O pastor Granconato afirmou que Santo Agostinho e Santo Irineu são seus santos padroeiros. Como entender essa afirmação do pastor e como tirar lições para o sentido da nossa devoção aos santos?
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
quarta-feira, 9 de dezembro de 2020
Livro sobre o Catolicismo: comentário - parte 1
Notas sobre o livro:
NOGUEIRA, Rafael. O Catolicismo Romano e a Bíblia. São
João del Rei-MG, 2012.
Introdução
O autor é ex-católico que logo na juventude ouviu uma mensagem que o afastou da Igreja. Afirma que serve a Deus “em uma Igreja Evangélica”, e seu livro tem objetivo de dar oportunidade para os católicos escolherem no que querem crer.
Sua vontade foi
de produzir um livro apologético para uso dos protestantes e também para
leitura dos católicos, e acredita que o Espírito Santo o auxiliou em sua
tarefa, o que mostra sua sinceridade. Nas páginas que seguem abaixo serão
estudados os argumentos do autor e mostradas as verdades da doutrina católica.
Certamente, o que o
autor afirma é uma verdade: difícil é tomar decisões e fazer escolhas. Imagine
o próprio autor lendo as seguintes páginas e revendo sua base de fé e
encontrando pelo menos um argumento que o deixe sem resposta, e que se torne
ocasião para procurar responde-lo, e que dessa forma prepare sua entrada na
santa Igreja Católica? É uma possiblidade. Muito difícil, porém. Para aqueles
que não querem pensar e refletir, isso é um obstáculo quase intransponível.
Humanamente falando não se pode esperar muito, mas o Espírito Santo sopra onde
quer.
Entrar pela porta
estreita para trilhar o caminho de Jesus (cf. Mt 7, 13-14) na Igreja Católica é
a mais espetacular decisão. Não é fácil, certamente, porque exige carregar a
cruz e seguir Jesus de uma forma singular: na Igreja que guarda o depósito da
fé. Isso será mostrado no estudo a seguir.
Para os que lerem o
breve estudo do livro O Catolicismo
Romano e a Bíblia terão oportunidade de examinar os dois lados e
certificar-se se está na fé (cf. 2 Cor 13, 5).
De fato, não é apenas
uma leitura da Bíblia e de achados cruciais da doutrina salvação que irão
decidir o futuro do leitor. Isso é fundamental, mas claramente todos concordam
que haverá mudança de parecer e de vida para acomodar-se ao Evangelho. E cada
um está certo de que não pode estar em qualquer religião e qualquer igreja.
Muito menos permanecer na irreligião. Por isso, a atitude após conhecer a
verdade mostra os frutos de arrependimento.
O leitor será capaz de
perceber que a doutrina da Igreja Católica é a doutrina de Jesus, é a própria luz
para o nosso caminho (cf. Sl 119, 105).
O autor afirma que
confrontou a doutrina da Igreja Católica com a Bíblia de forma simples e
humilde, e que o uso dos textos bíblicos feito pelos católicos está errado. O
leitor terá oportunidade de verificar isso, de forma bastante resumida, mas que
o Senhor Jesus queira que seja o suficiente para suscitar o desejo de continuar
o estudo da Palavra de Deus.
Capítulo
1: A Sagrada Tradição
A Igreja Católica não
ensina que a é permitido propor novas doutrinas, nem que a revelação continua,
mas que com a morte do último apóstolo a revelação oficial de Deus foi
encerrada e não há mais doutrinas a serem reveladas. Esse ponto é o primeiro
que se deve ter em mente, e para quem leu o livro que está sendo analisado aqui
verá que ele afirma que a Igreja ensina que tem autoridade de propor novas
doutrinas, o que não é correto.
