quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Assunto importante: a imortalidade da alma

Está em revisão e atualização o livro A lenda da imortalidade da alma, de Lucas Banzoli.  

A doutrina cristã católica sempre ensinou a imortalidade da alma, e mesmo o Protestantismo em sua linha principal crê nessa doutrina.

Por isso é importante conhecer bem essa doutrina para não cair em erro.

Serão postados comentários sobre esse livro, como já feito nos artigos sobre a imortalidade da alma, mas agora considerando os novos argumentos, segundo a nova edição.

O mortalismo tem ganhado adeptos. Por isso é necessário conhecer a doutrina da imortalidade da alma mais profundamente.

Gledson Meireles.



segunda-feira, 28 de setembro de 2020

O aniquilacionismo: melhor explicação?

No livro A lenda da imortalidade da alma, de Lucas Banzoli, capítulo 8, já disponibilizado, na sua versão revista e atualizada, há uma tentativa de mostrar que a doutrina do inferno é menos compatível com a bondade de Deus do que a do aniquilacionismo, feita sob o título: A oferta da salvação: convite ou ameaça?

O problema é que o raciocínio não conseguir ir tão longe assim. Vejamos.

Será que o aniquilacionismo consegue deixar a questão diferente?

O condicionalista ensinaria que Jesus salva do sofrimento e da morte eterna, enquanto os cristãos sempre ensinaram que Jesus salva do sofrimento eterno que é a morte eterna.

É dito que a recompensa de vida eterna passa a ser viver no céu. Mas, em passagens do evangelho Jesus afirma a vida no céu, ao invés de falar da vida eterna, que são coisas sinônimas. Assim é que diz que na casa do Pai há muitas moradas, e quando tiver tudo preparado virá buscar-nos. O prêmio aqui é a vida no céu.

Ainda, o exemplo do convite para uma visita para encontrar a pedra filosofal. O mesmo poderia ser lido de outro ângulo, com resultado idêntico.

Alguém poderia convidar outra pessoa dizendo que encontrou a fonte da felicidade. Ao fazer a visita poderia beber e nunca mais ter sofrimentos e tristezas. Não parece formidável?

Sabendo que todos caminham para a perdição, para o opróbrio eterno, ouvir isso é um alívio, nada que lembre a ameaça.

Para entender melhor a questão, leia o tópico no livro citado.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

5ª Reformada: o livre-arbítrio

O próximo tema é o livre-arbítrio. Vamos ver o que será abordado no próximo programa 5ª Reformada, pelos pastores Leandro Lima e Augustus Nicodemus. Fazem um ótimo trabalho entre os reformados.

Servirá para o estudo da doutrina reformada.

 

 

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Pr. Leandro Quadros: Moisés ressuscitou?

O pastor adventista afirma que se for provado que Moisés ressuscitou, a doutrina da imortalidade da alma é quebrada. A prova estaria em Jd 9 e Mt 17, 1-9. Será?

Leia o artigo aqui para mais entendimento do assunto.

Gledson Meireles.

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Maria e a arca da aliança: coincidência? ou alegoria conveniente? ou realmente há essa relação?

Naquele dia, Davi teve medo do Senhor e disse: “Como Entrará a arca do Senhor em minha casa? (2 Sm 6, 9)

Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? (Lc 1, 43)

 

Ficou a arca do Senhor três meses na casa de Obed-Edom de Gat e o Senhor abençoou-o com toda a sua família. (2 Sm 6, 11)

Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa. (Lc 1, 56)

 

Vê-se nesses textos que a arca da aliança trouxe bênçãos para a casa onde ficou, por três meses, e Maria trouxe o Espírito Santo para a família de Isabel, onde ficou por volta de três meses também.

A arca trazia a Lei, a vara de Aarão que floresceu e o maná. A virgem Maria trazia o cumprimento da Lei, a própria Lei renovada, que é o varão que rege com cetro de ferro e o definitivo maná. Por isso, ela é, nesse sentido, entendida como a arca da aliança.

Quando protestantes modernos vêem qualquer intepretação que ressalte da figura, especialmente, da virgem Maria, logo levantam a voz como se isso fosse diminuir a Pessoa de Cristo, uma heresia, algo impensável, proibido, horrível, pecaminoso. O método de interpretação alegórico é ridicularizado, no mínimo, e tudo o que se assemelhe, diretamente, a ele é negado. Diretamente, deve-se afirmar, porque indiretamente, no fundo, quase que imperceptivelmente, isso é usado o tempo todo, entre protestantes, sem que ninguém reclame. Exemplo disso virá logo a seguir.

Antes, é importante notar a afirmação feita em canal do youtube (abaixo) que não há qualquer relação tipo e antitipo e feita sobre a pessoa de Maria. Notavelmente, de forma direta, isso é verdade, no Novo Testamento. Mas, biblicamente falando, isso é incorreto dizer.

Outra afirmação que não se pode fazer é que isso é contra a pessoa e obra de Cristo. De fato, não tem nada a diminuir Jesus quando se estuda a mariologia com vistas a entender mais e mais a redenção efetivada por Cristo.

A explicação do método teológico católico por alguém não-católico é interessante. Geralmente falta alguma coisa.

Em uma pregação recente sobre Gênesis 3, 14 e seguintes, o pastor não faz qualquer referência a Maria, conforme a doutrina referida acima. Ele age como realmente um protestante, e ainda mais reformado.

No entanto, quando fala das roupas que Adão e Eva fizeram, de folhas de figueira, para esconder sua nudez após o pecado, em contraste com as vestes de pele de animais, feitas por Deus, para eles, interpreta com louvor a cena como figura da obra de redenção. Obviamente não é a interpretação gramatico-histórico-literal e sim alegórica, mas é aceita nesse momento.

Quando em outros contextos afirma que isso não pode ser feito, sem mais nem menos fazem, sem maiores explicações. Claramente a intepretação está de acordo com a doutrina bíblica, mas não seria encontrada numa leitura literal, e contraria o que geralmente dizem como fazer teologia.

Outro exemplo é o Salmo 69 às vezes citado contra a virgindade de Maria, porque ali fala-se de filhos da mãe de Davi, o que é interpretado como profecia a respeito de Jesus, o que afeta o entendimento sobre a figura de Maria.

O problema é que nenhum livro do Novo Testamento usa esses versículos do Salmo para falar sobre supostos irmãos de Jesus, nem em contexto onde é mostrada a incredulidade de parentes do Senhor. Talvez, pelo dito antes, não se pudesse fazer essas aplicações para não fugir do método gramático-histórico, já que os evangelistas nunca fizeram tal intperetação.

Por fim, é curiosíssimo ler o Gênesis 3, 15 e não ver Jesus e Maria ali, profetizados. Assim como o Apocalipse 12, 1, sem falar em inúmeros outros textos. Parece que o jeito de fazer teologia entre os reformados mostra que está faltando alguma coisa. Para mais compreensão sobre o tema: aqui.

