sábado, 15 de fevereiro de 2025

Refutação do artigo do pastor Thomas sobre o termo irmãos em Marcos 6, 3

 Refutação do artigo do pastor Thomas Lopes: A importância do contexto na interpretação bíblica: uma análise do uso de adelphós em Marcos 6, 3

            A Igreja Católica em sua experiência apologética de dois milênios já afirmou várias vezes que as heresias surgem de interpretações mal feitas. Textos tirados dos seus contextos. Agora, os protestantes costumam afirmar o mesmo contra a própria Igreja, o que dá ares de sabedoria. Todos os apologistas acusam os oponentes de estarem fazendo eisegese e de estarem interpretando um texto fora do seu respectivo contexto. Portanto, tal coisa não é novidade.

            O pastor adventista Thomas Lopes escreveu um artigo onde analisa o uso do termo adelphos (irmão) no texto evangélico de Marcos 6, 3. O presente estudo irá lidar com artigo mencionado.

            Simplesmente falando, é patente que a Igreja Católica interpreta a Bíblia usando a mais rigorosa hermenêutica. Cada texto é lido segundo o contexto imediato e amplo, e dentro de toda a tradição cristã. Desse modo, a passagem de Marcos 6, 3 é muito conhecida pelos cristãos católicos. Diga-se de passagem que a interpretação é a mesma em todas as igrejas antigas, católica e igrejas orientais, mesmo as que se separaram da Igreja Católica no Concílio de Calcedônia.

            Em primeiro lugar, a Igreja apostólica conheceu Jesus e os apostólicos. Todos sabiam que Jesus era filho único de Maria, e que Seus parentes mais próximos, que viviam naquele clã judaico, chamados de irmãos, não eram filhos de Maria. Certamente os mais próximos conheciam essa realidade. Esse dado apostólico não foi questão de divergência durante séculos. A primeira vez que a virgindade de Maria foi atacada de forma importante, se deu no século quarto. Outros ataques à sua dignidade já haviam sido feitos pelos adversários da Igreja. Eis que agora até mesmo cristãos adotavam interpretações que negavam fatos da vida de Jesus e Maria.

Assim, muitos negavam a ressurreição. Outros negavam a concepção virginal. Agora passavam a negar a virgindade perpétua. É certo que escritores antigos tentaram interpretar textos referentes a irmãos de Jesus no sentido em que negavam a virgindade de Maria pós-parto. Nesse sentido Tertuliano parece ter-se equivocado, por motivos alheios, embora isso não fosse novidade, já que o prolífico escritor se equivocou outras vezes em outros assuntos doutrinais. Mas ainda assim, Tertuliano não atacou a verdade da virgindade de Maria.

Muitas vezes os intérpretes protestantes usam um literalismo que foge da literalidade católica, causando muitas leituras errôneas e heresias perniciosas.  Ler um texto bíblico literalmente é aceitar o que o mesmo diz em palavras simples e naturais. Não se trata de escolher termos na frase, mas seguir o sentido inteiro da sentença. Muitas vezes os protestantes usam de literalismo, fazendo que um termo mude o sentido da frase.

Assim fazem teólogos do calvinismo e do dispensacionalismo. Leem literalmente palavras em frases causando erro no próprio contexto imediato, por frisarem demasiadamente um sentido ligado a certo termo.

É assim que os dispensacionalistas leem Apocalipse 4, onde São João é chamado a ir ao céu, e interpretam a passagem como significando o “arrebatamento” da Igreja, embora o texto e o contexto geral não indique essa leitura. E ainda, ignoram o fato do contexto bíblico amplo negar tal doutrina.

Também quando em Efésios 3, 5 é afirmado que a inclusão dos gentios não foi revelada nos tempos antigos como foi no Novo Testamento. O texto afirma: como agora, ou seja, como foi revelada agora na nova aliança.

O dispensacionalismo entende que a doutrina não foi revelada antes, de modo algum, mas somente agora, embora os textos no Antigo Testamento tenham diversas vezes tratado dessa doutrina, onde judeus e gentios adorariam a Deus como mesmo Povo.

E assim outras interpretações literalistas que não leem a passagem literalmente, mas apegam-se a uma ou outra característica de termos, e não entendem o que a passagem ensina. Dessa forma, a questão do contexto deve ser bem entendida.

A interpretação de que Marcos 6, 3 não pode se referir a irmãos biológicos de Jesus porque 1 Coríntios 15, 6 usa o termo como irmãos na fé não é base para a doutrina católica. Não se trata de um argumento importante. Talvez tenha sido usado por apologistas católicos, mas tal argumento não faz parte do principal em toda a questão. De fato, palavras podem ter diferentes sentidos a depender do contexto.

No contexto imediato do texto de Marcos 6, 3 os contemporâneos e conterrâneos de Jesus, os habitantes de Nazaré, não creem nEle e mencionam Sua origem natural. Literalmente o texto afirma que Jesus é o Carpinteiro, o Filho de Maria, e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão, e que possuem irmãs.

Em Mateus 13, 55 temos que Jesus é o Filho do carpinteiro, que Maria é Sua mãe, e Seus irmãos são Tiago, José, Simão e Judas.

Literalmente, sem pensar no contexto bíblico geral, o texto está afirmando que Jesus é Filho de José e Maria e tem vários irmãos. No contexto maior, não nos parágrafos próximos, mas tendo a doutrina bíblica geral, sabemos que a filiação de Jesus em relação a José não é natural. Apenas em relação a Maria. Jesus é filho biológico somente da virgem Maria.

Assim, o texto precisou de algo mais, de outras passagens bíblicas, para ser entendido. O mesmo deve ser feito com relação aos irmãos e irmãs. Serão eles filhos de Maria e de José? Ou somente de José de um casamento anterior? Devemos pensar nessa questão.

No contexto histórico e cultural o termo irmão, como usado entre os judeus, significava outros graus de parentesco também. Portanto, a leitura do termo em si não indica que eles são filhos de Maria. Essa é a primeira constatação que deve ser feita.

Ainda, os evangelistas escreviam em grego e ao citarem as palavras ditas pelo povo de Nazaré, traduziam como foram pronunciados os termos. E com certeza eles usaram a palavra irmãos.

Assim, empregando o termo irmão, que foi dito em aramaico, certamente, os evangelista traduziram para o grego adelphoi. Essa interpretação está conforme o contexto imediato, geral, e histórico-cultural, segundo a sociedade judaica.

E quanto ao contexto teológico-bíblico, é certo que Maria era virgem quando concebeu Jesus. É certo também que permaneceu virgem durante toda a sua gestação. E quanto ao futuro, após o nascimento de Jesus, a Escritura não traz qualquer indício de que isso tenha mudando, já que as expressões usadas para especular tal fato estão no contexto histórico-cultural da época e muitas vezes são entendidos de forma literal, pelos protestantes,  causando erro, e são lidos segundo a cultura de outra época, resultando em um anacronismo.

Assim, para compreender o fato de que Maria não teve outros filhos é certo que a interpretação está conforme a mais rigorosa exegese. A intenção daquele povo ao citar a família de Jesus era frisar sua humanidade. Queriam negar sua origem celestial.

É certo que não sabiam que Maria gerou Jesus pelo poder do Espírito Santo. Ainda, ao citar irmãos e irmãs de Jesus, o fato permanece, pois a linguagem é comum a outros graus de parentesco. Desse modo, o texto irmãos está se referindo a relações consanguíneas, mas o sentido que traz é o de parentes. Jesus tinha irmãos provenientes do mesmo clã judaico, mas não filhos de Maria. A Bíblia sugere que Maria não teve outros filhos, sendo comprovado pela correta exegese, e esclarecido pela tradição.

O pastor cita o Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (Bauer et al., 2000, p. 17), onde afirma que adelphos significa também primo. Portanto, o que foi posto acima está correto e admitido pelo autor do artigo nesse pormenor.

A afirmação de Wayne Grudem é mais ampla. No entanto, não refuta a questão do sentido de Marcos 6, 3, pois ali não há uso figurado, mas o uso normal do termo previsto na cultura judaica. O contexto mostra que o termo é usado para significar laços de sangue. E como o termo pode significar irmãos e primos, é preciso esclarecer qual o sentido do termo naquela passagem. É certíssimo que não se trata de sentido figurado. E é certíssimo também de que se tratam de parentes próximos.

Entretanto, há boas evidências de que Jesus é filho único. Ele é chamado de “O” carpinteiro, sugerindo ser um carpinteiro bastante famoso na região, a exemplo de São José. De fato, São Mateus afirma que Ele é o filho do carpinteiro, usando o artigo definido no original grego nesses exemplos. Jesus é o carpinteiro, o filho do carpinteiro, o filho de Maria. Tais especificidades mostram que a leitura natural é de que Jesus é filho único de Maria. Não se trata de um argumento isolado, mas lido em contexto fica claro o sentido de que esssa expressão favorece o fato de que Jesus é filho único.

Afirmar que o mais provável é que o termo irmãos signifique em Marcos 6, 3 “irmãos biológicos” não é suficiente. É biológico no sentido de parentesco familiar. Não no sentido de nascido da mesma mãe. Assim também como não o é afirmar que José é pai biológico de Jesus lendo apenas esse versículo. Certamente o leitor entendeu: o texto afirma que Jesus é filho de José, mas sabemos que essa filiação é adotiva. Jesus tem irmãos, mas sabemos que esses não são filhos de Maria. O texto necessita de outras passagens para tornar certa a interpretação.

