“Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por Mim” (João 14,6)
Busquemos a Cristo, o
nosso único Chefe Supremo, pois Ele é Deus, e pela fé na verdade de Sua
doutrina demos-Lhe a honra devida.
Nesse artigo faço uma
reflexão sobre a interpretação do erudito William Webster a respeito do primado
de São Pedro segundo São João Crisóstomo. Iniciarei com algumas citações do
santo padre, com comentários a respeito das mesmas, para melhor contextualização
e entendimento do que diz em cada uma sobre o assunto.
São João Crisóstomo
(407)
"Pedro
na verdade ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apóia a fé e
sobre a qual esta edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo, o Filho do
Deus vivo, foi lhe dado a ouvir: "Sobre esta pedra - a da sólida fé - edificarei
a minha Igreja" (Mt 16:18). Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e
fundamento da Casa de Deus, quando após negar a Cristo e cair em si, foi
buscado pelo Senhor e por Ele honrado com estas palavras : "apascenta as
minha ovelhas" (Jo 21,15s). Dizendo isso o Senhor nos estimou a conversão
e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de
que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitencia
sincera e se corrige dos seus pecados" (Haer.59,c,8) [citação
prof. Felipe de Aquino]
São João Crisóstomo fala
de São Pedro como “a pedra sólida”, e sobre esta pedra está a fé, e sobre esta
fé está edificada a Igreja. Portanto, se a Igreja está alicerçada na fé de
Pedro o está sobre o próprio Pedro. É uma ligação clara entre a pessoa do apóstolo
Pedro e sua fé, pois o mesmo em pessoa é a pedra sólida sobre a qual está a
Igreja, e isso por causa da sua fé. Essas são a lições das palavras do doutor
cristão. Não se pode colocar a pessoa de Pedro destacada de sua fé como se
fossem duas coisas separadas, mas a fé fez dele a pedra escolhida por Cristo. A
pedra é aquela “da sólida fé”, sim, mas não está desligada da pedra-pessoa, que
é o mesmo apóstolo. Essa opinião protestante, que procura distanciar a pessoa e
a fé nesse caso, não é uma concepção encontrada na Bíblia, em Mateus 16,18, nem
nos escritos de são João Crisóstomo. Alguns dizem que a fé de Pedro, ou ainda a
sua confissão de fé, tem como objeto a Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e
que então Ele é a Pedra de Mateus 16,18. No entanto, o que são João está
mostrando é que Pedro é a pedra na qual está a fé sólida, também chamada de
pedra. Ele não conclui como fazem os protestantes, numa opinião contrária ao
primado petrino e ao papado.
Mais claramente, são
Crisóstomo mostra Pedro como “alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de
Deus”. Isso é indiscutível: Pedro pessoalmente é o alicerce-fundamento da
Igreja nas palavras de são Crisóstomo. Tenhamos esses dados em mente, pois no
decorrer da análise iremos nos deparar com as questões postas por Webster, e
devemos respondê-las segundo são João Crisóstomo.
"Portanto Ele acrescentou isto, «E eu digo-te, tu és
Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; isto é, sobre a fé da sua
confissão ... Pois Cristo não acrescentou nada mais a Pedro, mas como se a sua
fé fosse perfeita, disse, que sobre esta confissão Ele edificaria a Igreja,
porém no outro caso [João 1:49-50] não fez nada parecido, mas o contrário
..." (Homilias sobre
o Evangelho de João XXI,1 (NPNF 14:73)) [82] [citação do cite
apologistascatolicos]
Na passagem acima são Crisóstomo fala da fé da
confissão de Pedro como a pedra. Vimos anteriormente que esse tratamento não
está contrário à consideração da pessoa de Pedro como pedra, mas intimamente
ligado a isso, pois a confissão de fé é ação pessoal do apóstolo, fé essa
concedida e premiada por Cristo com o privilégio de ser fundamento da Igreja.
