No
livro de Roque Frangiotti, História das
Heresias: século I a VII – conflitos ideológicos dentro do cristianismo, o
autor afirma que até o século V não havia “um culto oficial” à virgem Maria,
mas apenas “atos de veneração” que foram aos poucos surgindo, e que São
Gregório Nazianzeno parece ter sido o primeiro a ensinar a orar a Maria,
citando Oratio 21, 10s.
Santo
Agostinho teria sido quem contribuiu definitivamente para que um culto “sem
receio” fosse dado à virgem Maria, quando ensina que Maria foi a única isenta
do pecado original. Cita a obra De natura
et gratia (Sobre a natureza e a graça).
Um
sínodo em Alexandria teria aprovado oficialmente esse culto em 430, e somente
em 431 foi selado definitivamente o tipo de culto e o lugar de Maria na Igreja
Católica.
Esse
tipo de apresentação é de fato idêntico em essência àquilo que os protestantes
ensinam sobre a mariologia, como se tudo ocorresse de modo controverso e
tardio. Certamente foi isso o que o padre José Eduardo percebeu e não cedeu à
apresentação de uma afirmação do livro, lida por um pastor no debate, ainda que
se tratasse de uma obra católica. De fato, muito do estudo católico
contemporâneo faz diálogo e concorda com teses protestantes, ainda que em
desacordo com a história bastante sólida sobre os mesmos pontos defendidos na
tradição da Igreja. É possível encontrar tais coisas em obras católicas atuais.
E,
ao que parece, isso é verdadeiro sobre o livro em questão, já que muito de
obras protestantes são nele citados, como temas da histórica da Igreja de W.
Walker, autor protestante.
Os
estudos católicos, por sua vez, mostram que o culto mariano possui raízes no
primeiro século, sendo as catacumbas de Roma valiosos testemunhos desse culto,
mostrando inúmeras pinturas da virgem Maria, em locais de destaque, com o
significado claro de Maria intercessora da Igreja Católica. Com isso, também, a
reflexão teológica que vez ou outras aparecem nas obras católicas do século
segundo em diante mostram o papel preponderante da virgem Maria na teologia,
confirmando o que se encontra na arqueologia. Dessa forma, afirmar que o “culto
oficial” veio séculos depois, e “atos de veneração” foram surgindo aos poucos,
é algo que pode levar a incompreensões importantes.
É
claro que a doutrina se desenvolve, e que as decisões dos concílios provocam
certas mudanças, e que a liturgia demora séculos para incluir certas orações e
temas e comemorações, o que não é o mesmo que dizer que a realidade não existia
antes. Assim, a virgem Maria sempre foi cultuada, e esse culto foi crescendo a
ponto de ser oficialmente celebrado, assim como várias festas atuais, que
entram na liturgia, mas que possuem início recente.
O
modo de entender da Igreja Católica abrange mais do que o protestante, e por
isso a forma com que certos fatos são descritos em literatura não católica
perdem o foco principal, introduzindo problemas de interpretação.
Interessante
notar que a doutrina da verdadeira humanidade de Cristo tenha sido defendida
pela escola antioquena, de interpretação literal, e não pela de Alexandria,
mística. De fato, o método alegórico é perigoso em certas ocasiões, e menos
preciso, dando margem a heresias, enquanto o literal é o preferido, e,
tradicionalmente, o fundamental, embora Nestório fosse da escola antioquena.
Ao
tratar de São Cirilo de Alexandria o autor se vale de H. von Campenhausen, certamente outro autor protestante, na fonte Les Pères Grecs, Paris, Livre de Vie, 1969
Informações
importantes e interessantes sobre o papado são encontradas no livro, como a que
afirma que o imperador Teodósio II era contrário a São Cirilo, aprisionando-o
por três meses, e não aceitava a decisão do concílio de Éfeso. Apenas por saber
que o concílio foi confirmado pelo papa Celestino I, ele o aceitou. Isso se deu
no século quinto, em 431.
Mais uma vez se pode por esse fato entender o poder do papa naqueles tempos.
Gledson Meireles.
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