domingo, 14 de fevereiro de 2016

Santo Inácio: o pertencimento à Igreja e a Eucaristia

A respeito dos hereges, Santo Inácio exorta a mantermos distância dos mesmos. Desses ele afirma que não são plantas de Deus, são plantas más, e que Jesus não cuida delas por isso. Então, escreve: “Pois quantos são de Deus e de Jesus Cristo estão também com o bispo. E quantos irão, no exercício do arrependimento, retornar à unidade da Igreja, esses, também, pertencerão a Deus, para que eles vivam de acordo com Jesus Cristo[1]. Muito diferente do que ensinam em muitas igrejas, de que o pertencimento à Igreja invisível é que garante a salvação. Santo Inácio não ensina essa doutrina. Essa exortação é claramente referente ao pertencimento à Igreja visível, pois deve-se estar em comunhão com o bispo, que é sinal de que o fiel está com Deus e com Jesus Cristo. Portanto, Santo Inácio afirma que o retorno à unidade da Igreja é o retorno à Igreja visível. Assim, e por meio disso, estará ligado à Igreja invisível.
Mais adiante, afirma completando o sentido de sua exortação: “Se algum homem segue aquele que faz cisma na Igreja, ele não herdará o reino de Deus[2]. Isso significa que se alguém segue o cismático e não mais está com o bispo, em sua autoridade, e vai atrás de outro líder cristão herege, esse não está mais na Igreja, e assim não será salvo. É a verdade de que fora da Igreja não há salvação.
Sobre a Eucaristia, santo Inácio ensina: “Preste atenção, então, para ter só uma Eucaristia. Pois há uma carne de nosso Senhor Jesus Cristo, e um cálice para [mostrar] a unidade de Seu Sangue; um altar; como há um bispo, juntamente com o presbitério e os diáconos...[3]. Essa apresentação é muito sugestiva, pois é evidente a fé na Eucaristia como real corpo e sangue de Jesus, e que é um sacrifício, pois menciona o altar, que é lugar de sacrifício, e refere-se também ao simbolismo da Eucaristia, a unidade, assim como mostra a hierarquia da Igreja sob um só bispo, o corpo de presbíteros, que são os padres, e, finalmente, os diáconos. Essa é uma elucidação, pois as palavras de Santo Inácio são compatíveis com a fé na presença de Jesus nos elementos do pão e do vinho, e incompatível com as teologias que séculos vieram depois.
Então, escrevendo na Epístola aos Esmirnenses, capítulo 7, a respeitos dos hereges: “Eles abstém-se da Eucaristia e da oração, porque eles não confessam a Eucaristia ser a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, a qual sofreu por nossos pecados, e a qual o Pai, de Sua bondade, ressuscitou novamente.”[4] Para refutar os hereges do docetismo gnóstico, que não criam na realidade da encarnação de Cristo, e apenas ensinavam uma aparência de humanidade nEle, São Justino mostra esses heréticos não confessando a verdade de que a Eucaristia é a Carne de Jesus. Não poderia estar se referindo a um simbolismo, já que isso não refutaria o gnosticismo. Ele mostrava ser uma identidade da Eucaristia=carne e sangue de Cristo.
Seria inócuo afirmar que a Eucaristia era apenas símbolo da Carne de Jesus que seria apenas aparente. Isso estava mais conforme o modo de pensar dos gnósticos. Pelo contrário, ele prova que Jesus tem verdadeiro Corpo, e que a Eucaristia é esse Corpo que os hereges negam.
Ainda, contra essa heresia, apresenta o dogma da Eucaristia como necessário professar: “Aqueles, portanto, que falam contra esse dom de Deus, incorrem morte no meio de suas disputas[5].
Para ficar ainda mais claro quanto a isso e à hierarquia da Igreja, Santo Inácio apresenta o sacerdócio, que é o que torna possível a celebração da Eucaristia, apresentando a Igreja visível, com sua hierarquia, que é a Igreja de Jesus, pois é onde Ele está:
Que nenhum homem faça nada ligado à Igreja sem o bispo. Que seja observada a própria Eucaristia, a qual é [administrada] ou pelo bispo, ou por um daqueles que ele a confiou. Onde o bispo aparecer, a multidão [do povo] também estará; assim como, onde Jesus Cristo está, há a Igreja Católica.”[6]
Alguém diria que a designação Igreja Católica tinha um sentido diferente na época, o que não é verdade. Ele está falando da Igreja em toda parte, cada qual, dentro de suas circunstâncias, sob a autoridade de um bispo, e também governada, com ele, pelo grupo dos presbíteros e pelos diáconos. Sendo assim, toda a Igreja tem sua união em Jesus Cristo. Não é à Igreja invisível que se refere o texto, mas à visibilidade, à concretude da Igreja Católica na terra.
E nesse contexto todo, exorta: “É bom reverenciar a Deus e ao bispo. Aquele que honra o bispo foi honrado por Deus; aquele que faz algo sem o conhecimento do bispo, [na verdade] serve o Demônio.”[7] Não podia ser mais claro.
Gledson Meireles.

[1] Epístola aos Filadelfos, 3.
[2] Ibid.
[3] Ibid., 4.
[4] Epístola aos Esmirnenses, 7.
[5] Ibid.
[6] Ibid., 8.
[7] Ibid., 9.

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