“Eu gostaria de pedir aqueles
que querem diminuir a dignidade do Filho: Quais são os maiores presentes que o Pai deu a
Pedro, ou aqueles que o filho lhe deu? O Pai deu a Pedro a revelação do Filho, e o Filho
deu-lhe a missão de trazer ao Pai e a ele mesmo o mundo inteiro, e a um homem mortal Ele confiou o poder sobre
tudo o que está no céu, dando as chaves a ele que estendeu a Igreja em todo o
mundo, e se mostrou mais forte que o mundo”
[citação site apologistascatolicos]
Essas considerações substanciam
a doutrina do primado, pois Pedro é colocado pelo Senhor como tendo o poder
sobre as coisas do céu através das chaves concedidas a ele.
As passagens acima já fornecem o
quadro geral de que Pedro é a pedra da Igreja posta pelo Divino Construtor
Jesus Cristo, e que por isso possui o primado. O Protestantismo nega o primado
de jurisdição sobre os demais apóstolos e sobre a Igreja universal. No máximo
aceita uma espécie de “liderança” do apóstolo e a individualidade de suas
prerrogativas, sem admitir que o mesmo tinha recebido poder sobre os demais e sobre
a Igreja, e que os bispos de Roma recebam em função do episcopado as mesmas
prerrogativas.
Essa visão do Protestantismo
encontra problemas quando lemos acima a exaltação que o apóstolo Pedro recebia
dos santos padres, como atesta o reconhecimento do mesmo por são Crisóstomo. A
apresentação de são Pedro por são Crisóstomo condiz com o primado, que
considera ser a pedra, ser o fundamento, ter o poder sobre os céus, pelas
chaves. Em hipótese alguma alguém poderia contrariar o primado de Pedro pelas
palavras de são Crisóstomo. Não condiz negar-lhe o primado em seus escritos.
Mas, como apenas estamos no início da conversa, tenhamos em consideração mais
documentos do santo padre.
São Crisóstomo era profundamente
reverente ao apóstolo, coisa que não aparece como nota típica na Teologia Protestante.
Em são Cristóstomo Pedro é chamado “pilar” da Igreja, assim como outros
apóstolos também recebem igual tratamento, mas certamente não encontra-se outro
apóstolo que seja “fundamento da fé”. Esse título é exclusivo do apóstolo são
Pedro. Destas considerações assim em contexto, fundamentadas nas palavras de
são Crisóstomo, já se pode passar para o estudo do erudito protestante William
Webster.
William reconhece a exaltação de Pedro por parte de são João
Crisóstomo, porém qualifica que nos escritos do Padre da Igreja não há a
doutrina da jurisdição de Pedro na Igreja nem de Pedro como a Pedra sobre a
qual a Igreja está construída. As palavras do santo padre não teriam o “significado Católico Romano”. E qual a razão para
essa afirmação? Webster considera evidências disso quando são João aplica “títulos similares” aos outros apóstolos e “não interpreta a rocha de Mateus 16 com sendo Pedro”.
Um dos seus exemplos diretos é a aplicação a outros apóstolos, da mesma forma
que a Pedro, do termo coryphaeus.
Afirma então que o termo traz a ideia de liderança, mas não implica jurisdição.
Dos demais exemplos conclui que o santo padre tem os apóstolos em “pé de igualdade relativo à autoridade”.
De várias passagens de são João, William entende que “enquanto que certamente reconheça grande papel de
liderança a Pedro, não considera-o ter sido feito o governador supremo da
Igreja”. E continua reforçando sua base para tal conclusão, de que os “exaltados títulos aplicados a Pedro não foram
exclusivamente aplicados a Pedro”.
