sexta-feira, 24 de junho de 2016

Maria é mãe de Deus

A Bíblia afirma que Jesus é o Filho de Deus, eterno como o Pai, e encarnou-Se no ventre da virgem Maria. Portanto, Maria é mãe de Jesus. Isso redunda em dizer que Maria é mãe de Deus, segundo o que foi exposto. Essa refutação tem em consideração o item XVI aqui. O assunto também foi tratado aqui.

A virgem Maria não gerou a divindade de Cristo, pois essa é eterna, e o humano não gera o divino. E não gerou nem a alma de Cristo, pois Deus cria a alma diretamente, e essa não é gerada pelos pais. O que aconteceu é que Maria gerou o próprio Jesus em seu ventre como Homem, como ocorre em toda geração. Isso é o mesmo que acontece com todas as mães.

Cada mãe gera o filho em seu ventre, mas a vida vem diretamente de Deus, que cria a alma, e a parte biológica é desenvolvida, gerada, pelos pais, em especial dentro do ventre materno.

Assim, a mãe é a geradora do filho, da pessoa do filho, e não se diz que ela é geradora do corpo do filho apenas. Ninguém diria: “A mãe do corpo de Pedrinho”, mas “A mãe de Pedrinho”. Portanto, Maria não é mãe do corpo de Jesus, mas mãe de Jesus, como a Bíblia diz.

Outra observação, importante, é que Maria é mãe de Jesus enquanto Homem. Essa frase, especialmente a parte que diz: “enquanto Homem”, não é igual a dizer que Maria é mãe da humanidade de Jesus ou que ela é mãe do corpo de Jesus ou que é mãe da natureza de Jesus, onde humanidade é identificada com o corpo. Não é isso.

Na verdade, se diz que Maria é mãe da PESSOA de Jesus, e que esse tem Humanidade, e é por isso que Ele tornou-Se filho de Maria. Ela não era seu filho, mas passou a ser.

Deus é Pai de Jesus, tanto divinamente, pois é Pai da Pessoa de Jesus e é da mesma natureza divina de Jesus, e também é Pai de Jesus como Homem, pois é o criador da humanidade também. Maria não tem a natureza divina, mas tem a humana. É por essa natureza que foi comunicada a Jesus que ela tornou-se Sua mãe.

Na geração natural o filho é gerado na mãe, a partir da fecundação. Então, a Bíblia diz que foi gerado pelo pai. No caso de Maria, foi o Espírito Santo o gerador Jesus em seu ventre, e por isso a fecundação foi virginal. Negar que a Maria gerou Jesus é o mesmo que negar que todas as mães do mundo tenham gerado seus filhos. Se Maria não gerou, nenhuma mãe gera um filho. Se todas as mães geram o filho, então Maria gerou Jesus, pois é a Sua mãe. De fato, o pai gera o filho, e se a mãe não tivesse qualquer participação nisso, ela não seria mãe. No entanto, isso é um erro biológico crasso.

Contudo, vejamos essa afirmação: “Segundo a Bíblia, quem gerou Jesus não foi Maria, mas o Espírito Santo (Mt.1:20). Como Maria não gerou a divindade de Cristo (que já existia muito antes de Maria) e só é mãe daquilo que gera, logo, Maria não é mãe de Deus.

Essa afirmação é um tanto incompleta, errônea, impensada. Analisemos novamente: “Segundo a Bíblia, quem gerou Jesus não foi Maria, mas o Espírito Santo (Mt.1:20).

O Evangelho de Mateus inicia com a origem de Jesus. Entende-se que essa é a “origem” humana, já que começa a mostrar como foi a genealogia de Jesus, quem gerou quem. Dessa forma, a Escritura está tratando da origem de Jesus na terra, já que a mesma Escritura é clara ao dizer que Jesus veio do céu. (cf. João 3,14; Filipenses 2,7-9)

Portanto, essa afirmação não está afirmando que o Espírito Santo gerou a divindade de Jesus. Por certo, o autor da argumentação não pensou nisso, e está tentando mostrar que Maria não é mãe da divindade. O problema é que essa argumentação não é Bíblia, pois parte de um texto que trata da origem humana do Senhor Jesus, e se negar que a geração ocorra por parte da mãe também isso redundará em heresia ainda maior.

Ela está, pois, tratando da geração de Jesus. Em Mateus capítulo 1 é descrita a geração humana de Jesus. Portanto, trata-se da geração de Jesus como Homem no útero de Maria. Assim, se o Espírito Santo fez essa geração, então Maria é mãe de Jesus, uma vez que a mãe “é mãe daquilo que gera”: Maria é mãe de Jesus.

