domingo, 29 de dezembro de 2019

O sábado em Atos 19,8-10

Atos 19,8-10
 
Os fatos que encontramos nessa passagem são os seguintes:
 
São Paulo entrava nas sinagogas para pregar o Reino de Deus. Ele debatia com os judeus ali reunidos. Ficou ali três meses.
 
Muitos não ficaram convencidos, e isso causou a separação daqueles que já criam, para que pudessem ser instruído, todos os dais, na escola de Tirano.
 
Então, por dois anos São Paulo catequisava os convertidos. Judeus e gentios ouviam a Palavra do Senhor na Ásia.
 
Os adventistas interpretam essa passagem afirmando que Paulo guardava o sábado, reunindo-se para adorar com o irmãos, e que ficaria provado, por essa passagem, que durante esses dois anos o apóstolo guardava o sábado.
 
No entanto, o texto não afirma isso. Afirma antes que, o apóstolo disputava com judeus aos sábados sobre o Reino de Deus, mas após a descrença de muitos, chamou os discípulos que, a partir de então, disputava diariamente com eles, e não somente aos sábados, pois esses já sendo abertos ao evangelho não precisaria mais ir à sinagoga aos sábados para falar do Reino de Deus.
 
O texto não serve para provar o dia de guarda. Não é dito que o apóstolo tenha tratado disso, e o fato de ter ido às sinagogas por três meses foi para evangelizar, e não porque fosse com propósito de guardar o dia de sábado.
 
Se for lido os versos 8 e 10 ficaria parecendo que Paulo foi à sinagoga por 2 anos aos sábados. No entanto, o verso 9 é enfático em mostrar que isso ocorreu exclusivamente por 3 meses, e à partir de então passou a ir todos os dias, sem mencionar o dia de guarda cristão, restringindo-se a mostrar a regularidade geral das reuniões de estudo com os discípulos.
 
Gledson Meireles.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Livro sobre Martinho Lutero

O pastor batista português, Tiago Cavaco, escreveu um livro sobre o padre Martinho Lutero, “Cuidado com o alemão, três dentadas que Martinho Lutero dá à nossa época”, 1ª edição, da editora Vida Nova, 2017, em consideração às comemorações dos 500 anos da Reforma Protestante, concedendo à relevância do reformador para a presente época, em especial para a igreja, referindo-se certamente ao Protestantismo de modo exclusivo, ou ao menos especialíssimo, desde que tem plena convicção, como não poderia deixar de ter, como protestante que é, de que o evangelho está preservado nas fileiras da Reforma.

O livro apresenta Martinho Lutero de forma a fazer pensar na essência do Protestantismo, já que faz contraposições entre catolicismo e protestantismo a partir da visão aberta pelo monge alemão ou, como preferir, da leitura do evangelho da salvação redescoberta e recuperada pelo Reformador, como pensa o Protestantismo. Isso faz com que o livro tenha, de certo modo, pontos que dizem respeito a todo o Protestantismo, com características da sua identidade, e não de uma denominação em particular, e que a apresentação de Cavaco seja feita, apesar da dificuldade imensa, em nome de todos os protestantes. Isso fica claro no uso das referidas contraposições.

Para fins de estudo, postarei aqui algumas reflexões de afirmações do autor sobre certos temas difíceis quanto relevantes para a fé, tentando mostrar os motivos que brotam da doutrina que a Igreja Católica ensina sobre o caso específico a ser tratado. São partes de um estudo do livro.
Gledson Meireles.

sábado, 7 de setembro de 2019

Questões a partir de um artigo sobre o cânon bíblico

Do artigo publicado: aqui.
 
A questão do cânon do Antigo Testamento no âmbito ortodoxo, ou seja, na Igreja Ortodoxa, é bastante relevante para fazermos algumas perguntas e refletirmos sobre elas:

Não era a Igreja uma só nos primeiros séculos (I, II, III, IV, V)?

Não era a Igreja do Oriente e do Ocidente plenamente unida nessa época?

Houve dúvida sobre o cânon, mas não podemos afirmar que essas dúvidas foram definidas para a Igreja inteira no século 4?

Alguém consegue perceber que a posição da Igreja do Oriente mudou e que a Igreja do Ocidente permaneceu de acordo com a definição geral feita nos concílios do século 4?

O que Cirilo Lucaris (1572) e Metrophanes Kritopoulos (1639) afirmaram, não é uma opinião nova no meio Ortodoxo¿ Não parece ser oriunda de uma influência protestante?

O que significa, senão que as interpretações particulares, a opiniões individuais, estão comumente entremeadas de heresias?

O que dizer, mais exatamente, da frase: “apoiam a definição protestante quanto à inferioridade dos “deuterocanônicos”.?” Significa que a opinião é idêntica?

Como se prova que a expressão oráculos divinos em Rm 3,2 se refere aos livros do cânon hebraico do Antigo Testamento?

A opinião do bispo Kalistos Ware, de que há livros DA Bíblia que são inferiores ou de nível mais  abaixo dos outros, pode ser opinião de que são todos inspirados? Ou que os inferiores o são por não serem inspirados? (Pois há, como entre os adventistas, a opinião de inspiração idêntica aos demais livros inspirados, mas que produz obras inferiores, ou de luz menor, já que não há mais revelação, mas uma luz que aponta para a Escritura).

Há ortodoxos, ao que parece a minoria, que permaneceram com o cânon idêntico ao dos protestantes. O que isso indica, já que outros ortodoxos adotaram livros apócrifos? Significa que os que se limitaram ao cânon menor seja mais fiel e tenha doutrina mais pura? Se não, o que significa de importante para a questão debatida?
 
Gledson Meireles.

domingo, 1 de setembro de 2019

Mês da Bíblia

A Santa Igreja comemora o mês da Bíblia em setembro. Que esse período seja para nós de crescimento espiritual, mais leitura da Palavra de Deus, mais conhecimento da Santa Vontade de Deus, mais força para renunciar as ideias e práticas pagãs contrárias às verdades reveladas.
 
Gledson Meireles.

domingo, 26 de maio de 2019

Assunção de Maria

Sobre o artigo Maria foi assunta aos céus? 
Pode-se afirmar que o dogma dá maior solidez a uma doutrina revelada, e a torna mais clara. Portanto, a data recente da proclamação não é um problema.

O papa não pode criar doutrinas, e quando faz suas proclamações dogmáticas ele tem em conta toda a tradição da Igreja, o entender geral dos teólogos, o senso de fé dos fieis, e crê na assistência infalível do Espírito Santo, que não traz coisas novas, mas maiores entendimentos da doutrina revelada. Um desses casos ocorreu em 1950.