O termo não é usado em Marcos 6, 3 como irmãos espirituais. Isso é pacífico na doutrina católica.

Quanto às irmãs, o texto fala de todas as irmãs, indicando um número grande de pessoas. Não parece falar de duas ou três apenas, como observava São Jerônimo. Assim, é mais um indicativo de que se trata de parentes próximos de Jesus. São sinais no texto que favorecem a leitura de que se trata de parentes próximos.

O contexto imediato usa o termo irmãos. E isso não requer que sejam filhos de Maria.  Isso é um fato. Da mesma forma não requer que Jesus seja filho biológico de José. Isso já foi explicado acima.

Assim, a leitura natural de que irmãos se referem a parentes de Jesus é certa. Não é provável que sejam filhos de Maria.

A tradição apostólica fornece a base para o fato certo de que Maria não teve outros filhos. Assim, quando houve negação dessa realidade surgiram controvérsias sérias, e a defesa da virgindade de Maria mostrou-se ser uma realidade passada pela tradição dos apóstolos. Desse modo, a Bíblia não tem nada que contrarie essa doutrina.

Há artigos no blog que deixam clara a questão relativa aos irmãos de Jesus, com sólida argumentação bíblica.

Se Tiago era primo do Senhor (chamado na língua aramaica/hebraica de irmão do Senhor, e traduzido assim na tradição, mesmo por todos os que creem na virgindade de Maria), isso é fato suficiente para mostrar sua notoriedade na Igreja primitiva. Ser parente de Jesus explica essa situação. Ele era apóstolo, do grupo dos doze, sempre citado para identificar sua mãe, que era também chamada Maria.

A leitura natural do texto não exige que os irmãos de Jesus sejam filhos de Maria. Os leitores do grego antigo nunca afirmaram isso. O termo literalmente também comporta o sentido de primo. Esses são três fatos, e contra fatos não há argumentos. Então, não há necessidade alguma de mudança de termo, mas apenas o estudo para o entendimento da exata relação de parentesco que o mesmo indica em Marcos 6, 3.

Essa argumentação de que negar que Jesus teve irmãos biológicos pode levar a um afastamento da leitura natural do texto bíblico, com base na leitura do termo irmãos, contradiz o que foi dito, pois exige que o mesmo seja entendido em único sentido, o de filhos de mesma mãe. É uma argumentação errônea. O termo irmãos permite outra leitura, como provado.

A interpretação de Marcos 6, 3 onde irmãos são parentes/primos é a mais antiga. Não se trata de reinterpretação. Mesmo os cristãos orientais falantes do grego sempre creram na virgindade perpétua de Maria.  A análise linguística prova que Jesus foi filho único de Maria. Também a tradição mais antiga.

A interpretação mais nova, pós-reforma, apresenta problemas enormes, em todas as esferas mencionadas, e é facilmente refutada, como já mostrado no presente estudo. Aliás, os reformadores protestantes criam na virgindade perpétua.


Conclusão


A interpretação católica é pautada nos mais rigorosos princípios hermenêuticos.

A interpretação de Marcos 6, 3 onde “irmãos” significa “primos” está conforme o contexto bíblico geral.

O léxico grego prova que o termo literalmente pode significar irmão ou primo, sendo ambos os significados biológicos.

A exegese não se subordina à tradição teológica. Os mais antigos documentos que tratam do tema mostram que Jesus é filho único de Maria. Santo Epifânio, que fala do assunto expressamente, afirma que pensar o contrário é uma blasfêmia.

É absurdo supor que os intérpretes de todos os tempos na Igreja não souberam entender o sentido exato de irmãos em Marcos 6, 3.

Para identificar os chamados irmãos de Jesus é feita uma exegese cuidadosa, e o resultado confirma a tradição. Portanto, a leitura protestante moderna nega fatos e desobedece princípios hermenêuticos, como mostrado no estudo.

O texto de Marcos 6, 3 lido em seu contexto histórico demonstra que o termo irmãos também significa primos. O contexto literário também comprova essa realidade. O contexto teológico mostra que a virgindade de Maria é a forma mais natural para provar a origem divina de Jesus. Assim, chegamos à intenção original dos autores inspirados.

Que o leitor cresça no conhecimento de Jesus Cristo e da Sua Palavra.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Refutação do artigo do pastor Thomas sobre o purgatório

 Refutação do artigo do pastor adventista Thomas:

Orígenes e a Influência do Platonismo na Doutrina do Purgatório: Uma Análise da Eisegese Filosófica na Patrística

            É verdade que a doutrina toda desenvolvida, em sua definição final, não aparece explicitamente na Bíblia. Mas está implicitamente. E quando o cristão estuda a Escritura com profundidade essa doutrina se torna clara para ele. Não espere o leitor encontrar qualquer doutrina explicitamente na Escritura. Um adventista não encontra a doutrina do juízo pré-advento na Escritura desenvolvida explicitamente, mas crê que essa está na Bíblia. Então, é preciso cautela no estudo.

            Não foram as interpretações alegóricas e especulativas que fizeram os teólogos para tentar justificar o purgatório. Os meios de explicação da doutrina não são o mesmo que a própria doutrina. Essa está na Bíblia, e nem sempre as formas de expor uma doutrina são corretas em todos os teólogos. Há escritores que cometeram enganos e foram inexatos em suas exposições. Nem por isso a doutrina que defendiam estava errada, mas apenas os meios que usaram para expor a mesma não eram os melhores.

            Como já vimos, foram Tertuliano (160-240), São Cipriano (210-258) e São Clemente de Alexandria (150-215) os grandes autores que expuseram as bases da doutrina do purgatório na antiguidade. Orígenes (182-254) também expôs a doutrina. Assim, é patente que a mesma não foi invenção de Orígenes nem influência pagã, mas uma doutrina cristã exposta na linguagem do grande teólogo do terceiro século. Orígenes não foi canonizado, sua doutrina apresenta erros em vários aspectos, mas quanto ao purgatório ele está de acordo com a Bíblia e a Tradição, como se pode perceber.

            Não é possível afirmar que Orígenes cria na purificação das almas e somente depois é que tentou explicar sua visão através da passagem de 1 Cor 3, 11-15. Outros escritores cristãos explicam a passagem da mesma forma, expondo a mesma doutrina. Desse modo, São Cipriano explica o purgatório de forma cristã, não tendo sua linguagem nada que pudesse supor um empréstimo pagão para a exposição, e muito menos para o próprio tema em questão.

            Teólogos profundos como Joseph Ratzinger mostram que a doutrina do purgatório é eminentemente bíblica. Os que se apegam à tal “influência” do paganismo estão equivocados e supõem a tese por meio da linguagem que encontram em muitos escritores antigos, como se os mesmos estivessem expondo uma doutrina de outra fonte que não a Bíblia. No entanto, os padres da Igreja sempre partem da exposição do texto revelado e não tentam ensinar doutrinas filosóficas.

            Se Orígenes foi mais sistemático na doutrina do purgatório, isso não desfaz o que foi exposto acima. A opinião e Alister McGraph é incorreta. Os autores antigos não moldavam as discussões pelo pensamento platônico nem reinterpretavam a estrutura pagã em contexto cristão como se o elemento em questão fosse alheio à Bíblia. É justamente o contrário: eles expunham a doutrina bíblica muitas vezes em linguagem platônica.

            Philip Schaf afirma que os padres da Igreja foram influenciados pelo platonismo e outras filosofias. No entanto, uma acurada pesquisa demonstra que os padres estavam explicando a Escritura e muitas vezes usavam moldes de pensamento da cultura do seu tempo.

              Lendo a Bíblia, se o adventista não crê na alma imortal, deverá crer que no Dia do Juízo os ressuscitados salvos passarão por essa prova, que o texto de 1 Cor 3, 11-15 alude. Então, alguns passagem ilesos e outros não. Esses perderão o galardão sofrendo detrimento. É algo que ocorre após morte e ressurreição nesse caso. Assim, é preciso perceber que a morte não pôs toda a questão em ordem, já que no juízo muitos dos salvos têm suas obras “queimadas”. É preciso entender bem o que isso significa.

            O que foi explicado acima, e provado em outro texto a partir da citação de Joseph Ratzinger, também está na citação que o pastor Thomas faz de J. N. D. Kelly. O mesmo afirma que: 1º - A oração pelos mortos e 2º - a purificação post-mortem eram crenças dos judeus. Primeiro ponto provado.

            Ele afirma que o “desenvolvimento teológico” é que foi influenciado “por categorias platônicas”. Isso significa que a forma de expor o conceito usou meios filosóficos. Isso não quer dizer que o conceito tenha vindo do platonismo, pois não veio, já que a Bíblia afirma a mesma realidade. Ainda: os autores citados concordam que essas duas crenças possuem “raízes judaicas”. Crendo ou não o adventista nessa afirmação, é um fato de que os estudiosos o afirmam. Dessa forma, tendo uma passagem bíblica que não é bem entendida entre os protestantes e as afirmações dos grandes teólogos e estudiosos sobre o tema provando que a origem judaica, está refutado o argumento do pastor Thomas.

            Do contrário, o mesmo deve provar que a crença na possibilidade de auxiliar os mortos e da purificação não é encontrada entre os judeus. Deve provar também que os eruditos, como Ratzinger e J.N.D. Kelly afirmam que a origem da doutrina é pagã. Como visto, está refutado.

            Como já mostra nos Estudo sobre o purgatório, publicado no blog, a doutrina é bíblica. Há refutação de todas as objeções.