O problema é que a frase que insinuou estar inserindo um argumento forte, e bíblico, para o caso em questão, foi uma afirmação infeliz demais: “quem gerou Jesus não foi Maria, mas o Espírito Santo (Mt.1:20)”. Parece estar falando da geração da divindade, quando o contexto é a geração da humanidade. E, depois, lemos o resultado: “Como Maria não gerou a divindade de Cristo (que já existia muito antes de Maria) e só é mãe daquilo que gera, logo, Maria não é mãe de Deus.” Mas o texto não corrobora todo o pensamento, já que o Espírito Santo está gerando Jesus e isso não tem nada a ver com a geração da divindade, pois Jesus não foi gerado pelo Espírito Santo enquanto Deus.

Se o início estivesse dizendo que o Espírito Santo “gerou” Jesus, e que Maira não é mãe da divindade, por não tê-la gerado, então estaria afirmando que o Espírito Santo gerou a divindade de Jesus em Maria! Coisa totalmente contra a intenção do autor.

De outro modo, se essa geração “quem gerou Jesus foi o Espírito Santo” estivesse tratando da geração da divindade, então Maria teria recebido em si Jesus enquanto Deus somente, o que estaria negando que Ele veio na carne.

Para ficar melhor, seria assim: como Maria não gerou a divindade de Cristo, pois essa foi gerada pelo Espírito Santo, Maria não é mãe de Deus, o que implica que o Espírito Santo gerou sozinho a divindade de Jesus, negando com isso que Jesus não nasceu como homem, mas somente como Deus. E se está dizendo que somente o Espírito Santo gerou Jesus em Maria, e que Maria não O gerou desse modo, está afirmando que ela não é Mãe de Jesus, contrariando assim a Bíblia.

Dessa forma, o ensino fica mais notoriamente herético. É claro que não é essa a intenção do argumento do artigo, mas a presente análise serve apenas para mostrar que o mesmo leva a esse despautério. E o faz por não ser correto, e combater uma verdade bíblica.

Com isso, esse pensamento “em si” contradiz a argumentação seguinte: “Se Jesus se “esvaziou” de sua natureza (divina), então Maria não era mãe de Deus, mas de Cristo Jesus, homem (1Tm.2:5). Disso dá testemunho o escritor de Hebreus, ao dizer que Jesus se fez igual a nós “em todos os aspectos(Hb.2:17). 

Portanto, o que foi resultado acima não estava na expectativa do autor. Ele ensina a trindade, sabe que Jesus é a segunda Pessoa de Deus, mas pensa que na encarnação Jesus deixou a natureza (atributos, qualidades, etc.) e foi apenas homem.

Agora pense: se o homem deixasse a natureza de homem, se possível, e assumisse a natureza de uma foca, ele não seria homem, mas foca. Se esvaziar-se da natureza significa deixar essa natureza, deve-se explicar como isso ocorre. Deve-se explicar como Jesus poderia deixar de ser Deus, o que não é possível.

Dentre isso, o pensamento a respeito da trindade mostra defeito também: “Dizer que Maria era mãe de Deus porque Jesus era Deus é o mesmo que dizer que Maria foi mãe de 1 deus, e não mãe de Deus, que por implicação significa Pai, Filho e Espírito Santo. ” Como se Deus fosse aproximadamente um terço mais um terço mais um terço, e Jesus fosse um terço de Deus e assim por diante. Essa ideia não está conforme a doutrina cristã.

Por tudo isso, a argumentação foi refutada por usar um texto bíblico, Mateus 1,20, para argumentar que o Espírito Santo gerou Jesus e que Maria não gerou a divindade, causando confusão entre a geração humana e a natureza eterna de Cristo. Foi uma escolha não raciocinada. Também foi refutada por implicar em que Jesus seria apenas Deus, enquanto que a intenção da argumentação era mostrar que Jesus deixou de ser Deus e nasceu apenas Homem. Foi refutada ainda por redundar na negação da maternidade mesmo humana de Maria. Além de não ter conseguido, se o tivesse mostraria ainda assim uma heresia, pois Jesus é tanto Deus como Homem. E foi refutada, por fim, por não ter uma ideia correta da Trindade, que é três Pessoas iguais e distintas mas um único Deus.

Gledson Meireles.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Deus tem mãe?

"Será que Deus, o Eterno Criador e a Causa Primeira de tudo, também tem uma mãe?" (...) "Deus não tem uma mãe”. Analisemos essa conclusão aparentemente sem problemas, encontrada aqui.

