A respeito dos hereges, Santo
Inácio exorta a mantermos distância dos mesmos. Desses ele afirma que não são
plantas de Deus, são plantas más, e que Jesus não cuida delas por isso. Então,
escreve: “Pois quantos são de Deus e de Jesus
Cristo estão também com o bispo. E quantos irão, no exercício do
arrependimento, retornar à unidade da Igreja, esses, também, pertencerão a Deus,
para que eles vivam de acordo com Jesus Cristo”[1].
Muito diferente do que ensinam em muitas igrejas, de que o pertencimento à
Igreja invisível é que garante a salvação. Santo Inácio não ensina essa
doutrina. Essa exortação é claramente referente ao pertencimento à Igreja visível,
pois deve-se estar em comunhão com o bispo, que é sinal de que o fiel está com
Deus e com Jesus Cristo. Portanto, Santo Inácio afirma que o retorno à unidade
da Igreja é o retorno à Igreja visível. Assim, e por meio disso, estará ligado
à Igreja invisível.
Mais adiante, afirma completando
o sentido de sua exortação: “Se algum homem segue
aquele que faz cisma na Igreja, ele não herdará o reino de Deus”[2].
Isso significa que se alguém segue o cismático e não mais está com o bispo, em
sua autoridade, e vai atrás de outro líder cristão herege, esse não está mais
na Igreja, e assim não será salvo. É a verdade de que fora da Igreja não há
salvação.
Sobre a Eucaristia, santo Inácio ensina:
“Preste atenção, então, para ter só uma Eucaristia.
Pois há uma carne de nosso Senhor Jesus Cristo, e um cálice para [mostrar] a
unidade de Seu Sangue; um altar; como há um bispo, juntamente com o presbitério
e os diáconos...”[3].
Essa apresentação é muito sugestiva, pois é evidente a fé na Eucaristia como
real corpo e sangue de Jesus, e que é um sacrifício, pois menciona o altar, que
é lugar de sacrifício, e refere-se também ao simbolismo da Eucaristia, a
unidade, assim como mostra a hierarquia da Igreja sob um só bispo, o corpo de
presbíteros, que são os padres, e, finalmente, os diáconos. Essa é uma elucidação,
pois as palavras de Santo Inácio são compatíveis com a fé na presença de Jesus
nos elementos do pão e do vinho, e incompatível com as teologias que séculos vieram
depois.
Então, escrevendo na Epístola aos
Esmirnenses, capítulo 7, a respeitos dos hereges: “Eles
abstém-se da Eucaristia e da oração, porque eles não confessam a Eucaristia ser
a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual sofreu por nossos pecados, e a
qual o Pai, de Sua bondade, ressuscitou novamente.”[4]
Para refutar os hereges do docetismo gnóstico, que não criam na realidade da
encarnação de Cristo, e apenas ensinavam uma aparência de humanidade nEle, São
Justino mostra esses heréticos não confessando a verdade de que a Eucaristia é
a Carne de Jesus. Não poderia estar se referindo a um simbolismo, já que isso
não refutaria o gnosticismo. Ele mostrava ser uma identidade da
Eucaristia=carne e sangue de Cristo.
Seria inócuo afirmar que a
Eucaristia era apenas símbolo da Carne de Jesus que seria apenas aparente. Isso
estava mais conforme o modo de pensar dos gnósticos. Pelo contrário, ele prova
que Jesus tem verdadeiro Corpo, e que a Eucaristia é esse Corpo que os hereges
negam.
Ainda, contra essa heresia,
apresenta o dogma da Eucaristia como necessário professar: “Aqueles, portanto, que falam contra esse dom de Deus,
incorrem morte no meio de suas disputas”[5].
Para ficar ainda mais claro quanto
a isso e à hierarquia da Igreja, Santo Inácio apresenta o sacerdócio, que é o
que torna possível a celebração da Eucaristia, apresentando a Igreja visível,
com sua hierarquia, que é a Igreja de Jesus, pois é onde Ele está:
“Que
nenhum homem faça nada ligado à Igreja sem o bispo. Que seja observada a
própria Eucaristia, a qual é [administrada] ou pelo bispo, ou por um daqueles
que ele a confiou. Onde o bispo aparecer, a multidão [do povo] também estará;
assim como, onde Jesus Cristo está, há a Igreja Católica.”[6]
Alguém diria que a designação Igreja
Católica tinha um sentido diferente na época, o que não é verdade. Ele está
falando da Igreja em toda parte, cada qual, dentro de suas circunstâncias, sob
a autoridade de um bispo, e também governada, com ele, pelo grupo dos
presbíteros e pelos diáconos. Sendo assim, toda a Igreja tem sua união em Jesus
Cristo. Não é à Igreja invisível que se refere o texto, mas à visibilidade, à
concretude da Igreja Católica na terra.
E nesse contexto todo, exorta: “É bom reverenciar a Deus e ao bispo. Aquele que honra o
bispo foi honrado por Deus; aquele que faz algo sem o conhecimento do bispo, [na
verdade] serve o Demônio.”[7]
Não podia ser mais claro.
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