Os protestantes devem repensar sua ideia de que "obras" são queimadas, o que torna essas obras algo literal que passa pelo fogo literal. É o erro que cometem ao ler a Escritura nessa passagem.

            Assim, o texto de 1 Coríntios 3, 11-15 contem elementos certos para a formulação do purgatório:

- o texto traz uma metáfora obras matérias de diversas qualidades indicam as obras praticadas sobre o fundamento que é Jesus Cristo.

- todos os que constroem sobre Jesus são salvos.

- os salvos praticam obras.

- essas obras podem ser de qualidade (ouro, prata, pedras preciosas). Essa linguagem é metafórica e espiritual. São as boas obras.

- também as obras podem ser de má qualidade: madeira, feno, palha. Diante de Deus o que não passa é por ser pecaminoso. Essas obras que não passam no fogo, mas são destruídas são pecados.

- há a imagem de um fogo que testará as obras.

- as obras não existem em si mesmas, mas são aquilo que foi praticado pelo fiel.

- o fogo que purifica as boas obras e destrói as obras imperfeitas, que são pecados, é uma imagem da purificação do salvo.

- Então, o salvo que teve obras destruídas sofre no juízo. Essa conclusão é bíblica e há maiores implicações para a formulação da doutrina do purgatório.

Gledson Meireles.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

O purgatório e a citação de Joseph Ratzinger

 

A doutrina do purgatório chegou à sua forma definitiva nos concílios da Idade Média. A doutrina é histórica, tem lugar importante na Igreja cristã, e é um ponto importante na “problemática ecumênica”. Isso tem a ver com a Igreja do Ocidente e da do Oriente.

Foi algo já atacado nos tempos medievais e na Reforma Protestante. Mas não da mesma forma. Os cristãos ortodoxos criam mais apropriadamente na realidade do purgatório. Os cristãos protestantes rechaçaram a doutrina. Isso mostra que a doutrina protestante é uma novidade.

É interessante o que o eminente teólogo Ratzinger afirma: nos textos oficiais não se encontra a expressão fogo purificador. Pode-se dizer disso, que o fogo é uma imagem bíblica, que levou à ideia do fogo purificar. E também o purgatório como lugar não aparece nas afirmações conciliares. No entanto, como observa Ratzinger, isso está suposto na expressão in purgatório.

Oficialmente a Igreja é contrária à sutilidade, à mera curiosidade e à superstição. Assim, deve-se ao máximo expor a doutrina em sua simplicidade bíblica. E essa é bastante resumida.

Ratzinger mostra que as primeiras raízes do purgatório estão “no âmbito do judaísmo primitivo”.

Os judeus se relacionam com outras ideias sobre o além e com a religiosidade greco-romana, mas a doutrina do purgatório não tem essas ideias provenientes dessas fontes. São elementos comuns dos judeus que se relacionam com outras culturas.

Eram fluidos os elementos do judaísmo e do cristianismo, formando uma mesma tradição. Os caminhos do Oriente e do Ocidente foram diversos. Mas a tradição é a mesma.

Tertuliano falou do purgatório. E quando tornou-se montanista, escreveu sobre o mesmo interpretando Mt 5, 26. Assim, mostra que esse texto é entendido tradicionalmente como tratando do purgatório.

O cárcere é uma palavra grega usada no sentido também de hades. Em sua doutrina rigorista (de Tertuliano) o purgatório seria então para todos.

São Cipriano explicou a ideia do purgatório sem a ênfase rigorista de Tertuliano, e de modo cristão. O desenvolvimento ulterior da doutrina do purgatório no Ocidente se deu sem relação com a antiga filosofia, mas apenas com a fé popular e antiga fé cristã.

Com São Clemente de Alexandria ocorre algo distinto totalmente, enquanto disputava com a gnose e com a tradição filosófica grega.

A diferença entre oriente e ocidente é apenas de desenvolvimento, onde o Ocidente seguiu desenvolvendo até definir a doutrina, enquanto que no Oriente a mesma se encontra em São João Crisóstomo sem maiores explicações.

A oração pelos mortos é um dado da tradição judaico-cristã. Os santos julgam. A intercessão é um aspecto desse julgar. Talvez mesmo o texto de Eclesiástico 7, 33 fale do purgatório.

O dado fundamental do purgatório jamais foi negado na Igreja, tanto no Ocidente como no Oriente. Somente se duvidou dele na Reforma Protestante. Podemos e devemos orar pelos mortos. A forma e os fundamentos da doutrina ocidental estão enraizados em uma tradição mais antiga e em motivos centrais da fé. Isso foi mostrado pelo cardeal Ratzinger na obra Escatologia.

Para responder ao pastor adventista Thomas:

1) Joseph Ratzinger representa o Catolicismo.

A citação que o pastor apresenta diz o seguinte:

a imagem do fogo em 1 Cor 3, 15 “foi interpretada” pelos padres da Igreja, ou seja, essa imagem é expressa como entendida por eles, “em parte”, à luz das concepções filosóficas especialmente no platonismo e no estoicismo. Eles usaram meios filosóficos para falar da ideia bíblico do purgatório.

 2) Ele não afirma que a doutrina vem do paganismo, mas que seu desenvolvimento teve influências no que tange à apresentação da doutrina, na interpretação à luz do platonismo e do estoicismo “em parte”, usando de termos, ideias, palavras, comparações, etc., que havia naqueles campos, mas “em parte” também e mais profundamente, pois é o fundamento, “em parte” na Bíblia. Assim, ele não afirma que a doutrina veio do paganismo. Pelo contrário, quem lê sua obra vê claramente o que foi exposto acima. E, afinal, é claro que Ratzinger afirma que a doutrina é bíblica, pois vem da tradição judaica e cristã.

A Bíblia tem o fundamento para o purgatório. A elaboração foi em 1439. A doutrina do purgatório se entende a partir da cristologia.

A citação da obra de Ratzinger não favorece em nada a doutrina protestante.

Em primeiro lugar, é necessário entender a doutrina da imortalidade da alma. Somente depois entender a profundidade da doutrina do purgatório.

Desse modo, o argumento do pastor não procede.

Gledson Meireles.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2025

Livro: OS BATISTAS E O RESGATE DA TRADIÇÃO CRISTÃ, comentário do capítulo 2

Comentário do: 

Capítulo 2

BATISTAS, SOLA SCRIPTURA E O LUGAR DA TRADIÇÃO CRISTÃ

 

O teólogo Rhyne P. Putman apresenta o conceito de tradição que deve ser seguido e crido pelos batistas. É conhecido o pavor que os batistas sempre tiveram, de forma geral, ao conceito de tradição, apelando reiteradas vezes à Escritura de modo a rejeitar todas as demais autoridades. O biblicismo ingênio denunciado por Kevin Vanhoozer é o mesmo que Nuda Scriptura adotado por muitos estudiosos. É o que mostra Rhyne.

E essa atitude batista tem levado muitos a adotar esse erro maior que flui do princípio protestante que virtualmente se desprende do Sola Scriptura, levando à negação radical da Tradição. De fato, os erros também veem principalmente dos teólogos protestantes. Não se trata somente da massa comum dos crentes.

O autor cita Alexander Campbell (1788-1866), clérigo irlandês, que se opôs frontalmente aos credos e confissões, aderindo o que está afirmando explicitamente na Bíblia. Esse clérigo foi batista por dezessete anos, de 1813-1830, afirma Rhyne, liderando um dos maiores cismas da história batista. Trata-se de um problema no interior da tradição batista. E essa atitude de Campbell comprova a crítica acima.

Muitos apelam à Bíblia com o intuito de mostrarem-se mais fieis à mensagem cristã, mas, como afirmam David Dockery e Timothy George, algumas vezes a afirmação “nenhum credo além da Bíblia” significa “nem credos nem Bíblia”.

De fato, essa constatação dos autores protestantes concorda com a crítica católica fundamentada na verdade, pois nesse contexto o intérprete está impondo sua própria opinião ao afirmar a sua interpretação como correta e unicamente baseada na Sagrada Escritura contra igreja, credos, confissões, concílios.

As influências dos batistas moderados e libertários são sinais daquilo que a tradição protestante tem em si e que os batistas, como uma ala mais radical da Reforma, absorvem o conceito mais contundentemente. O equívoco do princípio protestante Sola Scriptura gera esses desvios nas denominações protestantes.

 

Comentário sobre a Natureza da Tradição

Rhyne faz indicações oportunas e bem colocadas da influência do Iluminismo, na teologia protestante, e é algo que o leitor deve considerar. Friedrich Schleiermacher, pai da teologia moderna no Protestantismo, e o batista Walter Rauschendubsch (1861-1918) rejeitaram a tradição. Schleiermacher foi um filósofo protestante liberal.

A afirmação de Rhyne de que “A tradição pode ser falível” é bastante complicada. É o máximo que a teologia protestante consegue alcançar nesse quesito. De fato, para que a tradição seja norma e ao mesmo tempo possa ser falível, há um problema em germe que aqui e ali germina seus erros.

O autor afirma que o completo ceticismo a todas as formas de tradição é insustentável. Isso mostra que há uma tradição que não merece esse completo ceticismo. O autor certamente não tenha afirmado isso. Mas há uma tradição que deve ser abordada com maior reverência. Trata-se da Tradição Apostólica.

O autor mostra que a tradição é a própria fé cristã e a própria Escritura. Essa afirmação é bastante católica, mas pode assustar os protestantes. Assim, Rhyne explica: “Pode parecer estranho, ou até mesmo perturbador, chamar a Escritura de “tradição”, ....”. É óbvio que essa consideração é feita em determinado contexto, para fins de maior conhecimento da questão estudada. Mais uma vez, como sempre, ao aprofundar no entendimento da Palavra de Deus encontramos a verdade cristã católica.

