não podendo ter a graça de Deus.

No entanto, Jesus afirma que os crentes não morrerão. Isso não pode ser fisicamente, já que a morte continua em voga, e a Bíblia afirma que a morte será o último inimigo a ser destruído. Então, se a vida eterna já possuída pela fé “cessa” na morte, como explicar isso, onde o que é eterno deixará de existir por um período longo e voltará a ser reabilitado apenas na volta de Jesus?

Essa vida só pode ser espiritual. Dessa forma, o morto continua a experimentar a vida da graça. O condenando, que está vivo neste mundo, e morto pela perspectiva da graça, morrerá, fisicamente, como o salvo, mas também espiritualmente, por não ter tido e exercido a fé em Jesus Cristo. Assim, o que é condenado morrerá. O salvo não morrerá.

Se a morte fosse o fim da existência, os dois morreriam. O salvo e o condenado morreriam, deixando de existir, e a diferença estaria apenas na vida após a ressurreição, onde somente o condenado morreria. A sentença então é somente para a morte eterna.

No entanto, na perspectiva da imortalidade da alma, isso é mais claramente compreendido. O salvo morre assim como o condenado, mas continua a viver para Deus em Jesus Cristo, reinando com ele, no céu, pela graça, enquanto o condenando experimenta a separação de Deus pela morte espiritual.

O morto em Cristo será ressuscitado, mas também o condenado passará pela ressurreição. Assim, não é apenas a retomada da vida que está sendo distinguida aí, mas a vida pela graça. O morto salvo viverá na ressurreição. O vivo salvo não passará pela morte. Sendo comum essa vida eterna na graça a todos os salvos, vivos e mortos, então não há cessação de existência.

Com isso em consideração, entende-se melhor a visão de Apocalipse 20, 4, onde as almas são vistas sentadas em tronos. Logo, após, São João explica que são os mártires que voltaram a viver e reinaram com Cristo por mil anos. Esses mil anos certamente são o estado intermediário, já que os outros mortos não voltam à vida, que é a ressurreição corporal. Se é a vida da graça, então as almas não estavam “mortas” no sentido de inconsciência ou mesmo de inexistência, mas isso apenas significa que a graça permite a glória da alma antes da ressurreição da carne.


Textos que falam da imortalidade da alma

Agora, é possível compreender muitos textos bíblicos que mostram mais diretamente que a alma vai para junto de Deus após a morte. Há uma explicação mortalista para eles, mas isso será estudado logo a seguir, tendo em consideração o artigo Os textos bíblicos que parecem favorecer a imortalidade inata da alma.

No artigo, o autor tentou uma explicação “mais plausível” para os textos que tratam da imortalidade da alma. De fato, esses textos mostram os salvos com Deus, o que implica em afirmar que a alma é imortal.

A Bíblia não mostra a imortalidade da alma como a esperança cristã, mas a ressurreição dos mortos. No entanto, essa doutrina é derivada da Bíblia, e é entendida por implicação em várias passagens.

Por isso, ao falar da ressurreição é pressuposta a imortalidade da alma. De fato, Deus é Deus dos vivos, porque para Ele todos vivem. É importante notar esse realismo para Deus, pois é difícil pensar que Deus pense “como se” tivessem vivos. É mais provável que estejam vivos na graça, e por isso vivem para Deus.

O Antigo Testamento tinha uma noção bastante reduzida a respeito do estado dos mortos. Mas, isso não significa que não cressem na alma. Em 1 Sm 28, 15 vemos Samuel (na verdade, a sua alma) falando com o rei Saul, afirmando que “subiu” à terra para conversar com ele.

A crença de Saul e dos seus contemporâneos, era de que os mortos estão no sheol. De fato, se não cressem que os mortos existissem espiritualmente, não haveria nenhuma possibilidade de pensar em consultá-los.

Todo o relato do capítulo deixa claro que se trata de Samuel e a falta de qualquer negação bíblica sobre a realidade da alma imortal, nessa passagem, provam que a doutrina da imortalidade da alma é totalmente bíblica.

