domingo, 5 de dezembro de 2021

Entenda melhor a doutrina católica da soberania de Deus: uma reflexão sobre isso e outras coisas a partir das palavras de Chesterton

Alguém já ouviu falar de Chesterton? E de Calvnismo Chestertoniano? É possível que as críticas de Chesterton ao calvinismo sejam respondidas?

Chesterton escreveu que é uma falácia afirmar que a Igreja Católica é uma igreja. Qual o sentido de igreja criticado aí?

Hoje, a falta de cultura, o problema em entender o que se lê, as desinformação ou a confusão de informações, dificulta a leitura de obras mais profundas. É certo que poucos entendem o que Chesterton quer dizer nessa passagem.

Chamar as igrejas da Reforma de seita seria uma ofensa pra muitos. Chesterton trata isso de forma não sentimental, vendo o que se pode afirmar objetivamente, historicamente. Talvez seja o mesmo que um documento oficial da Igreja Católica sobre essa questão queira afirmar quando chama das igrejas separadas de comunidades eclesiais e não propriamente igrejas.

Isso causou grande alvoroço entre muitos. Porém, pode ser que tenhamos que nos deter mais nessa questão para tirar maior proveito do que se está tentando transmitir. E o que se está transmitindo é, em sua acepção mais profunda, correto.

Quando Chesterton diz que o Império Romano é um Império historicamente reconhecido como Império e não como uma pequena nação, e faz, em comparação, a mesma afirmação de que a Igreja Romana é uma Igreja e não uma seita, com base histórica para isso, muitos irão concordar, mas há os que, por tudo, querem chamar a Igreja Católica de seita, no sentido que os reformadores quiseram, ao apontar os supostos “desvios” que o Catolicismo tenha feito para tornar-se seita.

No entanto, pensemos bem: a Igreja Católica realmente na história não pode ser uma seita. Quanto mais um historiador conhece a História, mas fica convencido de que a Igreja Católica nasceu por meio de Jesus Cristo. A Igreja Católica é a Igreja. Não uma igreja, mas a Igreja.

A questão teológica, também, está clara: o Catolicismo é realmente o Cristianismo original. Mas, nesse campo, há debates seculares, principalmente nos últimos cinco séculos, que podem e devem ser enfrentados. A verdade surge no choque das ideias.

Por isso, ao esfacelar-se o Cristianismo em muitas igrejas, ao longo da história, e principalmente a partir do décimo sexto século, não faz da igreja original uma das suas partes, a ponto de chamá-la seita no sentido histórico. A partir daí a mente pode galgar para lugares mais teológicos, que são os mais elevados, digamos.

Os protestantes são católicos que deram errado, é o que Chesterton pode averiguar. As doutrinas que o Protestantismo mantem e que tem fundamento, são todas católicas. Por exemplo, diz Chesterton, os calvinistas ficaram obcecados com a ideia católica da soberania de Deus. Ao ensinar que Deus quer que algumas pessoas sejam condenadas, com esse ensino torna-se o protestante um católico doente. Essa constatação de Chesterton, que não é aceita pelos calvinistas, é, mesmo assim, muito correta.

Uma doutrina católica é muito enfatizada por um protestante. Então, a partir dela, tira-se conclusões que a tornam diferente. Nasce aí o problema.

Neste blog estudei a doutrina reformada nessa questão, em sua centralidade, como fundamento da teologia reformada, e mostro com pormenores que os reformados ensinam a doutrina católica quase inteira nesse quesito, errando apenas em alguns pontos importantes. E, o leitor que quiser saber, deverá ler os artigos que mostram com detalhes esses pontos, onde eles acontecem. E nenhum reformado refutou os argumentos apresentados.

No tempo de Chesterton não se imaginava um novo renascimento dos Quackers, nem do Calvinismo como “fundador de um novo mundo Calvinista”, pois são eles, os Quackers e os Calvinistas, personagens da história católica.