Gledson Meireles.

Referência:

https://www.youtube.com/watch?v=K4uT0fvbMXA

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

CACP: artigo A mulher e o dragão - comentário

O Artigo A mulher e o dragão, de 12/09, afirma que a interpretação de que a mulher é Maria está entre as que não têm “embasamento contextual”. E depois fala com certeza: “Não há dúvidas, à luz do contexto, de que a mulher seja Israel”.

Bem, poderíamos questionar um pouco:

Pode a mulher ser a Igreja, e a ajuda da terra que engole as águas que o Dragão vomita contra ela ser a ajuda das nações cristãs que defendem a Igreja.

De fato, tanto Israel convertido e todas as nações convertidas formam a Igreja, segundo Romanos 9-11.

Enfim, a figura de Maria, individualizada na mãe do menino que o Dragão queria tragar, é a intepretação mais segundo o contexto. Uma vez identificado o Filho, temos a identificação da mãe. É simples.

Outra parte importante é que Maria como mãe da Igreja, como o que está no verso 17 onde os cristãos são filhos da mulher.

Gledson Meireles.

domingo, 13 de setembro de 2020

Paul Helm quando trata da responsabilidade humana: algumas considerações

Paul Helm ensina que a liberdade humana é compatível com a determinação divina. Isso o inclui na esfera dos defensores da liberdade determinada. É um verdadeiro calvinista. Para ele, tudo é determinado, mesmo o mal moral, e que Deus não pode, por isso, ser responsabilizado como autor do pecado, visto que é necessariamente bom, e que ordenar o mal não faz autor do mal.

Deus ordenaria a ação má dos livres agentes humanos, e por isso a ação não seria de Deus, mas do agente humano. Essa é também a razão pela qual Deus sabe o que será feito. Isso é importante em toda a argumentação de Paul Helm.

Ele cita Santo Anselmo, Santo Agostinho, Santo Tomás de Aquino, João Calvino, Jonathan Edwards e outros. A leitura que faz, como se estando em continuidade de pensamento com todos esses autores, é que, conforme Edwards, partindo desse pensamento, Deus aparelha todos os eventos de forma a fazer certa e infalível a ação do ser humano em dada circunstância em que é definida a própria ação.

A respeito das explicações dos teólogos anglicanos Austin Farrer e Vernon White apresentadas por Paul, sobre a dupla causalidade, e das diferenças de intenções de Deus e da criatura, ele afirma que a primeira tese não explica a dupla causalidade, e que a segunda, que é construída com o exemplo da traição de Judas, como se o traidor pudesse fazer o que quisesse, livremente, que Deus introduziria aquele ato no Seu plano, não é aceita porque, segundo Paul Helm, “de alguma forma” Deus “causa a intenção específica de Judas, e acrescenta o próprio nível causativo inferior do evento”.

Depois, cita outra posição, de Nelson Pike, onde Deus interviria nos assuntos terrenos quando fosse necessário. A isso Paul Helm responde que seria preciso esperar que os fatos acontecessem para fazer ajustes no plano.

Primeiro, para Helm Deus não pode conhecer os fatos de criaturas livres. Isso é explicado no presente estudo, e é devidamente refutada a posição calvinista.

Após isso, ele ensina que é compatível ter uma liberdade determinada por Deus. Segundo os exemplos, onde Deus não somente prepararia o estado de eventos mas a intenção de pecado no agente humano e garantiria que tudo ocorresse como decretado, não há como ajustar isso biblicamente, como será esclarecido no decorrer do presente estudo.

Paul Helm crê na providência minuciosa de Deus, livre de riscos, como chama essa visão. Também crê que Deus não compele ninguém para agir, o que prejudicaria a liberdade e a responsabilidade humana. E, por último, nega que Deus seja o autor do pecado, e tenta ajustar tudo isso sem contrariar os dados bíblicos.

O(a) leitor(a) já deve estar raciocinando como isso pode ser feito, se na visão reformada de Helm, Deus só conhece o que decretou, se o homem é livre mas determinado, se todas as circunstâncias e intenções para que algo aconteça estão preordenadas infalivelmente para acontecer.

O autor nega a presciência divina, a verdadeira liberdade humana, e não contribui logicamente para harmonizar o que chama de providência isenta de riscos com a responsabilidade humana. Ainda há muito o que trabalhar com os dados do teólogo reformado, mas já estão aqui elementos importantes que fazem parte da sua posição, e que revelam as suas dificuldades.

Gledson Meireles.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

"As provas bíblicas do aniquilacionismo": um comentário

Obviamente não se pode refutar um enorme artigo como o referido no título com apenas poucas palavras como aqui será feito.

O que se pode, porém, é por o(a) leitor(a) em alerta para que busque mais bases bíblicas para as doutrinas que acredita.

Então, a passagem de 1 Tessalonicenses 1, 8-9 é uma das maiores provas da realidade do inferno como punição eterna, e não temporária. De fato, está escrito, no versículo 9, que: "Eles sofrerão como castigo a perdição eterna, longe da face do Senhor e da sua suprema glória". Se estarão longe de Deus é porque continuarão a existir, e por isso essa perdição eterna é realmente interminável.

Portanto, isso não soa como aniquilacionismo, mas que os réprobos contintuam a existir longe da presença graciosa de Deus, como punição para os seus pecados.

O mesmo está no Salmo 73, 20, onde é comparada a perdição dos ímpios a um sonho quando se acorda:

Como de um sonho ao se despertar, Senhor, levantando-vos, desprezais a sombra deles”.

Ao invés da tradução apresentada no artigo “tu os farás desaparecer”, temos “desprezais a sombra deles”, ou seja, a forma deles, onde a versão Almeida Corrigida Fiel traz: “desprezarás a aparência deles”, o que tem referência à alma, ou mesmo à sua existência.

Ser desprezado por Deus é estar na infelicidade, que é encontrada somente em Deus. Não é necessariamente uma referência ao sonho que para de existir ao acordar o sonhador, como se isso fosse a realidade do destino dos ímpios.

Na verdade, como um sonho é desprezado e esquecido, assim o Senhor desprezará a sombra dos ímpios. Não se fala aqui de extinção, aniquilação, e por isso o texto não serve de prova para o aniquilacionismo. É apenas início de conversa.

Gledson Meireles.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Entendendo melhor a predestinação

O plano de Deus para o mundo inclui a permissão do pecado. Isso é realmente permissão, e não uma palavra usada sem sentido, como acontece várias vezes no pensamento reformado, e que foi diretamente negada por Calvino. A permissão é uma realidade, como será explicado mais adiante.

