quinta-feira, 19 de maio de 2022

O cânon do Novo Testamento e os princípios protestantes

O artigo que serviu de base para o comentário abaixo é: Qual é a primeira lista completa do Canon do Novo Testamento?

Santo Atanásio, em 367, fornece a lista de livros do Novo Testamento. É o primeiro documento que traz a lista total. O autor afirma que isso não pode ser indício de que o cânon é tardio, pois não se pode medir a existência do Novo Testamento apenas pela existência de listas. A forma como livros eram usados evidencia um cânon funcional.

Pois bem. As listas são documentos históricos, fontes que revelam o que estava ocorrendo em determinado período, e portanto se a primeira documentação é do século IV, ano 367, é porque, possivelmente, com muita probabilidade, antes disso havia dúvida e o cânon não estava fechado.

Pensando em algum dogma cristão, se um documento é do quarto século o protestante irá afirmar que é bastante tardio, e que o documento, virtualmente pode-se dizer, pois é o que substancia a argumentação protestante, o documento seria a prova de que antes tal dogma era desconhecido, tal doutrina não existia, não tinha tomado forma, não havia sido desenvolvida. E não adianta mostrar evidências indiretas de elemetos doutrinais tratados anteriormente. Mas, quando o assunto é algo em que há concordância entre católicos e protestantes, como é o cânon do NT, então as listas apenas não falam tanto.

E qual o motivo disso? É certamente porque sendo as listas bem tardias, é fato que o cânon não era de conhecimento geral na Igreja, não havia uma definição formal, os cristãos não sabiam ao certo quais eram os livros inspirados com cem por cento de certeza. No entanto, o protestante que afirma que o cânon se impôs e foi sendo recebido e reconhecido por toda a Igreja, pelas comunidades locais, sem a necessidade de uma autoridade, de concílios e etc., que definissem o cânon, então as listas de fato não podem medir tanto. É apenas para uma reflexão.

Então, continuando, ao afirmar que havia um cânon funcional, o argumento não acrescenta absolutamente nada ao que a Igreja Católica ensina. De fato, quanto mais próximo dos apóstolos são os documentos, os livros bíblicos são citados, tanto os do Antigo, quanto os do Novo Testamento, como Escritura inspirada, e portanto havia a consciência canônica, o que não necessariamente, e não factualmente, significa que o cânon fosse definido. O argumento é esse, e portanto está estabelecido, sendo impossível negar.

Se o cânon do NT era para Orígenes mais estável do que se imagina e estava amplamente resolvido, não muda o caso, já que em todo o período que se segue, até fins do século quarto, a definição geral não foi alcançada.

E quanto à infalibilidade da Igreja, em questões de fé e moral, e na questão da definição do cânon, que é imprescindível para a salvação, já que é do conhecimento da Bíblia, e de Cristo, por implicação, que está atrelado todo o processo, o autor acredita na falibilidade da Igreja, ainda que tenha certeza de que a mesma não errou ao receber os 27 livros do Novo Testamento, conforme o testemunho histórico.

Mas, o raciocínio que utiliza, ainda que interessante, não faz do argumento católicos “tão ruim”, como afirma, pois a posição católica continua solidamente de pé, mesmo diante da argumentação que o autor propõe. “Do que adianta um magistério infalível, se os fieis que terão que receber e interpretar a mensagem são falíveis? A possibilidade de se interpretar errado continua de pé.

A Bíblia é infalível, inspirada, inerrante. Coloque a Escritura no lugar de magistério infalível e perceberá que o argumento não é correto: “Do que adianta uma Escritura Sagrada infalível, se os fieis que terão que receber e interpretar a mensagem são falíveis? A possibilidade de se interpretar errado continua de pé.”. É verdade. Portanto, temos que partir de raciocínios, sobre princípios bem sólidos, que nos deem certeza de que em tal lugar podemos crer com certeza absoluta. Isso é verdade em relação à Bíblia, que sabemos ser a Palavra de Deus, como da Igreja, pelo mesmo processo.

Portanto, é um assunto bastante profundo, complexo, de sutilidade impressionante que escapou ao autor.

Se a primeira lista é de Santo Atanásio ou não, se está clara ou não em Orígenes, etc., é algo que faz parte dos estudos, muito importantes para entender o processo de decisão eclesiástica a respeito do cânon, mas não contem nenhuma dificuldade para a posição católica.

Certamente aqui, então, se tem em vista negar o papel da autoridade eclesiástica na definição infalível do cânon. Mas os mesmos princípios são usados de forma incoerente quanto se trata de provar doutrinas e dogmas, por mais claros que sejam.

E para terminar, pense a respeito de uma afirmação de um santo do quarto século. Santo Epifânio no quarto século escreveu que não era possível saber se Maria morreu ou não. Isso é interpretado pelos protestantes como sendo um testemunho de desconhecimento do dogma da assunção, que foi definido com 1950. Que o leitor reflita.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Reação Adventista: imortalidade da alma

Primeiro, será mostrado como o Novo Testamento ensina que a vida que Jesus Cristo dá ao salvo já é participação no reino, já é a vida eterna, e por isso supõe que não há quebra nessa vida.

Após isso, será estudado um artigo que tenta refutar a doutrina da imortalidade da alma.


A vida eterna

O Dr. Samuele Bacchiochi afirma que a alma é o aspecto físico da vida, e também que Jesus expandiu e incluiu o sentido de vida eterna para o termo alma, que conteria a vida física e a vida que vai além da presente existência. O presente estudo irá testar essa hipótese para certificar-se até onde ela é plausível, e se pode negar a imortalidade da alma.

Portanto, eis que vos digo: não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis...” (Mateus 6, 25). O sentido de alma em Mateus 6,25 é o de vida. A distinção com o corpo é compreensível. A vida é mantida por alimento e bebida, e o corpo é cuidado com as veste. Mas, esse sentido é diverso do que se encontra em Mateus 10, 28, pois aqui a vida pode ser perdida, e é mantida por alimento. Em 10, 28 a vida não pode ser atingida pelos homens.

Porque aquele que quiser salvar a sua vida, irá perdê-la; mas aquele que tiver sacrificado a sua vida por minha causa, irá recobrá-la (Mt 16, 25). Também aqui o sentido é o de vida, que pode ser perdida e recobrada. Trata-se, portanto, da ressureição, e da vida eterna, a vida que não terá fim.

Por isso, não se pode dizer exatamente que o termo alma tenha o adquirido o sentido de vida eterna, mas trata-se da vida que será tida de volta e durará para sempre. Não se pode dessa passagem negar a imortalidade da alma.

Perder a vida (alma) e salvá-la tem a ver com a alma, mas o sentido primeiro é o de vida física. Essa pode cessar e pode ser reativada na ressurreição. É disso que o Senhor está falando. No entanto, está implícito também o sentido de alma espiritual, como será visto mais adiante.