Quando sabemos que Deus em cada Pessoa da santíssima Trindade, tem sua plenitude, em sua íntima e total unidade, a afirmação de que Maria é mãe de Jesus implica em afirmar que Maria é mãe de Deus, porque uma vez que a Pessoa de Jesus encarnou-Se, Ele é homem e Deus ao mesmo tempo, e Maria sendo Sua mãe humana, essa maternidade está ligada à Pessoa divina que é única, que é a mesma, e que contem em Si as naturezas de homem e de Deus. Em nossa verbalização comum sabemos que a maternidade está relacionada à pessoa, não à natureza da pessoa. Maria é mãe de Deus porque Jesus é membro da divindade única, e apenas nesse aspecto.

A primeira objeção de que o conceito trinitário requer que tenhamos em mente que Deus é a totalidade das três Pessoas da trindade, é um tanto problemática. Vejamos: “Porque, em primeiro lugar, para ser considerada como “mãe de Deus” devemos levar em conta o conceito trinitário de Deus. Deus não se limita apenas ao Pai, apenas ao Filho ou apenas ao Espírito Santo, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo é o único e verdadeiro Deus.

Isso torna a questão um pouco confusa ao tentar restringir o conceito de Deus apenas ao ser considerada a totalidade de pessoas: somente seria Deus quando consideramos o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Usemos em tese essa ideia.

Assim, se dissermos, por essa ideia, que o Pai é Deus, isso não seria correto, pois somente “é” Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Tenhamos a exatidão desse pensamento em vista, para entender o completo disparate que ele leva.

Afirmar que o Espírito Santo é Deus seria errôneo, pois o Espírito Santo não seria Deus, mas somente quando considerado ao conjunto das Pessoas do Pai e do Filho. Desse modo, nenhum dos três seria Deus, mas apenas os três juntos. Obviamente nem o autor desse argumento crê assim. É o argumento errôneo que cria esse disparate. Por outro lado, se se entende que Jesus é Deus por ter participação na única essência divina, então nesse pensamento entende-se que Maria é mãe de Jesus Deus nesse sentido.

Continuemos, porém, e vejamos o absurdo (e a heresia) que dá o pensamento expresso antes: o Pai não é Deus, o Filho não é Deus e o Espírito Santo não é Deus, mas os três juntos é Deus!!! Como pode cada parte do ser de Deus não ser de essência divina, e tornar-se divino quando juntos os três? Diante disso, Jesus não poderia ter chamado o Pai de Deus, pois separadamente (o que não é exato afirmar) o Pai não poderia ser Deus. Ou, de outra forma, em sua distinção o Pai não seria Deus. Que aberração tremenda.

Apenas para fins de reflexão, pois pode haver algum elemento desse pensamento que não tenha sido percebido, e por isso tenha merecido essa alcunha de disparate, absurdo e heresia. Caso seja apresentado algo que possa desfazer tal problema, o mesmo será reconsiderado.

Se Deus não é divisível, em Sua essência, e não tem partes, então não há como excluir a maternidade de Maria como ligada à essência de Deus por meio da Pessoa de Jesus, ou seja, ao ser associada à Pessoa do Verbo Divino, o Filho. Assim, é correto afirmar que Maria é mãe somente de Jesus, mas que Ele é Deus, como foi visto acima, e por isso é a virgem Maria a mãe de Deus nesse exato e único sentido.

Por ser assim, pensando que o Pai é Deus, e que Maria não é mãe da Pessoa do Pai, ela não é mãe do Pai. E não sendo mãe de Deus Pai, ela não é mãe de Deus no sentido de ser mãe da Pessoa do Pai. O mesmo ocorre com relação à Pessoa do Espírito Santo, pois a maternidade não toca a Pessoa do Espírito Santo. Portanto, a virgem Maria é mãe do Deus-Homem, e o título mãe de Deus quer enfatizar somente isso. Certamente, esse primeiro ponto da objeção está refutado.

O segundo argumento é que Maria não poderia ser mãe de Jesus na eternidade, antes da encarnação, e nem depois da ascensão, já que ela é uma criatura, e o corpo de Jesus foi transformado na ressurreição, não tendo a mesma genética de antes: “Jesus, em sua condição celestial, não está mais em carne (Hb.5:7), e, portanto, não possui a genética humana, razão pela qual Maria não é mais biologicamente ligada a Ele.

