terça-feira, 13 de junho de 2023

Livro: A lenda da imortalidade da alma. Sobre a esperança da ressurreição

Refutação: Uma esperança ofuscada


De fato, com o passar do tempo, a imortalidade da alma foi ficando mais comum na doutrina pregada do que a ênfase na ressurreição da carne, embora na Igreja Católica a ressurreição da carne é lembrada sempre, em todas as missas, e ensinada no catecismo.

No entanto, a imortalidade da alma não é incompatível com a doutrina da ressurreição da carne, crida desde sempre na Igreja, como afirma Oscar Cullmann, equivocado nesse sentido.

Primeiramente, é preciso entender que a alma não é a “essência” do ser hnumano, mas parte da natureza humana, formando com o corpa a pessoa humana. Por isso, a alma foi entendida como a forma do corpo, como aquilo que faz com que o ser humano seja o que é, e, portanto, ela não pode ser vista como um ente separado que pode passar a eternidade sem o corpo. Partindo daí, já se refuta a opinião filosófica grega.

Pensar que o corpo físico, “mesmo em estado glorificado” possui limitações tamanhas, que não poderiam ser comparadas às habilidades angélicas, é um erro. O corpo glorificado será semelhante aos anjos em sua capacidade de viver no reino dos céus, em transportar-se para outros lugares, em não estar mais limitado ao material. Assim, mais uma noção que se deve ter em mente quando se fala da ressurreição.

Por isso, a ideia de um “ser” preso em um corpo é ideia platônica, não cristã.

Interessante as vezes em que se faz crítica à imortalidade da alma a presença das expressões “perseguindo nunves”, e até “atravessando paredes”.

Mas, voltando ao assunto, Jesus pôde aparecer e desaparecer quando quis em Seu Corpo glorificado. Não precisou alimentar-Se, e subiu aos céus na presença de muitas testemunhas. Esse corpo não é apenas “melhorado” e continuando inferior ao ser espiritual, mas terá habilidades espirituais, pois será o corpo do homem espiritual.

Então, a ideia mortalista é que os gregos estavam sendo muito mais lógicos ao crer na imortalidade da alma e negar a ressureição, do que os cristãos que creem em ambas as coisas.

Interessante as críticas da teologia da prosperidade, e da devoção aos santos, e a Maria, para afirmar que são doutrinas que tiram o foco, que desviam de algo. Nessa crítica é dito que na Ave Maria quase não se fala de Jesus. Por que o rosário é assim? Simplesmente porque é uma oração mariana. Mas, agora vem a segunda parte da resposta: ela é dirigia a Maria porque Maria é mãe de Jesus. De fato, em toda Ave Maria se fala de Jesus: “bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. Em todo o rosário são contemplados a vida de Cristo, e em cada mistério há incício com o Pai Nosso. No começo do terço há a oração do Credo, a Trindade é enfatizada em toda a oração. Somente para ficar mais clara essa questão do rosário. Mas, é certo que o Protestnatismo tem um olhar diferente, afirmando só praticar o que a Bíblia ordena, e sem não for encontrado uma ordem para se rezar a Maria, então os fieis não rezarão, e assim por diante. É uma aproximação diversa das Escrituras em comparação com os católicos.

As citações do famoso livro de Santo Afonso de Ligório são bem profundas, mal entendidas, praticamente nunca entendidas pelos protestantes, e vistas como bastante equivocadas, muito exageradas, etc., por críticos. De fato, a citação feita: “muitas coisas se pedem a Deus, e não se alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se”, é entendida como se Maria atendesse mais oração do que Deus. É óbvio que o protestante não aceitará a afirmação, nem a explicação, mas aqui será dada uma reposta breve e clara sobre o que Santo Afonso ensinou: “muitos pedem a Deus e, por falta de fé suficiente, não são atendidos. Quando vão a Maria, e pedem humildemente que ela se apresente a Deus em seu favor, então conseguem o favor de Deus, não porque Deus não tenha querido atende-los, mas porque faltou-lhes a humildade diante de Deus, que foi apresentada pela virgem Maria pedindo pelo pobre pecador. Obviamente o protestante dirá que não se deve pedir a Maria, que o que não tem fé não recebe o pedido, etc., etc., mas é essa a intenção da frase de Santo Afonso, que mostra bastante fé, humildade, a está segundo a doutrina do evangelho.

Talvez, a falta de ênfase na ressurreição, de estudos sobre o tema, seja pelo fato, também, de que essa doutrina não teve negações importantes durante a Idade Média e Moderna. A ressurreição da carne não é dispensável, é essencial, visto que a alma não foi feita sem corpo, mas no corpo. Por isso, não é superior a ida da alma ao céu do que a ida da pessoa ao céu de corpo e alma.

No tempo de santo Ireneu, como mostra em seu livro 5, capítulo 31, os hereges não criam na salvação da carne, e começaram a ensinar que o homem interior ia para a presença de Deus após a morte. Santo Ireneu usou a ressurreição de Cristo para ensinar que a carne deve ser salva igualmente, e que assim como Cristo, que desceu às profundezas da terra, ressuscitou e, depois, subiu ao céu, os salvos deverão ir para o lugar preparado por Deus, e esperar a ressurreição, para depois subir ao céu.

Nesse livro, santo bispo Ireneu fala da ressurreição “afetando o homem inteiro”, o que alude à ressurreição do corpo e da alma, e fala dos santos mortos que dormiam na terra da sepultura. Ao dizer isso, não se entende que a alma morre e ressuscita, mas que a carne também ressuscitará, voltará a viver com a alma.

Então, essa linguagem é a mesma que o mortalismo utiliza em suas críticas, mas não tem o mesmo sentido, pois santo Ireneu apenas está mostrando que o corpo deverá ser ressuscitado, pois afirma que as almas dos mortos estavam nas sombras da morte, para onde Cristo desceu, e afirma que as almas deverão ir a um lugar preparado por Deus antes da ressurreição.

Essa foi a forma que santo Ireneu usou para refutar os que negavam a ressurreição dos mortos, e por sua apresentação entende-se mais a linguagem dos apologistas em seu tempo, ao falar da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. Certamente, ele estava debatendo com heresias semelhantes àquela combatida por São Paulo, que negavam a ressureição. Assim, entende-se que na antiguidade muitos criam na imortalidade da alma e negavam ressurreição dos mortos, mas, como santo Ireneu, os cristãos criam na imortalidade da alma e na ressurreição dos mortos.

Gledson Meireles.

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