Abaixo uma reflexão breve sobre três documentos que falam do batismo
infantil, e da natureza do batismo.
A respeito da forma do batismo usual no início da Igreja, que
foi por infusão ou mesmo aspersão, segundo o que testemunha a Bíblia, pode ser
conferido aqui.
Tertuliano e o batismo infantil
Tertuliano
escreveu em seu tratado sobre o batismo, capítulo 18: “E, então, de acordo com as circunstâncias e
disposição, e até idade, de cada
indivíduo, a demora do batismo é preferível; principalmente, entretanto, no
caso de crianças pequenas.” [1]
Para
Tertuliano o batismo era muitíssimo valoroso, um dom preciosíssimo que não
deveria ser entregue de forma imprudente, e para quem evidentemente não tivesse
a possibilidade de guardá-lo como era necessário. Que as pérolas não fossem
jogadas aos porcos, conforme Mateus 7,6.
Os
casos em que as Escrituras mostram pessoas sendo batizadas imediatamente,
depois da conversão, são porque Deus, segundo Tertuliano, proporcionou o
conhecimento de que aquelas pessoas receberiam responsavelmente a graça, como
que uma iluminação que apontava a adequada realização do batismo para aquela
pessoa. Assim,
Tertuliano afirma que: A aprovação de Deus envia
sinais premonitórios seguros diante dele; cada petição pode enganar ou ser
enganada.[2]
Fora
disso, as circunstâncias deveriam ser analisadas, e a disposição
da pessoa conhecida, para que de forma segura fosse percebida a bondade própria
dessa disposição para o recebimento de tão grande dom. E até da idade, diz
Tertuliano, pois como no batismo infantil era preciso pensar que a tenra idade
poderia ser perigosa para a recepção do batismo, pois aquele indivíduo poderia,
mais tarde, negar o dom recebido sem a devida consciência de seu valor. Mais
ainda a respeito dos bebês.
Nesse
caso, os padrinhos da criança estariam em perigo, pois responderiam por aquele
ato. Talvez, veriam a pessoa batizada crescendo de forma contrária àquilo que
deveria ocorrer em sua vida de batizado. O batismo ali, então, não era tão
necessário, visto essas exigências.
Então,
Tertuliano aconselhava esperar que se tornem cristãos aqueles que pedirem, que
estiverem aptos a conhecer a Cristo. E, também, porque o bebê estaria na fase
da inocência, a qual não deveria haver tanta pressa para o batismo. Pois as
crianças não são responsáveis por assuntos mundanos importantes, quanto mais
pelas coisas divinas. Quem entender o
sentido do batismo temerá mais sua recepção que sua demora: “a fé sadia é segura de salvação”. Veja então o tamanho valor do batismo.[3]
São Cipriano e o batismo infantil
São
Cipriano discutiu uma questão, em Concílio, a respeito do batismo infantil.
Havia quem pensasse não poder ser batizada uma criancinha com dois ou três dias
de nascimento, mas somente após o 8º dia, como estava na lei de Moisés
concernente à circuncisão. Assim, São Cipriano esclarece, pelo que podemos
notar no tom de suas palavras, que esse não é o costume da Igreja, não foi o
consenso dos padres do concílio, pois Deus quer a salvação de todos,
independente da idade. Assim, a Igreja batiza a todos. Diz São Cipriano: Devemos nos esforçar que, se possível, que
nenhuma alma seja perdida. Temos aqui
explicitamente o batismo ligado à salvação, mesmo dos pequeninos.[4]
São
Cipriano fala do tempo que foi designado por Tertuliano como período da
inocência. Ele escreve: “sendo
ultimamente nascido, não pecou, exceto que, tendo nascido da carne segundo Adão”. A criança “não pecou”, mas tal não significa
que o infante não tenha pecado nenhum, pois há o pecado original, aquele que
herdou de Adão.[5]
Santo Agostinho e o batismo infantil
Santo
Agostinho afirmou que as pessoas levavam os infantes (criancinhas pequeninas,
bebês) para serem batizadas por causa do pecado original que elas haviam
herdado do nascimento natural, para serem purificadas pela “regeneração do
segundo nascimento”, que é o batismo.[6]
Conclusão:
Esses
testemunhos, sobre o batismo, do século 2º, 3º e 4º são de importância imensa.