Será que alguém pode pensar isso hoje? É a realidade da qual se está afastada a mente de tantos, talvez da maioria, o empecilho para entender essa questão. Uns por não conhecerem o mundo cristão por diversos motivos, outros por estarem alheios à história do Protestantismo nesse nível de profundidade, outros por terem adotado princípios que são irreais, que não condizem com a realidade histórica.

É possível chegar à verdade, mas muitos não querem. Isso mesmo, não querem. E esse querer não é o da superfície da mente, mas o do coração. É conhecido pela mente, pois os que não têm vontade de conhecer a verdade pensam que já a conhecem, e por isso tendem a negar ir além do que já sabem, sendo aí o ponto nevrálgico do sintoma da rejeição. Ou melhor dizendo, é algo que acontece muito frequentemente em qualquer campo do conhecimento humano. O homem deseja o bem e a felicidade, mas tende ao mal e ao erro que causa sofrimento.

Assim, temos que muitas e muitas vezes, a maioria esmagadora delas, o ser humano não quer pensar diferente daquilo que já pensa. Um exemplo muito oportuno para o assunto do qual se trata aqui é a posição calvinista diante da verdade católica.

Em uma palestra, um teólogo calvinista, aliás admirador de Chesterton, sobre o calvinismo chestertoniano, em um momento da palestra cita uma passagem de Chesterton onde ele aponta um escritor que ajudou a refutar o calvinismo. Nesse momento, em uma questão de segundos, e com grande facilidade, de forma jocosa, o palestrante revela o que foi explicado acima. De fato, ele diz que por esse motivo (ou seja, porque o autor é um adversário do calvinismo) ele (o palestrante) não quer conhecer esse autor!!!

É algo corriqueiro esse tipo de pensamento. Geralmente o ser humano não quer mudar de posição e evita lugares onde essa posição possa ser balançada. A atitude do que ama a verdade e, ainda que através de uma batalha contra si mesmo, quer conhecê-la, é continuar a pesquisar mesmo onde o ambiente parece ser hostil, enfrentando argumentos realmente importantes, mesmo que evidenciem poder demovê-lo da sua posição. É algo árduo, por isso tão incomum.

Não se está por isso chamando o palestrante de alguém que não ama a verdade, porque ele pensa que já a encontrou. Mas, ele está em uma posição comum a todos nesse quesito, onde evita lidar seriamente com argumentos opostos. O amor à verdade deve ser algo alimentado, para ir fortalecendo-se e possibilitando a subida para degraus mais elevados. Ainda que se tenha certeza, não se deve fechar a novas ideias antes de entendê-las e ter motivos para isso.

Que o leitor possa ter a paciência de ler os artigos que tratam da doutrina reformada, e certamente irá notar que há questões intricadas e que essas são facilmente resolvidas pelo Catolicismo, com base bíblica sólida e com clareza singular. Para aqueles que não perceberam que em todas as questões em que se alcançou a verdade ou que se está chegando próximo dela o indivíduo está mais católico do que antes, como Chesterton já havia notado e ensinado, convido a ler os artigos e, para essa nota especial, o artigo que trata dos sacramentos na doutrina reformada, com específica análise da teologia batista tem em consideração obra de um teólogo batista renomado.

A teologia católica é tão abrangente que seu nome revela essa abrangência. É o pensar católico, o pensamento total das coisas, que caracteriza o pensamento cristão católico. Por isso, aqueles que olham para Roma com parcialidades podem encontrar elementos que não mudam, dando a impressão de que Roma parou no tempo, e partes tão altamente atualizadas e atualizantes que enganam o parcial pesquisador, como se Roma fosse um camaleão. Certamente isso ocorre na avaliação do pastor Tiago Cavaco. Deem uma olhada no estudo do livro Cuidado com o Alemão. Enfim, que os calvinistas percebam os verdadeiros problemas da Teologia Reformada.


Essa reflexão foi feita a partir do capítulo 4 do livro A Igreja Católica e Conversão, de Chesterton.


Gledson Meireles.



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