E ao citar um exemplo da tradição, temos um problema imperceptível entre os protestantes, e por isso é necessário apontá-lo. O autor afirma que a tradição preserva a memória corporativa de Israel e da Igreja, e que “a própria formação do cânon” pelo qual a Igreja “reconheceu os sessenta e sei livros da Bíblica como Escritura”, foi um desenvolvimento pós-bíblico da tradição.

O problema central nessa afirmação é que a Igreja reconheceu 73 livros e não 66 livros. É correto que a tradição preserva a memória corporativa, que a formação do cânon, que foi liderada pelo Espírito Santo, foi obra da tradição. Todo o processo ocorreu na Igreja e não fora dela.

Assim, sendo a tradição uma forma de preservação da memória cristã, o cânon um reconhecimento da Igreja em tempos pós-bíblicos, a Igreja “sob a liderança do Espírito Santo”, realizando essa tarefa, resulta que a tradição não pode errar.

Em outras palavras: o cânon é a lista dos livros inspirados. Esses livros foram escritos sob a inspiração do Espírito Santo no tempo dos apóstolos, pelos apóstolos e outros colaboradores cristãos que receberam a inspiração divina. Desse modo, sendo o processo de reconhecimento exato de quais são os livros canônicos da Bíblia levado a cabo sob a liderança do Espírito Santo, a Igreja não pode errar. Trata-se de um dado da tradição, que é o número de livros bíblicos escritos no tempo apostólico, sendo definido para a Igreja, em tempos posteriores, como conhecimento da tradição. Portanto, essa afirmação é certa e infalível. E, ainda, sendo a competência da Igreja a definição de todos os livros inspirados, do Antigo Testamento e do Novo Testamento, tem-se que o cânon é uma decisão infalível, integrante da Tradição Apostólica. Essa constatação é bíblica, teológica e histórica. O protestante não pode fundamentar o cânon de 66 livros pela Bíblia, pela teologia e pela história, como feito acima. E, portanto, esse é o momento de decisão para o estudioso da fé cristã, que é reconhecer a inspiração de todos os 73 livros da Bíblia.

E continuando, afirma que a Escritura contém e transmite a tradição. E nesse ponto, o autor incumbe-se de explicar que os escritores bíblicos não apenas usam a tradição para opôr-se a ela, mas também para descrever a recepção do próprio ensino cristão. Assim, o que é comum na apologética batista, que é a citação de textos como Mt 15, -19 e Mt 7, 1-13 para negar a tradição, o autor mostra os textos citados pelos cristãos católicos para defender a tradição apostólica, como 2 Tm 1, 13-14; 2 Ts 2, 15 e 1 Cor 11, 2. É um avanço no estudo teológico e para a maior unidade cristã.

Como falando da tradição há algo que o autor escreve e que é desconhecido pelos protestantes em geral, ou seja, que as tradições são escritas na Palavra de Deus e a tradição é a única forma de acesso ao passado. Obviamente, essas palavras são entendidas pelos eruditos protestantes como sendo a tradição tudo o que foi escrito na Bíblia, mas pelo contexto geral do assunto podemos ver que a tradição contém algo mais do que isso, pois a mesma não identifica-se totalmente com o texto bíblico, mas contem mais informações, como o cânon bíblico já mencionado.

E, por fim, afirma o autor, a tradição cristã envolve a interpretação e a aplicação da Bíblia. Essa é a mesma doutrina da Igreja Católica, e pode ser lida na constituição Dei Verbum.

E quanto à linguagem para explicar a doutrina, a explicação do autor deixa clara a fidelidade da Igreja na formulação dos credos.

Temos até aqui a autoridade da tradição, como norma para os cristãos, a sua fundamentação bíblica, a autenticidade dos credos antigos, reconhecidos pelos protestantes batistas conservadores.

Há ainda que entender a tradição como infalível, como mostrado acima, e contendo informações que servem para o conhecimentob bíblico, como o próprio cânon, algo que virtualmente já está esboçado na apresentação do autor protestante, mas precisa de certas correções.

Os protestantes afirmam que há duas versões para o entendimento da Tradição na Igreja Católica. Segundo Heiko Oberman, a Tradição I seria apenas uma tradição interpretativa, e seria tacitamente ensinada pelos padres da Igreja. A Tradição II seria a tradição como uma fonte ao lado da Bíblia, e essa seria o ensino de São Basílio (330-379).

Rhyne reconhece que São Vicente de Lérins ensinava a suficiência material da Bíblia e a necessidade da interpretação infalível da Igreja. E isso é verdadeiro, pois reflete o ensino de São Vicente. Também afirma que o Catecismo da Igreja Católilca parece ensinar a mesma posição, onde Tradição e Escritura seriam duas fontes de doutrina.

A posição protestante é que as demais fontes como tradição, razão, cultura ou experiência são ferramentas pálidas em comparação com a autoridade infalível das Escrituras.

Diante disso, é preciso afirmar a posição católica para que o protestante possa avançar em sua reflexão. Os católicos não creem que haja alguém inspirado para ensinar a verdade da revelação divina. Não há um grupo de cristãos inspirados, mas há um magistério, formado por cristãos, em que repousa a promessa de Cristo para ensinar toda a verdade, e nesse sentido podem ensinar a verdade, sem serem individualmente infalíveis. O estudo, a pesquisa, a reflexão teologia, os debates, etc., fazem parte dos concílios, e a ação do Espírito Santo garante a verdade salvífica. Portanto, não se trata de ensinar algo que não seja em favor da salvação, mas apenas questões salvíficas. Assim, são assuntos de fé e moral.

Nesse caso, a tradição é conhecida e a autoridade do magistério não pode ser pálida, mas deve refletir a afirmação bíblica de que a Igreja é coluna e sustentáculo da verdade (1 Tm 3, 15). A nossa fé está em Jesus Cristo, Autor da fé, segundo as Escrituras.

O capítulo 3 da carta a Timóteo começa com a menção do dom do sacerdócio episcopal. Trata daqueles que aspiram ao episcopado. São Paulo afirma que é uma função sublime. E continua a mostrar as características do bispo: ser irrepreensível, pois ensinará a outros. Ser casado uma só vez, ou seja, não pode ter sido casado antes, como um viúvo que casou novamente. Não se trata aqui de uma norma para o casamento dos bispos, pois o próprio apóstolo são Paulo não era casado. Também deve ser sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar.

Caso seja casado, como eram muitos bispos no início da Igreja, devem ser castos também, ou seja, honrosos, dignos. Também não devem ser recém convertidos.

O texto continua a falar dos diáconos. E o verso 15 é uma afirmação geral, que mostra a natureza da Igreja, a qual Timóteo deve saber como portar-se: a Igreja é do Deus vivo, e a coluna e sustentáculo da verdade. Sendo coluna e sustentáculo em essência, não pode ser pálida, não pode falhar de modo geral e na expressão da fé para o ensino de todos.

A Escritura fala da Igreja em 1 Timóteo 3, 15. Agora, na segunda carta, em 2 Tm 3, 16-17, temos que a Escritura agora fala de si mesma: “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra”.

Temos a afirmação direta de que toda a Escritura é inspirada por Deus. Ela é útil para o ensino, para a correção, para a formação na justiça de Deus. Por meio dela, ou seja, por seu ensino crido e praticado, o homem de Deus é aperfeiçoado e se torna capaz para toda boa obra.

Antes, porém, São Paulo apresenta o seu exemplo de ensino e vida a São Timóteo, no versículo 10: “Tu, pelo contrário, te aplicas a seguir-me de perto na minha doutrina, no meu modo de vida, nos meus planos, na minha fé, na minha paciência, na minha caridade, na minha constância.

Desse modo, temos mais uma vez a autoridade da Bíblia, falando de si mesma, e da Igreja, a qual conserva a Palavra de Deus. As afirmações são categóricas: a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade. E: Toda a Escritura é inspirada por Deus.

Para formular essa doutrina, temos que a Igreja ensina e deve ensinar a Palavra de Deus que está na Sagrada Escritura. E a Escritura não coloca condicional nenhum, mas garante que isso ocorre.

Em Efésios 4, 11-15 a Bíblia ensina que a Igreja possui autoridade que Deus institui para “o aperfeiçoamento dos cristãos”. É isso o mesmo que é dito sobre a utilidade da Escritura. Tornar o homem perfeito. A Igreja é constituída para esse aperfeiçoamento. Portanto, a Igreja ensina o que está na Escritura, ou seja, a Igreja ensina o verdadeiro sentido da Escritura.

A Bíblia é útil para corrigir. Isso inclui a correção dos erros doutrinais e dos pecados (2 Tm 2, 16). E a Igreja tem essa tarefa, pois ensina para a unidade da fé (Ef 4, 14). Como pela Escritura o homem é capacitado para toda boa obra. Essa função é realizada pela Igreja, que por meio de Cristo, para a plena edificação na caridade. Se é plena, não fala coisa alguma. Toda boa obra e plena edificação na caridade. Portanto, Bíblia e Igreja. E também a Tradição Apostólica.

Os versos 15-16 afirmam: Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a Cabeça, Cristo. É por ele que todo o corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria – efetua esse crescimento, visando à sua plena edificação na caridade.

Em nenhum momento o cristão interpreta a Bíblia fora da comunhão da tradição e autoridade da Igreja.