Deve-se lembrar que a glorificação de Jesus, de Jesus enquanto Homem, que foi igual a nós em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 2,17), será a mesma glorificação que todo ser humano salvo por Ele terá. Dessa maneira, a natureza do homem será igual à de Jesus Cristo, a mesma que Ele possui agora e para toda a eternidade no céu. Assim, a virgem Maria já glorificada continua, mesmo sob esse ponto de vista, continua sendo mãe de Jesus, já que o fato da geração da humanidade de Cristo que ocorreu na terra é irrevogável. Ele continua no céu Deus e Homem, pois é como Homem que Ele é Intercessor. (cf. 1 Tm 2,5)

De outro prisma pode-se notar que a objeção falha em querer colocar a maternidade de Maria em relação a Jesus em xeque quando afirma que ela não existia antes de ser concebida, e assim não poderia ser mãe de Jesus na eternidade. Quanto ao último ponto, trata-se do mais puro fato, e justamente por isso a Bíblia ensina que a virgem Maria tornou-se mãe de Jesus a partir da encarnação, em João 1,14, quando o Verbo SE fez carne e habitou entre nós. O mesmo verbo tornou-Se carne e veio morar na terra. Assim, Maria é mãe do Verbo divino que veio habitar conosco. Tendo isso em vista, é a partir do nascimento de Jesus na terra que Maria passa a ser Sua mãe, por meio da natureza humana, e somente por isso relaciona-se com a natureza divina por ser mãe da mesma Pessoa que é divina e humana. A natureza humana de Jesus é como uma forma de ligação entre Maria e Sua Pessoa, e essa Pessoa é Deus por ter parte na divindade com o Pai e o Filho.

Mesmo que o Protestantismo negue que Maria tenha sido já glorificada nos céus, isso está no dogma cristão, e os protestantes devem concordar que tal fato é esperado para o fim dos tempos, quando Cristo vier buscar a Igreja. Por isso, não há como fugir da implicação, já que na glorificação Maria será (supondo que não já tivesse sido), “biologicamente” igual a Cristo e, portanto, o fato da sua maternidade continuará presente, como de fato continua.

A terceira objeção tenta jogar o absurdo na doutrina da encarnação, de que Jesus é Deus e Homem. Sendo assim, seria “absurdo” que Deus tivesse avô, avó, tio, tia, primo, prima, irmão, irmã, parentes consanguíneos, em sua acepção literal, biológica e genética. De fato, se fosse esse o ensino da trindade, e da divindade de Jesus, que dissesse que a maternidade de Maria é ligada à divindade geneticamente, isso redundaria nesse problema, mas não é. A maternidade está ligada à divindade por meio da natureza humana, onde Maria é mãe biológica do Homem Jesus, que não é outra Pessoa, mas o mesmo Deus Jesus. É unicamente nesse sentido que a maternidade toca a Pessoa de Jesus, e o problema não tem mais razão de existir.

Dessa forma, o pai e a mãe de Maria são avós de Jesus, avós de Deus nesse único e restrito sentido. É necessário o conceito correto de pessoa e natureza para entender isso. Nesse pensamento, o celestial e o terreno estão sendo devidamente levados em conta, e nada há que os confunda.

A quarta objeção é uma das mais perigosas, quando se prevê que pode redundar em heresia: “Levando-se em consideração que só se é mãe daquilo que gera, devemos perguntar: Maria gerou a divindade de Cristo?”. Definitivamente não. Para quem já compreendeu a doutrina acima, apresentada na refutação às três primeiras objeções, já tem a ideia de que Maria somente gerou a Pessoa de Jesus enquanto em Sua natureza humana. Sendo a mesma Pessoa, essa adquiriu humanidade, adquiriu uma mãe, e por isso pode agora ser chamado Homem. Sendo que a divindade é eterna, e não pode ser gerada pela humanidade, que é criatura, e assim Maria não pode ser mãe da divindade, pois existiu a partir do tempo, e não na eternidade, ela é mãe de Jesus por intermédio da natureza que ela gerou para Ele, que foi gerada nEle, não sendo mãe da natureza dEle, mas mãe dEle por meio da natureza humana. O conceito de mãe liga-se à pessoa e não ao corpo da pessoa, como comumente entendemos.

Dividir Jesus em duas pessoas tornaria impossível a encarnação, já que Jesus o eterno Filho de Deus não teria vindo em carne jamais, mas apenas havia criado um Jesus humano que nasceu da virgem Maria. Assim, Maria seria mãe de um Jesus humano, que na melhor das hipóteses faria as vezes do Jesus divino que nunca tocou a natureza do homem em Si mesmo. Esse Jesus humano seria outro Jesus.