A Vontade antecedente de Deus de salvar a todos inclui a real e verdadeira possibilidade de todos cumprirem Seus mandamentos (cf. 1 Tm 2,4). Em segundo lugar há a Vontade consequente de salvar a todos que realmente serão salvos. Temos, então, a predestinação, que é, conforme Garrigou-Lagrange, a parte mais alta da providência (cf. João 3, 16; João 15, 5; Rm 8, 28-30).

Nesse ínterim, há a diferença entre a Providência geral, que provê a possibilidade de salvação a todos, e a predestinação, que leva os eleitos ao fim preordenado. Deus conhece eternamente todos os resultados. Deus faz a pedra cair necessariamente e o homem agir livremente. Deus move cada criatura segundo a natureza que Ele deu à criatura. Essa verdade parece não ser contemplada pela doutrina reformada.

Cumprindo a vontade de Deus podemos nos abandonar ao Seu beneplácito, mesmo escondido e misterioso. Isso é a forma mais alta da esperança. Lagrange mostra o estudo de Santo Tomás dos textos da Bíblia que falam da predestinação, da sua gratuidade e infalibilidade. E afirma que Judas poderia ter se arrependido, mas não o fez. Grande verdade.

A doutrina reformada não faz afirmações assim. Certamente. E, pelos seus cânones, não pode fazê-las. Na doutrina católica o mistério está em harmonizar a vontade de Deus de salvar a todos e a predestinação de salvar certo número de pessoas que somente Ele conhece.

Quando Cristo afirma que poderia uma geração converter-se se visse Seus milagres, alguns perguntam por que então Deus não proveu a superabundância de meios para salvar aqueles? Essa questão parece não compreender o seguinte preceito de justiça. Deus sabe de todas as coisas e provê o suficiente para que tudo corra bem, para que o bem aconteça. Jesus fez milagres em cidades que não se converteram e revelou que nas mesmas circunstâncias outras cidades seriam convertidas.

Isso mostra que aqueles eram piores que os demais. Também mostra que as graças que receberam eram maiores. Ainda assim, não foram convertidos. Cristo deu graças suficientes para esses, embora não puderam ser convertidos.

Tudo isso mostra que Deus deu graças suficientes para aqueles, no tempo referido por Cristo. Dar mais do que é justo não é obrigação, pois não há motivo para forçar a escolha, em nenhum sentido, nem naquele onde há mudança de vontade, o que daria no mesmo. Deus não mudaria a vontade de alguém que Ele sabia que mesmo sob a moção da graça suficiente iria voltar atrás. Tudo isso está de acordo com a doutrina do livre-arbítrio.

Naquilo que é gratuito não há obrigação nenhuma, muito menos a de suprir com meios mais que suficientes, acima de todas as medidas, como que a implorar a conversão. Isso não é necessário para a justiça, e Deus não o faz. É o que nos ensina a Revelação. Quanto ao que ensina a teologia reformada, o cristão é obrigado a pensar que Deus não quis simplesmente que aqueles fossem salvos, e por isso não providenciou meios pelos quais iriam ser salvos, e não os predestinou.

Ao invés disso, os preordenou para a condenação. Isso faz alguns pensar que Deus deveria ter salvado a todos, em todas as épocas, porque todos são maus, o que redundaria em universalismo, quando vse pensa na justiça, ou que simplesmente criou seres humanos para preordená-los à condenação sem qualquer possibilidade de serem salvos, contrariando a Bíblia. Essas duas opções necessárias nesse contexto não existem na verdadeira doutrina.

Afirmar que Deus quer simplesmente a salvação de uns e condenação de outros somente para mostrar a Sua glória não resolve a questão a contraria o caráter de Deus.

Dessa forma, tanto os que foram condenados naquele tempo e nos dias de Cristo, todos o foram por própria culpa. Mistério: Harmonizar a predestinação gratuita com a vontade de salvar a todos.

1º: Não há contradição: só se a vontade salvífica fosse ilusória, ou os preceitos impossíveis. E sabemos que Deus realmente quer a salvação de todos, e que os mandamentos são possíveis de serem observados.

2º: Deus nunca ordena o impossível e ninguém seria melhor que outro não fosse ele amado mais por Deus.

Ainda, os mandamentos de Deus são possíveis de serem obedecidos e o amor com que Deus ornou os eleitos deve-se a que eles ganharam graça sobre graça, sendo mais agraciados e, assim, mais amados, enquanto que outros deixaram a primeira graça e a rejeitaram de forma que não continuaram no caminho da salvação. Essas duas verdades guiam o pensamento nessa questão.

Gledson Meireles.

Fonte: GARRIGOU-LAGRANGE O. P., Reginald. Reality: A Synthesis of Thomistic Thought. https://www.ewtn.com/catholicism/library/reality-a-synthesis-of-thomistic-thought-10148

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Fé Reformada: qual o motivo do seu crescimento?

Uma palavra sobre a fé Reformada em geral Para aqueles que desejam conhecer a doutrina reformada em seu aspecto mais amplo, leiam o livro Os Presbiterianos, do Pe. Rumble, onde ele trata das características gerais dessa denominação.

Para os que estão lendo o presente estudo, perceberão que está em uma discussão acirrada envolvendo a base doutrinal da fé Reformada, das doutrinas da graça, de modo que o(a) leitor(a) estará envolvido(a) em discussão de temas bastante importantes e difíceis de lidar.

Que o Senhor nos ajude a compreender a Sua mensagem e a deixar o que não está de acordo com ela. Esse pensamento católico é o mesmo que o reformado tem, e o desejo é de que a heresia seja refutada. Portanto, ao avaliar a teologia reformada nos pontos em questão à luz da Bíblia e da doutrina católica, muitos frutos de graça serão colhidos.

Diferentemente de uma visão panorâmica, aqui está sendo preferido os pontos fundamentais da doutrina reformada, para serem discutidos, pois a partir deles é que as outras doutrinas que orientam a vida do cristão reformado tem sua sustentação. Ler o livro do Pe. Dr. Rumble e depois este aqui, irá ser de muito proveito para quem deseja conhecer mais a doutrina cristã católica e servir a Deus crendo na verdadeira doutrina que Jesus ensinou.

O padre Rumble afirma de Calvino: “visto nunca ter sido ardorosamente religioso”, e da conversão do reformador em 1532, “conversão súbita”. As ênfases de João Calvino eram a Majestade de Deus e a pecaminosidade do homem. Sistema de Calvino: não baseado realmente na Bíblia. Cita o Dr. Clifford, para essa afirmação. Clifford era batista. Vemos que Michael Horton tenta refutar esse pensamento. As Institutas, ou Instituição da Religião Cristã, foi escrita por Calvino aos 27 anos.