Quem ama a sua vida irá perdê-la; mas quem odeia a sua vida neste mundo, irá conservá-la para a vida eterna (João 12, 25). Trata-se também da vida física, que pode ser perdida, e deve ser tida como menor em comparação com o dom da vida que não terá fim. Por isso, perder a vida aqui não é perder a alma espiritual, mas a vida física mesmo. Perdendo a vida física por causa de Cristo alcançará a vida eterna. O conceito de alma espiritual está “embutido” nesse processo.

O texto de João 6, 58 poderia ser interpretado como se os salvos do Antigo Testamento não fossem ressuscitar. De fato, comeram o maná, mas morreram. Essa morte é física, certamente, e não espiritual, pois doutro modo se estaria dizendo que comeram o maná e ainda assim foram condenados, o que não é o caso.

Mas, quando Jesus afirma de Si mesmo, diz que Quem come deste pão viverá eternamente, o que parece afirmar que não haverá a morte física. Contudo, não é isso, e, portanto, é preciso ter o contexto bíblico mais amplo para aprender essas verdades.

O maná era uma comida do céu, vinda milagrosamente, mas servia para manter a vida física. Jesus é a comida espiritual, que dá a vida eterna. Isso mostra que o salvo já participa da vida em Cristo, está ressuscitado, e, portanto, está na alegria da salvação, na vida que não pode ser destruída. E, ainda, está com a garantia da ressurreição.

Sendo assim, não se pode crer no sono da alma, nem na cessação da existência ou na morte da alma. Uma vez que o salvo tem a vida eterna, e já está ressuscitado com Cristo, espiritualmente, o que garante a ressurreição da carne, que proveito teria na morte se, ainda assim, ela fosse o fim da existência, à espera da vinda de Cristo para ser novamente criado?

Jesus afirma que mesmo os mortos ressurgirão, e os vivos não morrerão (cf. João 6, 25-26). Pode-se entender dos mortos, como Lázaro, que foi ressuscitado, e que serão ressuscitados no último dia, e dos vivos, que estão na graça, nasceram em Cristo, e não morrerão. Como isso seria possível se a morte daria fim à alma dos salvos, cessando a existência? Não faz sentido, porque mesmo crendo em Cristo teriam a morte, e a perda momentânea da graça da vida eterna.

Obviamente, o texto não exclui a morte natural. O que está afirmando é que o salvo já em vida usufrui da vida eterna, e que isso ocorre mesmo na morte. É compreensível que na morte o salvo espera pela ressurreição reinando com Cristo na glória. Mas, no mortalismo, na morte não há absolutamente nada, ficando patente que há algo nessa doutrina que não harmoniza-se com as palavras de Jesus.

Pelo batismo já estamos vivos para Deus, em Cristo Jesus (cf. Rm 6, 11). Isso seria danificado pelo conceito de morte da alma. Como o salvo é vivo em Cristo, estando vivo fisicamente e também vivo espiritualmente para Deus, ele continuará vivo ainda que no estado de morte física. É a implicação da doutrina. Assim, a morte natural não impedirá usufruir a vida da graça para Deus em Cristo. Dessa forma, implica o estado intermediário, onde a alma do salvo já vive com Deus.

Outra passagem que sugere a vida na morte é 2 Coríntios 5, 8-9, onde saindo do corpo e  partindo para habitar com Cristo é o mesmo que agradar a Deus estando ausente. E, mais, é viver em união com Cristo, ainda que estiver no sono. É possível “viver” com Cristo em estado de vigília, que é estar acordado e vivo, usufruindo da vida física no corpo, ou no sono, dormindo, após a morte, que é estando morto fisicamente e vivo espiritualmente.

Esse ensino bíblico de que a vida da graça é dada já neste mundo é difícil de conciliar com a “morte da alma”, pois isso cessaria o ser, resultando o fim da vida da graça, dando fim à vida eterna já experimentada pelo salvo neste mundo. Seria a vida eterna impedida pela morte, pois no estado intermediário não haveria existência do salvo.

Se a morte sela o fim para o ser humano, colocando-o na inexistência, salvos e perdidos mortos não usufruiriam de mais nada. Nesse momento salvos e condenados estariam em igual situação, não podendo ter a graça de Deus.

No entanto, Jesus afirma que os crentes não morrerão. Isso não pode ser fisicamente, já que a morte continua em voga, e a Bíblia afirma que a morte será o último inimigo a ser destruído. Então, se a vida eterna já possuída pela fé “cessa” na morte, como explicar isso, onde o que é eterno deixará de existir por um período longo e voltará a ser reabilitado apenas na volta de Jesus?

Essa vida só pode ser espiritual. Dessa forma, o morto continua a experimentar a vida da graça. O condenando, que está vivo neste mundo, e morto pela perspectiva da graça, morrerá, fisicamente, como o salvo, mas também espiritualmente, por não ter tido e exercido a fé em Jesus Cristo. Assim, o que é condenado morrerá. O salvo não morrerá.

Se a morte fosse o fim da existência, os dois morreriam. O salvo e o condenado morreriam, deixando de existir, e a diferença estaria apenas na vida após a ressurreição, onde somente o condenado morreria. A sentença então é somente para a morte eterna.

No entanto, na perspectiva da imortalidade da alma, isso é mais claramente compreendido. O salvo morre assim como o condenado, mas continua a viver para Deus em Jesus Cristo, reinando com ele, no céu, pela graça, enquanto o condenando experimenta a separação de Deus pela morte espiritual.

O morto em Cristo será ressuscitado, mas também o condenado passará pela ressurreição. Assim, não é apenas a retomada da vida que está sendo distinguida aí, mas a vida pela graça. O morto salvo viverá na ressurreição. O vivo salvo não passará pela morte. Sendo comum essa vida eterna na graça a todos os salvos, vivos e mortos, então não há cessação de existência.

Com isso em consideração, entende-se melhor a visão de Apocalipse 20, 4, onde as almas são vistas sentadas em tronos. Logo, após, São João explica que são os mártires que voltaram a viver e reinaram com Cristo por mil anos. Esses mil anos certamente são o estado intermediário, já que os outros mortos não voltam à vida, que é a ressurreição corporal. Se é a vida da graça, então as almas não estavam “mortas” no sentido de inconsciência ou mesmo de inexistência, mas isso apenas significa que a graça permite a glória da alma antes da ressurreição da carne.


Textos que falam da imortalidade da alma

Agora, é possível compreender muitos textos bíblicos que mostram mais diretamente que a alma vai para junto de Deus após a morte. Há uma explicação mortalista para eles, mas isso será estudado logo a seguir, tendo em consideração o artigo Os textos bíblicos que parecem favorecer a imortalidade inata da alma.

No artigo, o autor tentou uma explicação “mais plausível” para os textos que tratam da imortalidade da alma. De fato, esses textos mostram os salvos com Deus, o que implica em afirmar que a alma é imortal.

A Bíblia não mostra a imortalidade da alma como a esperança cristã, mas a ressurreição dos mortos. No entanto, essa doutrina é derivada da Bíblia, e é entendida por implicação em várias passagens.