A respeito da suficiência formal, isso não é possível em relação a toda a doutrina da Escritura, mas apenas ao que é mais simples: Jesus é o salvador, e é preciso crer nele e obedecê-lo para ser salvo. Eis um exemplo.

Igreja não tem autoridade para estabelecer novas doutrinas, mas para explicitar o que já está na Bíblia e na tradição. Assim, a Igreja não pode instituir novos artigos de fé contra a fé antiga. A crítica de Lutero estava correta. O problema é entender que a doutrina da Igreja Católica não institui novos artigos de fé.

Quanto à atitude de Lutero ao criticar pontos doutrinais do concílio de Niceia, é preciso saber que isso era feito por Lutero ao ler todas os escritos patrísticos e concílios, a até mesmo livros inspirados. Desse modo, parece certo afirmar que Lutero desrespeitou a Palavra de Deus quanto fez essas distinções do que é evangelho e do que não serve para nada, como fez nos textos conciliares, e certamente na própria epístola de São Tiago, a qual chamou de epístola de palha. De fato, em São Tiago há afirmações contundentes que atingem a doutrina de Lutero na base.

 

O autor reconhece a autoridade da Igreja. Cita John Smith (1570-1612) como o primeiro batista geral. John Smith de fato, deve-se reconhecer, é considerado como fundador da Igreja Batista.

Os batistas procuram fundamentar suas doutrinas com recursos da tradição, embora reconheçam que não tem os elementos da tradição como infalíveis. Assim, Thomas Grantham (1634-1692) é citado como defensor da fé batista ante a Igreja Anglicana.

É certo fazer recortes que reforçam determinada doutrina, usando citações da tradição para a defesa de determinado ponto de vista. Todos os grupos cristãos fazem isso, de alguma forma, mesmo os mais radicais, aqueles que apelam à Escritura sozinha para fundamentar suas doutrinas.

No entanto, deve-se reconhecer que as fontes citadas da patrística possuem no seu tom geral a mesma doutrina católica, e não apenas uma ideia que parece transparecer em determinado texto e favorecer certa interpretação.

Por exemplo, para defender a doutrina da justificação em termos forense não é fácil para um protestante, e isso é reconhecido pelos maiores estudiosos do assunto no Protestantismo. De fato, os santos padres não falam da doutrina como a mesma é entendida no Protestantismo, porque a Bíblia também não ensina a doutrina.

Outro exemplo é santo Agostinho, que pode ter certas expressões não adotadas oficialmente na Igreja Católica, mas o teor geral da sua obra é cristão católico, e por isso o mesmo é um doutor da Igreja. Sua eclesiologia, por exemplo, é contrária à doutrina calvinista. Assim também quando ensina os sacramentos. Sua doutrina da predestinação, embora tenha sido aceita quase totalmente pelos calvinistas, possui pontos de discordância, por isso o doutor da graça permanece fiel à fé católica.

Entre os batistas a tradição tem sido esquecida formalmente, ainda que os teólogos mais cônscios acreditem na importância da tradição em certo sentido. Assim, Rhyne fala da “Amnésia e suspeição” em relação à tradição. Ele reconhece que o leitor da Bíblia a lê pelas lentes da tradição.

Como os batistas se colocam intelectualmente nesse problema todos entre a tensão que há no Protestantismo entre tradição e Bíblia e de forma especial essa recusa prática da tradição no meio batista? O entendimento é que há a Tradição, com T maiúsculo, como ensinam os teólogos católicos, referindo-se à Tradição Apostólica, e as tradições com t minúsculo, que são próprios de cada tempo e lugar, cultura e costumes singulares de uma tradição eclesiástica local, por exemplo. Mas os batistas consideram-se como um grupo que possui uma tradição teologia distintiva, com t minúsculo, que se une à tradição mais ampla e comum da antiguidade. Sendo assim, a teologia batista se firma e pode nutrir seus adeptos de modo a estarem psicologicamente seguros de manterem a ortodoxia da fé cristã. Contudo, há um limite para essa opinião, já que ao desenvolver o princípio é certo que os batistas possuem um problema a ser resolvido.

A tradição batista, assim como a tradição protestante, se firma também na tradição antiga da Igreja, dos primeiros séculos, aceitando a autoridade dos concílios, de certo modo, até o quinto século. Mas, como adeptos do sola Scriptura há um elemento que sempre causa ruptura, pois crendo na Bíblia como única fonte de revelação infalível, não creem na tradição como contendo a Palavra de Deus infalível e não confiam no magistério em suas promulgações infalíveis. Se o sentido da Palavra é explicado pela Igreja e essa pode sempre estar errada, a fé está batista sobre a areia movediça.

A Igreja Católica Apostólica Romana não é um exemplo de tradição com t minúsculo no meio de muitas outras tradições, mas é aquela Igreja que mantém a Tradição com T maiúsculo e comporta em si muitas tradições com t minúsculo. Essa Tradição mais ampla deve ser crida e confessada por todos os cristãos.

A posição de E. Y. Mullins (1860-1928) dá espaço a rupturas entre os batistas, e essas deveriam ser aceitas. Ele afirma a posição batista de nunca permitir que outros credos fossem impostos sobre si. “Se um grupo de homens conhecidos como batistas..” se veem como certos em pontos doutrinais que negam doutrinas da igreja que frequentam, não deveriam ser incomodados e esses poderiam “se unir a outro grupo que concorde com eles”. Essa liberdade de deixar o grupo e se unir a outro todos possuem em todas as denominações. No entanto, como o modelo apostólico sempre foi o de corrigir na fé, alguém que na Igreja Católica se oponha a algum ensino será advertido e caso não se submeta será declarado herege, como faz todo o Novo Testamento.

O autor concorda que a Igreja deve explicar a Bíblia, e cita Neemias 8, 8, como sempre é feito na teologia e apologética católica. Esse avanço no entendimento da tradição e do magistério é benéfico a todos os protestantes. Esse ponto se aproxima da verdade católica. Verdades que os batistas não viam no texto bíblico, e eram desafiados pelos apologistas católicos a partir dos mesmos, são agora apresentados como importantes: os levitas explicaram ao povo o sentido da Palavra lida, o eunuco etíope precisou de explicação da Escritura. E deve-se notar que se tratou de tema importante na Escritura, que tinha a ver com o próprio Senhor Jesus, e “Pedro reconheceu o desafio de entender as cartas de Paulo”. Esse é um grande avanço na teologia dos batistas.

Cabe perceber que se o magistério for sempre falível então sempre haverá possibilidade de ruptura que nasce dessa brecha na teologia batista, ainda que se tenha o cuidado de não negligenciar ou ignorar a tradição. O exemplo da autoridade derivativa da tradição permite mais uma reflexão, pois como a luz do sol que se reflete na lua, deve fazer pensar de outro modo: a luz da lua é necessária na escuridão da noite, como diz o autor, mas é preciso também entender que essa luz que é “refletida” não é outra que a do mesmo Sol infalível que é Deus em Sua Palavra na Bíblia, e sendo ela um reflexo na luz não pode ser senão crida com total reverência. Assim, a Tradição é Palavra de Deus.

É verdade que a única fonte escrita inspirada é a Bíblia. A Tradição precisa ser interpretada. Mas tal interpretação vem pela Igreja que a Bíblia ensina ser a coluna da verdade. Isso deve ser crido por todos os cristãos. O leitor batista deverá estar pronto para crer nesse desdobramento do ensino bíblico.

O leitor protestante deve-se questionar como a Igreja Católica possui esses arrazoados tão corretos, se para a Reforma essa Igreja teria se desviado do evangelho.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Livro: A história não contada de Pedro - refutação do capítulo 19

Capítulo 19

A primazia do bispo romano através dos séculos


Nessa parte o livro tenta provar que Pedro não tem sucessores. Tenta-se provar que “os bispos romanos não exerciam um primado universal sobre todos os demais bispos da Igreja” (p. 213). Há mesmo um sinal de que haverá livro próprio para tratar da questão. Então, o foco atual é a pessoa do apóstolo.

O Dr. Samuele Bacchiocchi, estudando a história do papado, aprendeu que: “O processo (da supremacia do papado) começou já no segundo século quando a primazia do bispo de Roma foi amplamente reconhecida e aceita.” (Samuele Bacchiocchi, The Role of EGW´s writings in Biblical Interpretation, p. 12).

Obviamente isso já é encontrado nas páginas da Bíblia, e é realidade no primeiro século. A Bíblia encarrega-se de mostrar a realidade para o primeiro século. Por sua vez, a história é clara já no segundo século.

É preciso lembrar, porém, que a história do desenvolvimento do poder do papa em nível temporal mostra que houve bastante mudanças. São Pedro não tinha a mesma autoridade temporal de um papa da Idade Média. Mas, ele possuía a mesma prerrogativa do primado, a mesma autoridade evangélica na Igreja. É o princípio da doutrina.

Também, é necessário entender que nem todos possuíam uma visão clara do papel do papa naqueles dias de São Pedro como a Igreja possui nos dias atuais, especialmente após o concílio Vaticano I.

Mas, o Dr. Bacchiocchi, que devotou grande parte de seus estudos sobre esse assunto particular, e divergiu mesmo de Ellen White que colocava o estabelecimento do papado em 538, no século sexto, portanto, é digno de nota frisar, que ele reconheceu tamanha evidência história “já no segundo século”. Ellen White viu no sexto século. Outros vêem no quinto, outros ainda somente no oitavo. Há os que admitem apenas no século onze, e as divergências são infinitas.