Na hipótese de que Jesus somente passou a existir na encarnação, deve-se provar isso por meio de outro livro, não da Bíblia, pois essa afirma que: No princípio (princípio da criação do mundo, e não da pregação do Evangelho) o VERBO “estava” com Deus (pois Jesus não estava no céu com Deus no início do Seu ministério na terra, pois já tinha 30 anos de idade. Ele estava com Deus no início da criação do universo), e o Verbo era Deus. Ele estava com Deus e tudo o que foi feito o foi através dEle (o assunto é a criação), portanto, falando da criação, e sem Ele nada do que existe no universo foi feito. (cf. João 1,1.14) Se Ele estava “com” Deus ele existia junto do Pai, era Deus com o Pai, e não era o Pai. Assim, são descritas duas pessoas, e tem-se a pré-existência de Jesus.

Então, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós está referindo-se ao nascimento desse mesmo verbo que estava com Deus e criou tudo, sendo o meio para a existência de tudo o que foi criado. A Bíblia está mostrando a transferência de Jesus do céu à terra, da glória celeste para o ventre da virgem. Portanto, Ele não é o Pai, Ele existia antes de vir à terra, e Ele é o mesmo que esteve na terra, não outro que foi criado para viver como se fosse Ele na terra. Tem-se por isso uma só Pessoa, que é Divina, que adquiriu em Si a natureza humana para habitar na terra. Maria é mãe de Jesus nesse momento, a partir desse fato.

Não há sincretismo com o paganismo. E a doutrina que foi definida em Éfeso é cristológica, embora tenha seus desdobramentos fortemente mariológicos.

Confundir o título mãe de Deus como significando que Deus tem as mesmas características humanas na eternidade, como se o Pai e o Espírito Santo tivesse adquirido as mesmas características do homem, e que Cristo continue com a natureza sem a transformação, igual à que tinha antes da entrada no céu, significa que não há entendimento da doutrina. É lastimável. Sendo assim, a objeção não tem muita importância.

Quanto ao argumento “então Deus morreu na cruz”, isso diz respeito ao que acima está exposto: em um certo sentido Deus morreu mesmo, mas não Ele em Si na Sua natureza divina eterna e imortal, mas na Pessoa do Filho como Homem. Cristo disse que quem o viu também viu o Pai, e São Paulo afirma que a plenitude da divindade habita em Cristo, (cf. Jo 14,9; Cl 2,9) embora tudo isso esteja ligado só à Pessoa do Filho. É possível entender isso satisfatoriamente. Deus não morre, Jesus em Sua divindade não morre, mas Sua Pessoa morreu enquanto esteve na natureza do Homem. Não tem a ver com a Pessoa do Pai e do Espírito, mas com a do Filho que compartilha a mesma natureza. Então, Maria é mãe de Jesus Deus, mas em Sua acepção humana.

Com referência a Hebreus 7,3, onde Deus não princípio nem fim, então Maria não poderia ser Sua mãe, essa questão já foi resolvida acima. Deus não teve princípio no nascimento de Jesus, nem mesmo a Pessoa divina de Jesus originou-Se ali, mas apenas a Pessoa em sua concretude humana, com tudo o que o homem tem em sua forma totalmente natural. Não foi outra pessoa que surgiu, mas a mesma Pessoa de Jesus nasceu como Homem. A Pessoa de Jesus sentiu por inteiro o que é ser um Homem, uma criatura, embora Ele fosse o Criador. Dizem que “Mãe de Deus é uma terminologia errada”, mas o mesmo acontece com a frase: “Maria não é mãe de Deus, ela é mãe de Jesus”, se não houver nenhuma qualificação. A primeira poderia levar a um disparate, como foi colocado antes, e a segunda também. Essa nega a divindade de Cristo, ou parece negá-la, ou de fato pode facilmente levar a negá-la. Enfim, é nesse âmbito refutada essa objeção.

Para o entendimento de Filipenses 2,7 devemos testar racionalmente seus resultados: Como Deus deixa de ser Deus? Em sua natureza é impossível, pois Deus é imutável. Se Cristo deixou de ser Deus é porque não era Deus antes, e se não era Deus não podia deixar de ser o que nunca foi. O pensamento é auto-destrutivo.