O que a Igreja Católica
faz é estudar a Escrituras e tradição apostólica e definir as verdades já
reveladas, em tempos que exigem isso, esclarecendo-as. Isso todas as outras
igrejas protestantes também o fazem, de alguma forma, pois sempre estão
trazendo novas luzes no entendimento de certas verdades. Um exemplo disso é a
interpretação feita pelo dispensacionalismo. Algo recente.
Outra divisão é aquela
de erros e heresias, onde os erros doutrinais não teriam a gravidade de afetar
a salvação, o contrário das heresias. Também recente. Essas coisas não fariam
da palavra de homens uma autoridade acima da Palavra de Deus?
Onde está na Bíblia a
doutrina do dispensacionalismo que divide a Palavra de Deus aplicando versos
bíblicos a Israel e à Igreja como sendo de diferentes dispensações? Onde está
escrito que o batismo deve ser feito apenas a partir de certa idade, e que é um
testemunho público de conversão? Não são esses entendimentos da tradição
protestante? Pense nisso.
Esses entendimentos e
interpretações existentes no interior do Protestantismo mostram que todas as
igrejas estão de certo modo propondo novas interpretações da Bíblia para os
fieis, e que essas formulações têm influências na vida espiritual de salvação
daqueles que creem nelas.
Uma correção: os
sucessores dos apóstolos não são somente os papas, mas todos os bispos. Isso
não significa que todos são apóstolos, mas que levam historicamente e
doutrinariamente a mesma mensagem que Jesus e os apóstolos ensinaram.
Para o protestante a
tradição está agora escrita na Bíblia e não existe mais outra fonte. Por isso,
o que lê em 1 Cor 11, 2 e 2 Ts 2, 15 é entendido por “tradição” como o que já
foi escrito. No entanto, toda a revelação suficiente para a salvação está na
Bíblia, e o que foi deixando na tradição é uma luz interpretativa das
Escrituras, mostrando que o que foi ensinado desde o início permanece hoje. A
Bíblia não pode ficar à mercê da interpretação humana, e por isso a tradição
mostra como ela foi entendida desde os primeiros dias. As heresias que surgem
são facilmente detectadas quando se faz um estudo da fé cristã desde os dias
apostólicos. Veja como a Igreja que Jesus fundou ensina o evangelho em todos os
séculos. Pense nisso.
A verdade está completa
e ao alcance de todos, mas os bispos devem zelar pelo rebanho (cf. Atos 20,
28). Aí está a necessidade do magistério.
Esclarecendo um
mal-entendido. O caso do celibato não se trata de nova revelação. Não é uma
doutrina recente, mas uma disciplina antiga da Igreja. O autor aponta a data de
1074 como instituição do celibato e pergunta por que não foi aplicado antes?
Será que isso surgiu como revelação de doutrina nova em 1074? A resposta
simples é não.
A verdade é
fundamental, e está na Bíblia, desde o tempo de Jesus. O que a Igreja faz é
fazer normas disciplinares que contemplem o ensino do evangelho. E para isso a
Igreja tem autoridade, porque faz essas normas baseadas na verdade.
Dessa forma, como Jesus
e os apóstolos foram celibatários, e existe o dom do celibato, principalmente
para os que ocupam-se com as coisas do Senhor, como revelado nas Escrituras, a
Igreja desde o início tem com grande afeição esse estado de vida, e a tradição
mostra que a tendência foi de sempre optar pelo clero celibatário.
A Igreja tem autoridade
para adotar certas disciplinas, como essa que tem respaldo nas Escrituras e
ajuda a melhor servir a Jesus, como fez e aconselhou, inspirado pelo Espírito
Santo, o apóstolo São Paulo.
Sobre
o carisma da verdade
Será que as igrejas
protestantes reconhecem que a Igreja Católica possui a verdade do evangelho da
mesma forma que elas? Se a resposta for sim, não há porque continuar a análise.
Se a resposta for não,
então isso afirma que as igrejas protestantes possuem a verdade. Afirma que só
essas igrejas estão cumprindo a missão de zeladoras da verdade cristã. Por
isso, não podem afirmar que o Catolicismo é exclusivista.