Enquanto crendo que sua apresentação possui uma visão
balanceada de são João Crisóstomo quanto ao primado de Pedro, William fornece
uma citação em que o santo padre “afirma que Pedro
recebeu autoridade sobre a Igreja”. E, então, pareceria que William fosse
reconhecer o status de autoridade de jurisdição de Pedro aí. Porém, completa
com as passagens onde o padre concede as mesmas prerrogativas a João e a Tiago.
Ainda, apresenta passagens em que são João Crisóstomo coloca são Paulo na mesma
categoria relativa à autoridade. Acredita que por essas “razões” está refutada
a tese católica do primado. Mas, será realmente correto que ainda que são João
Crisóstomo aplique somente a Pedro como líder da Igreja e dos irmãos, ele
também considere os demais apóstolos como líderes da Igreja e dos irmãos? Como
veremos no decorrer do estudo, esse nunca foi o caso. Webster tropeça nesse
particular. Suas citações das prerrogativas dos demais apóstolos em são
Crisóstomo não mostram superação de autoridade em comparação com aquelas
referidas a são Pedro.
Quanto à presidência do Concílio de Jerusalém, William mostra
passagens em que são Crisóstomo afirmaria a autoridade de Tiago sobre Pedro.
William explica que Pedro tem a liderança na pregação, a jurisdição “do ensino”, não sobre os apóstolos, e que essa
autoridade foi “compartilhada igualmente por todos
os apóstolos”. Isso já vimos anteriormente, mas é preciso expor mais um
pouco a tese de Webster e compará-la devidamente com a doutrina de são
Crisóstomo.
Consideremos os fatos que William até aqui mostra para
substanciar sua posição: são João Cristóstomo aplica títulos semelhantes, como
o de coryphaeus aos demais apóstolos,
e não somente a Pedro, o que revelaria seu reconhecimento de que os apóstolos
são “iguais” quanto à autoridade. Afirma também que são Tiago tinha alta
autoridade no concílio de Jerusalém conforme as palavras de são Crisóstomo.
Por enquanto, paremos com a análise de William e comparemos
com a refutação da mesma por Stephen Ray. É importante essa comparação já que
ambos os eruditos tratam da questão diretamente com o fim de esclarecer satisfatoriamente
suas posições, em crítica análise das respectivas respostas.
Steve explica que às vezes os santos padres falam da
autoridade jurisdicional de Pedro, outras vezes não. Na tese de William são
Crisóstomo não menciona essa autoridade referente a Pedro. Se isso é um fato ou
não é o que devemos verificar, além do que é necessário elaborar as respostas
sobre os dados que são Crisóstomo fornece. Temos, portanto, uma diferença
básica entre o que diz Webter e o que afirma Stephen Ray. Webster nega o
reconhecimento de são Crisóstomo da autoridade jurisdiconal de Pedro, conforme
os motivos que considera contrários à mesma. Stephen por outro lado afirma que
os padres da Igreja de fato mostram a autoridade de jurisdição de Pedro, mas às
vezes não a menciona. Eles reconhecem essa verdade. Esse é o ponto que William
nega. Será que sua posição está fundamentada realmente em são Crisóstomo? Será
que o santo padre não mostra seu reconhecimento dessa autoridade de Pedro, e
que suas palavras estão mais voltadas à concepção moderna protestante da
negação do primado? Com vimos acima esse não pode ser o caso, visto que são
Crisóstomo é totalmente católico também nesse sentido. No desenvolvimento do
estudo ficará mais clara essa afirmação.
Steve continua enfatizando as palavras de são Crisóstomo
sobre Pedro: “fundação da fé”. Também poderia ser dito sobre a afirmação: “quando eu digo
´Pedro´ eu nomeio uma rocha inquebrável”. William não explicou essas
afirmações nos textos que citou como exemplos dos “exaltados títulos” que
recebe são Pedro. Também, são Pedro é chamado de “boca dos apóstolos”. Esses
títulos são diversos daqueles que os demais apóstolos recebem. Tiago e nenhum
dos outros é referido como “boca dos apóstolos”, ou “fundação da fé”, mas
somente a pessoa de Pedro. A afirmação de Webster já tem nesse ponto uma
alcance limitado, e não pode refutar o que pretende.
