AUTORIDADE
BÍBLICA PÓS-REFORMA: resgatando os Solas
segundo a essência do Cristianismo
Protestante Puro e Simples, livro de Kevin
Vanhoozer, Editora Vida Nova.
Comentários
abaixo: Gledson Meireles.
Sobre o Prefácio
No
livro Autoridade Bíblica (...),
Vanhoozer tenta lidar com o tema das várias interpretações conflitantes, das
autoridades e das comunidades interpretativas do Protestantismo em meio ao
problema das acusações de que o Sola
Scriptura implicou em caos hermenêutico, em caos doutrinário. O autor
considera as evidências empíricas a favor desse resultado, mas procura mostrar
que o mesmo não é necessário. Disso tem o intuito de resgatar elementos de um
Protestantismo normativo.
Certamente
uma das melhores obras sobre o tema, referência para estudo e não apenas uma
leitura desatenta. De fato, não consegue dirimir a questão, mas aproxima-se
muito perto da resolução, chegando mesmo a concordar com muitas verdades
católicas.
De
fato, a Igreja Católica com a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o
Magistério é verdadeiramente a Igreja que realmente segue o Sola Scriptura. É algo impressionante, mas é possível ver que o
que pareceria impossível é o que verdadeiramente ocorre, e não poderia ser
diferente.
Mesmo
as afirmações de que a Igreja formou a Bíblia e não a Bíblia formou a Igreja,
podem ser entendidas por outra perspectiva, totalmente católica. Entretanto,
podemos perceber que a Palavra de Deus forma a Igreja, e a Bíblia é a Palavra
de Deus escrita, e assim ela tem autoridade sobre a Igreja. Algo bastante
simples e compreensível.
Sobre a Introdução
Certamente,
das várias denominações, aqueles que mais possuem vitalidade são as que se
assemelham ao Catolicismo, pela força da tradição, mas disciplina, pela
liturgia, pela preocupação doutrinal, pelo evangelismo, pelas ações em várias
áreas da cultura humana. E esses ramos são os que Vanhoozer irá elencar como
aqueles que estão com os elementos normativos do Protestantismo.
Ao
querer propor uma defesa do Protestantismo e não da teologia reformada em
particular, a coisa toma uma dificuldade maior. Mas, é o que o autor procura
fazer. Chesterton contribui para o pensamento dessa tarefa. É algo árduo mesmo.
Mas,
será que os protestantes históricos discordam apenas em doutrinas de segundo
nível? São elas irrelevantes para caracterizar ou não a unidade? Isso está no
centro do debate.
A
Reforma do tempo do Rei Josias, em 2 Rs 22, 8-23, 3 e 2 Cr 34, 8-33 comparada à
Reforma Protestante, possui pontos fundamentais de discordância. Mas é oportuno
para a reflexão. E a ideia perigosa do
cristianismo, de McGrath, será que é ou não é assim?
A
leitura de Ernst Troeltsch, de H. Richard Niebuhr, os exemplos de Vanhoozer, as
buscas puritanas pela unidade, as leituras baseada em Atos 17, 11, são coisas
que fornecem muito material para discussão. A análise de McGrath é oportuna.
Vanhoozer tenta recuperar o Sola
Scriptura.
O
Protestantismo tem hermenêutica capaz de manter a unidade e tem uma tradição
segura? Certamente isso é o que Vanhoozer toca ao desenvolver sua tese. Ele
tenta responder críticas importantes.
Interessante
a afirmação de Vanhoozer de que os protestantes não eram cismáticos. As
palavras de C. S. Lewis de que Roma poderia ser comparada a qualquer
denominação protestante é incrivelmente exagerada. Não há como substanciá-la.
Ao fazer isso, descobriríamos onde estão os erros de Lewis ao dizer isso.
E
sendo esse espírito o da tese de Vanhoozer, ele é importantíssimo para dissecar
os pontos importantes da mesma, e entender o que o autor está afirmando,
revelando as razões de suas afirmações. O protestante católico, que muitos
querem ser hoje, é algo profundo e não são todos que o compreendem.