Obviamente, como protestante, e adventista, ele não cria na Primazia do Papado, por negar igualmente a teoria petrina e a sucessão apostólica. Porém, chegou bastante próximo da verdade, e quase reconheceu a fonte dessa doutrina, a Bíblia. Chegou no segundo século, bem próximo.

A primeira citação da Epístola aos Magnésios, de Santo Inácio, mostra a organização hierárquica de bispos, presbíteros e diáconos. Fala-se do bispo como representante de Deus, “que ocupa o lugar de Deus”. Até a linguagem é católica em essência.

Mais adiante, o livro tenta lançar um sentido maléfico nas Palavras dos papas quando referem-se a essa realidade, quando dizem que estão representando Deus na Terra. É justamente isso que Santo Inácio mostra que os bispos realizam. E o Catecismo da Igreja, como já provado, ensina o mesmo, até os dias atuais, sem mudança alguma, de que os bispos são vigários de Jesus Cristo.

É o que escreve aos Tralianos: “Quando vos submeteis ao bispo como a Jesus Cristo”. (p. 214) Assim também fala em relação aos presbíteros e aos diáconos.

Adiante, mostra que a Igreja tem autoridade para ensinar a Palavra de Deus: “aquele que age sem o bispo, sem o presbítero e os diáconos, esse não tem consciência pura”. [ênfases acrescentadas]. Se alguém pensa em ensinar algo que, ao seu livre exame da Escritura, não estiver de acordo com essa norma objetiva, de unidade com o bispo, o presbítero, e os diáconos, esse não está na doutrina verdadeira, e está fora do santuário, como afirma Santo Inácio.

Essas palavras são importantes para provar que o livre exame inexistia na Igreja antes da Reforma Protestante. Esses registros são da Igreja na Idade Antiga. Ser submisso ao bispo e ao presbítero é estar bem com Jesus Cristo! Essa norma é bastante cristã católica.

“Atendei ao bispo, para que Deus vos atenda.” Com absoluta certeza, nesse caso, não há espaço para heresia. O bispo deve estar em união com os demais bispos, e presbíteros, e diáconos. Assim, as autoridades, em comum acordo, na doutrina, impedem que as heresias se imponham. Note que Santo Inácio inculca a santa obediência nos cristãos. Essa linguagem, essa doutrina, dificilmente se poderá ler e ouvir no Protestantismo.

Ainda, Santo Inácio escreve: “submetidos ao bispo e ao presbítero, sejais santificados em todas as coisas”. Essa submissão do cristão está incluída na sua santificação.

Os textos de Santo Inácio foram apresentados no livro com outro objetivo, mas usados aqui para lançar um olhar de perto no que ensinam sobre a autoridade da Igreja. Fez bem em citá-los a obra analisada.

O fato que o livro aponta é a curiosa ausência de menção ao papa, quando Santo Inácio cita o bispo, o presbítero, e o diácono. Assim, conclui o livro que não havia papa! Desse silêncio específico com relação ao chefe da Igreja, diz-se que esse não existe.

Então, ao frisar na ausência da menção ao papa na Epístola aos Romanos, escreve: “É claro que não! O fato de Inácio nem sequer citar o bispo de Roma é somente uma consequência do fato de que tal bispo não era nem nunca foi superior a todos os demais bispos.” (p. 214)

Pode-se afirmar que, então, o bispo de Roma ou não existia, ou seria o menor, já que nem foi citado? Não, obviamente. Contudo, por que a falta de menção, por parte de Santo Inácio? Esse ponto diferencia a Igreja em Roma das comunidades nas diversas localidades. Se em todas as outras cartas os bispos são mencionados, e diversas vezes, como afirma o livro, e na Carta aos Romanos não há tal coisa, deve existir algo diferente que coloca a Igreja em Roma em destaque.

E a explicação do livro para o fato de Santo Inácio sempre citar outros bispos e nunca o bispo de Roma é essa: “A resposta é óbvia: o bispo de Roma não era Sumo Pontífice coisa nenhuma!” (p. 218).

Essa resposta não procede. Logicamente, poderia indicar que Roma não tinha bispo na época, o que não é verdade. Há quem conclui assim. Outra conclusão seria que Roma tem o menor dos bispos, já que nem menção mereceu, algo certamente ainda menos verdadeiro.

Existe quem afirma que a Igreja era regida pelo corpo de presbíteros. Mas, Santo Inácio também não se refere a tal grupo de presbíteros! E do silêncio se prova que não havia bispo? Que dizer de tamanha “prova”? Felizmente o livro não traz esse argumento. Voltando ao caso. Sendo assim, há destaque para Roma, e o livro perdeu-se em suas elucubrações, não fornecendo resposta correta.

Quando Santo Inácio escreve que a Igreja de Roma preside na “região dos romanos”, o livro coloca como “prova” de que não presidia em outros lugares, ou seja, não tinha governo universal, mas apenas regional. Deve-se saber que ainda hoje a diocese de Roma preside na região dos romanos, mas nem por isso deixa de ter presidência universal. Ainda, o texto está referindo-se ao local da Igreja que preside, isto é, na região dos romanos. Assim, não se refere à região que a mesma preside, mas à localidade da mesma. Às outras igrejas se diz: “a Igreja que está em Éfeso”; “a Igreja que está em Magnésia”; “a santa Igreja que está na Trália”; “a Igreja de Deus o Pai, e nosso Senhor Jesus Cristo, que está em Filadélfia”; “a Igreja que está em Esmirna”. Quanto à Igreja de Roma, diz: “a Igreja... que preside na região dos romanos”. É clara a diferença. Em nenhuma outra igreja é dito que “preside” em sua região, ou em qualquer outro lugar, somente à Igreja de Roma é isso referido. A presidência de Roma é evidente [cf. Mark Bonocore].

Sobre os elogios que Santo Inácio dirige à Igreja de Roma, o livro aponta que o mesmo santo elogiou ainda mais os efésios. De fato, ele fala da Igreja “grandemente abençoada com a plenitude de Deus Pai”, predestinada, inabalavelmente unida, feliz etc. [Um ponto digno de nota, diga-se de passagem, é que Santo Inácio escreve: “reanimados pelo sangue de Deus”, mostrando a fé na Divindade de Jesus Cristo.]

Voltando ao tema do elogio, não parecem iguais em sentido os elogios a Roma. Mas, esse caso não dirime a questão, e pode passar sem um comentário aprofundado. Pode-se apenas indicar que Roma é dita ser digna de Deus, digna de honra, digna de ser chamada feliz, digna de louvor, e que porta a Lei de Jesus Cristo, e o Nome do Pai. Veja-se a diferença. É algo superior que transparece nos elogios. E tudo converge para a doutrina católica.

Uma análise mais detida revela algumas verdades. Veja-se que Santo Inácio usa um tom diferente ao escrever aos romanos, em comparação com suas outras epístolas. Em nenhum lugar urge os cristãos de Roma a obedecer o bispo, o presbítero e o diácono, como normalmente faz em outras ocasiões. Pede, no entanto, que orem por ele.

Nessa época, havia três centros expoentes do Catolicismo: Roma, Antioquia e Alexandria. E a razão disso se dá por terem sido esses três centros do Cristianismo fundados por São Pedro. Bryan Cross, em comentário, formidavelmente esclarece, a partir da eclesiologia de Santo Inácio, que enfoca fortemente a autoridade episcopal, como visto, para a unidade de fé, que a Pedra visível, a Rocha que é Pedro, é uma conclusão óbvia nesse cenário. [http://www.calledtocommunion.com/2010/10/st-ignatius-of-antioch-on-the-church/]. Está implícito em seus escritos.

Da afirmação que Santo Inácio acreditava na fundação da Igreja na Síria, isso é apenas um erro de leitura. Santo Inácio refere-se ao local onde a profecia a respeito do nome cristão realizou-se: Antioquia. Não está dizendo que a Igreja foi fundada lá, mas que o nome santo dos cristãos ali surgiu. Paulo e Pedro estabeleciam as bases da Igreja em muitos outros lugares, e certamente é a isso que se refere o texto, ao estabelecimento geral da Igreja, não à sua fundação na Síria.

Na avaliação das citações de São Clemente, São Policarpo e Santo Ireneu com relação à doutrina do primado de São Pedro, seguem-se os resultados.

Negando o direito jurisdicional de Clemente noutra diocese, explica o livro de forma geral: “visto que era muito comum os bispos daquela época exortarem os de outras comunidades cristãs” (p. 220).

 Isso seria como apenas exemplo do costume antigo de exortação a outras comunidades, não do direito do papa nas igrejas fora de Roma.

E, de forma categórica, esse ponto é negado: “Se exortar outras comunidades cristãs fosse sinal de autoridade sobre elas, então Paulo era papa, porque ele escreveu à Igreja de Roma, e o mesmo deveria ser concedido igualmente a todos os outros que uma vez fizeram o mesmo a outras comunidades cristãs que não eram de sua jurisdição.” (p. 220)

No pensar protestante todas as igrejas eram de certa forma “independentes”, ou mesmo absolutamente “independentes”. Que valor teria essa independência se outros bispos escreviam-lhes cartas com exortações? Por que motivos?

Na verdade, ao contrário do que pensam os apologistas protestantes, as igrejas antigas funcionavam como hoje são as comunidades locais, constituindo paróquias e formando dioceses, podendo ser agrupadas em regionais, resultando de todas essas as igrejas nacionais, chegando às continentais e, enfim, à Igreja católica (universal) unida com a Sé Apostólica de Roma.

