Introdução
O autor afirma que a alma não tem nada a ver com um ente imaterial que continua consciente após a morte. No entanto, como o leitor pode apreciar em outros artigos sobre o tema, isso não é correto afirmar, e possui problemas fundamentais.
De fato, a alma não é um ente. Ela não é um ser. Ela não é a natureza humana. Enfim, ela não é a pessoa. Ela é parte da natureza humana. É o núcleo, a parte principal, a forma do corpo, aquilo que de mais elevado está no ser humano, mas que sozinha não é suficiente para o ser humano desenvolver-se, e não foi feita à parte do corpo, mas no corpo. Então, continua irrefutável o fato de que após a dissolução corporal a alma sobrevive consciente.
O espírito no homem seria só o fôlego de vida, respectivo da respiração. Mas, sabemos que os espíritos são anjos, e a Bíblia afirma que Deus é Pai dos espíritos, afirmando isso também do espírito do homem. Assim, é bem simplista afirmar que o espírito é apenas fôlego de vida e respiração, pois é mais do que isso também, como está em outras passagens bíblicas.
O espírito é um ente pessoal?
Na doutrina que o livro apresenta, a alma vivente é a pessoa inteira e o espírito é o fôlego que fez a alma vivente. Sendo o espírito a energia, assim que essa se esvair, a alma morre, ou seja, a pessoa morre. Portanto, nesse entender, o espírito está no que chamamos de alma. O problema é explicar que esse espírito é somente fôlego e que não possui a personalidade, o núcleo, a consciência da pessoa.
A alma é o que faz o ser vivo. Ela é então sinônimo de espírito. Mas não em todas as passagens, e por isso o livro não deixa entrever essa realidade. É uma falha que impede aceitar a doutrina da imortalidade da alma. Por isso, deve ser refutada.
Afirmar que não há separação da alma, mas apenas a cessação da existência não é uma afirmação que tem em foco o ensino bíblico geral, pois basta lembrar do fato da ressurreição de um morto feito pelo profeta Elias, onde a alma volta ao corpo, e isso está refutado.
De fato, se há a cessação da alma, e não a separação, a passagem não poderia afirmar que a alma volta ao corpo, mostrando que a mesma separou-se do corpo.
O livro afirma que o espírito é o que garante a vida ao ser humano. Isso é o mesmo que faz parte da definição de alma. A alma faz o ser humano vivo, é a forma da matéria, que define a natureza humana
Mas, continua, afirmando que “não faz sentido falar em “morte” do espírito, assim como não faz sentido dizer que ele é imortal”. Isso porque, como já visto, o espírito seria somente a energia que faz o ser viver. A energia não seria o ser, mas uma força que o faz viver. Faltando energia, o ser cessaria de existir.
Mas, a Bíblia mostra que o corpo foi formado do barro, e quando Deus insuflou o espírito criador nas narinas da imagem formada, ela tornou-se um ser vivo, uma alma vivendo, o que mostra que esse espírito soprado é criador, e que ele faz o ser vivo.
Antes havia matéria pura, e após a entrada do sopro de Deus houve um ser humano vivo. Dessa forma, esse sopro criou o ser humano, algo que fez a imagem de argila tornar-se natureza humana completa, com vida, personalidade, corpo de carne e ossos.
Então, esse fôlego criou o homem. O corpo e a alma do homem foram criados por esse fôlego. A matéria que era terra passou a ser corpo humano, e a vida veio desse fôlego. É muito bom compreender essa realidade.
Assim, quando o espírito de Deus é retirado, o corpo volta à corrupção, e a vida se extingue, mas a alma criada, com personalidade, permanece, como núcleo do ser. O espírito criador que garantia a vida, a junção do corpo com a alma, uma vez saído do ser, separa corpo e alma. O corpo volta ao pó, a alma sai e vai para o lugar onde Deus preparou.
Nesse contexto onde o livro fala da morte da alma, mas que não se fala na Bíblia da morte do espírito, é algo curioso. De fato, já sabemos que a morte a alma refere-se à morte da pessoa. Quanto ao espírito, como força criadora, não se pode falar de morte do espírito. De fato, no sentido de alma imortal e de anjo também não se pode falar de morte do espírito.
A alma é o espírito do ser humano, assim também os anjos são espíritos. Nem um nem outro morrem.
Então, como em algumas passagens podemos perceber que o espírito é o mesmo que a alma, em outras há alguma nuance e significado que estão ligados ao contexto, mas que não mudam essa realidade. Somente nesses casos alma e espírito são o mesmo conceito.
Dessa forma, afirmar que alma e espírito são distintos e que não pode sobreviver após a morte não prova o ponto de vista do livro, já que a alma mantem outros sentidos dependendo do contexto, assim como espírito, como já aludido acima, e por isso, somente por isso, já se refuta a afirmação de que esse “holismo” esteja correto.
Portanto, quando se diz que “a alma é um ente pessoal, mas o espírito não”, não se trata de uma afirmação correto. A alma como pessoa é um ente pessoal, mas a alma que volta ao corpo, ou a alma que não pode ser morta com o corpo, já possui um sentido diverso.
Embora não se diga que o espírito vá para o Sheol ou o Hades, na espíritos em prisão, como está na epístola de São Pedro, e que muitos dizem ser anjos, mas que o contexto interior afirmam que se tratam de almas de pessoas.
E o que dizer dessa afirmação?: “Como veremos no capítulo 6, isso se deve justamente ao fato do Sheol/Hades ser a região subterrânea da terra, onde os mortos são enterrados de corpo e alma.”