A mulher de Gênesis 3,15 é Maria. Para comprovar, leia o artigo contrário a esse pensamento, e leia o que está disponível aqui.

Ainda que a Mulher de Gênesis seja Maria, como de fato o é, o texto não trata da assunção. Isso é fato. Mas, já sabendo que a profecia de Gênesis 3,15 aponta para Jesus e Maria, fica mais fácil compreender a assunção. Leia os artigos aqui e aqui.

O capítulo 12 do Apocalipse também aponta na direção de que Maria é a mulher ali representada, o que não quer dizer que não podemos ler o texto como simbolizando Israel, a Igreja, etc. Contudo, o significado básico mostra que trata-se de Maria. Leia os artigos aqui e reflita.

O texto não diz que a Mulher foi arrebatada, mas a mostra cheia de graça, toda abençoada e protegida por Deus. Isso ajuda no entendimento da doutrina da assunção.

Fatos importantes certamente não foram escritos pelos apóstolos e pais da Igreja dos primeiros séculos. Assim é que alguém pode acreditar que Moisés ressuscitou, mesmo que a Bíblia não afirme isso e os apóstolos não tenham escrito uma única linha sobre isso e nem mesmo os padres da Igreja sequer mencionaram algo a respeito. Comparando com a doutrina da assunção de Maria, a suposta assunção de Moisés tem menos base ainda, e nem por isso é desacreditada por muitos.

Para ficar ainda mais complicado, é um fato que a maioria dos protestantes não creem que Moisés foi ressuscitado, como de fato não foi, nem mesmo temporariamente. Não é o caso de que alguns protestantes não creem nisso, mas que é geral o consenso protestante de que isso não ocorreu.

É claro que no protestantismo não há a ideia de dogma, como há na Igreja Católica, mas é verdade que aqueles que asseveram que Moisés ressuscitou, sem qualquer base bíblica, apontam razões que exigem que creiam assim. Caso contrário negariam necessariamente outras doutrinas que julgam verdadeiras. Torna-se assim praticamente um dogma.

É importante que os protestantes pensem nas implicações da frase de Santo Epifânio: “se Maria morreu ou não, nós não sabemos”. Que será que está mais conforme a doutrina proclamada por Pio XII, a afirmação de um grande teólogo cristão de que não se sabe como foi o fim de Maria na terra, ou a afirmação protestante que assevera que ela está ainda aguardando a ressurreição? Será que o que Santo Epifânio escreveu não chega perto disso? Não se trata de pensar como foram os últimos dias na terra, mas se ela morreu ou não. A própria dúvida já prova que ocorreu algo diferente com Maria. Se a dúvida significasse que foi tudo igual, por que existiria? Mas, pensando o contrário, tudo faz sentido: a dúvida aponta para algo, que está de acordo com o desenvolvimento doutrinal que levou à proclamação do dogma em questão. Leia: aqui.

O silêncio de Santo Agostinho no seu debate com Fausto não é prova positiva contra a doutrina.

As indicações bíblicas e patrísticas, o testemunho de Santo Epifânio, pelo menos, corrobora a doutrina da assunção. Silêncio sim, existe, mas quanto à assunção de Moisés.

Seria bom que se escrevesse um artigo tratando desses dois assuntos: a assunção de Moisés, e suas bases bíblicas patrísticas, e fazer a correlação com a assunção de Maria. Já sabemos que a fé na assunção de Moisés não é um dogma para o protestante que crê nele, como se perdesse a salvação se o negasse, e coisas do tipo. Pelos menos não dito assim tão claramente. E sabemos que a maioria dos protestantes não acredita nisso. Isso para ficar claro o objetivo que teria o artigo: provar qual das duas doutrinas tem maior base: a assunção de Moisés ou a de Maria. Se não conseguir, então a imortalidade da alma e todas as doutrinas que alguém nega por isso deverão ser revistas por quem assim crê, por exemplo.
Gledson Meireles.

sábado, 13 de abril de 2019

Entendendo João 6 sobre a Eucaristia

A Bíblia ensina que Jesus ofereceu aos apóstolos, na última Ceia, o pão e o vinho como Seu corpo e sangue. Afirmou ali que aquele era o Seu corpo que deveria logo ser entregue por eles. Tratava-se de uma cerimônia muito impactante para as mentes dos apóstolos.

O apologista Norman Geisler, que afirma ter uma familiaridade profunda com a doutrina católica, responde aos argumentos católicos sobre a Eucaristia, e acredita tê-los refutado.

Geisler começa mostrando que não é a participação da ceia que dá a salvação, mas a fé em Cristo. E usa a passagem de João 3, 14-18 contrapondo-a com a de João 6,54. Se ter parte na eucaristia fosse condição para ser salvo, não o seria a fé. Se a fé o fosse, não o seria a participação dos elementos da comunhão.

Mas, Geisler não compreende que a doutrina cristã católica aponta a fé como a raiz para tudo isso. Se João 3,14-18 afirma a necessidade absoluta da fé, ela deve estar presente para que a promessa de João 6,54 se concretize. Ninguém participaria da eucaristia e seria abençoado com a dádiva da salvação sem a fé. Ambas as verdades devem ser acatadas.

Para o protestante só vale um texto: o da fé. O outro é interpretado por esse, e deveria também indicar somente isso: a fé. Em outras palavras, João 3,18 que fala claramente da fé explicaria, por exemplo, João 6,54, que fala do comer o corpo e bebe o sangue, que deveria identificar-se com o ato de fé.

Para melhor refutar essa exposição, lembremos que ambos os textos devem ser melhor explicados por seus contextos, e não apenas comparando um com o outro e, como que, suprimindo um. Voltando o que foi dito: o que está em João 3 não pode desfazer o que está em João 6. A fé é necessária, mas não é o mesmo que comer o corpo e beber o sangue.

Para o protestantismo, no qual a doutrina da salvação pela fé é um dos pontos mais ressaltados, compreende-se que a sistemática doutrina bíblica que mostra magistralmente a fé como o meio para termos a salvação em Cristo seja a forma usada para entender as demais passagens que tratem da salvação. No entanto, a forma usada pelo Protestantismo deixa textos sem a devida apreciação, quando esses falam da salvação e não mencionem a fé. Com receio de errar, por muito zelo, talvez, preferem entender que uma passagem difícil tenha o mesmo sentido de outra que supostamente a explique. Esse é o caso de entender o comer e beber como sendo simplesmente a fé, pois não poderia uma participação em um sacramento trazer a salvação quando em outra passagem a mesma é dita ser através da fé em Jesus. Com isso fica mais compreensível como o protestantismo explica a Escritura no tocante à Ceia do Senhor.