Por isso, ao falar da ressurreição é pressuposta a imortalidade da alma. De fato, Deus é Deus dos vivos, porque para Ele todos vivem. É importante notar esse realismo para Deus, pois é difícil pensar que Deus pense “como se” tivessem vivos. É mais provável que estejam vivos na graça, e por isso vivem para Deus.

O Antigo Testamento tinha uma noção bastante reduzida a respeito do estado dos mortos. Mas, isso não significa que não cressem na alma. Em 1 Sm 28, 15 vemos Samuel (na verdade, a sua alma) falando com o rei Saul, afirmando que “subiu” à terra para conversar com ele.

A crença de Saul e dos seus contemporâneos, era de que os mortos estão no sheol. De fato, se não cressem que os mortos existissem espiritualmente, não haveria nenhuma possibilidade de pensar em consultá-los.

Todo o relato do capítulo deixa claro que se trata de Samuel e a falta de qualquer negação bíblica sobre a realidade da alma imortal, nessa passagem, provam que a doutrina da imortalidade da alma é totalmente bíblica.

Afirmar que foi um demônio que apareceu no lugar de Samuel pode enfraquecer a argumentação, mas ainda assim era crença de Saul e do Povo de Israel que as almas existem após a morte. Se ainda assim, disser que essa crença estava errada, e não era de todo o povo, percebe-se que Saul cria firmemente nisso. Alguém poderá dizer que apenas isso prova que o rei estava errado.

Mas, ainda um argumento. A Bíblia afirma que realmente foi Samuel quem apareceu, e não contexto não há nada que possa ser encontrado contra a imortalidade da alma. E, assim, se mostra que os argumentos mortalistas, em textos mais claros, se mostram fracos.

Interessante a interpretação dada, de que o corpo é corpo e a alma é o “eu” que virá reabitar o corpo. Então, o corpo destruído não é o “eu”, que saiu e foi destruído também, mas que será recriado e colocado no corpo novamente. É uma possibilidade de leitura da explicação dada.

A tentativa foi interessante, mas afirmar que o corpo não é a pessoa inteira, e que a personalidade dorme, não ajudou o caso, já que para o mortalismo a morte do corpo, na visão holista, onde nada se separa, é a extinção, no mesmo corpo, da personalidade. Atingir o corpo é matar também a personalidade. O problema com essas leituras para explicar o texto claro de Mateus 10, 28 é que elas demostram o erro de doutrina.

E, ainda. O texto diz que Deus pode lançar corpo e alma na geena. Imagine corpo e personalidade como a leitura aqui. Os homens não matam a personalidade, mas na visão mortalista essa mesma personalidade que não foi morta pelos homens, morreu igualmente na morte do corpo, que foi morto pelos homens. Não faz sentido.

Afirmar que a corrupção da personalidade é que faz perecer tudo, corpo e personalidade, é uma estratégia também interessante, mas não está no contexto. De fato, as tentativas de explicar essa passagem sempre naufragam. E a mesma fica mais forte ao longo das explicações da imortalidade da alma por todo o livro. Basta conferir.

Em Lucas 23, 43 o bom ladrão esperava entrar no Reino quando esse fosse estabelecido, volta de Cristo. Mas Jesus afirma que naquele dia, hoje, estaria com Ele no Paraíso. Foi impressionante. Eles desceram à mansão dos mortos e subiram ao céu quando Jesus voltou para o céu na ascensão.

O texto de Filipenses 1, 23 é irrefutável. A morte é lucro para o cristão. Se a vida é Cristo, como a morte seria mais? É o fato do encontro com Cristo que faz da morte ser melhor que a vida física.

Outra realidade, é que São Paulo estava deixando os cristãos, e portanto cria que estaria com Cristo antes deles, o que não faz sentido explicar que o apóstolo estava pensando, nesse momento, na ressurreição.

Será que o “partir” e estar com Cristo apenas significa que a morte “não era pesada” para o apóstolo São Paulo? Que dizer dessa explicação: “Ao sair deste mundo, mesmo entrando num estado de sono inconsciente que poderia durar séculos, ele seria ressuscitado, passando a estar com Cristo no segundo seguinte.

No entanto, nesse dia todos estarão com Cristo. O que São Paulo deixa claro no momento é que sua morte estava se aproximando, e desejaria que fosse logo, para estar com Cristo, e não para esperar tanto, em inexistência. Pode-se notar o quanto essa interpretação não se harmoniza em nada com o que São Paulo está tratando. E o arrebatamento seria uma interpretação possível aqui? Certamente não. Isso porque em 2 Cor 5, 8 o “ausentar-se” do corpo é idêntico ao “partir e estar com Cristo” aqui. Se trata da morte.

A possibilidade de estar fora do corpo (2 Cor 12, 2-3) e as almas debaixo do altar (Ap 6, 9) são, de fato, alusão à imortalidade da alma. Entretanto, as almas recebem vestes brancas para aguardar o juízo de Deus sobre a terra. Isso significa que de alguma forma participam, na glória, antes da ressurreição. O altar, os gritos, as vestes, o repouso, tudo é simbólico, afirmando algo que se passa com os mortos, do lugar e do estado que as almas estão.

Algo inexistente recebendo vestes antes da ressurreição não faria sentido, seria uma ação espiritual de Deus para os mortos que não teria nenhuma validade, já que não existiriam. Portanto, essa leitura é igualmente problemática.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 12 de maio de 2022

Reação Adventista: um artigo sobre o sábado

Comentário sobre o artigo O sábado não era um problema para a Igreja Primitiva

O sábado não era problema para os primeiros cristãos. Os cristãos observavam o domingo, mas eram livres para observar o sábado.

Jesus aceitou a teologia dos fariseus. Os fariseus criam na imortalidade da alma. Esse é outro fato para os mortalistas pensarem, em especial os adventistas. Independentemente desse fato, o estudo bíblico profundo desse tema prova que a alma é imortal. Os católicos creem na imortalidade da alma, e todos os estudos bíblicos mostram que essa é a doutrina. A tradição corrobora.

O fato do sábado continuar a ser guardado pelos cristãos não é argumento de sua permanência, como obrigação. O cristão era livre em relação ao sábado, assim como era em relação às comidas, à circuncisão, às festas. Deve-se considerar esse princípio.

A questão do sábado e dos alimentos, por exemplo, eram observadas sem problemas, conquanto não fosse empecilho para a evangelização. Controvérsias relacionadas a essas prescrições surgiram, aos poucos, como demonstra Atos 10 e Gálatas 2. Por exemplo, alguém que impusesse a guarda do sábado estaria em heresia, ou que dissesse ser a circuncisão obrigatória, ou que as leis sobre os alimentos eram necessárias para serem observadas.

São Pedro vê animais impuros, é ordenado matar e comer. Entende que isso tem a ver com a aceitação dos gentios. Mas é plenamente claro que isso também leva a algo a mais, como o próprio símbolo ensina, a não mais obrigar os gentios a cumprir as leis alimentares judaicas. Imagine são Pedro sendo convidado a um almoço na casa de um cristão de origem grega, e imponto as regras alimentares ali, quando na visão, a ordem que ele ouviu era para comer animais impuros.