A doutrina reformada tem a Bíblia como única fonte de fé e a justificação pela fé somente. A sua lógica leva à doutrina da dupla predestinação. Fala-se bastante da absoluta soberania de Deus e da total depravação do homem. Calvino não seguiu Lutero na doutrina da Igreja invisível. Propôs a Igreja independente da autoridade secular. O povo de Genebra revoltou-se contra do duque de Savoia, e Guilherme Farel aproveitou-se da circunstância para estabelecer o Protestantismo. A Igreja Reformada agiu com garra de aço.

O padre Rumble fala da integridade da vida moral de Calvino. Igrejas Presbiterianas Reformadas disseminaram-se na Suíça, Holanda, França, Alemanha e Escócia. Escreve o padre Rumble: “De fato, como sistema teológico, o Calvinismo está morto; e, se sobrevive como forma de governo eclesiástico, é em dose muito modificada”.

O padre John Knox foi influenciado pelo Protestantismo, tornando-se protestante em 1546, sob influencia de outro ex-padre, George Wishart, e tornou-se um dos principais estabelecedores do Presbiterianismo. Foi para a Inglaterra, sob Cranmer, e tornou-se capelão. Foi contrário ao celibato. Casou-se duas vezes.

Vários ex-sacerdotes foram os fundadores da Igreja Presbiteriana Escocesa. André Melville foi o verdadeiro fundador do Presbiterianismo na Escócia. Fala-se que Knox era um fánatico sincero. Ainda, para os dias de 1960, é dito que muitos estão voltando a uma direção católica relativamente à Bíblia. A favor do Calvinismo O livro de Michael Horton é, nas palavras de Roger Olson, informativo, engajado, claro e auto-crítico.

Horton afirma que muitos não compreendem o que o Calvinismo ensina e ao que ele logicamente leva. Mas por que a história do Calvinismo não está de acordo com os estereótipos que pessoas lhe tem dado? Por que muitos frutos que o Calvinismo apresenta não parece surgir das premissas que ele prega? Qual a razão do sucesso desse sistema, e por que está ele em renovação nos tempos atuais, a ponto de estar em crescimento e vigor?

Bom observar a distinção de Michael Horton entre o Calvinismo ortodoxo, e o hiper-calvinismo, o exagerado, que não representa o que será analisado neste estudo. O teólogo evangélico Clark Pinock afirmou a diminuição do Calvinismo em 1980, e em 2009 o Novo Calvinismo surge com força. Por quê?

Horton trata das raízes bíblicas históricas do Calvinismo e o contexto para o interesse renovado pela fé reformada. Com isso em vista, será considerado o que Horton apresenta, e ainda será dada uma contribuição para entender o motivo mais profundo da adesão de muitos ao credo reformado.

O resumo dos cinco pontos calvinistas é de importância, pois são esses os principais focos de análise neste estudo. Pelo que o Calvinismo ensina, de acordo com a exposição de Michael Horton, a fé reformada nesses pontos pode ser explicada assim: A depravação total tem a ver com a extensão da escravidão do pecado no homem, incluindo a vontade. Tudo no homem foi infectado pelo pecado. Não totalmente, é claro, mas nenhuma parte do homem ficou sem ser tocada por esse mal.

A eleição incondicional ensina que Deus escolheu pessoas desde a eternidade para serem salvas, sem ter previsto nada a respeito delas. Não há condição alguma para a escolha, apenas a vontade de Deus. A expiação limitada ensina que Cristo morreu somente pelos eleitos. A graça irresistível ensina que o Espírito Santo une o pecador a Cristo, e a fé é o resultado da regeneração. A perseverança dos santos ensina que todos os eleitos recebem o dom da perseverança, e nenhum é perdido. O autor chama de doutrinas da graça o sistema calvinista.

É comum ver não-calvinistas afirmarem que quando conheceram as doutrinas da graça tiveram uma conversão real, ou que passaram realmente a entender o evangelho, ou que já tinham certa intuição dessas verdades antes de encontrá-las, e coisas do tipo. São aqueles reformados que tiveram um passado arminiano, na maioria das vezes, e procuram agora com todas as forças pregar a teologia reformada. Que o estudo seja de grande proveito para todos os sinceros cristãos que buscam a verdade. Obs.: o texto acima é parte do estudo dos cinco pontos da Teologia Reformada.

Gledson Meireles.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

7 de Setembro e salvação em Cristo

Que este mês da Bíblia, incluindo o dia das comemorações da Independência do Brasil, sirva de reflexão também a nossa liberdade em Jesus Cristo, principalmente por aqueles que crêem em Jesus como Filho de Deus, messias, salvador, que nos liberta do pecado e nos torna filhos de Deus. O Brasil nasceu sob o signo da cruz. Por isso, é fácil evangelizar aqui, pois ao falar de Jesus ouvimos o Nome que foi aqui pregado há mais de cinco séculos. Imagine lugares em que ninguém jamais ouviu falar de Cristo, e como as pessoas recebem missionários cristãos. Mas, também, com o costume de ouvir o nome do Senhor, muitos ainda não se decidiram por Ele, acostumaram-se com isso e imaginam conhecê-Lo, sem no entanto saber o que Ele ensinou e o que exige de nós. Lendo a Bíblia temos a oportunidade de conhecer o Senhor, pedindo a iluminação do Santo Espírito de Deus. Comemoremos também a nossa alegria de ser salvos pelo Senhor Jesus Cristo. Gledson Meireles.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Os sacramentos: João Calvino e Wayne Grudem

