sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Interpretar a Bíblia: o que a Igreja ensina sobre isso? (Em consideração ao livro: Cuidado com o alemão)

Continuação do estudo do livro Cuidado com o alemão. Sobre o ensino de que é possível a todos  compreender a Bíblia.

Quando se trata da leitura da Bíblia todo cristão católico entende isso de forma santa, da maneira mais elevada que se pode imaginar, com o respeito profundo e devoto, com um espírito submisso, respeitoso, contemplativo. É algo que aprendemos deve cedo, e está em todo coração católico, até mesmo naqueles que pouco conhecem da Palavra de Deus. É um sinal de que o respeito pela Bíblia entrou no coração de todo fiel cristão católico.

Então, o pastor Tiago vem nos dizer que é necessário ler a Bíblia, mas não de qualquer maneira. Bravo! E mais adiante, concede que os protestantes têm que aprender com os católicos a contemplar a Bíblia. Ponto pra ele!

A Bíblia contemplada, mas também compreendida. Nada mais católico. E o protestante é ensinado a buscar isso. Nada mais correto. Assim, temos que dizer que esse ensino é puramente nosso, e se o autor tem, a partir do seu elogio de Lutero, a nos ensinar a tornar a Bíblia como autoridade para nossas vidas, podemos afirmar que isso é patrimônio católico, já muito bem compreendido, que está contido no DNA do ser católico. Quando se toca a verdade, encontramo-la sempre no ensino da Igreja. Ou seja, todas as verdades que encontramos são ensinadas pela Igreja, e a Igreja concorda com ela.

Mas, há algo que o protestante não compreende. É preciso abrir os horizontes, é preciso entrar no lugar sem fronteiras, é preciso adentrar na imensidão da verdade, que não depende de nós, e que nos vence, quando a encontramos, é preciso ter o coração católico, universal, aberto à verdade. De modo, compreendemos tudo.

Então, citando DeYoung, o pastor tem uma crítica. Parece até que o católico crê na Bíblia porque crê no que a Igreja pronuncia sobre ela. Não é verdade. Não é o pronunciamento da Igreja que faz a fé na Escritura. Na verdade, foi a Igreja que nos deu a Escritura, e que nos apontou o que é a Escritura, onde está a Escritura, qual é a Escritura, e nos definiu qual o conteúdo dela, quais livros a compõe. É pela Igreja que sabemos que na terra tem um livro inspirado por Deus, que nos ensina a verdade da salvação, e que esse livro foi denominado Bíblia. É a Igreja que nos apresenta a Bíblia.

Dessa forma, quando a Igreja nos afirma que “eis” a Palavra de Deus, esse pronunciamento não é maior que a Palavra, mas nos diz: aqui está a Palavra. Não podemos ter dificuldade pra crer nisso. É evidente.

Outra coisa, e que tem o mesmo sentido, é que os pronunciamentos doutrinais que a Igreja faz, tirados da Palavra, não podem ser maiores que a a Palavra, pois são idênticos em autoridade, pois são a própria Palavra explicada. Se isso não é assim, então não se pode saber o que se está afirmando como doutrina cristã.

Crer na Bíblia sem crer no que ela ensina, ou sem conhecer qual o seu conteúdo, ou sem reconhecer que o que a Igreja diz sobre ela é o mesmo que ela está ensinando em suas páginas, e que está simplificado e explanado para que o coração e a mente dos fieis estejam repletos do ensino bíblico inspirado por Deus, é o mesmo que não crer na Escritura.

Não pode existir a dicotomia “Bíblia e o que se diz sobre a Bíblia”. O que se diz sobre a Bíblia, desde a origem do ensino com Cristo e os apóstolos, é o mesmo conteúdo da Bíblia. O que se diz da Bíblia, em cada ensino, é o que a Bíblia traz, em seu conteúdo. Portanto, crer no dogma da Trindade é crer que a doutrina da trindade é ensino bíblico, e não tem autoridade porque alguém proclamou, mas tem autoridade porque Deus revelou, e por esse motivo a Igreja de Deus proclamou. A dicotomia que se faz, como indicado acima, é espúria, e assenta-se sobre erro de compreensão da verdade. É um erro epistemológico, é um erro que se funda numa falsa concepção da visão católica sobre a Escritura. Esse erro deve ser corrigido para que se compreenda que o pronunciamento da Igreja funda-se na autoridade de Cristo, que lhe conferiu autoridade, e está na Palavra inspirado por Deus, a Bíblia, e por isso é Palavra de Deus.

