O
apologista protestante Lucas Banzoli afirma que a tradição é o seguinte:
1. Uma doutrina que não se encontra na Bíblia em lugar
nenhum.
2. Uma doutrina que foi transmitida somente oralmente.
3. Uma doutrina não-escrita e não-bíblica (i.e, fora
das Escrituras) que foi conservada pela Igreja de Roma.
4. Uma doutrina que serve para complementar as
Escrituras e que está a par dela.
5. Uma autoridade de fé distinta das Escrituras, que
serve para comprovar doutrinas que não se encontram na Bíblia.
Afirma que, para o
católico, tradição significa isso; que se trata do “encanto católico” que irá
quebrar, e que mostrará o que realmente significa tradição nos escritos
patrísticos. Afirma que para os padres da Igreja “a tradição servia apenas para interpretar as Escrituras”.
Interessante que essa foi a conclusão a que cheguei estudando a doutrina
católica, de que a tradição é um comentário das Escrituras.
Então, no estudo do autor
ele está combatendo a ideia de que a Tradição tem o intuito de, 1) ser
autoridade a par das Escrituras, 2) fornecer base para doutrinas que não
se encontram na Bíblia, 3) e provar o significado de que a Bíblia não é
suficiente “em si mesma”. [Não nego que existam cristão católicos que
pensem assim.]
Nesse estudo aqui
refiro-me apenas ao que a Igreja Católica ensina sobre a Tradição, o que
encontramos normalmente nas fontes católicas, que explicam sobre a tradição, e
comparo com o que o Lucas afirmou sobre o que os católicos crêem sobre
tradição.
Se o Lucas estiver
correto, então o restante dos seus artigos sobre a Tradição Apostólica
desenvolvem-se criticando um elemento real do Catolicismo, e assim deve-se ater
à crítica. Se não, sua crítica começa por uma suposição falha. Nesse caso temos
que analisar outros pontos.
Em escritos católicos, incluindo documentos oficiais da Igreja (que já são parte da tradição), temos que a
tradição consiste:
- “nos ensinamentos que os apóstolos transmitiram oralmente através de sua pregação”. [explicação em artigo com IMPRIMATUR: +Robert H. Brom.]
- Há aqueles que explicam a tradição como “uma fonte de Revelação Divina.
- “A Sagrada Tradição é o ensino oral de Jesus Cristo transmitido aos seus apóstolos, os quais por sua vez transmitiram aos seus discípulos (os primitivos Padres da Igreja), e então à próxima geração, e assim finalmente a nós.”
- A tradição às vezes refere-se ao objeto transmitido (doutrina, etc.), e também ao órgão ou modo de transmissão. [Enciclopédia Católica]
- A tradição transmite a verdade revelada “somente em formulas humanas.” [Enciclopédia Católica]
- Pela tradição “cresce o conhecimento tanto das coisas como das palavras que constituem parte da Tradição”, “faz compreender mais profundamente, na Igreja, esta mesma Sagrada Escritura e torna-a operante cem cessar.” [Dei Verbum, 8. Texto Mês da Bíblia, 2012]
- “... o conteúdo doutrinário da Sagrada Tradição Católica, naquilo que nos é proposto a crer com fé divina e revelada, está também contido na Bíblia, ao menos implicitamente.” [Pe. Lício Legnar]
- A Igreja preserva “as tradições não escritas”, e reconhece como Palavra de Deus, que transmitem a “verdade salvífica e as regras de conduta”. Portanto, reconhece “também as tradições, se elas são relativas à fé ou à moral”. [Sessão IV, Concílio de Trento]
- A tradição guarda os elementos da Bíblia ajustados apropriadamente para apresentar a doutrina. Então, “não é uma revelação separada, secreta e paralela”. Essa visão é condenada pela Igreja Católica. [baseado no que escreve o apologista Mark Shea].
- “Tradição, que é o veículo oral da Revelação de Cristo.” [Alessandro Lima, Veritatis Splendor]
O Lucas afirma que os
católicos entendem a tradição como doutrina que não está na Bíblia, que veio
até hoje somente de forma oral, e que não foi escrita, também não está na
Bíblia, e que serve para complementar a Bíblia, e que é uma autoridade para
comprovar as doutrinas que não estão na Bíblia. Ficou claro. Nada da tradição
está na Bíblia e a tradição é para comprovar conteúdos não bíblicos e completar
a Bíblia.
Pelo que a Igreja ensina,
a tradição é onde aprendemos o ensino oral de Jesus e dos apóstolos, em
fórmulas humanas, fazendo a Escritura ser mais claramente compreendida por nós,
e que sua doutrina está na Bíblia. Temos que devemos crer que a Tradição é uma
via de transmissão da Divina Revelação (como que a fonte oral, ou modo oral de transmissão,
mas da mesma fonte: Deus), e que seu conteúdo é bíblico, levando-nos a
compreender melhor a Palavra de Deus.
Essa comparação mostra que
a doutrina católica tem a tradição como Palavra de Deus, de conteúdo doutrinal
igual ao da Escritura, e que difere apenas por ser um modo indireto da
Revelação, que ajusta os dados da mesma para melhor esclarecê-los, para depois
explicá-los e então defini-los, sendo uma instância bíblica, apontada pela
Bíblia, e ao mesmo tempo fora da Bíblia.
Resumindo a comparação:
Tradição Apostólica segundo as
fontes católicas
|
Entendimento do Lucas sobre a
Tradição Apostólica na doutrina católica
|
Conteúdo doutrinário igual ao da Bíblia, e que leva à melhor compreensão da Bíblia
|
Doutrina
que não se encontra na Bíblia
|
Modo de transmissão oral da doutrina
|
Somente
oral
|
Via de transmissão indireta, mas também
escrita, nos documentos etc., da doutrina bíblica
|
Não-escrita
e não-bíblica
|
Ligada à Escritura
|
A
par da Escritura
|
Autoridade de fé apontada pela Bíblia
|
Autoridade
de fé distinta da Escritura
|
A comparação evidencia
diferença de doutrina entre os documentos da Igreja e os escritos do apologista Lucas
Banzoli referentes à tradição. Assim, o autor deve primeiramente corrigir esse
erro, nos pontos necessários, para continuar a crítica que faz de escritos patrísticos sobre a tradição
apostólica.
Obs.: a tradição estar "a par" da Escritura no sentido de ser "outra via" "outro modo" de transmissão, com conteúdo ligado ao da Escritura, estando fora dela, ao lado dela, como expressão dela, então está correto. Se o "a par" da Escritura significa isso nos escritos aludidos acima, então está correto. Se não, há o que corrigir.
Exemplo: a assunção de Maria é um fato que não é descrito na Bíblia. Nesse sentido não é bíblico. Mas, em sua natureza a doutrina está de acordo com a doutrina da Bíblia, onde os princípios estão na Bíblia. Portanto, a doutrina é bíblica.
Como se conhece: pelos escritos da Igreja, que mostram a tradição. Por que é mantida? Porque está conforme a revelação bíblica, e por isso foi proclamada dogma.
Entre os protestantes, de modo semelhante, há o Dispensacionalismo, surgido no século 19 com Darby. Segundo é explicado se trata de uma doutrina que sempre existiu, pregada desde o início do Cristianismo, e que foi resgatada no século 19, como algo que estava em declínio, em esquecimento, etc., e não é vista como algo novo, como sendo uma heresia. Em princípio, tem-se que a afirmação é de que a doutrina contida no dispensacionalismo é bíblica. Há quem afirme o contrário, mas existe o fato.
Gledson Meireles.
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