Mas o catolicismo nunca fez tal coisa. Ambas as passagens devem ser compreendidas da forma como foram escritas, e entendidas em seus respectivos contextos. Quanto à salvação pela fé não há o que discutir. Porém, quando algo mais é oferecido como parte integrante da salvação, a Igreja Católica considera igualmente o que for ensinado na Bíblia, como faz com a eucaristia como necessária, em suas devidas dimensões, para a salvação.

Para o protestantismo, a participação da ceia torna-se mera obediência a uma ordenança, não dando salvação, pois essa vem de Cristo, pela fé.

Para o catolicismo, a mesma salvação que vem de Cristo, pela fé, é fundamento para a participação da eucaristia. Não é a eucaristia que está em primeiro lugar, mas a fé, que é a raiz de toda a comunhão com Jesus. No entanto, conforme Jesus ensinou, quem não come a carne e bebe o sangue do Salvador, não tem a vida eterna. A participação da eucaristia por aquele que tem fé em Cristo torna-se agora necessária. Não é mera formalidade, mas algo que tem a ver com a vida de salvação. Pode-se afirmar que o salvo crê nas palavras da eucaristia, e dela participa como alimento espiritual.

Quanto à interpretação contextual de João 6, segue um estudo que realizei, e que responde a muitas coisas contidas nas objeções de Norman Geisler (aqui). Oportunamente tratarei das outras objeções.

Nos textos de Mateus 26,26-29; Marcos 14,22-25; Lucas 22, 17-22; João 6,27-63 e 1 Coríntios 11,23-25, e ainda em 1 Coríntios 10,14-22, está estabelecida a doutrina da Eucaristia. 

Nos Evangelhos sinóticos temos a narração da Última Ceia, quando o Senhor identifica o pão com o Seu Corpo, ordenando que se fizesse memória dEle,  e o cálice com o Novo Testamento do Seu Sangue (Lc 22,19-20). E todos os apóstolos comeram. 

Em São João, no capítulo 6, no discurso em Cafarnaum, temos a verdade que foi realizada na Última Ceia.

A forma bem detalhada do capítulo torna possível o completo entendimento sobre a Eucaristia. O verso 27, por exemplo, é bastante importante. 

Comparando o esforço para obtenção da comida física, Jesus manda “trabalhar” pela “comida que permanece para a vida eterna”. 

Dessa forma, há uma obra para obter tal comida. Outra coisa interessante é o tempo verbal: futuro. Jesus diz dessa comida: “o Filho do homem VOS DARÁ”. 

O Protestantismo ensina que a fé equivale ao “comer a carne” e “beber o sangue”, sendo, portanto, expressões metafóricas e não literais.

Se for assim, esse discurso do Senhor terá essa acepção. No entanto, vejamos: quando os judeus perguntam “que faremos para executarmos as obras de Deus? (v. 28)”, o Senhor responde que a OBRA de Deus é crer nEle (v. 29). Portanto, é a FÉ. Ele afirma clara e literalmente a necessidade da fé, o que já é estranho usar de uma metáfora para indicar o que está dito diretamente.

O discurso nessa fase é bastante direto e claro, não faz uso de metáforas: 

Jesus respondeu, e disse-lhes: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou. 

E os judeus entendem a exigência de Jesus, mas retrucam: 

Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, PARA QUE o vejamos, e CREIAMOS em ti? Que operas tu? 

Pedem sinais para crer, para ter fé nEle. Entenderam a necessidade, mas não encontraram “motivo” para acreditarem. Requerem uma razão para ter fé. 

Então, o Senhor Jesus fala abertamente que Ele é o Pão do céu, que mata a fome e sacia a sede (v. 35), afirmando, adiante, que eles não criam (v. 36). 

E, logo mais, mostra que a fé nEle faz ter a vida eterna, e ser digno da ressurreição (v. 40). É a fé o começo, o fundamento para ganhar a salvação. O mesmo está no v. 47: 

“Na verdade, na verdade vos digo que aquele QUE CRÊ EM MIM TEM A VIDA ETERNA.”

O tema da FÉ está bastante claro, e os judeus não quiseram aceitar. A metáfora, portanto, não indica a fé.

Por isso, a partir do verso 51, Cristo estende a doutrina, mostrando que o pão é a Sua carne, que deve ser comida, para que o mundo tenha vida. Nesse momento, os judeus discutem. 

Preste atenção, que o assunto já havia sido apresentado, que era a necessidade de aceitar Jesus como o Pão vivo e receber a graça da vida eterna, através da fé nEle. Se a fé fosse comer o Pão, tal caso já teria sido entendido pelos judeus, mas eles negaram essa conotação. 

Mas, agora, ao introduzir a necessidade de comer a CARNE (que é o pão), os judeus, que negaram-se a crer, ficam ainda mais assustados: 

“Como nos pode dar este a sua carne a comer?” (v. 52). 

Jesus confirma o que foi dito (v. 53). E no verso 54 afirma que: 

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.”

No entanto, comer a carne e beber o sangue para ter a vida eterna, tem como necessidade a fé em Jesus, como disse no v. 40:

“Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.”

Muitos veem aqui uma equiparação do “come” e “bebe” com o “vê” e “crê” (vv. 40 e 54), mas o contexto não favorece essa interpretação. 

Lembre-se que o Senhor Jesus iniciou falando que deveriam “trabalhar” para fazer a “obra” de Deus, que é “crer” NELE, não é mesmo? 

Entendamos então: basta crermos em Jesus, e a obra de Deus estará realizada, e Ele nos dá o alimento, que é o Pão vivo, Ele mesmo. De fato, Sua Carne é verdadeiramente comida e o Seu Sangue verdadeiramente bebida (v. 55).

Assim, o que o Senhor ensina é que a fé é necessária para comungarmos dEle, não que a fé já é a própria comunhão da qual se fala aqui. São dois elementos: a fé e a comunhão eucarística.

“Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão. Vede a Israel segundo a carne; os que comem os sacrifícios não são porventura participantes do altar?” (1 Cor 10,17-18). 

Por isso, São Paulo compara os judeus que participam do Altar quando comem das vítimas sacrificadas, e  os pagãos que entram em comunhão com os ídolos quando tomam parte nos seus sacrifícios. 

Dessa forma, os cristãos entram em comunhão com Jesus quando participam da Eucaristia “do mesmo pão”, que é o Seu sacrifício (1 Cor 10, 17). 

Vê-se, assim, que as palavras de Jesus são literais, e que realmente comemos e bebemos dEle no sacramento da Eucaristia. 