A respeito do termo coryphaeus
Steve tem total consciência do seu uso amplo, e sabe que não é sobre tal uso
que o primado pode ser provado. No entanto, mesmo o termo em aplicação a outras
pessoas pode não indicar que são Crisóstomo tivesse Pedro na mesma conta de
autoridade. Nos santos Padres o termo coryphaeus é usado para o Espírito Santo.
Portanto, não se pode afirmar um nivelamento de liderança pelo uso do mesmo.
Então, Steve explica que o termo significa “”líder”, mas não nos conta que grau
de autoridade aquele líder particular tem”. Em outras palavras, sendo
coryphaeus alguém possui liderança, não sendo específico pelo termo em si que
tipo e grau de liderança o mesmo possui. Não se pode afirmar que Pedro é um
coryphaeus como o é são Tiago e os outros apóstolos. A comparação é frágil se
se tem a mesma na conta de argumento.
Steve questiona a afirmação de William sobre a liderança não
implicar jurisdição. Como isso se dá? De fato, não há explicação como que um
líder pode não ter alguma autoridade de jurisdição. Isso é praticamente sem
sentido, ou mesmo impossível. O termo sozinho não pode provar o primado, mas
seu uso a diferentes pessoas não prova igualmente que todos possuem igual
autoridade. Essa é a consideração pacífica entre os eruditos.
A comparação da cátedra de Tiago com a cátedra de Pedro, por
são Crisóstomo, é bastante clara nesse sentido de diferenciação de autoridade,
pois Tiago tinha autoridade sobre Jerusalém, enquanto que Pedro sobre o mundo.
Todos os apóstolos receberam a autoridade sobre o mundo, em Mateus 28,19, diz
Steve, mas que tem isso a ver com “igualdade” ao comparar a “autoridade de
Pedro sobre os irmãos”? De Pedro é dito autoridade “sobre o mundo” e “sobre os
irmãos”. A primeira comparação teria algum sentido, se se intenciona refutar a
tese católica, mas a segunda afirmação desqualifica todo o argumento. São
Crisóstomo considera Pedro como chefe sobre a Igreja no mundo e sobre os
apóstolos. Nenhum dos demais apóstolos recebe tal consideração.
Na passagem citada por William em que são Crisóstomo mostra a
preeminência de Pedro sobre os demais, a memsa não recebe nenhum comentário de
William a esse respeito. São Crisóstomo fala da ordem de Jesus: “Apascenta minhas ovelhas” e pergunta por que passou pelos
outros e direcionou as palavras a Pedro? Porque ele foi o escolhido, a boca dos
apóstolos, o chefe, responde são Crisóstomo. Também nos remete ao caso de São
Paulo, que visitou Pedro e não os outros. E após ter perdoado a negação de
Pedro, o Senhor Jesus o coloca como chefe sobre os irmãos. Somente após isso
menciona a missão dos dois apóstolos ao mundo (Mt 28,18-19). A citação da
visita de Paulo a Pedro já especifica sua comparação de autoridade entre os
dois. Mas, como William pensa ter ambos a mesma autoridade reconhecida por são
Crisóstomo, é importante frisar algumas afirmações na passagem que William
cita. São Crisóstomo fala de ambos NO
CÉU como líderes do coro dos santos. Não se trata da autoridade de
jurisdição na Igreja, que está evidente na distinção que o santo padre faz.
Para esclarecer melhor, são Crisóstomo não tem Pedro e Paulo como possuidores
da mesma autoridade na Igreja, mas na passagem citada por Webster, o qual tinha
a intenção de mostrar isso nas palavras de são Crisóstomo, o que realmente é
tratado tem a ver com as glórias de ambos os apóstolos, martirizados em Roma,
no céu e na ressurreição dos mortos. Esse trecho não está tratando de
autoridade em nenhum sentido. Webster usou a comparação de igualdade entre
ambos de maneira imperfeita, aplicando seu status como santos no céu àquele de
líderes na Igreja. Portanto, mais uma vez Webster mostrou-se sem provas para o
que afirma.
