Respondendo a argumentos sobre o estado intermediário dos mortos no Novo Testamento, capítulo 9 do livro A lenda da imortalidade da alma.
Há uma continuidade do estado da vida após a morte entre o AT e o NT. Mas também há uma diferença do local onde as almas se encontram.
Mas, será que o Novo Testamento é enfático em “negar” a imortalidade da alma, como afirma o livro? De fato não. O Novo Testamento é ainda mais luminoso em mostrar que a alma é imortal, ainda que o foco esteja na ressurreição, visto que a morte não é o plano de Deus para o homem, que criou o ser humano como corpo e alma, e portanto o corpo não pode ser desprezado.
Vamos ver se a exegese e a argumentação sobre a imortalidade da alma é de fato “notoriamente pobre”, ou se, pelo contrário, ela destrói os argumentos mortalistas. Pois bem, na refutação do capítulo nove o foco está em mostrar sinais do que acontece com a alma entre a morte e a ressurreição, provando que a mesma continua existindo, e não que tenha sido morta com o corpo.
O primeiro ponto que deve ser entendido para a busca
da imortalidade é simples. Não deve ser confundido com a imortalidade da alma,
mas com a imortalidade da pessoa inteira, que foi criada para não morrer, e
viver vida física eternamente. Assim, a mortalidade é a separação do corpo e da
alma. Então, buscar a imortalidade é buscar não perder a vida física. Desse
modo, ter a alma imortal não é o mesmo que ter imortalidade, já que se passa
pelo sofrimento e angústia da morte, vivendo em um estado não natural,
contrário à natureza que Deus criou, como castigo do pecado, e por isso a
ressurreição é o prêmio. O cristão busca a glória, a honra e a imortalidade,
que será dada na ressurreição, no dia final (cf. 2, 6-7).
Se Jesus diz que irá para o Pai, para a casa de Deus, preparar um lugar, esse lugar não é a terra, mas o céu. É simples de entender, e parece que o argumento presente está refutado.
Dessa forma, textos como Rm 2, 7 diz respeito à morte da pessoa, e não da parte espiritual do ser humano em particular.
Então, 2 Tm 1, 10 onde a vida e a imortalidade são citados, mostra que a vida é a ressureição e a imortalidade é a cessação da possibilidade de morrer novamente. Ainda, essa vida é a vida glorificada e feliz no Reino de Deus.
Não há um texto expressamente afirmando que o homem é imortal, porque de fato não é. Mas, quanto à alma, há vários que descrevem uma realidade onde a mesma existe e sobrevive à morte da pessoa e muitas que só podem ser lidas adequadamente considerando a alma imortal.
Sabe-se que os anjos não morrem. Mas, infelizmente essa objeção é considerada no livro como “ingênua”. Vejamos o motivo.
A explicação seria que os anjos não possuem a imortalidade, mas que não morrem condicionalmente enquanto ficarem obedientes a Deus, porque Satanás e os maus anjos serão destruídos.
Isso explica bem o fato? Isso mostra que a premissa anterior, de que os anjos não morrem e portanto são imortais trata-se de uma premissa incorreta, de um argumento ingênuo?
Afirmar que os anjos não possuem em si um elemento imortal que os faça viver para sempre, e que não morrem, existindo infinitamente, pode ser do mesmo modo dado à alma, que de fato não morre.
Caso o aniquilacionismo existisse, a alma teria de ser morta por Deus, assim como os anjos, na doutrina aniquilacionista, deveriam ser mortos por Deus, pois naturalmente eles não morrem.
Como já dito antes, mesmo milênios depois da desobediência continuam vivos. Dessa forma, o argumento que trata de identificar um “elemento” imortal nos anjos não supera a problemática mortalista, visto que os mesmos naturalmente são o elemento imortal, e só podem morrer se Deus assim ativamente quiser, e retirá-los da existência. O mesmo seria quanto à alma, que é em si o elemento que não morre, e Deus poderia matá-la, caso quisesse, o que é compreensível, visto que Ele é o único que possui a imortalidade, dando aos anjos e alma humana esse dom por pura bondade e poder.
