Refutação: Uma esperança ofuscada
De fato, com o passar do
tempo, a imortalidade da alma foi ficando mais comum na doutrina pregada do que
a ênfase na ressurreição da carne, embora na Igreja Católica a ressurreição da
carne é lembrada sempre, em todas as missas, e ensinada no catecismo.
No entanto, a imortalidade da
alma não é incompatível com a doutrina da ressurreição da carne, crida desde
sempre na Igreja, como afirma Oscar Cullmann, equivocado nesse sentido.
Primeiramente, é preciso
entender que a alma não é a “essência” do ser hnumano, mas parte da natureza
humana, formando com o corpa a pessoa humana. Por isso, a alma foi entendida
como a forma do corpo, como aquilo que faz com que o ser humano seja o que é, e,
portanto, ela não pode ser vista como um ente separado que pode passar a
eternidade sem o corpo. Partindo daí, já se refuta a opinião filosófica grega.
Pensar que o corpo físico, “mesmo
em estado glorificado” possui limitações tamanhas, que não poderiam ser
comparadas às habilidades angélicas, é um erro. O corpo glorificado será
semelhante aos anjos em sua capacidade de viver no reino dos céus, em
transportar-se para outros lugares, em não estar mais limitado ao material.
Assim, mais uma noção que se deve ter em mente quando se fala da ressurreição.
Por isso, a ideia de um “ser”
preso em um corpo é ideia platônica, não cristã.
Interessante as vezes em que
se faz crítica à imortalidade da alma a presença das expressões “perseguindo
nunves”, e até “atravessando paredes”.
Mas, voltando ao assunto,
Jesus pôde aparecer e desaparecer quando quis em Seu Corpo glorificado. Não
precisou alimentar-Se, e subiu aos céus na presença de muitas testemunhas. Esse
corpo não é apenas “melhorado” e continuando inferior ao ser espiritual, mas
terá habilidades espirituais, pois será o corpo do homem espiritual.
Então, a ideia mortalista é
que os gregos estavam sendo muito mais lógicos ao crer na imortalidade da alma
e negar a ressureição, do que os cristãos que creem em ambas as coisas.
Interessante as críticas da
teologia da prosperidade, e da devoção aos santos, e a Maria, para afirmar que
são doutrinas que tiram o foco, que desviam de algo. Nessa crítica é dito que
na Ave Maria quase não se fala de Jesus. Por que o rosário é assim?
Simplesmente porque é uma oração mariana. Mas, agora vem a segunda parte da
resposta: ela é dirigia a Maria porque Maria é mãe de Jesus. De fato, em toda
Ave Maria se fala de Jesus: “bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus”. Em todo
o rosário são contemplados a vida de Cristo, e em cada mistério há incício com
o Pai Nosso. No começo do terço há a oração do Credo, a Trindade é enfatizada
em toda a oração. Somente para ficar mais clara essa questão do rosário. Mas, é
certo que o Protestnatismo tem um olhar diferente, afirmando só praticar o que
a Bíblia ordena, e sem não for encontrado uma ordem para se rezar a Maria, então
os fieis não rezarão, e assim por diante. É uma aproximação diversa das
Escrituras em comparação com os católicos.
As citações do famoso livro de
Santo Afonso de Ligório são bem profundas, mal entendidas, praticamente nunca
entendidas pelos protestantes, e vistas como bastante equivocadas, muito exageradas,
etc., por críticos. De fato, a citação feita: “muitas
coisas se pedem a Deus, e não se alcançam. Pedem-se a Maria, e conseguem-se”, é entendida como se Maria atendesse mais oração do
que Deus. É óbvio que o protestante não aceitará a afirmação, nem a explicação,
mas aqui será dada uma reposta breve e clara sobre o que Santo Afonso ensinou: “muitos
pedem a Deus e, por falta de fé suficiente, não são atendidos. Quando vão a
Maria, e pedem humildemente que ela se apresente a Deus em seu favor, então
conseguem o favor de Deus, não porque Deus não tenha querido atende-los, mas
porque faltou-lhes a humildade diante de Deus, que foi apresentada pela virgem
Maria pedindo pelo pobre pecador. Obviamente o protestante dirá que não se deve
pedir a Maria, que o que não tem fé não recebe o pedido, etc., etc., mas é essa
a intenção da frase de Santo Afonso, que mostra bastante fé, humildade, a está
segundo a doutrina do evangelho.
Talvez, a falta de ênfase na
ressurreição, de estudos sobre o tema, seja pelo fato, também, de que essa doutrina
não teve negações importantes durante a Idade Média e Moderna. A ressurreição
da carne não é dispensável, é essencial, visto que a alma não foi feita sem
corpo, mas no corpo. Por isso, não é superior a ida da alma ao céu do que a ida
da pessoa ao céu de corpo e alma.
No tempo de santo Ireneu, como
mostra em seu livro 5, capítulo 31, os hereges não criam na salvação da carne, e
começaram a ensinar que o homem interior ia para a presença de Deus após a
morte. Santo Ireneu usou a ressurreição de Cristo para ensinar que a carne deve
ser salva igualmente, e que assim como Cristo, que desceu às profundezas da
terra, ressuscitou e, depois, subiu ao céu, os salvos deverão ir para o lugar
preparado por Deus, e esperar a ressurreição, para depois subir ao céu.
Nesse livro, santo bispo
Ireneu fala da ressurreição “afetando o homem inteiro”, o que alude à
ressurreição do corpo e da alma, e fala dos santos mortos que dormiam na terra
da sepultura. Ao dizer isso, não se entende que a alma morre e ressuscita, mas
que a carne também ressuscitará, voltará a viver com a alma.
Então, essa linguagem é a
mesma que o mortalismo utiliza em suas críticas, mas não tem o mesmo sentido,
pois santo Ireneu apenas está mostrando que o corpo deverá ser ressuscitado, pois
afirma que as almas dos mortos estavam nas sombras da morte, para onde Cristo
desceu, e afirma que as almas deverão ir a um lugar preparado por Deus antes da
ressurreição.
Essa foi a forma que santo
Ireneu usou para refutar os que negavam a ressurreição dos mortos, e por sua
apresentação entende-se mais a linguagem dos apologistas em seu tempo, ao falar
da imortalidade da alma e da ressurreição dos mortos. Certamente, ele estava
debatendo com heresias semelhantes àquela combatida por São Paulo, que negavam
a ressureição. Assim, entende-se que na antiguidade muitos criam na
imortalidade da alma e negavam ressurreição dos mortos, mas, como santo Ireneu,
os cristãos criam na imortalidade da alma e na ressurreição dos mortos.
Gledson Meireles.
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