O
quando compreenderem, espera-se que não fique nele, pois aponta para a
verdadeira catolicidade, que C. S. Lewis e Vanhoozer não viram. Nesse ponto, Vanhoozer
deveria ler mais G. K. Chesterton.
O
que é sola Scriptura e qual o
conceito de unidade protestante, são
questionamentos que podem ajudar quando se trata do sola Scriptura como algo próprio do Catolicismo.
O
Sola Scriptura precisa de uma
qualificação. Certo. O conceito de unidade também precisa ser explicado.
Correto. Então, o Protestantismo tem a unidade mínima e exigida em termos
bíblicos? A unidade Protestante é idêntica à do Catolicismo nesse quesito?
Caso
seja sim a resposta a essas questões, uma coisa cessa imediatamente: legitimidade
da crítica de protestantes contra “divisões” católicas. Se os protestantes e
católicos são divididos igualmente, e isso não fere a unidade, a crítica é
anulada protestante é anulada no seu nascedouro.
Mas, é esse o caso? O Protestantismo possui unidade de fato? E o que a doutrina da Igreja Católica tem a dizer para essa posição resgatada por Vanhoozer?
Como
o autor irá resolver o problema de que os princípios protestantes Sola Scriptura e sacerdócio universal dos crentes, como entendido no Protestantismo,
não impliquem em que cada um é autoridade final?
Vanhoozer
critica o que chama de egoísmo
interpretativo. Ele também propõe-se a defender o Protestantismo de ter uma
interpretação bíblica anárquica.
Particularmente
as observações feitas aqui não têm nada a ver com a acusação de anarquismo
interpretativo do Protestantismo, e, portanto, as intervenções de Vanhoozer
nesse sentido não lidam diretamente com a posição que se faz aqui. O que já foi
feito, em alguns artigos que trataram dessa obra de Vanhoozer, foi apresentar
alguns pareceres feitos a partir da doutrina católica sobre a forma adequada de
se chegar à unidade doutrinal e à interpretação legítima.
De
fato, o Protestantismo não ensina a autoridade individual, e não faz exegese de
qualquer forma. Antes, possui um arcabouço de métodos e base interpretativa
bastante abrangente, e diversificada segundo as várias denominações, com pontos
comuns, que caracterizam o Protestantismo. Assim, os autores que tratam do caos
hermenêutico, embora com provas empíricas incontestáveis, podem não convencer
por não irem a fundo nas questões de ordem teológica. E são dessa última
natureza as abordagens feitas aqui, que consideram a própria teologia da
Reforma e as proposições de Vanhoozer no que tange à interpretação bíblica.
O
que será possível fazer, para resolver o problema da interpretação bíblica, com
a recuperação dos princípios material e formal da Reforma, e se o modelo
proposto atinge o que realmente deveria ser atingido, é o que se deve
questionar ao estudar essa obra.
Os
solas são guias para a teologia
protestante pura e simples. Muito bem. E como funciona na prática? É isso que a
obra pretende apresentar.
E
a unidade nos fundamentos, juntamente com as divergências em doutrinas
secundárias e terciárias?
Interessante
a acusação de subjetivismo a Roma, e o cristianismo protestante puro e simples
de Vanhoozer.
Diferentes
tradições, diversidade, parte de um todo maior? Isso funciona?
O
encorajamento a unir-se ao evangelho e uns aos outros, com funciona? É isso o
ecumenismo. Mas, como as denominações protestantes que querem recuperar os solas ê o sacerdócio universal dos
crentes devem fazer isso?
Deve-se
parar e continuar nas divisões denominacionais, aqueles que forem progredindo
na fé a partir dessa nova realidade, ou devem continuar num espírito ecumênico
que não efetua mudança real? É assim que se deve estudar o livro de Vanhoozer,
segundo perspectiva católica.
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