Maiores reflexões: 

Os discípulos entenderam materialmente as palavras de Cristo no discurso de João 6? Certamente que sim. A pergunta do Senhor a eles, se os mesmos queriam seguir os judeus que voltaram atrás, e a resposta que recebeu, indica, de forma velada, que os apóstolos não entenderam bem o discurso, mas criam no Senhor Jesus. Eis a diferença entre eles e os que foram embora. 

De fato, naquele instante não era possível entender o modo de alimentar-se do Corpo e do Sangue do Senhor, visto que essa doutrina fica clara na última ceia. A fé dos discípulos os impelia a crer nas palavras do Senhor, e a esperar o alimento que Ele iria dar a eles. 

Em outras palavras, os discípulos cumpriram os que a multidão recusaram-se a cumprir: ter fé em Cristo. Essa explicação harmoniza-se com toda a passagem. Pensar que os discípulos entenderam as palavras de Cristo - comer e beber como se fosse fé - é uma introdução de pensamento estranho para resolver esse dado não fornecido. 

Os apóstolos continuaram a entender erroneamente as Palavras do Evangelho mesmo depois da ressurreição, e não entenderiam “comer e beber” de forma “soteriológica” ou de forma correta, como se referindo à ceia, visto que a mesma seria ainda instituída.
 Somente em Pentecostes os apóstolos e discípulos tiveram suas mentes abertas às verdades mais profundas, e entenderam o que Cristo lhes ensinara. 

Os apóstolos permaneceram com Cristo não por terem entendido tudo espiritualmente, mas por crerem nEle e esperarem a comida que seria dada, conforme a promessa, e que os mesmos desconheciam: a Eucaristia, o próprio Cristo como alimento. 

Outros exemplos em que Jesus falava metaforicamente e era incompreendido pelos ouvintes certamente não desfaz o caso de João 6 ser literal. De fato, noutros exemplos, o contexto geral explica a metáfora de forma bastante clara. Com referência a João 6, o contexto bíblico afirma tratar-se da Ceia do Senhor.

João 4, 32.34. 

A comida de Cristo, que os apóstolos não conheciam (e que pensaram ser física), é fazer a vontade de Deus, realizar a obra do Pai. Tudo esclarecido. Ao mesmo tempo em que usa metáfora, a mesma é explicada pelo Senhor: comer aqui significa fazer a vontade de Deus, realizar Sua obra. Importante frisar que essa comida é de Cristo. 

 

João 7,35-38. 

Os que têm sede são chamados por Cristo a ir até Ele e beber. Obviamente, esse sentido é espiritual, uma bebida do Espírito, pois no v. 38 é referido à água abundante, a rios que jorrarão, enquanto que no v. 39 é explicado que se trata do Espírito Santo, que será dado a todos os que crerem em Jesus. O contexto não é eucarístico, não fala do corpo e sangue do Senhor, e a bebida não é o Seu sangue, mas a mesma é a “água” representando o Espírito Santo. 

1)      Os judeus normalmente materializavam a linguagem de Cristo e erravam, não compreendendo-as. Fato. 

2)      Cristo muitas vezes continuou usando a mesma figura de linguagem, ainda que os ouvintes literalmente entendessem, e estivessem errados nisso. De fato, não é sempre assim. Jesus mudava as palavras ao explicar, o que não ocorre em João 6. Em outros lugares havia maior explicação. 

O contexto do Evangelho explica a passagem, como fez com João 6. E a passagem de João 6 é única, pois determina o seguimento de Cristo ou não, de forma direta. Jesus insiste em manter a linguagem ainda que os judeus afirmassem deixá-lo por causa da Sua mensagem naquele momento. Esse exemplo faz da ocasião um tanto diversa daqueles outros momentos (como a conversa com Nicodemos, com a Samaritana e outras). Antes, Jesus normalmente explicava e elaborava sobre o que dissera. 

3)      Os discípulos entenderam João 6 espiritualmente, em termos soteriológicos. O texto não afirma isso. Fato.

Se esse foi o caso, que explica continuarem com Cristo, diferente dos outros judeus, indicaria a habilidade que os mesmos adquiriram de entender o Evangelho em termos espirituais. Os fatos depõem contra isso. Por exemplo, os apóstolos não creram imediatamente na ressurreição. Isso mostra que permaneciam bastante literais em seu entendimento, não compreendendo que Jesus destruiria o Templo (espiritualmente corpo) e o construiria em três dias (ressuscitando). 

Outro sinal de que não entenderam, se dá pela forma errada de resolução da interpretação protestante: comer e beber não quer dizer crer. O contexto de João 6 prova isso. Portanto, os apóstolos creram no Senhor, e por isso continuaram a Seu serviço. Não sabiam ainda como seria “o comer e beber” que Jesus havia falado.

 4)      Os judeus não podiam compreender ainda o sentido de João 6 como sendo a ceia do Senhor, pois a mesma não existia. Fato. 

Por isso, a Igreja explica que a fé é necessária para estar com Cristo, visto que tudo o que Ele diz é verdade. Basta crer e entenderá.

Gledson Meireles.

sábado, 16 de março de 2019

Sobre a aparição de Moisés

As colocações feitas no artigo que tenta explicar a aparição de Moisés são bastante interessantes, e servirão aqui para mais uma avaliação, pois já foi feita refutação neste blog, quando foi tratado o tema da aparição de Moisés na perspectiva de provar a imortalidade da alma.

Agora, aparece um desafio: todos na cena do monte da transfiguração estão em corpo, menos Moisés, o que seria estranho.

No entanto, essa questão não surge do texto bíblico, mas do que estamos averiguando, ou seja, a imortalidade ou a mortalidade da alma. As premissas são criadas a partir desse debate.

Alguém deve saber que anjos são espíritos, não possuindo corpo material algum. Mas, quando vieram à terra, estavam materializados, podendo conversar, comer e beber com outras pessoas, e passar por homens, ou seja, aqueles que os viam achavam que fossem seres humanos.

Também o profeta Elias subiu aos céus há milênios. Ele não morreu, e quando foi arrebatado seu corpo material passou por uma transformação que o capacitou a viver no mundo espiritual, por tanto tempo, até os dias de hoje. Doutro modo, deveria alimentar-se, e estaria sujeito a tudo o que nós estamos aqui na terra. Ninguém seria ingênuo de pensar isso.

No entanto, quando apareceu a Jesus, certamente aquele corpo em glória mostrou-se segundo a aparência dos vivos, tornando-se visível na terra. O corpo que vive com os espíritos celestiais, aquele corpo humano glorificado que está na presença de Deus e na companhia dos santos, agora é visto na terra.