Pode-se afirmar que, para fins de argumento, deixando de lado toda a exatidão teológica católica no momento, e dizer que Jesus deixou suas prerrogativas, privilégios, poderes, direitos, autoridade, e passou a ser um simples servo. O problema é que em Sua natureza DIVINA Ele continua a ser o que era. É como afirmar que Jesus Deus passou a viver a vida de criatura, apesar de ser o Criador, mas o fez quando assumiu a natureza do homem, pois antes de Sua Pessoa divina ter a natureza humana nada disso havia ocorrido. Portanto, Jesus passou a ser carne, ou seja, a ter natureza de homem, mas não deixou de ser Deus. Ele continuou a ser Deus e passou também a ser Homem.

Mas, é importante frisar que, tendo a natureza divina imutável e possuir todo o poder, então Jesus não quis trazer para a terra certas prerrogativas que não tinham a ver com o Seu plano, por exemplo, como revelar o dia da Sua volta. Quanto ao fato de que Jesus não pôde realizar milagres por causa da incredulidade de certo povo, não quer dizer isso que Ele não tinha mais a onipotência, mas isso se dá porque seus milagres não tinham o caráter de criar a fé, mas agia sobre o fundamento da fé, fortalecendo, dando testemunho, confirmando Seu plano messiânico. Ele não quis realizar milagres. Não veio para fazer isso naquelas circunstâncias. Em várias passagens da Escritura a afirmação “não poder” equivale a “não querer”.

A tentação de Cristo também não depõe contra Sua divindade, mas apenas diz respeito à Sua natureza humana. Ele pôde ser tentado porque adquiriu para Si tudo o que é próprio do homem, o que exclui totalmente o pecado. O Demônio podia então tentá-lo. (cf. Hb 2,17)

10º E, por fim, o título mãe de Deus não é expressamente encontrado na Bíblia, mas apenas o de “mãe do meu Senhor” (Lc 1,43). É que não havia necessidade de ressaltar algo já bastante óbvio naquele momento, como a divindade de Jesus, o Deus conosco, o Senhor de Lucas 1,43. E com os tempos de controvérsias esse dogma foi sendo atacado em Sua verdade, devendo a Igreja explicitar a doutrina bíblica, já expressa por exemplo na afirmação “mãe do meu Senhor”, no sentido em que Isabel usa o termo, pois ali ela não está falando de um patrão, nem de um dono de propriedade, nem de um dono de casa, nem do seu marido, nem do seu pai, nem das autoridades romanas, nem dos donos de escravos, nem do imperador romano. Essas são os outros uso do termo kurios (senhor) em outros sentidos, como informa o artigo que pode ser lido aqui.

Santa Isabel estava falando de Deus Filho, aquele que iria nascer, que já estava concebido no ventre da virgem Maria, e isso foi uma revelação do Espírito Santo. Portanto, o termo SENHOR naquela frase tem o sentido de Deus. Observe as explicações acima. Em outras palavras, não é o fato do título senhor ter outros significados que invalida a afirmação feita no louvor de santa Isabel.

Afirmar que Jesus é Deus é necessário, e por isso o título de mãe de Deus era apropriado para salvaguardar essa verdade. E ainda é. Não há que apelar para a cautela dos apóstolos e dos primeiros escritores, pois nem tudo foi expresso com a mesma terminologia como temos hoje, pois o que importa é o fato real, e a real doutrina que está ali presente, e que pode necessitar de novas expressões segundo as exigências que surgirem.

É assim imperioso concluir que Deus não tem mãe, em sentido pleno, lógico e natural. Mas, pelo que foi tratado, da encarnação de Jesus nosso Senhor, tem mãe na Pessoa de Jesus Homem. Certo disso, então, Deus tem mãe.

Gledson Meireles.

domingo, 12 de junho de 2016

Opinião de Santo Tomás de Aquino sobre a Imaculada Conceição


Para quem não está acostumado com os debates e controvérsias teológicas, há probabilidade de ficar constrangido quando souber que um dos maiores teólogos cristãos que já existiram negou peremptoriamente a imaculada conceição de Maria. Esse foi Santo Tomás de Aquino.

Os católicos, infelizmente, não podem buscar a verdade por si próprios. Eles precisam aceitar de antemão e sem qualquer senso crítico o que a igreja romana determina como dogma” (pode ser lido aqui. Não sei por que tanta discussão então, e com visões diferentes a respeito do tema. Será que esses homens não são católicos?

Um apologista protestante afirma: “Um dos maiores constrangimentos para o dogma da imaculada conceição é sua negação pelos maiores doutores da igreja romana”. Uma vez negado, pronto: um doutor católico negou um dogma católico.