É verdade que cada igreja particular tem sua autonomia, relativa é claro, pois rege os seus assuntos de acordo com a realidade local, vivendo em cultura específica, enfrentando problemas diversos e etc., mas possuem doutrina, moral e culto idêntico à da Igreja em toda a parte da terra. Assim era a Igreja nos tempos apostólicos, sub-apostólicos, medievais, modernos e atuais. Una, santa, católica e apostólica.

Em outras palavras, a organização da Igreja na Bíblia é basicamente católica e não protestante, dividida em denominações.

Ainda, os exemplos de São Paulo passando mandamentos não é fato de que era o único apóstolo a fazê-lo, mas meramente fatos que mostram a autoridade apostólica.

Sobre São Clemente, é óbvio que o mesmo sendo papa cria na Soberania, na autoridade Suprema de Jesus Cristo na Igreja. Todos os papas crêem. Apontar esse fato como contra-argumento ao papado é puerilidade crassa.

Todos os papas sabem que o Supremo Chefe da Igreja é Jesus Cristo. Isso não invalida o governo visível instituído e deixado por Cristo.

A citação do Dr. Bacchiocchi sobre a controvérsia da páscoa mostra bastante claro o poder do papa, no direito de excomungar outras dioceses, não somente um poder localizado na sua própria igreja local.

Se os bispos pediram ao papa maior compreensão e tolerância, ou mesmo o criticaram por sua dura medida em excomungar as igrejas asiáticas, isso não depõe contra a doutrina do primado, mas a indica. Mostra apenas que outros não ficaram satisfeitos com a ação papal daquela forma.

Parece que o assunto do poder do papa continua sem entendimento no livro. Aliás, é bastante patente isso.

Afirma-se que o papa deveria ter excomungado todos os bispos que não estivessem de acordo com suas medidas, e somente assim seria realmente um papa, e não ser um homem que admitisse repreensões de seus companheiros no episcopado.

Por esse princípio seria como se o papa pudesse lançar excomunhões a bel-prazer, por motivos mesmo pessoais, e fosse capaz de evitar até as incompreensões e opiniões contrárias em quaisquer assuntos, cortando da comunhão eclesiástica aqueles que não pensassem como ele. Pura fantasia.

O papa não age assim, e nem o pode. As questões que admitem excomunhão são aquelas que orbitam no domínio doutrinal, que levam ao cisma, que negam a fé, apostatam, e repulsam à autoridade do pontífice, causando enorme prejuízo para a unidade da Igreja e à vida espiritual dos crentes. Não se limitam às questões de cunho privado e de meros caprichos do ego, como o livro permite compreender.

Desse modo, a seguinte afirmação está fadada ao fracasso total em sua argumentação: “Essa é a prova mais forte de que o bispo de Roma estava no mesmo patamar de autoridade de todos os outros bispos, pois se ele fosse superior aos outros não seria repreendido por eles; ao contrário, teria a sua decisão aceita, pois seria o primaz, o maior de todos os bispos, cuja autoridade deveria ser obedecida em qualquer discussão.” (p. 222) Se essa é a prova “mais forte”, então acabaram-se as provas. Todos ao descanso na sólida doutrina. O papado é a doutrina correta.

Na citação da desavença entre Policarpo e o bispo de Roma, vê-se a autoridade do papa quando se diz: “evidentemente por deferência,”, ou em outra tradução: “por respeito”. O papa cede o direito de consagrar a Policarpo por respeito, não porque não tivesse autoridade superior à dele, e fosse obrigado por isso.

Sendo assim, eles comungaram um com o outro e, na igreja, Aniceto cedeu a Policarpo, sem dúvida por respeito, o ofício de consagrar...” [ênfase acrescentada] Nota-se que não cedeu por pura submissão ou falta de autoridade, mas por ter ambos suas razões legítimas, e não intrinsecamente incompatíveis com a unidade, o papa cede por respeito ao santo irmão e amigo no sacerdócio. (Eusebio de Cesaréia, História Eclesiástica, Livro 5, XXIV) Assim, o bispo de Roma não se sujeitou ao de Esmirna, como quis o livro. De fato, conceder o direito de consagrar, ou seja, de celebrar a eucaristia, em outras palavras, de celebrar a missa, foi dado pelo papa Aniceto ao bispo Policarpo. É preciso notar que Policarpo recebeu do papa essa confirmação em seu direito de exercer o sacerdócio em plena comunhão com a Igreja.

O que ensina a citação da Encíclica “Como amar o Papa” [Pio X, 18/11/1912] está em contraste com o escrito na reposta acima. Será, então, que o livro estava correto ao entender que a vontade e opinião do papa superam todas as opiniões e vontades dos fieis em toda e qualquer discussão? Na verdade, não se trata disso, mas do princípio do amor, no qual a pessoa que ama tenta conformar-se com aquela amada. Jesus disse para amarmos a Ele, o que equivale à obediência. Esse exemplo o papa usa, pois como representante de Deus na Igreja, como chefe da mesma, é seu dever ensinar o Evangelho, e estando na verdade deve ter obediência. Esse é o sentido da alocução feita por São Pio X.

O livro mostra Tertuliano como não tendo noção da primazia de Roma e acusando o papa de heresia, em Contra Práxeas 1. Para contextualização histórica geral desse tema, é necessário alongar-se um pouco nesse particular, para compreender as palavras de Tertuliano e sua ligação com o primado da Sé de Roma.

São Calisto, bispo de Roma, papa de 219 a 224, condena as heresias da época, como bispo dos bispos. Nesse tempo, Tertuliano havia abraçado a heresia montanista, contrária ao perdão, conferido pela Igreja Católica, de cristãos que cometeram adultérios e fornicações. Ele critica o papa Calisto, e em suas críticas é claro o papel do bispo de Roma na época. Tertuliano usa de sarcasmo e o chama ‘Pontifex Maximus’, comparando-o ao imperador de Roma, e de ‘bispo dos bispos’, referindo-se ao seu poder sobre toda a Igreja. Refere-se ainda ao Evangelho, no texto de Mateus 16,18-19 como base para o primado, reconhecido pelo papa, e negado pelo próprio Tertuliano. [cf. Mark Bonocore: The title Pontifex Maximus] Assim, o testemunho de Tertuliano é assaz apropriado para compreender a autoridade do papa, e infeliz por mostrar um homem de sua envergadura negar o primado do papa e a sucessão apostólica, dando as mãos a um rigorismo heterodoxo.

Fato interessante, também, é que São Tiago Menor, parente de Jesus, foi sucedido no episcopado de Jerusalém por São Simão, seu irmão, também primo de Jesus. Isso ocorreu numa reunião de toda a Igreja, conforme a História Eclesiástica.

São Cipriano, na Epístola 59, n. 14, refere-se a Roma como a igreja principal, origem do sacerdócio, e que não pode errar em questões de fé.

No Canon 28 do Concílio de Cartago há a recomendação de resolver toda questão em sua própria província, proibindo apelar para outras sedes, numa proibição de apelação a Roma. Esse tempo foi de controvérsia, e não pode ser usado como inexistência da primazia de Roma, mas, pelo contrário, de mais um exemplo desse fato.

O caso de São Cipriano na questão contra o papa Estêvão revela um exemplo em momento de controvérsia. A fé de São Cipriano, como vista, estava de acordo com o primado, e não contra. O livro afirma que o fato de São Cipriano reconhecer o bispo de Roma como sucessor de Pedro seria, por assim dizer, algo semelhante ao natural, pois todas as dioceses eram vistas como de origem apostólica. Não é bem assim. Que outras dioceses, exceto Antioquia, Alexandria e Roma, são ditas serem seus bispos sucessores, não dos apóstolos, mas de Pedro em especial? O livro não provou sua asserção, e nesse salvatério inútil não logrou o intuito almejado.

Assim, o argumento da sé romana ter raiz em Pedro não foi para o lixo, mas está de pé, divinamente estabelecido, pela Bíblia, pela História, e pelo bom senso. Da submissão do cristão ao bispo local infere-se a submissão ao papa, pois todo bispo deve estar nessa comunhão. Certamente, esse é o sentido da unidade da Igreja em São Cipriano.

Se são falsas as citações, e todas manipuladas, como as de que São Cipriano cria que Roma não erra na fé, e que é a sede da Igreja, que provas o livro apresenta para tal acusação? Para essa controvérsia o livro aponta artigos do autor, em indicações no rodapé, e afirma: “tradução mal feita do original (...) [referindo-se à obra Da Unidade da Igreja] interpolação que é fruto de uma adulteração vergonhosa no texto de Cipriano [frases de São Cipriano: “os romanos não podem errar na fé” e “Roma é a matriz e trono da Igreja Católica”]”.

E, conferindo o artigo citado, há grande energia contra essas citações de São Cipriano: ““Atrevem-se estes a dirigir-se à cátedra de Pedro, a esta igreja principal de onde se origina o sacerdócio… esquecidos de que os romanos não podem errar na fé (Epist. 59,n.14, Hartel, 683) Essa adulteração é tão vergonhosa que qualquer um que tenha um mínimo de decência poderia ir conferir na “Epístola 59” de Cipriano e verá que não existe absolutamente nada que sequer seja parecido com isso nessa epístola 59 de Cipriano...” [ênfase no original. Artigo de 4/12/2012]

Realmente, não está na Epístola 59 segundo a edição pesquisada pelo autor. No entanto, esse deveria publicamente, por justiça, emendar-se dessa acusação de fraude, já que não houve Adulterações católicas nos escritos de Cipriano, como é o título do artigo, pois, quem tiver a mínima decência encontrará a citação noutra epístola.