Pois bem, Elias aparece com Moisés. Mas, o que desafiaria o “bom senso” e, depois, a Bíblia, seria que a cena se tornaria estranha se somente Moisés não tivesse corpo, já que todos ali tinham: Jesus, Pedro, Tiago, João e Elias. Um só sem o corpo seria demais!

Mas, eis que algo agora vem à tona para derrubar esse desafio. Devemos lembrar que Jesus, Pedro, Tiago e João estavam vivos ainda, aqui na terra. Os que vieram do céu foram Moisés e Elias, o que já os coloca em posição diversa em relação aos que estavam vivos.

A outra curiosidade é o fato de Elias estar no céu com corpo e alma no mundo espiritual. Se Moisés naquela cena tão breve é motivo de estranheza, o que o objetor pensa da realidade de Elias como um dos únicos corpos glorificados no céu vivendo com anjos que são espíritos puros? Seria estranho alguém viver com corpo ao lado dos demais que não possuem corpos? (isso para fins de análise do argumento) E a glorificação, não explicaria essa possiblidade, de viver como os espíritos?

Por essa razão, o desafio não é grande, e de fato não oferece qualquer dificuldade para a questão. Da mesma forma que anjos materializam-se, mesmo não possuindo essencialmente um corpo, e Elias apareceu como estava antes de subir ao céu, não transformando o seu corpo glorioso de volta ao que era antes da glorificação, assim Moisés veio em seu espírito e tornou-se visível como se estivesse em corpo material. A aparição cumpriu seu papel ali, e não mudou em nada a constituição dos seres de Moisés e de Elias.

“Mas é preciso ressaltar: a crença na ressurreição de Moisés não depende de acreditar que ele foi o primeiro a ressuscitar para nunca mais morrer." Mas isso também oferece alguns problemas, que deveriam ser esclarecidos. Leia no link indicado abaixo.

A conversa que Jesus teve com Moisés e Elias, apenas pelo fato de Moisés estar morto, não poderia ser semelhante a uma “sessão espírita”. Isso porque Jesus não os invocou, e ali não foi feita consulta alguma, nem qualquer processo para aliviar espíritos desencarnados, e nem qualquer outra coisa que pudesse inferir isso. O que ocorreu foi que os dois grandes representantes da Lei e dos Profetas, Elias e Moisés, vieram ao encontro de Jesus que é o grande cumpridor da Lei e dos Profetas, na fundação do Novo Testamento.

A interpretação de que se trata dos símbolos dos que serão arrebatados e dos que serão ressuscitados é belíssima, mas não pode ser defendida nessa cena por um simples fato: não há prova alguma da ressurreição de Moisés, e pelas Escrituras aprendemos o contrário, ou seja, que Moisés ainda não ressuscitou. As outras dificuldades são tratadas em outro lugar, bastando clicar aqui para ler.

Por isso, o contexto e o assunto são referentes à morte de Jesus, o que mostra ser a instituição do Novo Testamento o tema principal.

Gledson Meireles.

terça-feira, 5 de março de 2019

"Catolização" e "Alma católica" das igrejas protestantes? Talvez nem tanto!

O artigo Cuidado com a “catolizacão” das igrejas evangélicas afirma que a mentalidade católica das indulgências agora é prega por protestantes, e que o “catolicismo medieval” está em igreja protestantes contemporâneas.

Essa avaliação contém um erro grave, mas tão sutil que é quase impossível perceber (graças a Deus não há impossibilidade, do contrário não poderia ser feita crítica alguma a esse tipo de pensamento). Mas, como é muito tênue, talvez quem pensa assim não seja, pelo menos antes de grande exercício de estudo e reflexão séria, capaz de compreender o que está sendo exposto aqui.

Mesmo um teólogo, dos mais abalizados do Brasil, o reverendo Augustus Nicodemus, escreveu um texto sobre os protestantes brasileiros, (que pode ser lido clicando no título a seguir, Alma católica dos evangélicos no Brasil), afirmando que possuem uma alma católica, ou seja, que muito do que pensam e fazem é resquício do seu catolicismo.

Contra isso, escrevi uma reflexão sobre o texto, introduzindo comentários após as afirmações mais importantes, enviando o mesmo ao autor, que nunca escreveu uma palavra sobre minha reflexão (certamente, pensei, para não perder tempo com um católico intrometido que com ares de sábio vem criticar algo que não sabe e que não merece uma resposta por não ser membro representante da Igreja que pertence, e coisas do tipo, eu diria, aplicando à atitude do revendo algo que já li em algum lugar, de outro apologista pertencente a uma denominação protestante que escrevia algo semelhante a outra pessoa). Mas, que até hoje acredito que está correta a reflexão que ofereci.

Agora um artigo afirma que o catolicismo, não o atual, senão aquele da era medieval (em termos de qualidades próprias do seu tempo) está nas igrejas protestantes.

Isso é algo similar ao que critiquei, e por isso tomo outra vez a ocasião de publicar o texto inteiro, para aqueles que desejarem pensar sobre o assunto.

Entre outras coisas, afirma o artigo: “A “água benta” do catolicismo virou a “água ungida” de certas igrejas, que pegam do catolicismo o modelo que já havia sido denunciado e derrotado pelos reformadores.”

Esse também é um exemplo citado no texto do Nicodemus, como será visto abaixo, e que não satisfaz uma análise mais profunda. É óbvio que há algo de verdade em toda a aproximação que o autor fez do assunto, e é onde está o valor do artigo (de ambos os artigos, aliás), mas não conseguiu mostrar a verdade toda da questão. Há sinais verdadeiros, mas não conseguiu expor uma matéria correta. O mesmo ocorre no artigo referido. Espero que isso sirva para melhor compreensão do tema.