Quanto à afirmação de
que a revelação tem caráter gradativo. Essa afirmação é feita por estudiosos
protestantes que estão interpretando documentos católicos, e não pelos próprios
documentos católicos, pois a Igreja afirma que a revelação foi fechada com o
Apocalipse, o último livro da Bíblia.
Mas, afirmam isso
citando o seguinte trecho do documento Dei Verbum: “Com efeito, progride a
percepção tanto das coisas como das palavras transmitidas, [...] com a sucessão
do episcopado, receberam o carisma da verdade. Isto é, a Igreja, no decurso dos
séculos, tende contìnuamente para a plenitude da verdade divina, até que nela
se realizem as palavras de Deus.” (Concílio Vaticano II, Dei Verbum, parágrafo
8)
Vamos estudar esse
parágrafo, fazer uma exegese dele, e depois voltar à interpretação acima e
comparar, vendo se ela está correta ou não.
O documento Dei Verbum, no parágrafo 8, inicia
ensinando que a “pregação apostólica” é expressa especialmente na Bíblia. Isso
mostra que a verdade que os apóstolos ensinavam oralmente foi escrita! Isso
mesmo, foi expressa na Bíblia de modo especial, porque está ali registrada por
inspiração do Espírito Santo.
Então, afirma que tudo
o que os apóstolos ensinaram contribui para o crescimento da fé do povo de
Deus, e que a Igreja continua na sua doutrina, vida e culto a ensinar o que
acredita. Muitas coisas que são tidas na liturgia e nos costumes, por exemplo,
são de origem apostólica. Não foram escritas na Bíblia, mas praticadas desde o
princípio, e foram assim consideradas. Os escritos patrísticos mostram, por
exemplo, que o batismo perdoa os pecados, e que as crianças eram batizadas.
Isso é um fato. Também é fato o reconhecimento de que isso é de origem
apostólica. Portanto, a tradição de batizar os bebês, uma prática que foi
deixada por correntes que interpretam diferente o texto bíblico.
Depois, o texto do
documento Dei Verbum explica que a
tradição apostólica progride. Como entender? É só continuar a ler o documento,
que mostra que se trata da progressão da percepção dos crentes, através da
contemplação e estudos, por exemplo, dentre mais outras coisas. A plenitude da
verdade divina tem a ver com a compreensão da Igreja, e não com o progresso da
revelação. Tudo está revelado, mas a Igreja vai crescendo no conhecimento.
Alguém nega isso?
Como entender então o
dispensacionalismo ensinado por tantos grupos, que não era assim ensinado
século atrás? A própria doutrina da salvação pela fé recebeu tantos enfoques e
cresceu tanto em entendimento que não é possível que os primeiros cristãos
tivessem noção dessa verdade como tem um teólogo protestante, fazendo distinção
entre justificação – forense e santificação, por exemplo.
Então, ensina a
Constituição Dogmática Dei Verbum que
pela tradição conhecemos os livros sagrados, a Bíblia. De fato, para esse
conhecimento perfeito foi necessário muito tempo. Não há como negar. E
continuar: “e a própria Sagrada Escritura entende-se nela mais
profundamente”.
Ou seja, a Bíblia é mais entendida enquanto a Igreja caminha na história.
Assim, quando se diz
que “introduz os crentes na verdade plena” não se fala de outra
revelação, de nova doutrina, mas na maior compreensão de passagens bíblicas.
Muitas coisas podem ser
ditas. Por exemplo, há os que creem que os dons do Espírito Santo como foram
revelados em Pentecostes continua na Igreja, enquanto outros, usando a Bíblia,
afirmam que não. Isso porque seguem tradições diferentes. Se o texto bíblico
fosse totalmente claro, não teriam dúvidas. Mas, afirmam que essas coisas não
afetam a salvação, mas que as diferenças com o catolicismo afetam! Quem separou
as doutrinas que podem ser divergidas, que são erros e não afetam a salvação ou
que são heresias e que afetam a salvação? Foram intérpretes, pois a Bíblia não
possui tal lista.