De fato, o que está na Epístola 54,14, de São Cipriano, assim ensina: “Depois de coisas como essas, ademais, eles ainda ousam – um falso bispo ter sido consagrado para eles pelos hereges – a sair e levar cartas dos cismáticos e pessoas profanas ao trono de Pedro, e à principal igreja de onde a unidade sacerdotal tem sua fonte, e não considerar que esses foram os romanos cuja fé foi louvada na pregação do apóstolo, aos quais falta de fé não tem acesso.” [tradução minha. Site newadvent.org] Os hereges ousavam levar cartas a Roma, e São Cipriano mostra que os romanos têm a indefectibilidade, em sua Igreja, e o erro da fé não pode ter lugar entre eles. Importa pouco o que farão dessas palavras agora, que interpretação ao gosto individual, muitas vezes, será dada, mas o fato das palavras serem verdadeiras.

O assunto é o cisma, a negação da autoridade do papa. São Cipriano, então, cita a cátedra de Pedro, o seu TRONO, fala da origem do sacerdócio em Roma, como fonte de unidade da Igreja inteira, e refere-se à Igreja de Roma como a ”principal Igreja”. Todos os elementos da verdadeira doutrina. Mais uma refutação. Graças sejam dadas a Deus por meio de Jesus Cristo Nosso Senhor.

Se o texto não foi encontrado na Ep 59, o foi na Ep 54, no número 14. Dessa forma, o texto é verdadeiro, não houve adulteração, nem invenção, nem falsificação. O autor deve suas desculpas.

Recorrer a São Cipriano é de grande ajuda para a causa protestante, até que as fontes sejam realmente consultadas. A partir daí, renova-se o desapontamento protestantista.

Em primeiro lugar é preciso saber que São Cipriano errou, e no momento de controvérsia contra o papa Estêvão perdeu as rédeas e afastou-se, momentaneamente, daquilo que era próprio da sua fé pessoal. Afastou demais de sua vigorosa ortodoxia sobre a cátedra papal, contradiz-se, como nota Harnack.

Não é necessário transcorrer por outros textos, pois para São Cipriano estar na Igreja significa segurança na fé, união com Cristo, e unir-se aos hereges equivale à perdição (cf. Da Unidade da Igreja 6).

Com São Jerônimo não é diferente: o livro reconhece que o mesmo concede honra ao papa, mas nega que tenha classificado o papa como superior aos demais, como bispo dos bispos. E qual é a prova? Vejamos: "Como podemos ter certeza disso? Simplesmente porque Jerônimo considerava os outros bispos também como “papas”, e vai além e diz ao bispo de Alexandria que ele era “o mais abençoado papa” da Igreja: ”Jerônimo para o mais abençoado papa Teófilo [Alexandria]”" (p. 230) Pelo que São Jerônimo escreve entende que o papa, como eram chamados todos os bispos da época, Teófilo teve importante papel na defesa da fé contra uma heresia, auxiliando mesmo a cidade de Roma com seus escritos. O santo convida o bispo a escrever mais vezes, a não hesitar em ajudar os irmãos no Ocidente. Quando escreve que o bispo era "de uma autoridade tão grande", essas palavras soam como elogio devido ao fato circunstancial. (Cartas 63 e 88)

Dessas palavras o livro questiona sobre a primazia do bispo romano, que estaria ofuscada pela posição do bispo Teófilo, se fosse o caso, sendo que o argumento tenta refutar o lugar primeiro do papa de Roma.

Quando pede que uma carta seja enviada a ele e ao bispo de Constantinopla e refere-se ao consenso universal, o livro conclui que o papa não foi mencionado, e sendo o consenso universal contrário aos poderes plenos do papa, sua posição estaria estabelecida. Nada mais errado. O consenso universal da Igreja é ensinado pelo papa. Não há contraste em ambos os conceitos, mas perfeita unidade. A ideia de que o papa "teria autoridade para resolver tudo sozinho", segundo parecer católico, é na verdade um parecer protestante lançado como sendo de origem católica. É um espantalho.

A citação da Epístola 146 é usada para colocar Roma fora de cogitação como lugar de importância central na Igreja no pensar de São Jerônimo. Certamente, o santo refere-se ao erro do costume ali surgido, e impõe a regra geral da Igreja, sem por isso negar o lugar de Roma como sede da fé.

Na verdade, na Epístola 146 São Jerônimo mostra que o episcopado é idêntico em dignidade onde quer que se encontre, seja em Roma ou em outra diocese. Essa verdade continua em voga, para os desavisados. Os bispos estão numa mesma hierarquia, e são no poder da ordem iguais no seu sacerdócio. O papa e outro bispo de qualquer igreja local da terra estão no mesmo grau de ordem recebida. O que o papa possui como distinção está no seu poder jurisdicional.

São Jerônimo ensina que o primado de São Pedro servia para a unidade eclesial, para afastar ocasiões cismáticas. (Ad. Jov. I, 26) Não será difícil entender, por essas palavras, a importância da unidade de fé e prática para a Igreja em todos os seus tempos, e assim ter estabelecida a doutrina da sucessão episcopal.

E sendo Policarpo o bispo de toda a Ásia, segundo São Jerônimo, então o papa não seria líder na Ásia. Essa é a lição que o livro ensina.

Mas, se cada Igreja local tem o seu bispo, que a governa, então o mesmo é chefe daquela igreja. Significa isso que o papa não tem nenhuma influência sobre ela, e que não possua o primado? Esse argumento não funcionou, e mais uma vez o livro deixou essa falha para corrigi-la, se Deus quiser.

Quando Eusébio fala de Jesus como o único Sumo Sacerdote do universo, conclui o livro que ele não cria no papel do papa como líder de toda a Igreja. Além disso, afirma que o título de papa foi ambicionado pelo bispo de Roma, que o tomou dos demais. Nada histórico, apenas força retórica.

O fato do papa ter ficado com título exclusivo é realmente um desenvolvimento histórico compreensível e são, em nada lembrando o que foi dito no livro.

E os elogios a Antioquia, por São João Crisóstomo, devem ser entendidos não no sentido de jurisdição, de centro da fé, mas noutro sentido. Aí temos, sim, um exemplo de preeminência de honra.

As 'provas' que o livro tenta inculcar tornam-se cada vez mais problemáticas, ao passo que o tempo corre. Em pleno século 6, pelos arrazoados convictos do livro, não deveria haver papa, pois crê-se que São Gregório Magno, que era papa, teria rejeitado o título de bispo universal.

Vê-se que São Gregório cita "as ordenanças evangélicas" e "os decretos dos cânones", o que impõe uma leitura contextualizada doutrinal e historicamente. Aquele fato não era conhecido, portanto, não tradicional da Igreja. Tratava-se somente do uso do título "bispo universal” pelo patriarca de Constantinopla, como sendo um erro no uso do título em si?

Na verdade, há um sentido inaudito que o papa reprova. Chama de "nome de blasfêmia", e que o mesmo tira "a honra de todos os sacerdotes". (p. 234) Seria o papado tendo tal ataque no século 6, pelo grande papa São Gregório?

O livro considera um argumento, talvez apresentado em algum site apologético: "Os católicos afirmam que Gregório Magno não condenou o título de “papa universal” para si próprio, mas condenou este título somente quando aplicado a João, bispo de Constantinopla, quando este queria se tornar o único “bispo dos bispos”. Porém, isso não é verdade" (p. 235).

Então, o título é sinal do precursor do anticristo, uma condenação para todo aquele que quiser usar do mesmo. É interessante que o título significa um desprezo aos outros bispos, negar o caráter de bispo dos outros. (Ep 48)

O que o papa está reprovando é a ideia de que há apenas um único bispo, e que somente esse tem o caráter tal que toda a doutrina depende de si, e toda autoridade está em si, e que os demais bispos na verdade não o são. Se assim fosse, uma vez caindo esse bispo a Igreja estaria fadada ao fracasso. Portanto, esse título assim entendido não é católico.

A afirmação de que a Igreja da época em questão não era "apostólica romana" como hoje é tão gratuita como aquelas afirmações já batidas aqui.

Seria o mesmo que afirmar que um menino não é a mesma pessoa quando torna-se adulto, ou uma semente não é da mesma natureza quando germina e torna-se uma planta, e não é a mesma quando se torna árvore, ou que uma vila não é a mesma quando chega ao nível de cidade, etc. A Igreja primitiva cresceu e tornou-se universal. Tornou-se de fato católica porque era católica já de direito.

Aliás, voltando ao aludido pensando do papa Gregório Magno, deve-se lembrar que foi papa, e é santo canonizado na Igreja. Viveu numa época em que a ideia do papado já estava bastante desenvolvida, e se nos primeiros tempos não havia dúvida, muito menos naqueles de São Gregório.

A Bíblia já é patente quanto à doutrina do primado, e a história vai recebendo maiores luzes conforme debruça-se a Igreja sobre a Palavra de Deus. Seja louvado Nosso Senhor Jesus Cristo.

Outra informação invertida é a de que o bispo de Roma tinha a primazia de honra por ser bispo de uma cidade da importância da capital imperial. Pelo visto, na História, ocorre o contrário: Roma é preeminente por ter sido sede do apóstolo que Cristo escolheu como caput de Sua Igreja.

O Cânon 28 de Calcedônia é apresentado com ideia contrária. p. 245

O papado retamente compreendido, com espírito sincero e orientado pela correta doutrina é um serviço santo a Deus pelo serviço aos irmãos, e nunca um orgulho.