quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

AUTORIDADE BÍBLICA - livro: algumas observações

AUTORIDADE BÍBLICA PÓS-REFORMA: resgatando os Solas segundo a essência do Cristianismo Protestante Puro e Simples, livro de Kevin Vanhoozer, Editora Vida Nova.

 

Comentários abaixo: Gledson Meireles.

 

Sobre o Prefácio

No livro Autoridade Bíblica (...), Vanhoozer tenta lidar com o tema das várias interpretações conflitantes, das autoridades e das comunidades interpretativas do Protestantismo em meio ao problema das acusações de que o Sola Scriptura implicou em caos hermenêutico, em caos doutrinário. O autor considera as evidências empíricas a favor desse resultado, mas procura mostrar que o mesmo não é necessário. Disso tem o intuito de resgatar elementos de um Protestantismo normativo.

Certamente uma das melhores obras sobre o tema, referência para estudo e não apenas uma leitura desatenta. De fato, não consegue dirimir a questão, mas aproxima-se muito perto da resolução, chegando mesmo a concordar com muitas verdades católicas.

De fato, a Igreja Católica com a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição e o Magistério é verdadeiramente a Igreja que realmente segue o Sola Scriptura. É algo impressionante, mas é possível ver que o que pareceria impossível é o que verdadeiramente ocorre, e não poderia ser diferente.

Mesmo as afirmações de que a Igreja formou a Bíblia e não a Bíblia formou a Igreja, podem ser entendidas por outra perspectiva, totalmente católica. Entretanto, podemos perceber que a Palavra de Deus forma a Igreja, e a Bíblia é a Palavra de Deus escrita, e assim ela tem autoridade sobre a Igreja. Algo bastante simples e compreensível.

 

Sobre a Introdução

Certamente, das várias denominações, aqueles que mais possuem vitalidade são as que se assemelham ao Catolicismo, pela força da tradição, mas disciplina, pela liturgia, pela preocupação doutrinal, pelo evangelismo, pelas ações em várias áreas da cultura humana. E esses ramos são os que Vanhoozer irá elencar como aqueles que estão com os elementos normativos do Protestantismo.

Ao querer propor uma defesa do Protestantismo e não da teologia reformada em particular, a coisa toma uma dificuldade maior. Mas, é o que o autor procura fazer. Chesterton contribui para o pensamento dessa tarefa. É algo árduo mesmo.

Mas, será que os protestantes históricos discordam apenas em doutrinas de segundo nível? São elas irrelevantes para caracterizar ou não a unidade? Isso está no centro do debate.

A Reforma do tempo do Rei Josias, em 2 Rs 22, 8-23, 3 e 2 Cr 34, 8-33 comparada à Reforma Protestante, possui pontos fundamentais de discordância. Mas é oportuno para a reflexão. E a ideia perigosa do cristianismo, de McGrath, será que é ou não é assim?

A leitura de Ernst Troeltsch, de H. Richard Niebuhr, os exemplos de Vanhoozer, as buscas puritanas pela unidade, as leituras baseada em Atos 17, 11, são coisas que fornecem muito material para discussão. A análise de McGrath é oportuna. Vanhoozer tenta recuperar o Sola Scriptura.

O Protestantismo tem hermenêutica capaz de manter a unidade e tem uma tradição segura? Certamente isso é o que Vanhoozer toca ao desenvolver sua tese. Ele tenta responder críticas importantes.

Interessante a afirmação de Vanhoozer de que os protestantes não eram cismáticos. As palavras de C. S. Lewis de que Roma poderia ser comparada a qualquer denominação protestante é incrivelmente exagerada. Não há como substanciá-la. Ao fazer isso, descobriríamos onde estão os erros de Lewis ao dizer isso.

E sendo esse espírito o da tese de Vanhoozer, ele é importantíssimo para dissecar os pontos importantes da mesma, e entender o que o autor está afirmando, revelando as razões de suas afirmações. O protestante católico, que muitos querem ser hoje, é algo profundo e não são todos que o compreendem.

O quando compreenderem, espera-se que não fique nele, pois aponta para a verdadeira catolicidade, que C. S. Lewis e Vanhoozer não viram. Nesse ponto, Vanhoozer deveria ler mais G. K. Chesterton.

O que é sola Scriptura e qual o conceito de unidade protestante, são questionamentos que podem ajudar quando se trata do sola Scriptura como algo próprio do Catolicismo.

O Sola Scriptura precisa de uma qualificação. Certo. O conceito de unidade também precisa ser explicado. Correto. Então, o Protestantismo tem a unidade mínima e exigida em termos bíblicos? A unidade Protestante é idêntica à do Catolicismo nesse quesito?

Caso seja sim a resposta a essas questões, uma coisa cessa imediatamente: legitimidade da crítica de protestantes contra “divisões” católicas. Se os protestantes e católicos são divididos igualmente, e isso não fere a unidade, a crítica é anulada protestante é anulada no seu nascedouro.

Mas, é esse o caso? O Protestantismo possui unidade de fato? E o que a doutrina da Igreja Católica tem a dizer para essa posição resgatada por Vanhoozer?

Como o autor irá resolver o problema de que os princípios protestantes Sola Scriptura e sacerdócio universal dos crentes, como entendido no Protestantismo, não impliquem em que cada um é autoridade final?

Vanhoozer critica o que chama de egoísmo interpretativo. Ele também propõe-se a defender o Protestantismo de ter uma interpretação bíblica anárquica.

Particularmente as observações feitas aqui não têm nada a ver com a acusação de anarquismo interpretativo do Protestantismo, e, portanto, as intervenções de Vanhoozer nesse sentido não lidam diretamente com a posição que se faz aqui. O que já foi feito, em alguns artigos que trataram dessa obra de Vanhoozer, foi apresentar alguns pareceres feitos a partir da doutrina católica sobre a forma adequada de se chegar à unidade doutrinal e à interpretação legítima.

De fato, o Protestantismo não ensina a autoridade individual, e não faz exegese de qualquer forma. Antes, possui um arcabouço de métodos e base interpretativa bastante abrangente, e diversificada segundo as várias denominações, com pontos comuns, que caracterizam o Protestantismo. Assim, os autores que tratam do caos hermenêutico, embora com provas empíricas incontestáveis, podem não convencer por não irem a fundo nas questões de ordem teológica. E são dessa última natureza as abordagens feitas aqui, que consideram a própria teologia da Reforma e as proposições de Vanhoozer no que tange à interpretação bíblica.

O que será possível fazer, para resolver o problema da interpretação bíblica, com a recuperação dos princípios material e formal da Reforma, e se o modelo proposto atinge o que realmente deveria ser atingido, é o que se deve questionar ao estudar essa obra.

Os solas são guias para a teologia protestante pura e simples. Muito bem. E como funciona na prática? É isso que a obra pretende apresentar.

E a unidade nos fundamentos, juntamente com as divergências em doutrinas secundárias e terciárias?

Interessante a acusação de subjetivismo a Roma, e o cristianismo protestante puro e simples de Vanhoozer.

Diferentes tradições, diversidade, parte de um todo maior? Isso funciona?

O encorajamento a unir-se ao evangelho e uns aos outros, com funciona? É isso o ecumenismo. Mas, como as denominações protestantes que querem recuperar os solas ê o sacerdócio universal dos crentes devem fazer isso?

Deve-se parar e continuar nas divisões denominacionais, aqueles que forem progredindo na fé a partir dessa nova realidade, ou devem continuar num espírito ecumênico que não efetua mudança real? É assim que se deve estudar o livro de Vanhoozer, segundo perspectiva católica.

Gledson Meireles.

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