Afirmar que foi um demônio que apareceu no lugar de Samuel pode enfraquecer a argumentação, mas ainda assim era crença de Saul e do Povo de Israel que as almas existem após a morte. Se ainda assim, disser que essa crença estava errada, e não era de todo o povo, percebe-se que Saul cria firmemente nisso. Alguém poderá dizer que apenas isso prova que o rei estava errado.

Mas, ainda um argumento. A Bíblia afirma que realmente foi Samuel quem apareceu, e não contexto não há nada que possa ser encontrado contra a imortalidade da alma. E, assim, se mostra que os argumentos mortalistas, em textos mais claros, se mostram fracos.

Interessante a interpretação dada, de que o corpo é corpo e a alma é o “eu” que virá reabitar o corpo. Então, o corpo destruído não é o “eu”, que saiu e foi destruído também, mas que será recriado e colocado no corpo novamente. É uma possibilidade de leitura da explicação dada.

A tentativa foi interessante, mas afirmar que o corpo não é a pessoa inteira, e que a personalidade dorme, não ajudou o caso, já que para o mortalismo a morte do corpo, na visão holista, onde nada se separa, é a extinção, no mesmo corpo, da personalidade. Atingir o corpo é matar também a personalidade. O problema com essas leituras para explicar o texto claro de Mateus 10, 28 é que elas demostram o erro de doutrina.

E, ainda. O texto diz que Deus pode lançar corpo e alma na geena. Imagine corpo e personalidade como a leitura aqui. Os homens não matam a personalidade, mas na visão mortalista essa mesma personalidade que não foi morta pelos homens, morreu igualmente na morte do corpo, que foi morto pelos homens. Não faz sentido.

Afirmar que a corrupção da personalidade é que faz perecer tudo, corpo e personalidade, é uma estratégia também interessante, mas não está no contexto. De fato, as tentativas de explicar essa passagem sempre naufragam. E a mesma fica mais forte ao longo das explicações da imortalidade da alma por todo o livro. Basta conferir.

Em Lucas 23, 43 o bom ladrão esperava entrar no Reino quando esse fosse estabelecido, volta de Cristo. Mas Jesus afirma que naquele dia, hoje, estaria com Ele no Paraíso. Foi impressionante. Eles desceram à mansão dos mortos e subiram ao céu quando Jesus voltou para o céu na ascensão.

O texto de Filipenses 1, 23 é irrefutável. A morte é lucro para o cristão. Se a vida é Cristo, como a morte seria mais? É o fato do encontro com Cristo que faz da morte ser melhor que a vida física.

Outra realidade, é que São Paulo estava deixando os cristãos, e portanto cria que estaria com Cristo antes deles, o que não faz sentido explicar que o apóstolo estava pensando, nesse momento, na ressurreição.

Será que o “partir” e estar com Cristo apenas significa que a morte “não era pesada” para o apóstolo São Paulo? Que dizer dessa explicação: “Ao sair deste mundo, mesmo entrando num estado de sono inconsciente que poderia durar séculos, ele seria ressuscitado, passando a estar com Cristo no segundo seguinte.

No entanto, nesse dia todos estarão com Cristo. O que São Paulo deixa claro no momento é que sua morte estava se aproximando, e desejaria que fosse logo, para estar com Cristo, e não para esperar tanto, em inexistência. Pode-se notar o quanto essa interpretação não se harmoniza em nada com o que São Paulo está tratando. E o arrebatamento seria uma interpretação possível aqui? Certamente não. Isso porque em 2 Cor 5, 8 o “ausentar-se” do corpo é idêntico ao “partir e estar com Cristo” aqui. Se trata da morte.

A possibilidade de estar fora do corpo (2 Cor 12, 2-3) e as almas debaixo do altar (Ap 6, 9) são, de fato, alusão à imortalidade da alma. Entretanto, as almas recebem vestes brancas para aguardar o juízo de Deus sobre a terra. Isso significa que de alguma forma participam, na glória, antes da ressurreição. O altar, os gritos, as vestes, o repouso, tudo é simbólico, afirmando algo que se passa com os mortos, do lugar e do estado que as almas estão.

Algo inexistente recebendo vestes antes da ressurreição não faria sentido, seria uma ação espiritual de Deus para os mortos que não teria nenhuma validade, já que não existiriam. Portanto, essa leitura é igualmente problemática.

Gledson Meireles.

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