A falta de tempo para as obrigações religiosas cristãs não era suprida pelo culto no sábado. É certo que todos os dias podia haver reunião, mas é aos domingos que a principal reunião semanal acontecia. O sábado era observado, mas sempre o empenho evangelístico impelia esse costume. Assim é que muitas vezes, ao que parece, São Paulo não mais ia nas sinagogas, quando havia rejeição por parte da população judaica daquela região.

O questionamento é importante: “o gentio se torna parte da Igreja e da fé judaica apenas aceitando a Cristo? Ou há algo mais que precisa ser feito? Formou-se duas alas ”.

Mas, isso também trouxe diferenças para os cristãos judeus. No início, as coisas ficaram abertas, e não era tão claro o que deveria ser feito. Os apóstolos foram sendo levados pelo Espírito Santo para ensinar tudo o que Jesus havia ensinado. Eles não mais precisavam guardar a Lei. Assim, aos poucos foram conscientizando-se a respeito da circuncisão, da alimentação, dos sacríficos do templo, das festividades e do sábado.

Todas essas coisas podiam permanecer, mas não podia mais ser inculcadas como parte da fé cristã. Elas podiam ser observadas, mas não podiam entrar na Igreja como doutrina e prática cristã. Essa é a diferença.

Os textos que são citados, para quem se aproximava da fé judaica (At 13:14 e 42-44, 16:11-13, 17:1-4, 18:1-4; ver também At 2:46, 3:1-3, 5:20-21, 5:42, 9:2, 13:5, 14:1, 15:21, 17:10-17, 18:19, 19:8-10), mostram São Paulo indo às sinagogas, segundo o seu costume, e mostram também que o motivo primordial era pregar o evangelho. E muitas passagens são cuidadosas em revelar que assim que havia rejeição por parte dos judeus, o apóstolo dirigia-se aos pagãos, não deixando qualquer vestígio de que aos sábados voltasse às sinagogas.

É um fato que a guarda do sábado não foi um ponto discutido, na Igreja, como se fosse um dado em que os cristãos tivesse dúvidas, mas já era claro que não fazia parte das obrigações dos cristãos. Assim as festas, as luas novas e os sábados já eram claramente pontos pacíficos entre os cristãos, mas não entre os cristãos e os judaizantes, na sua parte herética, que ensinava ser a circuncisão e tudo o mais, inclusive o sábado, com certeza, necessária para a salvação, o que foi condenado no Concílio de Jerusalém.

Certamente é disso que o autor está tratando, embora com outro foco: “Dentre as tradições, incluía-se o vegetarianismo, os jejuns semanais em dias fixos e maneiras específicas (geralmente ascéticas) de comer, beber, observar festas e até o sábado.

Para o autor, o sábado continuava sendo guardado pelos apóstolos, e era ensinado na Igreja. Essa afirmação não pode ser encontrada em nenhum versículo do Novo Testamento. Todas as vezes que o sábado é mencionado, se trata de contexto que desobriga os cristãos. E são justamente as passagens que o autor conhece (Rm 14:1-6; Gl 4:1-11 e Cl 2:16-17).

E o argumento: “Mas o problema não era a guarda do sábado em si. Como vimos, ninguém questionava isso nos primeiros anos de Igreja. O problema era todo um conjunto de interpretações e tradições errôneas que estavam sendo impostas aos gentios.

No entanto, as doutrinas da circuncisão, das leis alimentares, das festas e do sábado são discutidas na mesma natureza, ou seja, de que não mais eram doutrinas do Novo Testamento. Todas poderiam ser observadas por judeus convertidos, mas não impostas, e não exigidas dos conversos gentios, e não tornadas parte da doutrina da Igreja. Esse ponto é o que deve ser entendido.

O modo de guardar o sábado não foi objeto de discussão. A circuncisão já explica isso, já que é a porta de entrada para o judaísmo.

A interpretação de que os cristãos estavam, possivelmente, recebendo críticas quando ao modo de guardar aqueles prescrições, como luas novas, festas, sábados, não é condizente com o que foi explicado, harmoniosamente, acima. E é um ponto de vista que contradiz o contexto, fazendo os cristãos serem obrigados às festividades antigas, às leis alimentares, aos sábados, à circuncisão até, contanto que não guardem como meio de salvação, ou de forma não conforme o espírito do evangelho. Essa leitura não pode conciliar-se com o contexto bíblico.

A suposição de que com toda a certeza a Igreja entendeu os conselhos de São Paulo, mas que a geração seguinte de crentes tenha esquecido, não compreendido, tomado outra direção, em questão tão profunda quando o sábado, é muito improvável. Expulsões, falta de contato maior com os judeus e com os hábitos não explica muito, ainda mais em tempo tão curto. Os judeus guardavam a Lei em território estrangeiro sob fortes perseguições. Os cristãos acostumados a guardar prescrições não se esqueceriam tão rapidamente, e haveria indícios disso em escritos dos padres da Igreja. Mas, nesse sentido, não existe nenhum.

A explicação de que a Igreja como novo povo tendia a procurar outra identidade, uma diferenciação, não explicaria de forma alguma a adoção de um dia da semana diferente daquele que vinha sendo guardado desde os dias apóstolos. Se a guarda do sábado tornou-se cada vez mais difícil, os motivos que acima foram elencados explicam satisfatoriamente. Da mesma forma, a circuncisão seria algo pacífico, não fosse os judaizantes a colocarem no rol das práticas necessárias para alcançar a salvação.

Quais seriam as novas tradições que teriam surgido no desejo de diferenciação? Pelo que foi dito acima, o sábado foi sendo deixado de lado nas práticas cristãs ao passo que a Igreja foi crescendo e as exigências judaicas diminuindo, pois os membros judeus foram tornando-se minoria, o que está conforme foi antes colocado, pois não se tratava de mandamento em continuidade no Novo Testamento. Mas, ainda, o sábado tomou outra forma, e continuou a ser honrado na Igreja.

Os apóstolos não tiveram papel de evitar os esvaziamento das raízes judaicas. Veja que São Pedro afirmou que as obrigações legais eram um jugo que não podiam suportar, e São Paulo era tão convicto em suas pregações sobre a liberdade dos cristãos em relação a tudo o que foi mencionado acima, a ainda mais, que pensavam estar contra a lei mosaica. Dessa forma, nenhum apóstolo se esforçava para manter identidade judaica na Igreja, e o que da herança judaica devia continuar na Igreja, isso podemos observar ainda hoje, nos costumes, na liturgia, em certas ênfases de espiritualidade, em certas práticas e etc.

O que os apóstolos deixaram foram princípios que explicam os desenvolvimentos posteriores.

Os apóstolos morrem, mas ainda muitos bispos e padres católicos eram de origem judaica, que tinham idade menor que os apóstolos, os nascidos mais próximos do ano 100, e, portanto, esforçaram-se para manter fiel a mensagem do evangelho.