A doutrina dos sacramentos é importante para todo cristão católico. É necessária uma nova evangelização, uma nova catequese, uma nova instrução cristã católica, pois é extremamente comum encontrar católicos que não conhecem a doutrina da Igreja. E os sacramentos são parte fundamental da vida cristã, começando a serem recebidos na maioria das vezes na tenra infância, com o santo batismo cristão. Por outro lado, um protestante convertido à fé católica encontrará diversos pontos de semelhança na doutrina sacramental, os quais poderão servir-lhe de suporte para o entendimento e fé do que ainda falta para completa-la. Isso poderá ser mais ou menos, de acordo com a proveniência denominacional do convertido. Um luterano terá maiores semelhanças com um católico do que aquelas que existem entre um batista e um católico. Então, o sacramento é um sinal exterior e material da graça de Deus. Essa conceituação provém da definição antiga, que explica os sacramentos como veículos da graça divina. É uma definição com base bíblica. Por outro lado, a doutrina reformada tem nos sacramentos um suporte para a fé, um selo da aliança, por terem sido instituídos por Deus. Dessa forma, eles não possuiriam qualquer efeito em si mesmos, mas apenas aquele que o Espírito Santo efetuar no coração do crente através da fé. Por meio dos sacramentos o Senhor selaria as Suas promessas em nossas consciências, sustentaria a nossa fé, enquanto que nós daríamos a Ele o nosso testemunho da graça que recebemos. Assim, a palavra de Deus é um meio e os sacramentos constituem outros para o fortalecimento da fé. Eles são sinais materiais porque nós somos também materiais. A Palavra de Deus produz a fé, os sacramentos a confirmam e o Espírito Santo opera nos corações para que isso ocorra. Os sacramentos aumentam a fé, que já é salvífica no coração, mas que sempre exige aperfeiçoamentos. Tudo isso é verdadeiro, mas ainda incompleto. De fato, há a presença de um erro que introduz certo desequilíbrio e pode afetar o correto entendimento do que segue. Trata-se na desconsideração da força do Espírito Santo na própria ação sacramental. Calvino atacou fortemente a compreensão católica dos sacramentos, afirmando que são feitos frequentemente sob a tirania do papa, não livre de grande profanação do mistério, pois pensam suficiente o sacerdote pronunciar a fórmula da consagração, enquanto o povo, sem entendimento, assiste estupidamente. É de grande validade instruir o povo cristão sobre o mistério dos sacramentos, o sentido de cada um deles, para que não profanem a verdade ali ensinada. Não é certo, porém, destruir a própria doutrina sacramental para efetuar essas reformas. Por isso, por meio de alguns retoques radicais, Calvino alterou a doutrina dos sacramentos. Na doutrina reformada a pregação é imprescindível. De fato, esse caráter é próprio do Cristianismo, e, portanto, é parte integrante da fé católica. Contudo, o fato da Reforma enfatizar a fé levou a pregação a assumir um status tão alto que tudo mais na liturgia passou para outros planos. Sabemos que é exigida a pregação para produção da fé. Também, sabemos que o uso dos sacramentos está de acordo com a nossa natureza material, pois não somos puros espíritos, mas seres dotados de espírito e matéria. Assim, os sacramentos são como colunas para a fé. É irracional dizer que os sacramentos não são manifestações da graça divina porque os ímpios recebem por eles maior condenação. Pelo mesmo raciocínio o evangelho não será manifestação da graça de Deus, porque é negado pelos que o ouvem, e Cristo é visto por muitos e recebido por poucos, afirma Calvino. Então, volta a enfatizar a fé, e ensina que somente quem recebe com fé tem a eficácia anunciada no sacramento. Calvino afirma que Deus nos treina pela Sua palavra, confirma pelos sacramentos e ilumina pelo Espírito Santo. Tudo isso é verdade. Afirma que Ef 4, 13 não é crer perfeitamente, mas abraçar a Cristo sinceramente, não ser enchido, mas ter ardente afeição. Explica assim respondendo pela passagem do eunuco At 8, 37. De fato, nem a Palavra, nem os sacramentos, fariam nada se não fosse a iluminação do Espírito Santo no coração do pecador. Isso é o que afirma com acerto Calvino. No entanto, partindo desse princípio, verdadeiro, ele parte logicamente para uma área que nega a eficácia do sacramento. Ele fala do aumento e confirmação da fé, não que o sacramento tenha eficácia secreta nele, mas porque Deus instituiu ele para isso – só pelo Espírito, com energia que penetra o coração – entre o Espírito e os sacramentos, a energia é o Espírito e o ministério é o sacramento. Como dissociar essa verdade da doutrina católica? Impossível, pois essa é a pura doutrina católica, mesmo na frase que nega eficácia secreta no sacramento, pois a Igreja ensina que o mesmo não é em si algo que age para causar a graça, mas é algo criado por Deus para comunicar a Sua graça, de forma que tornou-se por isso um meio para esse fim, o que depende exclusivamente do poder de Deus. Com isso, temos entrado mais profundamente que Calvino pensou no mistério dos sacramentos. Ao invés de negar a sua eficácia secreta a confirmamos. Não pela matéria, ou por um ato de vontade humana, mas pela instituição divina. Calvino foi contrário à doutrina de que os sacramentos justificam e conferem a graça, desde que não interponha obstáculo do pecado mortal. O sacramento seria separado da realidade pela indignidade do participante, comenta o reformador, de forma que não resta mais que uma vazia e inútil figura. Para ele o sacramento não sofre perda alguma por causa do pecado mortal, porque o próprio sacramento não teria intrinsecamente nenhum valor espiritual à parte. Assim, se um pecador sem fé recebe um sacramento, não seria por isso abençoado, nem o sacramento teria qualquer prejuízo, por não ter em si coisa alguma. Essas são conclusões da doutrina reformada. Temos, com isso, que os sacramentos somente possuem a validade como sinais da fé, e o participante aprende da Palavra, alcança sua significação pela fé na Palavra, de modo que o símbolo em si, em sua qualidade material, é destituído de qualquer graça, sendo um mero sinal vazio e inútil. A fé conferiria todo o sentido do sacramento. Por isso a importância de crer, de aprender corretamente, de conhecer a realidade que se celebra. Não se pode objetar contra esse fato, a não ser a negação da eficácia dos sacramentos. De fato, na doutrina bíblica, o sacramento é um ato de Deus, trazendo a graça, mediante a fé, mas possuindo em si a virtude do poder de Deus no ato realizado. Assim, o participante do sacramente deve ter a fé, como imprescindível em quem tem a capacidade de exercer esse dom, ou não interpor qualquer obstáculo, visto que o sacramento contém a graça de Deus, proveniente da paixão de Cristo, mas somente aplicará seus efeitos naquele que receber com fé, e sem barreiras espirituais, que são os pecados mortais não arrependidos. Para Calvino, pelo contrário, o sacramento é apenas sinal que alimenta e confirma a fé nas promessas de Deus, e não possui graça alguma. Vemos assim, que o cristão católico não pode crer como o cristão reformado nesse particular. E não o