Adão e Eva não morreriam se ficassem obedientes. Após o pecado, viveram quase um milênio e vieram a morrer. A morte começou quando pecaram, e ficaram espiritualmente mortos antes de obterem o perdão da sua falta, e ficaram sujeitos à morte como perda do dom da imortalidade. O mesmo não acontece com os anjos, o que já deve estar compreendido.
A explicação dos anjos: “Por isso eles não possuem a imortalidade, apenas são imortais condicionalmente.”, é praticamente o mesmo que os autores criticados disseram, que Deus possui a imortalidade inerente, em seu próprio ser, como fonte da imortalidade, e as criaturas, anjos e alma humana, assim entendido, possuem a vida e a imortalidade como dom recebido na criação, não como fontes, não partindo de sua própria força. O autor do livro afirma que Deus possui a imortalidade como presente. Em outras palavras, atualmente ninguém possuem imortalidade, mas após o juízo os salvos possuem.
Esse argumento não considera os anjos bons, que já possuem a imortalidade e nunca morrerão, nem em seu ser nem espiritualmente. Ainda, mostra que no futuro, segundo a própria doutrina mortalista, a imortalidade será dom possuído por criaturas humanas. Mas, quanto ao fato da explicação de que só Deus possui a imortalidade como autor e fonte da mesma, o que continua eternamente, isso por si só mostra que a explicação dada é fraca e não consegue desvencilhar-se dos problemas que criou.
Quando o autor afirma que não há nos anjos um elemento imortal que os faça viver para sempre: Nenhum anjo possui em si um elemento imortal que lhes garanta uma existência sem fim, parece estar afirmando que após certo tempo os anjos morrerão. Nenhum texto bíblico diz isso. É algo que está contido em certas conclusões aniquilacionistas.
E mais: “Assim, Paulo não estava errado em dizer que só Deus possui a imortalidade, o que exclui qualquer possessão de um elemento imortal de qualquer outra criatura, sem excetuar os anjos.”
Essa verdade acerca do homem, onde a morte é o salário do pecado, mostra que a vida do homem tem um fim, um limite, visto que o dom da imortalidade não lhe foi ainda dado.
Quanto à alma, isso não faz nenhum sentido dizer, pois não é necessário que o ser humano deixe de existir para estar na morte, mas apenas que deixou de existir na terra, e sofreu algo que não era do plano original de Deus, o que veio a ser realidade por culpa própria, o pecado.
Da mesma forma, os anjos não foram feitos para viver no inferno, chamado tártaro, o lugar das cadeias eternas, mas foram para lá por sua rebelião, e pelo pecado, e por serem imortais só poderiam morrer se Deus assim o quiser.
Os anjos possuem imortalidade recebida em sua criação, como posse presente. A diferença é que Deus é o que é autor, doador da imortalidade, e os anjos são criaturas. O mesmo se diz das almas.
Assim, não faz sentido exigir a inexistência para entender a morte, visto que a alma fica à mercê de Deus sempre, seja sendo recompensada com a salvação, seja sendo condenada, e que a morte em si é experimentada como triste realidade, o que não seria possível se o ser deixasse de existir, e nunca a experimentasse.
Pense um momento: alguém que recebe um sedativo para retornar à consciência em alguns minutos, não experimenta aqueles minutos conscientemente, sendo como não tivessem existido. Caso a morte fosse igual, os mortos não poderiam experimentar a dureza da morte. Somente porque possuem alma imortal é que podem ver e experimentar o que é a morte. Que o leitor refute mais esse argumento, caso possa.
Assim, é o fato de terem alma imortal que torna possível conhecer a poder da morte. Doutro modo, caso os seres humanos entrassem em inexistência, a morte não seria nada.
Gledson Meireles.
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