No comentário sobre os padres da Igreja em relação ao sábado, o leitor poder encontrar algumas ideias para entender melhor a posição dos padres quanto ao sábado.

Os motivos que levaram concílios do quarto século a promulgar leis que dificultavam as relação entre judeus e cristãos foram circunstanciais. Basta ver que o sábado é entendido como parte da Antiga Aliança, em uma bela teologia, explicada e mesmo desenvolvida pelos padres da Igreja, ao lado do domingo, sempre considerado o dia em que os cristãos celebravam a missa, o dia da ressurreição, do dia do Senhor.

Por isso, ainda que certas afirmações na tese do abandono do sábado façam sentido, ela não está conforme os dados do Novo Testamento, e os escritos desde o segundo século em diante.

Portanto, os cristãos não mais guardam o sábado, mas isso não foi um desvio, já que desde o primeiro momento a guarda do sábado foi de escolha livre na Igreja. A observância dominical é, portanto, de origem apostólica.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 9 de maio de 2022

John Armstrong, O Mistério Católico, comentário do capítulo 1

Comentário do capítulo 1, do livro:


O Mistério Católico, John Armstrong, 2019.

 

Capítulo 1


A Santa Igreja Católica

 

Jonh Armstrong inicia seu primeiro capítulo abordando o credo apostólico, crido por católicos e protestantes. Afirma, um pouco adiante, que nem tudo está no credo, como por exemplo, a doutrina da graça de Deus e a autoridade da Escritura. Esse cristianismo simples, como chamou C. S. Lewis, expresso no credo, pode-se dizer, une então católicos e protestantes.

Nesse ponto, já se pode notar uma coisa importante. Aqueles que afirmam que a Igreja Católica afastou-se da verdade, que é uma “falsa igreja”, que coloca o magistério acima da Igreja, que tem a Bíblia como acessório, que os católicos não servem a Deus e não têm comunhão com Deus, que são afirmações tipicamente anticatólicas, o que é compreensível, mas que deve ser estudado, analisado, criticado, visto à luz da Bíblia Sagrada, e respondido a quem pensa assim, para que possa ser auxiliado em algo importante para a fé, que aprenda algo mais da verdade católica, e assim, talvez, se torne menos anticatólico, e, se Deus assim quiser, com Sua graça, se torne cristão católico.

Se o credo é rezado pelos católicos, crido com todo o coração, e é o resumo fiel da doutrina apostólica, o conjunto das verdades fundamentais da fé cristã, e que testemunha, nesse ponto, uma unidade básica dos cristãos católicos e protestantes, então as afirmações anticatólicas perdem sua razão. Ou perdem a razão pelo menos em grande parte. A não ser que os defensores dessa posição afirmem que “outras” doutrinas católicas façam do catolicismo outra religião, etc., e que anulem essa unidade que possuem nas doutrinas defendidas nos antigos concílios. Do contrário, já se percebe um problema com essa visão.

Mais, ainda, conforme o estudo da fé católica, vemos que as demais doutrinas católicas são todas bíblicas, cem por cento, e isso por si já mostra o quanto a Igreja que Jesus fundou continua no Caminho, que é o próprio Senhor Jesus Cristo.

Depois, John Armstrong explica a fé na santa Igreja Católica, que o protestante deve ter. De fato, o protestante se assusta com a linguagem, até mesmo se recusa a professar essa fé, e então isso deve ser aprendido, já que Cristo fundou a Igreja, para todos, e por isso ela é católica.

Enquanto há a ideia de que o termo católico começou a ser usado para distinguir a Igreja Católica apenas a partir de 1054, com o cisma entre a cristandade oriental e ocidental, o autor, John Armstrong, diferentemente, afirma que a palavra Católica foi a forma usada para distinguir-se do Protestantismo, depois da Reforma Protestante.

Mas, na verdade, não é exata nem uma coisa nem outra, pois o termo é antigo, e começou certamente a ser usado na era apostólica, e aparece em documento do início do segundo século, com Santo Inácio, na epístola aos Esmirnianos, referindo-se à Igreja como Igreja Católica. A história mostra que esse nome distinguia a Igreja fundada por Jesus de outros grupos, que se separavam dela, que eram as heresias, as seitas, e que não tinham comunhão com a Igreja, e não eram universais, também por isso. Essa qualidade da Igreja é também seu nome, em sua essência doutrinal.

O autor trata da unidade da Igreja desenvolvida nos primeiros cinco séculos, na igreja histórica. Certamente, está aludindo aos primeiros concílios ecumênicos que lançaram as bases da fé cristã, conforme a doutrina bíblica, diante das heresias que surgiam. Essa posição é compreensível, mas não deixa de ter certas nuances que devem ser conhecidas por aquele que deseja conhecer melhor a fé católica, ou mesmo, tornar-se católico, caso já que tenha o suficiente do conhecimento para tal.

É preciso notar, que esses concílios que defenderam a fé, estão em um tempo em que a maioria dos protestantes afirma que a Igreja estava afastando-se da verdade, adotando heresias, imagens, veneração a relíquias, santos, Maria, uso de incenso, velas, crença no purgatório e etc.. Obviamente, essas são todas doutrinas bíblicas, mas que não são aceitas no Protestantismo, e que eram todas cridas nesses primeiros séculos, o mesmo período onde a verdade foi firme e luminosa, combatendo erros e heresias.

Ainda que os protestantes não creiam em todas essas doutrinas, o autor afirma que Deus, por Sua providência, estava governando a Igreja naqueles concílios, que combatiam erros e heresias internas, visto que a Igreja zelava por sua unidade essencial em ensino e vida, conforme termos usados pelo autor. O fundamento foi estabelecido pelos concílios e credos. Entretanto, todas as demais doutrinas da fé cristã também estavam ali ensinadas.

Contudo, como afirma o autor, muitos têm adotado, nos últimos anos, outras doutrinas, e negado partes do credo, referindo-se mesmo a ministros católicos. Ele aponta essas mudanças em relação a doutrinas tão fundamentais que unem católicos e protestantes. Isso é verdade, faz parte das influências das doutrinas modernas, nesse caso, e da perda da fé.

Em uma tentativa de comparação entre a unidade protestante com a unidade católica, citando Mark Noll, historiador protestante, que afirma que o catolicismo tem unidade estrutural, e usando apenas essa qualidade da unidade católica, basta pensar que os apóstolos e anciãos, com sede em Jerusalém, mantinham a unidade em toda a Igreja, que estava unida na fé apostólica. Isso continua na Igreja Católica. É bastante simples.

Obviamente, como Noll afirma, é possível que muitos católicos encontrem outros católicos com os quais possuem pontos de divergências tão sérios que se tornam mais divididos do que em relação a certos protestantes. Mas, ainda assim, a unidade católica é superior, basta dar uma olhada.

Quando os protestantes reconhecem, pelo menos, os primeiros concílios, estão em unidade, nesses pontos, com a Igreja Católica, que foi a responsável por eles, pela defesa da fé, inclusive naqueles concílios ou sínodos regionais ou locais que trataram do cânon da Bíblia.