Por isso que a orientação da Igreja é o que a Bíblia ensina. Não existe uma “orientação” eclesiástica que se separa da orientação bíblica, como se uma coisa fosse diferente da outra. Ninguém crê na Bíblia como algo abstrato, sem conteúdo, sem um credo a ser conhecido, sem um ensino a ser crido. Todos temos esses ensinos na Bíblia como pronunciados, muitas vezes, pela Igreja. O contato do católico com a Bíblia se dá pela autoridade de Deus nela, e porque a Igreja assim nos ensinou. Isso não depende da Igreja, é a Igreja que está fundamentada na Palavra o que lhe confere autoridade.

O católico não crê na competência de “uns” poucos lerem a Bíblia e interpretá-la para os demais, como se o Magistério fosse um conjunto de peritos com capacidades diferentes dos demais mortais para compreender a Bíblia e repassar o conhecimento aos outros. Isso não existe. Isso é compreensão protestante a respeito do ensino católico sobre o magistério, e não o magistério como a Igreja Católica compreende.

Se todo simples cristão tem certo método correto para entender facilmente a Escritura para ser um cristão fiel, por que isso é negado aos católicos? Por que afirma-se que os católicos não compreendem a doutrina bíblica capaz de tornar uma pessoa um cristão fiel? Não é a doutrina que se ensina? Por que nem todos encontram-na assim tão perspicazmente ensinada nas páginas sagradas? Se os católicos não a encontram, é porque não é tão perspicaz! Falta a iluminação interior do Espírito? Então é necessário ter o Espírito Santo. Correto. Alguém nega que nós católicos não lemos a Bíblia no Espírito Santo que a inspirou? Vemos que essas questões nascem da problemática da perspicuidade da Bíblia.

A perspicuidade da Escritura ensina que o ensino salvífico é simples e pode ser entendido facilmente por todos que a leem. E essa leitura onde todos são responsáveis e capazes de fazer e compreender, de interpretar a Bíblia por si mesmos, acrescenta o pastor, na citação de DeYoung, que essa leitura deve ser feita “não fora da comunidade”, ou seja, não fora da Igreja, não com ideia preconcebida, não com opinião pessoal, podemos dizer.

Ainda, afirma que não pode a leitura sem feita “sem atenção à história, à tradição ou ao conhecimento acadêmico”. Esse é o ensino protestante, implícito na afirmação que se faz da perspicuidade da Escritura. E por último, a citação diz que ninguém deve ser forçado a ir contra sua consciência.

Pois bem. O ensino da perspicuidade é que o fiel deve ler a Escritura e pode compreendê-la, desde que leia com fé, no Espírito, em atenção ao ensino que se aprende na Igreja, que foi cristalizado na história, está presente na tradição, e de acordo com os estudos acadêmicos cristãos. E ainda, ninguém pode força alguém a ir contra a consciência. Isso nada mais é que o ensino católico! Parece estar ensinando algo novo, mas é o mesmo que a Igreja Católica ensina contra a mesma tese do livre-exame e da perspicácia da Escritura. Tudo o que a Igreja está dizendo ao criticar esse ensino protestante, e para ensinar o que o protestante está afirmando de outra forma quando explica o que é a perspicuidade da Escritura. É algo complicado entender isso.

Por isso, a Igreja Católica tem a teologia bíblica na mais alta conta. Até a filosofia deve estar sob a orientação da teologia. A inteligência está no cerne do estudo católico. E é isso que o protestante procura ao ensinar que se deve compreender a Bíblia, e não lê-la de qualquer jeito.

Lutero ensinou que todos podem compreender a Bíblia? A Igreja Católica ensina isso, e sempre ensinou, apenas afirmando, de modo mais claro, que todas essas coisas acima são indispensáveis: que seja lida na Igreja, conforme a tradição apostólica, de acordo com a ciência bíblica e não segundo interpretação particular. É algo que se deve aprender.

Gledson Meireles.

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