Portanto, percebemos que a argumentação sobre os títulos
semelhantes e a autoridade apenas de “ensino” do apóstolo Pedro, como afirmada
por William Webster não resistiu a essa refutação. A posição de William está
refutada até aqui. Continuemos com a análise de William sobre outros pontos de
são João Crisóstomo.
É importante notar que na passagem em que são Crisóstomo fala
da autoridade das chaves nas mãos de são João apóstolo, interpretada por
William como texto que mostra a mesma autoridade universal de ensino de todos
os apóstolos sobre as Igrejas no mundo, são Crisóstomo chama João de “pilar”
das Igrejas, não de “fundação”. É uma distinção digna de nota.
William mostra que são Crisóstomo interpreta a confissão de
Pedro como a fundação da Igreja. Vimos, porém, que o mesmo chama Pedro de
“fundação da fé”. Mas William não concorda com essa acepção. Pode aceitar
apenas que a Igreja é fundada sobre Pedro no sentido de estar fundada sobre a sua confissão. Mas, não é isso a
mesma coisa em são João Crisóstomo? As duas coisas não são inclusivas no mesmo
sentido? O que Webster precisa entender é que ligando a fé à pessoa de Pedro, são
Crisóstomo não tem em mente o que tem um protestante atual, o qual especifica
que a confissão de fé é Jesus e não Pedro, e usa isso de maneira excludente em
relação entre si do objeto da declaração e da pessoa do apóstolo. São
Crisóstomo sabe que o objeto da fé é Jesus, mas a confissão de Pedro, sendo a
fé do próprio Pedro, portanto, a sua própria pessoa, é a pedra da Igreja. Essa
concepção é inegável, como já mostrado antes.
Mas, como entender que tendo a fé de Pedro temos a Pedro? Não
seria isso referente à sua pessoa por intermédio da fé dele? Como entender isso
quando trata de Antioquia? O padre Stanley Jaki mostra que os louvores de são
Crisóstomo a Antioquia era apenas um prelúdio aos maiores louvores à Sé de
Roma. Outra consideração que podemos fazer diz respeito à “confissão” de Pedro,
uma vez que são Crisóstomo parece ligá-la sempre à sua pessoa, ao contrário dos
teólogos protestantes que pretendem ver na confissão apenas o conteúdo da
mesma, Jesus Cristo, quando o mesmo Senhor não o faz no Evangelho. Jesus
dirige-se a Pedro em pessoa e lhe confere a graça de ser fundamento de Sua
Igreja. Porém, sabemos que o Senhor Jesus Cristo é o Fundamento último, invisível,
aquele Fundamento que sustenta todas as coisas, como o fundamento visível de
Pedro. São duas metáforas que se deve ter em mente.
E sobre a transferência do status de Pedro aos bispos de Roma. William afirma “que todos os
bispos são sucessores de Pedro”. Bem, como são Crisóstomo não trata da questão
diretamente, não comentando-a, não se pode dizer que ele opunha-se à ideia do
papada, por um argumento do silêncio. Steve fala sobre isso. De fato,
argumentar sobre o silêncio é de pouco valor, ou de nenhum valor. Ainda, o que
são Crisóstomo propõe é claramente a favor da doutrina do primado de Pedro, e
não contra.
Sabemos que são João Crisóstomo nunca se opôs ao primado
papal, “somente ele não comentou especificamente sobre ele”. As questões
orientais que causaram “antipatia” em relação a Roma dizem respeito à política
não a questões teológicas. Steve faz a pergunta proposta por Dave Palm sobre o
motivo de nunca os cristãos ocidentais apelarem para os bispos orientais? O
contrário sempre foi a regra: os sacerdotes, os bispos e até patriarcas
apelavam para o bispo de Roma [o papa]. Por que nunca o contrário? Essa fato
corrobora a doutrina do primado do papa.