O conselho que John Armstrong dá aos católicos, que devem entender que os evangélicos continuam a crer na antiga fé da Igreja, como os reformadores quiseram manter-se firmes na fé dos concílios e da Igreja antiga, é bastante compreensível, mas é verdade, porém, que muitas diferenças existem, e que são sutis, muitas vezes, como entre a doutrina católica e a reformada, como mostram muitos artigos desse blog. E, mais. Os protestantes precisam entender de fato que doutrina apostólica está na tradição, e que é crida na Igreja Católica desde os dias de Cristo.

Os reformadores quiseram continuar “católicos”, pois acreditaram estar no caminho certo, que a reforma que propunham era a única solução. O autor tenta mostrar, em outras palavras, é o que estava em disputa, o que mudou, se ainda importa o mesmo a ser questionado, e como o diálogo pode ser feito, com maior compreensão e tolerância.

Pelo que foi dito acima, o protestante já pode preparar-se para refletir sobre a unidade da Igreja nos primeiros dias, como deixada por Cristo na terra, como governada pelos apóstolos, sob a luz do Espírito Santo, e como os primeiros concílios estabeleceram os fundamentos que fazem parte do tesouro da fé cristã, e que são concílios cridos pelos protestantes, enquanto que agem diferentemente em relação ao cânon da Bíblia, às imagens, à virgem Maria, aos santos, às relíquias, aos mortos, etc., coisas que foram igualmente ensinadas nas obras dos padres da Igreja e até mesmo em sínodos e concílios dos primeiros séculos. É o preparo para início do estudo.


Gledson Meireles.


terça-feira, 3 de maio de 2022

Gregg Allison fala sobre o fenômeno de conversão de evangélicos ao catolicismo

Por que Gregg Allison não se tornou católico ao estudar o Catecismo da Igreja Católica?

Essa é uma pergunta para reflexão.

Segundo Gregg Allison, pastor protestante batista nos Estados Unidos, baseando-se em autor protestante, os protestantes que se tornam católicos estão em busca de transcendência, e isso é expresso em quatro manifestações, em quatro sintomas, que são o desejo de transcender os limites humanos do conhecimento para encontrar a certeza, transcender os limites humanos de temporalidade para conectar-se à história da Igreja, transcender os limites humanos da divisão entre as igrejas, para encontrar unidade e universalidade na fé da Igreja, e transcender os limites humanos de diversidade interpretativa para encontrar uma autoridade interpretativa. São quatro desejos, a certeza, a história, a unidade e a autoridade. Fazem parte da crise por transcendência.

Um dos seus amigos protestantes converteu-se ao Catolicismo.

Ele tenta uma resposta a esses protestantes, que devem procurar isso no Protestantismo, e respondendo de uma forma interessante.

Ele afirma que estudou a história da Igreja por treze anos e não se tornou católico, aludindo ao que já havia falado, sobre aprofundar-se na história é deixar de ser protestante, dito pelo cardeal Newman. Por que isso acontece? Por que a leitura do Catecismo, feita por Gregg, para escreveu seu livro, não o fez tornar-se católico?

Certamente, ele já tem a certeza no Protestantismo, e não estava procurando isso em outro lugar, considera que o Protestantismo tem uma raiz histórica, caminhando pelos séculos, e não tem problema com as obras patrísticas, etc. Também já sente que a unidade protestante é o suficiente, e é a unidade fundamental, básica, bíblica, e que possui a autoridade que precisa para ser cristão, não indo atrás dessas coisas em outro lugar. Isso explicaria, ao que parece, pelas respostas dadas, que Gregg não se tornou católico. Mas, há muito mais elementos. Reflita.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Para reflexão, alguns testemunhos e argumentos

Diante do convite a estudar algo contrário à própria opinião, a reação de uma alma viciada é a recusa de ao menos pôr-se a ouvir o contraditório: prefiro não ouvir isso! Deixe para outro momento! Estou ocupado agora! Obrigado, já estou bem onde me encontro! Cada um com sua opinião! Não suporto ser contrariado!, e coisas do tipo. Eis algo que afasta o homem da verdade.

 

TESTEMUNHO DO EX-PADRE JOSÉ CÉSAR

O ex-padre franciscano, e agora pastor assembleiano, José César, conta em seu testemunho que agora prega um Deus vivo. E antes pregava um Deus morto. Que pena!

Ele diz que antes vivia no jugo, fazendo votos que não eram bíblicos. Estudou nove anos, e diz que o padre tem que estudar, tem que conhecer, e se ele não decide (corretamente) é problema dele! Então diz que os padres não são inocentes!

Diz também que não precisa de imagens na Igreja para saber da presença de Deus! Ó ignorância! Essa palavra de uma ex-padre, da ordem franciscana, de quatro anos de filosofia e cinco anos de teologia, segundo conta, e treze anos de pregação no sacerdócio, afirmando que não precisa de imagens para ter Deus presente na Igreja! É de uma ignorância profunda!

Em todos os testemunhos nota-se a raiz do pecado e – ou – da ignorância do abandono da fé cristã católica.

Ele faz algo novo. Difícil ver um ex-padre agradecendo a Deus o tempo em que foi católico. Ele faz isso. Mas, diz que agradece mais que Deus o tenha tirado de lá! Eis o real sentimento.

E diz que essa agora é a experiência com Deus, e que há diferença entre quem serve e quem não serve. Entendamos: antes, como católico, ele diz que não servia a Deus. Ponto importante de seu abandono da fé.

O testemunho é também a confissão dos pecados. Esse ex-padre diz que DETESTAVA pobres, que gostava de estar no meio dos ricos, celebrar missas nas catedrais. Ou seja, ele mesmo confessa que vivia pecaminosamente.

Também conta que não gostava de crente. Então uma senhora protestante profetiza que ele teria uma grande obra, seria pastor, seria tirado de onde estava.

Ele conta do ÓDIO no seu coração. Pensou até em jogar a senhora no chão. Que espírito movia aquele padre? Confessa também que era alcoólatra.

Protestantes da Assembleia de Deus pregavam a Palavra em todas as cidades onde ele chegava. Isso o incomodava.

Até aqui já se depreende que seu caminho em direção ao Protestantismo estava pavimentado.

 


A CONVERSÃO DO PASTOR SIDNEY


O testemunho do pastor Sidney é de interesse e importância. Cresceu lendo a Bíblia, e aprendendo a doutrina Protestante, e cultivou seu aprendizado negativo da Igreja Católica, e a via como a Babilônia, e o papa como o Anticristo, de número 666.

Essa doutrina não é acidental, e nem se trata de uma ignorância daquilo que a denominação à qual pertencia pregava. Mas, pelo contrário, ele estava fazendo jus ao que havia aprendido, e isso o levava a pregar aos católicos para libertá-los do erro, segundo pensava. Eis também um entendimento correto que tinha do ensino de sua denominação. Deve-se entender, e isso é primordial, que a vida desse pastor estava pautada nos moldes normais que eram ensinados na denominação a que pertencia.