Autor: Augustus Nicodemus

[Meus comentários entre colchetes]

Os evangélicos no Brasil nunca conseguiram se livrar totalmente da influência do Catolicismo Romano. [Essa afirmação já produz um aroma de que o catolicismo é de “má” influência. Será? Você, se for protestante, dirá que sim, com certeza, e coisas do tipo. Mas... Que influência católica “atrapalha” os protestantes ou os chamados “evangélicos”? Coloco entre aspas porque acredito que os cristãos católicos são plenamente evangélicos, não só os protestantes. Os protestantes comungam dessa fé católica.] Por séculos, o Catolicismo formou a mentalidade brasileira, a sua maneira de ver o mundo (“cosmovisão”). [É verdade que o Brasil nasceu sob o signo da cruz, coisa significativamente importante, por exemplo, um protestante não precisa apresentar Jesus a alguém, como se ele não o conhecesse, tornando mais fácil a evangelização protestante do que seria em um país não cristão. Mas, será que o povo brasileiro absorveu a mentalidade puramente católica ou foi essa apreendida com graus diversos de modificação? Penso que essa última alternativa seja a verdadeira, e que o presente artigo do Rev. Augustus Nicodemus ajudará a entender melhor.] O crescimento do número de evangélicos no Brasil é cada vez maior – segundo o IBGE, seremos 40 milhões neste ano de 2006. [Em 2011 o ramo protestante que mais cresce é, segundo informações que obtive em outro artigo do O Tempora, o Mores, o tradicional, com estagnação entre os pentecostais] – mas há várias evidências de que boa parte dos evangélicos não tem conseguido se livrar da herança católica. “Que mal tem tal herança para que se tenha de “livrar-se”? Vamos ver.”. É um fato que a conversão verdadeira (arrependimento e fé) implica uma mudança espiritual e moral, mas não significa necessariamente uma mudança na maneira como a pessoa vê o mundo [Realmente, essa mudança na cosmovisão é bem lenta]. Alguém pode ter sido regenerado pelo Espírito e ainda continuar, por um tempo, a enxergar as coisas com os pressupostos antigos. É o caso dos crentes de Corinto por exemplo. Alguns deles haviam sido impuros, idólatras, adúlteros, efeminados, sodomitas, ladrões, avarentos, bêbados, maldizentes e roubadores. Todavia, haviam sido lavados, santificados e justificados “em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6.9-11), sem que isso significasse que uma mudança completa de mentalidade houvesse ocorrido com eles [É importante que entender isso]. Na primeira carta que lhes escreve, Paulo revela duas áreas em que eles continuavam a agir como pagãos: na maneira grega dicotômica de ver o mundo dividido em matéria e espírito (que dificultava a aceitação entre eles das relações sexuais no casamento e a ressurreição física dos mortos – capítulos 7 e 15) e o culto à personalidade mantido para com os filósofos gregos (que logo os levou a formar partidos na igreja em torno de Paulo, Pedro, Apolo e mesmo o próprio Cristo – capítulos 1 a 4). [Esses dois pontos 1) dicotomia do mundo 2) culto à personalidade são coisas que o paganismo realmente sistematizou religiosamente.] Eles eram cristãos, mas com a alma grega pagã.[Será que o autor, já aqui, pretende mostrar que os protestantes hoje tem alma “católica pagã”, como herdando um “mal”? Talvez. Prossigo.] Da mesma forma, creio que grande parte dos evangélicos no Brasil tem a alma católica. Antes de passar às argumentações, preciso esclarecer um ponto. Todas as tendências que eu identifico entre os evangélicos como sendo herança católica, no fundo, antes de serem católicas, são realmente tendências da nossa natureza humana decaída, corrompida e manchada pelo pecado, que se manifestam em todos os lugares, em todos os sistemas e não somente no Catolicismo [Esse aspecto da tendência ao mal na natureza humana é inegável. Já havia tratado disso quando analisava as manifestações cultuais de certas igrejas, que influenciadas por ramos do baixo espiritismo, alimentavam uma herança católica popular, mas que, antes de tudo, é uma tendência do espírito humano. O que não podemos é pensar que tal coisa é parte do Catolicismo. É aí que reside parte do equívoco.]. Como disse o reformado R. Hooykas, famoso historiador da ciência, “no fundo, somos todos romanos” (Philosophia Liberta, 1957). Todavia, alguns sistemas são mais vulneráveis a essas tendências e as absorveram mais que outros, como penso que é o caso com o Catolicismo no Brasil [Volta-se, então, principalmente a ver o catolicismo como essa vertente de “más influências” para os “evangélicos”, os protestantes. Apesar de concordar que há uma tendência natural do homem para os pecados de todos os tipos. A verdade é que a Igreja Católica não absorve nenhuma tendência maléficas. Basta pesquisar.]. E que tendências são essas?

1) O gosto por bispos e apóstolos – [Mas, esse gosto não é negativo. Aliás, é o próprio gosto do Novo Testamento. O que deve acontecer é uma deturpação entre os “evangélicos” criticados nesse artigo. Portanto, é uma interpretação típica desses meios, não do Catolicismo. A crítica não deve ultrapassar aquele terreno.] Na Igreja Católica, o sistema papal impõe a autoridade de um único homem sobre todo o povo [Esse é um assunto longo, como sabe o autor, mas é biblicamente fundamentado que o apóstolo Pedro possuía autoridade única]. A distinção entre clérigos (padres, bispos, cardeais e o papa) e leigos (o povo comum) coloca os sacerdotes católicos em um nível acima das pessoas normais, como se fossem revestidos de uma autoridade, um carisma, uma espiritualidade inacessível, que provoca a admiração e o espanto da gente comum, infundindo respeito e veneração. [Esse fato é comum entre os seres humanos. Há a medida correta, mas muitos a ultrapassa. Mesmo entre os presbiterianos isso pode acontecer, não é? Veja que na Igreja Católica o povo do primeiro século almejava que, pelo menos, a sombra de S. Pedro os tocasse! E a Escritura não registra uma só palavra de reprovação nesse sentimento e ato. (Atos dos Apóstolos)] Há um gosto na alma brasileira por bispos, catedrais, pompas, rituais. Só assim consigo entender a aceitação generalizada por parte dos próprios evangélicos de bispos e apóstolos autonomeados, mesmo após Lutero ter rasgado a bula papal que o excomungava e queimá-la na fogueira. A doutrina reformada do sacerdócio universal dos crentes [Que é mal-entendida pelo protestantismo tradicional. De fato, os judeus possuíam sacerdotes, Aarão e os levitas, e mesmo assim constituíam uma nação sacerdotal. O sacerdócio leigo ao lado do ministerial, sem contradição, como no Novo Testamento. Certamente, o senhor Reverendo Augustus tem suas considerações sobre isso.] e a abolição da distinção entre clérigos e leigos ainda não permearam a cosmovisão dos evangélicos no Brasil, com poucas exceções [E não deve permear, como que por necessidade. Como visto, é a distinção bíblica, já deixada de lado, teoricamente, por Calvino e etc, mas legítima. No entanto, mesmo entre protestantes tradiconais a prática cristã introduz tal distinção].