pode porque isso é um erro, o que ficará patente na continuação do estudo. Então, como poderia o sacramento auxiliar a fé, pela ação invisível do Santo Espírito, que move os corações para a adesão da fé ao sinal do sacramento, se essa mesma ação não for realizada pela graça proveniente do próprio Espírito? Se o sinal é necessário como instrumento e meio para a ação do Espírito, despertando a fé para a operação do próprio Espírito, é porque o próprio sacramento é instituição sagrada de Jesus Cristo, que opera com o Espírito Santo nele, e não constitui mero sinal sem a divina graça. Calvino não entendeu esse pormenor. Seus efeitos, ainda que necessitem da fé (o que está correto) não podem valer se o pecado o prevenir. Esses são efeitos espirituais reais, que não dependem do realizador (do bispo, do padre, do diácono, etc.) e nem do participante (de quem recebe o sacramento), para que não se retire nada do poder soberano de Deus. Com efeito, a ação divina no sacramento é efetuada apesar da descrença e do pecado, mas os efeitos salvíficos não poderão ser comunicados por esses impedimentos. Eles marcam o pecador, mas não conferem a salvação quando não há fé ou há impedimento. Ao contrário de se ter o sacramento com mero sinal sem ser conferidor da graça diretamente, mas agindo externamente aos sentidos para avivar a fé e ser assim meio da graça como que prescindido do sinal, a Escritura afirma que o sinal possui a graça, o que explica que sua recepção requer as disposições adequadas do coração movido pela graça, para não ser ocasião de profanação espiritual. Prevenir o homem de atribuir valor mágico ao sacramento ou às palavras do sacramento em detrimento da fé em Cristo o Autor do sacramento, não pode ser feito pelo desvirtuamento e esvaziamento do próprio sacramento à condição única de símbolo. Deus não teria utilizado meios visíveis para comunicar a Sua graça como se a possibilidade de desvirtuamento desses pela mente pecaminosa do homem fosse algo invencível. Ele instituiu esses meios apesar das muitas formas de desvirtuamento que a imaginação humana pode realizar. É a Palavra de Deus bem compreendida e apreendida pela fé a causa da correção de qualquer tipo de distorção nessa matéria. Quando santo Agostinho afirma que pode haver santificação sem o sinal visível do sacramento, como também o sinal sem a santificação interna, ele está tratando das muitas vezes em que o sacramento pode ser recebido sem a fé e as devidas disposições, como as que Deus age diretamente no coração de alguns sem que eles ainda tenham tido conhecimento e tenham se aproximado da verdade do Evangelho e dos seus sacramentos. A doutrina de Calvino difere da doutrina católica por negar a eficácia do poder de Deus no sacramento, e transferir a eficácia apenas à fé que é exercida, ainda que por meio da instrumentalidade do sacramento. O sacramento não teria razão de ser se não estivesse ordinariamente unido à virtude da graça na sua instituição por Cristo. Enquanto que na doutrina de Calvino a fé do homem, dom de Deus, é que determina o efeito da graça na alma, a doutrina católica tem no sacramento a ação de Cristo que confere o efeito apesar de qualquer coisa, mesmo se a fé estiver ausente ou se o pecado for obstáculo, marcando quem recebe o sacramento, e efetuando segundo a graça ao que o recebe com as devidas disposições, e sendo motivo de perdição para quem o profana. Os frutos do sacramento, então, só podem ser recebidos pela fé, que é dom de Deus, segundo a preparação do coração mediante a graça de Deus. Na doutrina católica o sacramento tem valor intrínseco, posto nele por Cristo, enquanto que para Calvino não. Calvino explica que Cristo é a matéria ou substância de todos os sacramentos porque é nEle que está a solidez. Concordamos. E somente a pessoa que recebe o sacramento com verdadeira fé tem o seu efeito nela realizado. Mas, Calvino não quer dizer que o sacramento tenha validade apenas através da fé de quem recebe. Ele afirma que o que Deus instituiu continua firme, embora as pessoas variem. Os símbolos continuam com seu poder e sua significância embora não efetuem nada no ímpio. Com essas palavras Calvino quer salvar o valor do sacramento, na sua condição de símbolo, que não pode ser apenas simbólico sem qualquer significado secreto, nem considerado como uma coisa em si que causa a graça. Mas, as duas coisas estão prevenidas na doutrina ex opere operato, pois o símbolo continua com todo seu vigor, e o poder que nele age vem de Cristo e aponta para Cristo pela ação do Espírito Santo. Não há necessidade de transformar os sacramentos em simples sinais para evitar outros erros. Não se introduz um erro para corrigir outro. Por isso, Calvino negou a doutrina de que o sacramento possui a força de Cristo, mas concordou que é um instrumento pelo qual o Espírito Santo age, por meio da fé, o que já é um meio termo que beira à contradição. Nada em si, mas imprescindível para ação do Espírito. Compreensível, mas não insuficiente para mostrar o que de fato é um sacramento. Uma vez que o sacramento não pode ser algo mágico, como é verdade, também não pode ser apenas simbólico, o que certamente é verdade, mas deve ser um meio pelo qual a graça de Deus chega ao fiel. Calvino cria nisso, de certa forma, aproximando-se da doutrina de que o sacramento age pela ação realizada. Em outro momento parece afastar-se mais desse ponto. Ele chega próximo daquilo que tanto esforçou-se para negar, a doutrina ex opere operato, que ensina que os sacramento valem em virtude da ação realizada, ou seja, que Deus infunde a graça, opera Seu poder, no momento em que o sacramento é realizado com fé como Ele instituiu. Nenhum cristão pode negar isso. Para tanto, Calvino afirmou um erro de que os sacramentos usados nos tempos do Antigo Testamento são os mesmos em valor àqueles instituídos por Jesus Cristo. Criticou a concepção dos escolásticos faziam diferença entre os sacramentos da antiga lei e os da nova, em consideração a São Paulo que trata os mesmos em iguais termos, em 1 Coríntios 10, 3. Se todos beberam de Cristo por meio dos símbolos antigos, são os novos símbolos de igual serventia para os cristãos. Calvino afirma que os sacramentos do Antigo Testamento apresentavam aos judeus o verdadeiro sinal de comunhão com Cristo, e assim ensina que são iguais em valor aos sacramentos do Novo Testamento. Não há eficácia na Lei Cerimonial, somente em Cristo, do qual depende a lei. Partindo de um princípio verdadeiro, por sinal, esbarra nele e cai em erro. Calvino responde à objeção baseada na circuncisão da letra, que coloca o batismo em maior valor, e afirma que mesmo o batismo pode ser sem valor, pois o que conta é a purificação da mente, e o testemunho da boa consciência, como afirmam os apóstolos São Paulo e São Pedro, respectivamente. Quanto à comparação entre circuncisão e batismo, o batismo seria igual em valor, estando a diferença em que a circuncisão foi ab-rogada, e por isso não é mais para ser praticada. Ainda assim, o reformador reconhece que existe o contraste entre a sombra e a verdade, afirmando que temos a realidade agora. Quanto ao sacramento, porém, os iguala em eficácia. Como