Além do mais, como convicto pastor, e pregador da Palavra, ele conhecia as mazelas na vida dos católicos, como vícios e outros escândalos, tanto na vida dos fieis como na vida de padres. E assim ele tinha diante de si, não somente o conhecimento e convicção que havia aprendido, mas também a confirmação quando olhava os erros morais de tantas pessoas provenientes da Igreja Católica.

E a sua vida no pastorado era uma vida de bênçãos. Desde a infância, quando aprendeu a ler na Bíblia, frequentava a Escola Dominical, e sua mãe, que também era professora da Escola Dominical, o educava nos caminhos de Deus. Ele pregava a Palavra desde pequeno, e orava sobre enfermos, alcançado a eles a cura. Seu carisma e boa vontade os preparava para ser pastor, ou em outras palavras, eram preparações de Deus para o seu ministério.

Em suas pregações em tantos lugares, para a salvação das almas, ele diz claramente que levava a Jesus. Ele cria no poder de Deus, sobretudo na obra de missão, na Providência Divina. Em toda sua apresentação percebemos um testemunho de alguém que vivia com sinceridade no Protestantismo, corretamente entendia os ensinos, e sua cosmovisão era moldada segundo os princípios ali aprendidos.

Em oração ele pergunta a Deus por que Seus filhos sofriam tanto para fazer Sua obra. Era oração sincera, com traços típicos de alguém vivido no meio pentecostal. Quando aparece uma mulher, dá-lhe uma quantia de dinheiro, o qual precisava para fazer a obra. Então, ele levanta e dá glórias a Deus, aleluias, e falava em línguas. Era um crente pentecostal sincero e na prática correta daquilo que devia ser.

E pensou logo ter sido um anjo aquela pessoa providencial. Os pastores também falaram ter sido um anjo.

Preparando-se para uma pregação, em jejum e oração, certa hora faz uma parada para descanso, e tem uma visão. Ao contar a sua esposa, ela disse ter sido por causa de jejum, do cansaço, do sol escaldante. Mas, naquela mesma noite ele teve um sonho, com uma visão semelhante.

Dois anos depois, após a visão daquela mulher, que talvez seria um anjo, acontece essa visão, confirmada em sonho. No sonho foi feita uma profecia. Acordou, contou à esposa, pegou sua Bíblia, leu, pôs-se em oração até o amanhecer, das 3 às 6 horas da manhã, pedindo a Deus discernimento. Vê-se também que esse é o proceder correto de um cristão.

Às seis da manhã já tinha uma convicção, e essa era estranha para um protestante. Estava convicto de que deveria falar com um padre, pois somente um padre poderia explicar-lhe aquilo que estava acontecendo. Aqui podemos ver o processo de conversão em direção à Igreja Católica. Não havia problemas em sua vida de pastor, nenhum problema espiritual, nenhum trauma. Tudo corria bem. Como explicar essa Providência revestida de toda essa característica¿ Algum pentecostal diria que tratava-se do Demônio! Pura imaginação, pois pelos sinais do testemunho o Demônio não agiria assim. Nem naquelas circunstâncias. Além do mais, o que se seguiu confirma que não havia ação demoníaca.

Numa conversa com o padre ele concluiu que nem mesmo a Bíblia ele mesmo não sabia ler. Isso não significa que não conhecesse a doutrina do Protestantismo, como ficou patente que ele conhecia, pelo seu testemunho. Mas, ficou claro que ele não conhecia a doutrina católica, como é um fato patente também em qualquer protestante. A diferença foi a ação do Espírito Santo que abriu seu coração e o fez escutar. Agora, ouvindo-o, ou lendo seu testemunho, como é um fato que ele cresceu no conhecimento da doutrina católica.

Por exemplo, já consegue fazer a distinção entre a Igreja santa, como obra de Deus, santa em Cristo, Seu Fundador, e as falhas da Igreja em seus membros. Não confunde mais essas verdades.

Quando aprendeu sobre o Catolicismo começou a ver os cristãos católicos de forma diferente, e pô-se a estudar a respeito da Igreja Católica. Esse estudo é diferente, pois já tem uma preparação já com o coração aberto para realmente compreender, sem os preconceitos, e com uma inclinação favorável. O espírito fica mais livre para discernir.

É importante frisar que ele não falou mal em nenhum momento da Igreja à qual pertencia, nem mostrou ter sido motivo de sua saída qualquer fato relativo à sua salvação.

Ficou claro que aquela intervenção concebida como aparição da virgem Maria o levou a conhecer a Igreja Católica, e após estudo bíblico e diálogo, e logicamente pela incompatibilidade de permanecer no Protestantismo, foram fatores que o levaram ao Catolicismo.

 

O ex-padre Almeida conta que quando padre ele fumava muito, pulava carnaval e prostituía-se. São esses os exemplos do verdadeiro padre? Que fé tinha ele? Como poderia pregar o Evangelho com sua vida?

 

O ex-padre Nivaldo diz que Jesus o salvou e o tirou da batina. O que essa afirmação tem a dizer? Significa que o Protestantismo, realmente legítimo, nega a salvação do cristão católico, nega a salvação daquele que verdadeiramente é cristão católico.

Eis uma oportunidade de refletir sobre esse ponto importantíssimo, visto que a Igreja Católica Apostólica Romana foi fundada por Jesus Cristo e é rejeitada por muitos.

 

 


CONVERSÃO DE JASON LISKE

 

Jason cresceu na fé cristã adventista. Certo dia Deus o levou à fé cristã católica. Sua busca pela verdade foi desenvolvida na graça de Deus.

Enfrentou vários obstáculos: como rezar o terço. Para quem cria na mortalidade da alma, a virgem Maria não poderia interceder de forma alguma. Que grande obstáculo para um adventista passar a crer na intercessão dos santos. Isso ocorreu na vida de tantos, como na vida de Jason.

Passar por essa experiência sozinho, pois de início não contou aos familiares, nem à namorada, aos poucos esforçando-se para conhecer a fé católica, visitar as igrejas católicas, foram coisas que o impactaram muito.

Ao conhecer as características da Igreja Católica, pensou em desistir, por achar demais, e teve a ideia de voltar sua atenção ao Anglicanismo, o que talvez seria menos chocante. Percebeu, com o tempo, que o Anglicanismo era um meio-termo entre Catolicismo e Protestantismo, o que não queria. Não desejava ficar no meio do caminho.

Então, resolveu fazer um curso e aprender os rudimentos da doutrina católica, uma introdução na fé da Igreja.

Em seus estudos de introdução à doutrina cristã católica, Jason começou a experimentar um descontentamento com sua formação. Além disso, certo orgulho surgiu, pois seu entendimento havia passado o nível elementar através de suas leituras e pesquisas. Até que certo dia um sacerdote o repreendeu por sua atitude arrogante.