2) A idéia de que pastores são mediadores entre Deus e os homens – No Catolicismo, a Igreja é mediadora entre Deus e os homens e transmite a graça divina mediante os sacramentos, as indulgências, as orações [Isso não nega, como foi comentado, o sacerdócio dos fieis. Quando os protestantes participam da Ceia do Senhor, não estão recebendo bênçãos por celebrarem o sacramento – ordenança – do Memorial da Cruz?]. Os sacerdotes católicos são vistos como aqueles através de quem essa graça é concedida, pois são eles que, com as suas palavras, transformam, na Missa, o pão e o vinho no corpo e no sangue de Cristo [Não como “feiticeiros”, mas como ministros de Deus, onde o Espírito Santo realiza a obra de Cristo por meio da Igreja.]; que aplicam a água benta no batismo para remissão de pecados; que ouvem a confissão do povo e pronunciam o perdão de pecados [Tudo por obra do Espírito Santo, em Nome de Jesus Cristo.]. Essa mentalidade de mediação humana passou para os evangélicos, com poucas mudanças [Essa mediação é, talvez, mal-entendida entre os protestantes, e certamente a influência “católica” entre eles é percebida de forma diferente. Talvez mesmo não seja influência católica, mas de outro ramo religioso não-cristão, adotado através da livre interpretação da Bíblia pelo fiel. Isso ficará mais claro, abaixo, ao passo que refletimos.]. Até nas igrejas chamadas históricas, os crentes brasileiros agem como se a oração do pastor fosse mais poderosa do que a deles e como se os pastores funcionassem como mediadores entre eles e os favores divinos [A oração do justo é sempre ouvida (Tg 5:16).]. Esse ranço do Catolicismo vem sendo cada vez mais explorado por setores neopentecostais do evangelicalismo, a julgar por práticas já assimiladas como “a oração dos 318 homens de Deus”, “a prece poderosa do bispo tal”, “a oração da irmã fulana, que é profetisa”, etc. [Essas influências são provenientes do baixo espiritismo, mais diretamente, pois os católicos populares são também afetados por esses costumes, mas tais cerimônias e correntes tem inspiração nos cultos espíritas. A cosmovisão está mais embasada nessa vertente religiosa, que influenciou o catolicismo popular. Essa constatação está mais clara até pelos termos utilizados pelos pastores: sessão do descarrego, rosa “ungida” utilizada para absorver os maus “fluídos” (Se a rosa não for levada à igreja o mal permanecerá na sua casa) e etc. Coisas que não fazem parte do Catolicismo.].

3) O misticismo supersticioso no apego a objetos sagrados – O Catolicismo no Brasil, por sua vez influenciado pelas religiões afro-brasileiras [É como foi dito acima. No entanto, é importante esclarecer que o Catolicismo que sincretizou essas influências não é o Oficial, mas o popular, no sentido negativo do termo, que ensina coisas que o Catolicismo rejeita, que não tem autoridade sobre aquele que procura aprender de Cristo. Essas tradições populares não devem fazer parte do credo cristão católico. Servir a Cristo na Igreja Católica que Ele fundou, é aprender dEle.], semeou misticismo e superstição durante séculos na alma brasileira: milagres de santos [que é de inspiração bíblica], uso de relíquias [igualmente bíblico], aparições de Cristo e de Maria [são possibilidades, com aprovação bíblica], objetos ungidos e santificados [esse uso tem conotação espírita entre os protestantes], água benta [bíblica], entre outros [é bom fazer distinções como essas]. Hoje, há um crescimento espantoso, entre setores evangélicos, do uso de copo d’água [entre católicos carismáticos também], rosa ungida [herança de ramos espíritas], sal grosso [também do espiritismo. Por exemplo, levar fotografias de pessoas, sal grosso, e outros objetos para quebrar maldições. Isso nunca foi Catolicismo.], pulseiras abençoadas [influenciam tanto católicos populares (que não conhecem bem a doutrina da Igreja), como protestantes (esses sim, com aprovação dos Pastores das suas igrejas. Fato comprovado na crítica em apreço.). É o que chamei, quando analisava essas questões, de “paganismo oficializado” na igreja, o que difere dos católicos, que usam alguns desses artifícios mas que não são membros ativos da Igreja Católica, e que não recebem esses ensinos diretamente dos seus líderes.)], pentes santos do kit de beleza da rainha Ester [um exemplo de fato da livre interpretação bíblica associada à influências supra-citadas], peças de roupa de entes queridos, oração no monte, no vale; óleos de oliveiras de Jerusalém, água do Jordão, sal do Vale do Sal, trombetas de Gideão (distribuídas em profusão) [isso é bem diferente do uso das relíquias, que não são reproduzidas para sem distribuídas], o cajado de Moisés...[idem] é infindável e sem limites a imaginação dos líderes e a credulidade do povo [Líderes: palavra-chave. Os líderes de muitas igrejas ensinam sistematicamente isso ao seu rebanho]. Esse fenômeno só pode ser explicado, ao meu ver, por um gosto intrínseco pelo misticismo impresso na alma católica dos evangélicos [alma católica popular, melhor dizendo, não verdadeiramente cristã católica. Alma humana decaída pelo pecado. Assim, também, os católicos absorvem essas más tendências, à revelia da verdadeira doutrina católica.].

4) A separação entre sagrado e profano – No centro do pensamento católico existe a distinção entre natureza e graça, idealizada e defendida por Tomás de Aquino, um dos mais importantes teólogos da Igreja Católica.[Essa distinção tem resultados negativos na vida cristã?] Na prática, isso significou a aceitação de duas realidades coexistentes, antagônicas e freqüentemente irreconciliáveis: o sagrado, substanciado na Santa Igreja, e o profano, que é tudo o mais no mundo lá fora.[Não será essa prática substanciada mais pelas influências maléficas do paganismo, antes que da distinção teológica entre natureza e graça?] Os brasileiros aprenderam durante séculos a não misturar as coisas: sagrado é aquilo que a gente vai fazer na Igreja: assistir Missa e se confessar [É verdade. É também algo impresso na alma humana, decaída]. O profano – meu trabalho, meus estudos, as ciências – permanece intocado pelos pressupostos cristãos, separado de forma estanque. [Não era assim no mundo medieval, tão cristão católico. Tudo era mais engendrado. Nas Universidades discutiam-se questões religiosas como hoje discutem-se outras coisas não religiosas ou mesmo anti-religiosas. Portanto, necessário maior exatidão na criticidade desse assunto.] É a mesma atitude dos evangélicos. Falta-nos uma mentalidade que integre a fé às demais áreas da vida, conforme a visão bíblica [visão essa injetada, eficazmente, pela Igreja Católica na sociedade de tempos atrás, como foi dito acima] de que tudo é sagrado. Por exemplo, na área da educação, temos por séculos deixado que a mentalidade humanista secularizada [mentalidade que a Igreja Católica combate], permeada de pressupostos anticristãos, eduque os nossos filhos, do ensino fundamental até o superior, com algumas exceções. Em outros países, os evangélicos têm tido mais sucesso em manter instituições de ensino que, além de serem tão competentes como as outras, oferecem uma visão de mundo, de ciência, de tecnologia e da história oriunda de pressupostos cristãos [Cristãos católicos realmente evangelizados certamente estão nesse rol]. Numa cultura permeada pela idéia de que o sagrado e o profano, a religião e o mundo, são dois reinos distintos e freqüentemente antagônicos [deve-se fazer distinção do que entende-se por “mundo” quando tratar dessas distinções], não há como uma visão integral surgir e prevalecer, a não ser por uma profunda reforma de mentalidade entre os evangélicos [E essa reforma, ao invés de desmontar e rejeitar um pressuposto católico, irá desfazer-se de, TAMBÉM, um “catolicismo do povo” (pois outras influências estão permeadas entre os protestantes) e aproximar-se, senão identificar-se, com o Catolicismo cristão de fato.].