Tertuliano escreve de forma a deixar subentendido que o batismo de crianças era
a norma em seu tempo, e que o mesmo não se opunha a ele em sua essência. Sua
opinião apenas lidava com a importância do mesmo. Não negou o batismo infantil
em si, opinou somente para que fosse esperado o momento para que pedissem o
mesmo.
São
Cipriano deixa mais clara a questão, e mostra, como Tertuliano, que o batismo é
para a salvação, mas que deve ser conferido a todos, sem limite de idade, e que
ainda que as criancinhas não pequem, são nascidas no pecado. Tertuliano não
deixou claro seu “período de
vida inocente”. Certamente esteja se
referindo ao período em que as crianças não podem cometer pecados pessoais, e
nesse sentido estão inocentes diante de Deus. Não são cristãos ainda, não são
salvos, segundo o mesmo texto, pois ele diz que deve-se esperar que peçam para
serem batizados e recebam a salvação. Devemos, antes, entender o contexto para
o que Tertuliano colocou essa precaução para a realização do batismo. Não foi, porém,
uma prática geral da Igreja Católica. Hoje também pode haver circunstâncias em
que a Igreja Católica entenda ser preferível não batizar uma criancinha, até
que certas exigências sejam supridas.
E
São Agostinho testemunha da prática do batismo infantil, da fé no pecado
original, e de que o batismo é para a salvação.
Em
todos esses documentos, aprendemos que no segundo, terceiro e quarto século, a
mesma fé sobre o batismo foi mantida. Em nenhum momento alguém objetou que o
batismo devesse ser somente para crentes, nem que o mesmo fosse apenas um
testemunho público da conversão e novo nascimento, e de que as criancinhas não
devessem ser batizadas por não terem a capacidade de exercer fé. Esses
argumentos não existiam.
O
único argumento que poderia ser usado para a realização do batismo após a idade
da razão é aquele de Tertuliano, mas o mesmo usou de outros motivos. O batismo
é para remissão dos pecados, e como a criança não havia cometido ainda nenhum
pecado, o batismo poderia ser esperado. Esse é o argumento. Não parece em nada
com a argumentação de muitas igrejas atuais, onde o batismo seria apenas um
símbolo do novo nascimento, e como esse somente pudesse ser realizado mediante
a fé, somente o batismo de crentes seria o batismo “bíblico”. Tertuliano não
subscreveria tal noção de batismo.
Além
do mais, a posição de Tertuliano quanto à idade para o batismo não foi o
costume da Igreja, mas tem seu valor, enquanto leva-nos a entender o sentido
profundo do sacramento do batismo.
Para
os dois santos, São Cipriano e Santo Agostinho, o primeiro entre o segundo e o terceiro
século, e o segundo entre o terceiro e o quarto, temos a doutrina apostólica
testemunhada. Todos criam no batismo como o sacramento da fé, o sacramento da
salvação, onde o perdão dos pecados é realizado, e que as criancinhas são
candidatas ao batismo como todos os adultos. Aliás, para santo Agostinho as crianças
mortas sem o batismo não poderiam entrar no céu, mas seriam condenadas ao
inferno, embora suas punições fossem as menores possíveis, visto não terem
cometido pecados. Assim, a eclesiologia de santo Agostinho é puramente
católica, onde é necessário fazer parte da Igreja Católica visível, e
participar dos seus sacramentos.
Enfim,
o batismo é o sacramento da salvação, e deve ser conferido a todos, infantes e
adultos.
[as fontes citada estão disponível em www.newadvent.org]
Gledson
Meireles.