Continuando seu estudo entrou na filosofia existencialista, mas essa influência não foi benéfica. Conseguiu desfazer-se dela ao estudar um filósofo luterano.

Ficou frustrado uma vez que percebia sua formação, antes do batismo, ser um tanto fácil e nada profunda. E odiava aquilo. Isso seria um obstáculo a tornar-se católico, mas ele não desistia, e lutava contra aquilo, procurando entender melhor.

Em outro curso catequético o que aprendeu poderia tê-lo levado a um liberalismo teológico. Mas, o que havia estudado antes, em sua incansável procura, o fez continuar, e lidar com aquela nova fase. A graça de Deus acompanha o homem sincero.

 

 

CONVERSÃO DE LOURIVAL LUIS

O ex-padre conta o motivo que o fez ir para o seminário: fugir de um mundo maligno, das drogas, etc., e ajudar aqueles que estão nessa situação a ser libertos. Uma motivação que tem pouco a ver realmente com uma vocação sacerdotal. Eis o inicio sintomático de sua saída da Igreja.

Aos 4 minutos e 35 aproximadamente, ele diz que sentia a presença de Deus guiando a ele e seus amigos em todos os lugares. Fala do dom que Deus conferiu a eles nos estudos. Isso mostraria que tinha fé e reconhecia a Providência de Deus. Mas, aos 16 minutos e 57 segundos, aproximadamente, ele confessa não saber que era Deus que dizia a ele, naquele particular, aquelas coisas. Talvez o mesmo deve ser entendido aqui.

Assim, hoje, fora da Igreja, ele reconhece que aqueles fatos foram providenciais.

Sua vida parecia normal, como a de um seminarista e novo sacerdote, até que narra um episódio em que ficou decepcionado, quando os paroquianos reclamaram da demora de suas missas, e das exageradas leituras da Bíblia que ele fazia. Introduz-se, nesse momento, os motivo de sua saída da Igreja Católica.

 

De forma geral, os ex-católicos geralmente expõem suas decepções, que não raras vezes trazem traumas em sua caminhada como católico. E, a partir daí, ele começa a narrar fatos que, pelo contexto, preparam sua saída da Igreja.

Diz que certa vez celebrou a Paixão do Senhor com a Igreja vazia. Após terminar a celebração, chegavam católicos, o que é interessante, para a procissão do Senhor morto. Ele, porém, proibiu aquela tradição.

Noutra ocasião conta que proibiu festas de santos com bebidas alcoólicas, o que descontentou o povo católico. Passou então a pregar contra imagens, contra as procissões com imagens dos santos. E disse que o que estava lendo na Bíblia nunca tinha visto alguém pregar, e para ele era uma surpresa.

 

Se um padre não conhecia essas questões, não as tinha lido nas Escrituras, entende-se o motivo de suas atitudes, e a falta de prudência em lidar com aquilo que agora aprendia. Pelo que disse, não estava preparado para aquelas questões, desconhecia aquelas passagens bíblicas. Tratava-se de um padre pouco instruído naquilo que devia saber solidamente. Eis mais um motivo de sua saída da Igreja.

 

Ele afirma que não conhecia a Bíblia antes. Impossível um padre que deve pregar o Evangelho não conhecer a Palavra de Deus. O motivo de sair da Igreja Católica é o desconhecimento, que leva depois a um conhecimento limitado.

Interessante, também, é que apesar daquela pregação contrária as imagens e etc., o padre diz que os católicos que adquiriam a Bíblia e a liam, deixavam a Igreja, e quando visitados por ele, contavam a razão de sua saída do Catolicismo, a qual era fruto da pregação do padre, e aconselhava o padre a deixar a Igreja Católica se quisesse ir para o céu.

Nesse ínterim temos que notar que na pregação desse missionário protestante a saída da Igreja Católica é necessária, se alguém deseja ir para o céu. É uma mensagem anti-católica patente.

E como um abismo chama outro abismo, começou o padre a dizer que não queria mais ser sacerdote, porque os sacerdotes mataram a Jesus, e que não batizaria mais crianças, pois elas não tem pecado, são inocentes.

A falta de conhecimento realmente leva as pessoas para fora da Igreja Católica.

 

Sobre um estudo do reverendo Augustus:

Caro Reverendo Augustus:

1) A Igreja Católica foi fundada por Jesus Cristo, o Filho de Deus, nosso Salvador. Quando chegou o século 4º, o imperador Constantino promulgou um edito de liberdade, e aceitou a fé cristã, o que fez a Igreja Católica deixar de ser perseguida pelo Estado; e Constantino admitindo ser ele um membro da Igreja, embora ainda não fosse batizado. Essa estória do Catolicismo “tomar forma” nesse tempo é uma ideia vaga, fraca, inexata, para dizer o mínimo.

2) O Catolicismo não ensina que a revelação tem acréscimo, que durante a história a Igreja vai recebendo novas revelações de Deus através dos papas e concílios, etc. Isso não é fé católica.

3) Não cremos que as obras tenham que ter um número mínimo para que possamos ser salvos, ou que a cooperação tenha um grau aceitável para que nos tornemos dignos da salvação. Cremos que somos salvos pela fé e pelas obras, sendo a fé a raiz de tudo, e que se alguém morrer após a conversão e fé em Deus ele já está salvo, antes mesmo que tenha sido batizado. Isso não nega as obras, nem o batismo, mas mostra a mão de Deus agindo e salvando o que crê.

4) O papa tem o carisma da infalibilidade, mas isso não é somente quando ele senta-se no trono papal, aquele trono material que usa para sentar-se e ensinar, isso é algo que não há na doutrina da Igreja. O sentido de cátedra de Pedro é que o papa esta no cargo em que a autoridade de Pedro, recebida de Cristo, faz-se presente. Nada tem a ver com a cadeira papal que está no Vaticano, como o senhor, pelo menos, deixou subentendido.

5) Não formular doutrina com uma única passagem. Pois bem. Mas para nós um único versículo é suficiente para ensinar algo. Começo de conversa...

6) A Igreja Católica continua ensinando o casamento indissolúvel, nada tem mudado.

7) Infalível: o senhor fala que a pedra Pedro é “meio bamba”, insegura, porque Pedro logo foi repreendido. Caro reverendo, isso nada tem a ver com infalibilidade, que é outra coisa. O senhor fala como se Pedro não pudesse pecar, e quando ele pecou então não podia ter a infalibilidade que a Igreja prega. O senhor não entendeu, reverendo.

As chaves não são apenas a pregação do Evangelho. Chave significa autoridade, pastor. Não é a autoridade exclusiva de Pedro, mas está sim com a Igreja, porém tem em Pedro a unidade visível.

9) Paulo não esqueceu que Pedro era o papa. Pastor Augustus, o senhor fala como se o papa não pudesse ser repreendido se ele estiver errado, mas tal coisa não existe no catolicismo, e isso não tem nada relacionado com o dogma da infalibilidade, pastor.

Tem muito a ser estudado, mas peço que o senhor faça revisão de suas posições.

 

Gledson Meireles.