Voltando à questão da “transferência” de status Pedro-Papa
sucessores. Webster nega essa afirmação, e analisa a resposta de Steve, o qual
cita são Metódio afirmando que a primazia de Roma não está assentada por ser essa
a capital imperial, mas a primazia vem de origem divina. William Webster afirma
que essa citação “de um teólogo oriental do nono século” é questionável. Por
que “questionável”? Pelo conteúdo? Pela autoridade do autor? Por quê? Webster
refere-se à origem obscura da fonte original Então, por não ser uma fonte
totalmente conhecida, e ser de uma época posterior àquela da patrística, a
resposta não é aceita por William Webster. Ele entendeu a afirmação, mas não
concluiu nada sobre o sentido da mesma por lançar dúvidas quanto à sua origem.
Não há, porém, evidência de que a citação é espúria, mas
apenas que não se sabe a origem certa, ou seja, seu autor. Steve mostra que o
fato da citação ser do nono século é ainda mais impressionante, pois nesse
tempo o Oriente estava próximo a cortar suas relações com Roma. É, portanto,
uma “forte
evidência” a favor do primado. E continua Steve, com razão: “Você pode
ridicularizar a citação, mas você não a provou falsa e ela continua uma
excelente citação.” Realmente, se alguém desconfia de algo não significa
que esse não seja verdadeiro. Fica o fato de que as palavras de Metódio revelam
a razão porque os cristãos consideram Roma como sede do Cristianismo. E Webster
tem outro obstáculo aqui, que não conseguiu transpor.
O Protestantismo certamente não considerará a força desse
documento pela afirmação que ele traz, sem indicar motivo satisfatório para
isso. O autor William Webster apenas pode lançar “dúvidas” contra o mesmo, mas
não objetar fortemente contra ele. Pode também tentar enfraquecer seu alcance,
por ser de séculos mais tarde, mas não pode invalidar sua informação de que a
Igreja, ainda que no Oriente, reconhecia Roma como o centro divinamente
instituído da fé cristã. A citação está, portanto, em documento da época citada,
século nono, e pode ser oriunda de documento mais antigo. É documento
fidedigno.
Mas, felizmente não é o único que existe. Ainda mais antigo
que esse há o documento de São Máximo Confessor (580-622), que era monge do
Monastério de Crisópolis, e teólogo bizantino. Ele aplica Pedro e as palavras
que Jesus disse a ele à Igreja Romana. Ele transfere esse conceito sobre Pedro
à sé de Roma. Mostra que as igrejas do mundo inteiro, desde a encarnação do Verbo
Jesus Cristo, têm Roma como “sua base e sua
fundação”, pois Cristo prometeu a indefectibilidade dessa (cf. refere-se
a Mt 16,18-19).
Igualmente, o Concílio de Calcedônia, repleto
majoritariamente de bispos orientais, mostra que o episcopado considerava as
palavras do Papa Leão como sendo de Pedro. Isso é transferir, considerar o sucessor
de Pedro, aplicar as prerrogativas do apóstolo Pedro ao papa.
É provado também pelas palavras de São Jerônimo (345-420): “São Jerônimo é muito explícito em dar as prerrogativas de
Pedro a Roma em um sentido exclusivo.” (Steve) Em carta ao papa Dâmaso,
são Jerônimo refere-se à ortodoxia da sé de Roma, da fé de Pedro, e reconhece
que em Roma pode-se ter o alimento puro [pois é de Cristo] para a alma. E
refere-se ao papa como “sucessor do pescador.”