vimos, a eficácia é retirada, pois o que vale é a fé. A passagem mais difícil de ser explicada a partir dessa perspectiva de Calvino, ele mesmo reconhece, é Colossenses 2, 17. Mas, continua o reformador, a diferença entre os sacramentos da antiga lei e do evangelho não está na eficácia, mas no significado. Pelo contexto de controvérsia, onde São Paulo está respondendo a falsos cristãos, que colocavam sua fé em cerimônias, mostra que as próprias cerimônias são sem valor se não forem recebidas pela fé, pode-se afirmar, o que estaria em favor da interpretação calvinista. Essa seria a opinião dos santos padres, como de Santo Agostinho, citando para isso uma importante passagem, dentre outras, que é a da Homilia do Evangelho de João, número 26, que compara o poder dos sacramentos afirmando sua semelhança. Afirma que o opus operatum é falso e repugnante aos sacramentos. Temos então uma comparação geral dos sacramentos do Antigo Testamento e os do Novo, que na opinião de João Calvino possuem diferenças na forma, na aparência, noa dispensação em que são realizados, mas não na natureza. Os antigos teriam tido sua simbologia mantida até os dias de Cristo, que os aboliu. Os novos teriam outra simbologia e manifestação, sendo iguais na essência. Circuncisão seria nesses termos iguais ao batismo. Ambos não teriam a eficácia espiritual, mas ambos teriam mesmo valor simbólico. Uns antes da vinda do Salvador, indicando sua ausência, outros após a vinda, apontando para Sua presença. Na ausência física Cristo estava espiritualmente presente, assim como hoje. Portanto, para Calvino os sacramentos são simbólicos. Uma refutação escriturística radical precisa ser feita a essa interpretação. Diante disso, podemos citar igualmente Santo Agostinho como a melhor testemunha dos antigos, como falou Calvino, mostrando que o mesmo ensinou que o batismo, por exemplo, toca o corpo e limpa a alma, mostrando que o sacramento efetua algo espiritual em sua aplicação. A doutrina católica tem equilibrado dois pontos que a doutrina reformada separou e pôs em desequilíbrio. O sacramento é ensinado como contendo uma eficácia em si mesmo, como São Paulo mostra em Gálatas 3, 27, uma vez que o cristão é batizado em Cristo ele é revestido de Cristo. Calvino dirá que isso é o efeito da graça e não do sacramento, que é visível, mas vemos claramente que o sacramento é causa desse revestimento, ou o meio pelo qual o revestimento de Cristo foi feito, sendo assim um efeito do sacramento, que é operado pela graça. A graça não foi dissociada da cerimônia, mas ordinariamente ligada a ela. Assim, mesmo na leitura calvinista deve-se ver que a graça agiu mediante o símbolo. O símbolo ativou a fé recebida, que por sua vez trouxe a iluminação do Espírito Santo e efetuou a salvação. Ficaria a explicar porque Deus agiria pela imposição de um símbolo sem que o mesmo tivesse qualquer serventia em si naquela conjuntura. Essa ideia foi tratada por Santo Tomás, que a refutou, mostrando que os sacramentos da nova lei não são meros sinais, mas causam a graça. Essa causa deve ser bem entendida. Deus é a origem da graça, e somente Ele pode causá-la, pois a graça que vem da participação na natureza de Deus, como está em 1 Pedro 2, 4, também vem a graça por meios instrumentais, postos por Deus, que age por meio desses instrumentos. Assim, está ensinado em Contra Fausto 19. Por isso, a Escritura afirma que somos salvos pelo banho da regeneração (cf. Tito 3, 15). Por esse motivo, os sacramentos da Antiga Aliança não são iguais aos da Nova Aliança em si mesmos, quanto à natureza, à qual não passava de meros símbolos que apontavam para o futuro Salvador. Ao contrário, os sacramentos da Igreja são maiores na sua própria natureza, como instituídos por Cristo. Os sacramentos contêm a graça como símbolo e como causa instrumental. De fato, Santo Tomás de Aquino tratou da questão se os sacramentos da Antiga Lei conferiam a graça igualmente como os da nova Lei do Evangelho. Isso mostra que havia algo diferente no entendimento dos sacramentos nesses dois períodos entre os objetores. Não existia a ideia de que os sacramentos antigos não tinham a graça como não os têm os sacramentos cristãos, mas que os sacramentos antigos possível a graça da mesma forma que os sacramentos cristãos. Por isso, a forma da objeção enfrentada por Santo Tomás tomou outra forma nos tempos de Calvino, que utilizou a mesma questão de comparar as duas alianças quanto ao sacramento, mas interpretando os mesmos no contexto da doutrina da salvação pela fé somente. Enquanto no século treze todos criam na eficácia dos sacramentos, surgia também a objeção de que no Antigo Testamento havia graça nas suas cerimônias. Contudo, no século dezesseis, em meio à mudança de pensamento teológico e com a ênfase na virtude da fé, os sacramentos foram esvaziados do seu poder instrumental para coadunar com a nova estrutura teológica protestante. Em termos essenciais a questão era semelhante à tratada na Suma Teológica, mas com roupagem nova. A consideração de Santo Tomás é muito oportuna. Os sacramentos do Antigo Testamento não poderiam conferir a graça, pois tal coisa tornaria a paixão de Cristo sem sentido. Lendo Gálatas 2, 21 temos o fundamento para essa doutrina. Se a justiça vem da Lei, Cristo morreu em vão. Por isso, os sacramentos antigos são de fato diferentes dos novos em sua natureza. Porventura, podemos pensar que os sacramentos conferiam a graça pela fé no Cristo que ainda iria encarnar-Se? Não, porque o sacrifício da cruz não havia sido realizado, e o valor do sacramento não podia ter a graça que substituísse o sacrifício então vindouro. Foi a cruz de Cristo que trouxe a salvação, a não os sacrifícios de cordeiros. Doutro modo, os sacramentos do Novo Testamento não podiam continuar sem o poder da graça como os antigos, pois a sombra deu lugar à realidade cristã. A frase de Santo Tomás poderia ser totalmente subscrita por Calvino: “Contudo os antigos padres (do AT) foram justificados pela fé na paixão de Cristo, assim como nós o somos” (S. Th. Q. 62, a. 6). Os sacramentos antigos significam o sacrifício da cruz e seus efeitos. Eles são o significado da fé. Em outras palavras, o que o reformado pensa dos sacramentos, se ele se restringir à explicação mais antiga e mais rígida de Calvino, faz da natureza dos sacramentos de hoje igual à daqueles antes da cruz, e faz que o modo pelo qual os cristãos são salvos hoje idêntico ao que estava em vigor antes de Cristo, o que é algo não corroborado pela doutrina do Novo Testamento. Por esse motivo, vemos que os teólogos reformados têm alavancado a discussão nesse ponto de modo a manter as raízes reformadas, mas também involuntariamente a aproximar-se da doutrina católica, como pode ser apreciado na exposição de Wayne Grudem. Vejamos o que esse teólogo tem a apresentar sobre os sacramentos, depois dessa apreciação da exposição de Calvino. Meios de graça segundo Wayne Grudem Aludindo à história da discussão sobre os meios de graça na Igreja, ou como pode ser dito doutra forma, os canais da graça que Deus dispôs para a Igreja, o teólogo Wayne Grudem aponta um número de onze meios, dentre vários outros, que