Ao que parece, não há total certeza de que Santo Tomás tenha negado absoluta e radicalmente a doutrina da imaculada conceição “depois” que publicou a Summa Theologica. Na Summa ele negou a doutrina peremptoriamente, como afirmado acima, mas por razões que ele esclarece na tese, e que estão de acordo em essência com a doutrina que cremos hoje. O que difere é esse fato em si: a concepção livre do pecado original.

De qualquer forma, temos que admitir que em primeiro lugar Santo Tomás acreditou nessa doutrina, tendo depois escrito algo contrário a ela na Summa. É portanto um fato “também” que o grande teólogo aceitou o dogma. Pode, então ter depois voltado à sua fé anterior, como indicam alguns estudiosos. Hipótese, no mínimo.

O fato de ter sido opositor da doutrina em determinada fase da vida não o coloca contra a Igreja, nem contra a infalibilidade da mesma, visto que nessa época a questão não havia sido oficialmente definida. Só para ficar mais claro. Se o aquinate seria favorável ou não à definição em 1854, se tivesse vivido nesse tempo, não sabemos, mas há indicações, pela sua submissão à Igreja, de que podemos acreditar que sim. Quem quiser acreditar que não, não deixará de ser católico por isso.

O texto em que aparece uma afirmação inequívoca de sua fé na imaculada conceição no momento final da sua vida não é incontroverso, já que há manuscritos que contém a afirmação completa e outros não, pelo que consta em um dos artigos citados.

O texto: "Não há ninguém que faça o bem, nem um sequer" (Sl. 13:3); "Um homem entre mil que eu encontrei" (ou seja, Cristo, que foi sem qualquer pecado), "uma mulher entre todos elas eu não encontrei", que fosse totalmente imune de todo pecado, pelo menos original ou venial ( Ecl. 7:29)., é um texto que não significa negação da imaculada conceição, já que Santo Tomás é claro em afirmar que a virgem Maria não cometeu pecado algum na vida. Isso é pacífico.

Portanto, o texto não tem a ver com a virgem. Não tem a ver com o assunto da sua impecabilidade, pois do contrário estaria negando isso ao dizer que não encontrou nenhuma mulher sem pecado original ou venial.

Afirmar: “E ainda afirma que nenhuma mulher foi encontrada sem pecado. Não há nenhuma referência à Maria no texto” fica sem sentido, já que se fôssemos levar à conclusão a citação acima, deveríamos afirmar que São Tomás negou que Maria permaneceu imune do pecado durante a vida. Isso não é correto.

E tal fato de que Santo Tomás negou a imaculada conceição não é negado pela erudição apologética católica. Tenhamos em mente que essa negação foi total e durou por toda a vida a partir disso. O que podemos concluir dessa questão será desenvolvido abaixo.

E isso é necessário frisar porque para Santo Tomás não havia explicação que pudesse harmonizar a redenção com a purificação de Maria no momento da concepção. Verifica-se que em suas tentativas não foi vista a medida preventiva. Tudo o mais permanece intacto na doutrina, e continua na teologia católica. Obviamente não está conforme a teologia protestante, pretendam a isso os protestantes ou não. Não estou afirmando que os protestantes afirmam que Santo Tomás pensava como eles, mas apenas mostrando que mesmo no caso em que Santo Tomás negou a imaculada conceição o seu pensamento é essencialmente católico.

Assim, há algo a considerar: Santo Tomás tem a opinião sobre a santidade de Maria que é idêntica à opinião da Igreja inteira mesmo após a definição do dogma. Ainda: o dogma somente foi definido porque a Igreja encontrou um meio de harmonizar a questão da redenção, que inclui a virgem Maria necessariamente, absolutamente, sem dúvidas, e de forma que é impossível pensar o contrário, e que esse foi o ponto que Santo Tomás não tinha resolvido, fazendo-o manter a convicção de que o pecado original infectou a virgem.

De fato, para isso era necessário, pois do contrário não teria sido redimida pelo Senhor Jesus Cristo. A quetão toca o núcleo da doutrina, mas tem acepções acidentais. Dessa forma, pode-se fazer analogia com a discussão sobre a Trindade.

Para ficar mais claro: a Igreja não afirma que Maria foi exceção na obra redentora de Cristo, nunca afirmou isso, não pode afirmar, pois isso é contrário à revelação, e dizer isso seria heresia terrível. Santo Tomás também afirmou que Maria foi redimida por Cristo, e se não tivesse sido atingida pelo pecado tal fato não poderia ser realizado. Ele não enfrentou a tese de Duns Scotus, certamente não a conhecia, e não sabemos como responderia a ela.