Reconhece a autoridade de Pedro no Papa, embora, como bom católico, também
afirme que seu Chefe é somente Cristo. [(Jerome, Epistolae, XV, To Damasus. Text.
C. T. G. Schoenemann, Pontificum Romanorum Epistolae Genuinae, 374-378 as
quoted in Shotwell and Loomis, pg. 658–659].
São Soforino, patriarca de Jerusalém, é outra prova de que a
fé cristã considera o primado de Pedro no papa de Roma.
Temos, então, mais do que o necessário, como mostra Steve Ray,
para provar a asserção cristã católica. Sabendo das dúvidas e da pouca
receptividade de William Webster do documento de Metódio, temos outros
documentos de comprovada autenticidade, e de séculos mais remotos, mas próximos
da era patrística, mostrando a fé da Igreja no primado de Roma, e do papa como
sucessor de Pedro. O documento de Metódio é claro nesse sentido, mas visto que
William não ficou satisfeito com a informação do mesmo, ou com sua autoridade
de fazer a afirmação que fez, Steve trouxe provas mais robustas. Com tais
evidências históricas refutamos a ideia de Webster de que são Crisóstomo não
transferiu para o papa as prerrogativas de Pedro. Primeiro, são Crisóstomo não
trata diretamente da questão, e não se opõe em qualquer parte dos seus escritos
a essa doutrina. Ainda, as provas históricas que foram mencionadas acima são
pungentes e claras nesse sentido. Temos também o fato de que são Crisóstomo
reconheceu no papa alguém para se refugiar, e como mostra Steve, atitudes como
essa podem ser mais eloquentes que as palavras. Mais, ainda, são Crisóstomo tem
o apóstolo Pedro na melhor consideração, estima e reverência entre os
apóstolos. Não se nota qualquer diferença essencial da doutrina do primado nas
raízes expostas por são Crisóstomo e nas manifestações mais esclarecedores
vistas acima. Temos a mesma doutrina delineada em cada ponto.
No entanto, William Webster cita um dos mais eminentes
teólogos católicos do século 20 para substanciar sua posição contra o primado
de Pedro, Yves Congar. De fato, na citação que faz do Dr. Congar, esse afirma
que são Crisóstomo não fala da primazia de Roma como de direito divino. Como
vimos, porém, essa informação já está registrada, pois são Crisóstomo apenas
silencia sobre a questão. Não há em seus escritos nada contrário a ela. Falta
também das interpretações comuns de Mateus 16,16-19 num plano antropológico,
espiritual, antes que o jurídico. Ele fala que a consciência do primado não
atingiu o Oriente, pelo menos a ponto de evitar o cisma. Reconhece, porém, que
Roma é tida como corte de primeira instância de apelação nos assuntos
eclesiásticos e canônicos. Não é isso da mesma natureza do primado de Pedro e
do papado atual? O que não há no Oriente é o reconhecimento do direito romano
de governar suas igrejas nos assuntos de ordem disciplinar. Roma gozava de
“primazia de honra”.
Deve-se ter nessas palavras a consciência de que nada nelas
depõe contra o primado, mas o sustenta. De fato, os padres da Igreja, inclusive
são Crisóstomo, tem em Pedro a fundação da fé. Sendo Roma a sé de Pedro, tem
nela o lugar onde a fé cristã permanece intacta. Essa visão é muito distante
daquela que tem o Protestantismo. Nos escritos de são Crisóstomo não há
qualquer afirmação que em essência tenha familiaridade com a doutrina
protestante, mas em cada instância revela sua natureza católica. São João
Crisóstomo não concorda com o uso que Webster faz de suas palavras arranjando erroneamente citações e tirando delas conclusões
que não identificam o pensamento do doutor cristão. Conhecendo o texto bíblico
de Mateus 16,18 e o pensamento de são Crisóstomo, ainda que nesse estudo não
exaustivo, temos a certeza de ter refutado o pensamento de William Webster.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
Gledson Meireles.