De fato, na Bíblia não há nenhum texto onde se afirme que corpo e alma são enterrados. Alguns podem fazer alusão à pessoa através do termo alma e outros distinguir corpo e alma, onde apenas o corpo vai para o túmulo. Portanto, a afirmação está conforme a explicação do livro, mas não de acordo com a Bíblia.
Outro argumento menciona a falta de conhecimento que os dualistas têm em relação ao holismo, não sabendo que o mesmo não afirma a mortalidade do espírito.
Mas, há um texto
problemático para a doutrina apresentada no livro, quanto ao espírito, apesar
de não ser o único. Como o mesmo é considerado aqui, vamos aos argumentos.
Se trata de Zacarias
12, 1, que afirma que Deus cria o
espírito do homem dentro dele. Até a linguagem está conforme a doutrina
católica. Temos a natureza humana, onde o corpo humano é o corpo do homem, o
espírito humano é o espírito do homem. No holismo não há de fato isso, pois o
espírito é apenas energia.
No entanto, o texto
bíblico vem afirmar mais claramente que Deus criou o espírito dentro do homem.
O argumento é que o verbo criar pode ser aplicado a tudo, mesmo que não seja
algo vivo, animado, mas também a coisas brutas, inanimadas.
Isso desconsidera o
teor geral do ensino bíblico onde o espírito do homem é dito conhecer o homem, mostrando que é o
próprio homem em sua parte imaterial. O holismo poderia concordar com essa
afirmação, mas tem problema em admitir que o espírito nesse texto é “criado”
dentro do homem, e sabemos como: o sopro de Deus, neshamah criou esse espírito, chamado mais comumente de ruah na Bíblia, que tem nesse contexto o
mesmo sentido de alma, que tem a personalidade humana. Os termos hebraicos
neshamah e ruach são usados intercambiavelmente, e o contexto é que estabelece
o sentido e não há qualquer necessidade de frisar um sentido técnico para os
mesmos.
Isso concorda que o espírito
é parte do homem, que está conforme outra passagem onde o espírito conhece o
homem, e onde Deus é chamado de Pai dos espíritos, em contexto que afirma que o
espírito do homem é consciente e não apenas energia, e por fim onde os
espíritos em prisão são de fato almas humanas.
Dessa forma, Deus cria
(verbo yatsar) o espírito do homem,
que portanto não pode ser a energia do homem, ou somente isso, mas parte do seu
ser, quando foi criado, sendo modelado da terra e tendo o espírito criado dentro dele, com sua parte consciente,
imaterial. Parece que o holismo não pode refutar isso.
O espírito como o fôlego da vida
Para esse tópico são poucas as considerações que devem ser feitas. Basta pensar que na criação Deus não soprou o fôlego de vida para dentro do homem como energia apenas, como se o fôlego fosse dado ao homem para que vivesse, mas que o fôlego foi o criador do homem, dando tanto a energia para a vida como a própria substância humana, criando o corpo a partir da matéria terrestre e a alma a partir do poder de Deus de criar coisas imateriais.
Dessa forma o fôlego de
vida não é a alma, mas cria a alma. Isso é expresso em Zacarias 12, 1, onde o
Deus é mostrando como criador do espírito dentro do homem, e não como apenas
dando a energia que já existe para dentro do homem. A energia que vem de Deus
mantem o homem vivo no sentido de evitar a separação corpo e alma. Então, neshamah
e ruach nas inúmeras passagens
tratadas no livro não são de fato a alma. Em Gn 2,7 a neshamah mas cria a alma.
Em Jó 32, 8, citado no
livro, o espírito é dito dar entendimento.
Esse espírito é tanto neshamah como ruach, e não é apenas energia, mas a
própria personalidade do homem, inteligência, razão, intelecto, cognição,
pode-se dizer, já que o espírito dá entendimento também, não somente vida, como
está em Jó 33, 4. É como afirmar que em cada ser humano o espírito é diferente.
É a personalidade humana. Não se diz no contexto nada sobre mortalidade ou
imortalidade, mas o sentido está mais próximo ao da vida física na terra, e não
tem conotações que permitem entender a essência da alma humana.
O Espírito de Deus me fez, afirma a Sagrada Escritura, corroborando
o que foi explicado acima, que esse espírito de Deus é criador, criando o ser
humano, e não apenas dando energia vital. É uma diferença bastante sutil.
E, por fim, o livro
cita a Concordância de Strong, dando vários significados de neshamah, onde um dele é espírito (do
homem). São citados respiração, fôlego de Deus e do homem, tudo o que respira e
espírito do homem, mais especificamente para entender que há em certas
passagens algo mais específico que indica a presença da alma imortal no ser
humano. O contexto é que estabelece o sentido e não apenas o termo ou o seu uso.
O
fôlego da vida como a respiração
Quando se entende que o espírito divino criou a alma, muita coisa se torna mais simples. Assim, a respiração no nariz não é a alma no nariz, no sentido de espírito imortal nas narinas. De fato, nisso o livro não tem nada a acrescentar, mas apenas de dar oportunidade de entender melhor o sentido do termo como usado na Bíblia, e como é entendido na cultura hebraica dos tempos bíblicos.
Em Is 2, 22 a neshamah é a vida do homem, o fôlego, a
vida física, um sopro nas narinas, que pouco valor tem. É óbvio que o contexto
não mostra que esse espírito é a alma, mas apenas a vida na terra. Não obsta
nada contra a imortalidade da alma.
Em muitas passagens o
espírito dá a respiração, é a respiração, mas não se reduz a isso em todas as
vezes que aparece na Bíblia.
Gledson Meireles.
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