No entanto, São Tomás não tendo outra alternativa para expressar a doutrina da Igreja, afirmou a maculada conceição, ou seja, a concepção com mácula do pecado original, mas foi detalhado em mostrar que houve a purificação, a santificação de Maria antes do nascimento. O núcleo da questão está de certa forma presente: a santidade singular de Maria por sua maternidade.

Por sua vez, a Igreja entendeu que a explicação de Dun Scotus era perfeita para o entendimento da imaculada conceição, pois incluía a virgem Maria na redenção operada por Jesus, e definiu que Maria foi concebida sem pecado. Em termos gerais, Santo Tomás está de acordo, conforme o que delineou sem sua Summa Teologica. Deixemos de lado, por agora, hipótese se ele adotaria ou não a doutrina após a definição, pela impossibilidade de termos alguma certeza disso.

Se alguns padres da Igreja afirmaram que Maria cometeu falhas ou pecados pessoais, esse fato também está ligado à questão da redenção. Como se fosse uma necessidade de pelo menos um pecado venial ter sido cometido, como a pressa em obter um milagre de Cristo em Caná da Galileia, interpretada como pecado, para que Maria estivesse no rol dos redimidos pela cruz. Essa é uma ilustração, pois é mais ou menos o sentido do que apresenta os padres da Igreja que falam nesse sentido.

Portanto, a dificuldade número 2 do artigo do “Respostas cristãs” está resolvida: “Esse argumento implica que não havia problema em negar a divindade de Cristo antes do concílio de Niceia. Alguém em sã consciência acredita que a crença na divindade de Cristo só se tornou obrigatória após a definição do concílio. Quem o fizesse antes, não poderia ser considerado herege?

Para que o caso fosse idêntico Santo Tomás deveria ter negado algo da importância da trindade, da divindade de Cristo. Ele tinha em mente duas verdades: somente há salvação em Cristo e todos pecaram. Para crer que alguém seja sem pecado é necessário afirmar que não necessita de Salvador, e isso a doutrina cristã não permite. Santo Tomás estava correto em sua doutrina. Alguns padres da Igreja erraram na explicação da trindade, afirmando o subordinacionismo, mas ainda assim não negaram o essencial, já que viam em sua explicação alguma harmonia com coma doutrina da Trindade. A comparação com o caso de Santo Tomás é diversa, mas é possível ver alguma linha de contato.

A igreja romana reivindica ter um carisma especial que permite guiar os fiéis na crença correta. Como isso pode ser possível se apenas 17 séculos depois o magistério finalmente afirmou “infalivelmente” a crença correta? Como o Espírito Santo pode permitir que gerações e gerações de cristãos mantivessem a doutrina errada? Como não acreditamos que o Espírito Santo é ineficiente, rejeitamos a reivindicação romanista.

Abro a questão indicando a definição da salvação pela fé somente, o caráter forense da mesma, da imputação da justiça de Cristo, que nenhum dos padres da Igreja conheceu e expressou dessa maneira, e que foi definido pelo Protestantismo no século 16, algo que nunca tinha sido expresso antes. Como isso poderia ser possível se apenas no século 16 o Protestantismo afirmou a doutrina da salvação pela fé como a crença correta?" É algo similar. Se caso alguém não concorde, tudo bem, mas deixe a razão da sua discordância, quais os motivos dela.

A publicação de textos críticos que omitem a passagem que afirmaria a imaculada conceição no fim da vida de Santo Tomás, ou seja, que poderia contribuir para a opinião de que Santo Tomás voltou a crer na imaculada conceição não é decisiva. Mas a existência da afirmação é também um fato, como mostra o apologista Taylor Marshall.

 O que podemos notar é que a Summa Theologica contém em essência a doutrina da imaculada conceição, uma doutrina em conformidade com a doutrina oficial da Igreja Católica, e não com aquilo que o Protestantismo apresenta hoje. Sua negação não é tão importante quanto à hipótese de algum padre negar a divindade de Cristo antes do Concílio de Niceia, por exemplo.

Obviamente nenhum apologista protestante afirma que está em concordância com os escritos de Santo Tomás, mas já que apresentam-no negando a imaculada conceição, é importante mostrar que sua doutrina delineia em traços muito vívidos a doutrina católica de sempre, e ele teve seus motivos para naquele momento negar a conclusão que muitos esposavam.

Só um comentário!!!!

Leia: artigo na página dos apologistascatolicos.

Gledson Meireles.