5) Somente pecados sexuais são realmente graves – A distinção entre pecados mortais e veniais feita pelo catolicismo romano vem permeando a ética brasileira há séculos [Essa distinção é bíblica.]. Segundo essa distinção, pecados considerados mortais privam a alma da graça salvadora e a condenam ao inferno, enquanto que os veniais, como o nome já indica, são mais leves e merecem somente castigos temporais [Mas podem tornar-se mortais, já que são pecados, e nunca devem ser menosprezados, mas confessados a Deus. Essa especificidade o senhor esqueceu ou não sabia como explicar]. A nossa cultura se encarregou de preencher as listas dos mortais e dos veniais.[No entanto, a cultura não é infalível, mas sempre seleciona hereticamente o que lhe apraz, se não for evangelizada, purificada.] Dessa forma, enquanto se pode aceitar a “mentirinha”, o jeitinho, o tirar vantagem, a maledicência, etc., o adultério se tornou imperdoável [Isso no âmbito cultural é pouquissimamente, ou nada, católico]. Lula foi reeleito cercado de acusações de corrupção. Mas, se tivesse ocorrido uma denúncia de escândalo sexual, tenho dúvidas de que teria sido reeleito ou de que teria sido reeleito por uma margem tão grande [ Seria interessante uma pesquisa com outros candidatos...]. Nas igrejas evangélicas – onde se sabe pela Bíblia que todo pecado é odioso [a Igreja Católica ensina o mesmo] e que quem guarda toda a lei de Deus e quebra um só mandamento é culpado de todos – é raro que alguém seja disciplinado, corrigido, admoestado, destituído ou despojado por pecados como mentira, preguiça, orgulho, vaidade, maledicência, entre outros [Por quê? É importante um estudo específico]. As disciplinas eclesiásticas acontecem via de regra por pecados de natureza sexual, como adultério, prostituição, fornicação, adição à pornografia, homossexualismo, etc., embora até mesmo esses estão sendo cada vez mais aceitáveis aos olhos evangélicos [É cultural apenas, ou as igrejas protestantes estão mudando – oficialmente - seu modo de ver essas questões?]. Mais um resquício de catolicismo na alma dos evangélicos? [Só se for uma parcelinha de catolicismo popular, não do Catolicismo oficial. Isso deve ter ficado claro.]
O que é mais surpreendente é que os evangélicos no Brasil estão entre os mais anticatólicos do mundo. [Outra questão interessante a ser aprofundada.] Só para ilustrar (e sem entrar no mérito dessa polêmica), o Brasil é um dos países onde convertidos do catolicismo são rebatizados nas igrejas evangélicas [aprofundar a questão]. O anticatolicismo brasileiro, todavia, se concentrou apenas na questão das imagens e de Maria e em questões éticas como não fumar, não beber e não dançar. [Aprofundar essa questão: não será porque os “evangélicos” em outros países também praticavam essas coisas? E de uma forma bastante estranha ao espírito cristão, como percebi na aprovação (usando a Bíblia para tentar defender) do vício do fumo pelo pastor e pregador Spurgeon.] Não foi e não é profundo o suficiente para fazer uma crítica mais completa de outros pontos que, por anos, vêm moldando a mentalidade do brasileiro, como mencionei acima [E ficou mais claro que essa mentalidade é longe de ser realmente católica]. Além de uma conversão dos ídolos e de Maria a Cristo [Esse é outro estudo: se os ídolos são os santos e Maria, então realmente necessita-se de um estudo específico aqui (não negando que há pessoas que desconhecem essas coisas e praticam idolatria com elas)], os brasileiros evangélicos precisam de conversão na mentalidade, na maneira de ver o mundo [E vão cada vez aproximar-se do Catolicismo, já que esse tem a cosmovisão da Bíblia. O Sr. Reverendo Augustus não previu isso. E até discorda, não é?]. Temos de trazer cativo a Cristo todo pensamento, e não somente os nossos pecados [É com esse princípio que aprendi ouvir e praticar o que ensina a Escritura e, consequentemente, a tradição cristã (não de invenção humana) e a Igreja instituída por Cristo]. Nossa cosmovisão precisa também de conversão (2 Co 10.4-5).

Quando vejo o retorno de grandes massas ditas evangélicas às práticas medievais católicas de usar no culto a Deus objetos ungidos [Volta-se àquilo que disse no decorrer do texto: essas prática, se desvirtuadas, não eram aprovadas pela Igreja da época, nem pode ser hoje.] e consagrados, procurando para si bispos e apóstolos [essa procura tem sido errônea. Por que não voltar-se àquela instituição cristã que tem a sucessão apostólica (o Sr. Rev. nega isso, eu sei. Com respeito, pergunto: vamos ver se a Bíblia sustenta sua opinião?)], imersas em práticas supersticiosas [a superstição é condenada pela Igreja Católica], me pergunto se, ao final das contas, o neopentecostalismo brasileiro não é, na verdade, um filho da Igreja Católica medieval [Como ficou, pelo menos, indicado, a resposta correta é: NÃO. O neopentecostalismo é filho da tendência humana para práticas religiosas espúrias aliada ao sincretismo, à adoção de influências de sistemas religiosos pagãos, do espiritismo em suas várias expressões brasileiras.], uma forma de neocatolicismo tardio [de forma alguma, como foi dito] que surge e cresce em nosso país, onde até os evangélicos têm alma católica [popular, um Catolicismo diferente, diga-se finalmente]. E com isso, entende-se que a alma que está influenciando tanto as igrejas protestantes certamente é espírita.
 
Gledson Meireles.