Deus usa para abençoar a Igreja. Critica, assim, a posição de Louis Berkhof, o qual define a pregação da Palavra e os sacramentos do batismo e da ceia como os únicos meios oficiais da graça, por serem realizados pelos ministros, ao que chama de sacerdotalismo, ao modo da Igreja Católica, e valoriza a opinião de Charles Hodge que adiciona a oração como o quarto meio. Então, Wayne aponta a maioria dos meios de graça no número de onze. O teólogo critica o Catolicismo por tradicionalmente crer que a graça vem somente pela ação do ministério ordenado da Igreja, tendo em vista a função dos sacerdotes. Apresenta a diferença que há entre as posições católica e protestante, não somente na lista de meios de graça, mas no sentido fundamental. Os católicos estariam ensinando meios de salvação, enquanto que os protestantes apenas os meios de graça, que são bênçãos para a vida cristã. Refere-se também à questão do efeito dos meios de graça, quando na Igreja Católica os sacramentos agem como atos de Deus, e não dependem da fé subjetiva, enquanto que para os protestantes a graça é comunicada apenas nos que possuem fé. Essa diferença certamente já tenha ficado clara quando da apresentação da doutrina reformada feita por João Calvino. Entretanto, a essa altura pode-se afirmar que Wayne Grudem falha em expor os meios de graça na Igreja Católica restringindo-os aos sete sacramentos que são realizados ordinariamente pelos clérigos e em sua crítica de que a graça estaria sujeita a ser dispensada somente nos atos realizados por meio dos ministros e não por todos os fieis. Esse entendimento é imperfeito, já que a Igreja considera não somente os sete sacramentos como meios de graça, mas vários outros meios, incluindo, por exemplo, ainda que seja sacramento, o próprio batismo realizado por qualquer pessoa em caso de necessidade, para garantir a graça de Deus a uma pessoa. Isso explode a objeção contra o “sacerdotalismo”. Além disso, os sacramentais que são assim chamados por serem outros canais da graça que exigem a fé dos fieis, e as bênçãos que todo cristão está habilitado a conferir por meio do sacerdócio comum recebido no batismo. São meios de graça em grande número além dos sacramentos e bênçãos oficiais, que todos os fieis crentes têm à disposição na vida cristã na Igreja. Os sacramentos por serem instituídos por Jesus constituem atos Seus em favor da Igreja, e transmitem a graça por Sua realização, enquanto que os demais meios que o Espírito Santo utiliza para santificar dependem da fé exercida pelas pessoas que os recebem. Compreende-se assim que os protestantes geralmente reduzem os sacramentos à qualidade de sacramentais. E por não compreenderem essas duas realidades, confundem ambas. E o teólogo batista não conhece essa abrangente doutrina católica que reconhece tantos modos pelos quais o Santo Espírito derrama a graça na Igreja. Então, continuando a apresentação dos meios de graça, como a pregação da Palavra, afirma que essa não é um meio de graça somente quando proclamada pelo ministro, mas também nos estudos, na leitura de livros sobre a Escritura, na leitura individual da Escritura, e etc., deve-se dizer que todo cristão católico concorda e vive essa dimensão da Palavra como canal da graça, e é exortado a viver, de forma que a Igreja Católica faz da leitura bíblica individual um meio de ganhar indulgência, que é outra forma de receber a graça de Deus. Outro exemplo que faz desmoronar as aludidas críticas. No batismo o Espírito Santo age por meio desse sacramento para aumentar a fé ou nossa experiência de morte ao pecado e ressurreição. Essa é a doutrina ensinada por Wayne Grudem. Dessa forma, ainda que o batismo seja ensinado com válido somente por imersão e aplicado somente à pessoa que crê, de forma que é símbolo da regeneração ocorrida, o teólogo crê que o Espírito Santo abençoa o fiel por meio do batismo, dando as graças acima referidas. É digno de nota que o mesmo também reconhece que Romanos 6, 2-5 e Colossenses 2, 12 são textos batismais. É razão de alegrar-se que os protestantes estejam crescendo na fé e reconhecendo que o batismo é mais que um sinal, mas que comporta um meio de graça, de bênçãos do Senhor. É um grande passo. A posição de Grudem ainda inclui a fé na bênção que acompanha a cerimônia do batismo, exercida de alguma forma, na qual o Espírito Santo opera, certamente, para levar o salvo a perceber seu novo estado diante de Deus. Wayne Grudem ainda faz a tentativa de unir o batismo com a recepção do Espírito Santo, coisas que são separadas na doutrina reformada, de forma a pensar que, quando o batismo “acompanha a profissão de fé inicial de alguém”, há por certo uma “conexão” entre o batismo e o recebimento do Espírito como está em Atos 2,38. É incrível. Grudem supera certas linhas do protestantismo reformado ainda mantendo a ortodoxia protestante, mas não é menos verdadeiro que sua posição aproxima-se da verdade católica. Ele certamente tomou uma nova posição nesse campo. Obviamente Grudem não alcançou ainda a doutrina verdadeira, mas diante de textos inequívocos, como o de Atos 2, 38, difíceis de serem explicados satisfatoriamente por meio da doutrina reformada, ele expressou uma forma de diminuir o distanciamento da graça entre a conversão e o batismo, de modo a pensar em alguma bênção atrelada à cerimônia batismal ao mesmo tempo em que mantendo a doutrina protestante de que não há graça no “ato do batismo”, o qual entende com algo “mágico”. A única forma correta e completa da doutrina batismal é reconhecer o poder do Espírito Santo agindo no ato do batismo, não por causa da matéria física utilizada, nem por semelhança à superstição mágica, mas por constituir o sacramento que Jesus instituiu para realizar o novo nascimento, o nascimento do alto pela água e pelo Espírito (cf. João 3, 5). Todas as graças adicionais à regeneração, perdão, justificação e santificação, como a alegria e o entendimento da mudança ocorrida pelo batismo estão todas juntas. O teólogo caminhou mais que outros nesse sentido. Ele continua a combater a doutrina católica ex opere operato, certamente por não ter bom entendimento dela ainda, mas ensina que não se deve ter o batismo como mero símbolo, e crer que o Espírito Santo age por meio do batismo. Ele diverge de Calvino, e da própria tradição batista, como pode ser percebido aqui. Espera-se que o protestante que estuda essa questão cresça na fé e ultrapasse essa barreira e creia que o santo batismo é um ato de Cristo. Em relação à ceia do Senhor, o autor também ensina que há bênçãos especiais na sua participação, voltando a ensinar que não é o mesmo que a Igreja Católica ensina, pois inclui a necessidade da fé para que o efeito seja produzido, mas que a Ceia não pode ser entendida como mero símbolo. De fato, esse passo do teólogo também aproxima sua posição da doutrina verdadeira. A doutrina católica também exige a fé para a participação correta da Eucaristia, assim como o arrependimento dos pecados, para que os frutos da graça sejam recebidos, mas insiste biblicamente que a própria cerimônia é meio de graça objetivo. Por esse modo a má participação traz castigos divinos. Gledson Meireles.