Em quem você crê, na
Bíblia e na tradição apostólica que mostra o que é importante e o que não é, ou
em tradições recentes que interpretam a Bíblia da outra forma como
exemplificado acima? Isso serve para mostrar que devemos seguir a Bíblia em sua
imutável verdade.
Os cristãos em geral
interpretando a Bíblia não possuem a infalibilidade. Assim, caem em muitos
erros. Dessa forma, devemos ter maior certeza, como Jesus quer que tenhamos.
Respondendo aos
argumentos. O número 1 não é forte, já que o cânon judaico, historicamente
comprovado, foi fechado em fins do século 1.
O argumento 2 também
não conclui nada, já que para alguém que não crê nas Escrituras, qualquer que
seja o livro, encontrará “argumentos” contra supostas lendas, erros e etc.
O argumento 3, de que o
anjo mentiu, isso não está conscrito nos parâmetros bíblicos, que não tem a
passagem como mentira. De fato, o anjo revela sua identidade depois. Homens de
Deus também mentiram, embora não tenham pecado por isso, como Abraão, que
mentiu sobre Sara, temendo a morte. Ver as circunstâncias e como fato é tratado
pela Escritura. Os demais argumentos são respondidos em bons sites apologéticos
(ver: apologistas católicos).
A tradição é o único
meio para conhecer o cânon. Como julgar a tradição de ter inserido livros
apócrifos quando se adota a tradição para defender um cânon mais restrito?
A respeito da
intepretação da Bíblia, é sabido que não há lugar no Protestantismo para
interpretar a Bíblia contra o sentido dos cinco solas, por exemplo. Não há como
um protestante interpretar a Bíblia e ser aceito se ele vier a ensinar
doutrinas que contrariam o Protestantismo histórico.
A Bíblia em si não
depende de nada para se manter, pois é a Palavra de Deus. Para a entendermos
bem é que a tradição e o magistério funcionam. Assim, a tradição e o magistério
protestante estão sempre explicando as Escrituras para os fieis.
Capítulo
2: Sobre o papado
A pedra da Igreja é
Cristo. O papa é a pedra em um sentido diferente, e ele não tem pessoalmente o
dom da infalibilidade em tudo o que diz. Também não é um apóstolo, nem é
inspirado como os apóstolos foram para escrever a Bíblia. Então, a questão do
papado é bem diferente do que muitos pensam.
Quanto à intepretação
do texto de Mateus 16, 18, ele é bem claro quanto a tratar-se da Pedro. Não há
como negar. Por isso, as refutações breves dos argumentos: Jesus não disse
“sobre ti edificarei a minha Igreja” porque Ele estava dando um novo nome da
Simão, e esse nome era Pedro, que na língua falada por Jesus é Kepha, o mesmo que pedra. Jesus
pronunciou duas vezes a mesma palavras: Tu é Kepha e sobre esta Kepha... O
grego traduz Petros e Petra, inspirado pelo Espírito Santo, sem introduzir
qualquer novidade, apenas modificando Petros para adequar-se à regras
gramaticais para nomes em grego, que terminam em regra por as, es, is, os, us.
E o termo Petros tem o mesmo sentido de petra
em muitos contextos. O termo kephas
não está no texto grego porque é uma palavra aramaica, mas está na passagem,
porque é o original que Jesus utilizou, que por isso foi algumas vezes
transliterado para o grego como Cefas, como está em outros livros do Novo
Testamento. Jesus falou em aramaico,
e somente depois o evangelho foi escrito em grego
trazendo os termos petros e petra para traduzir kephas. Esse argumento é irrefutável.
Jesus é a Pedra em
sentido diverso, mais profundo, fundamental, absoluto. Pedro é pedra como chefe
da Igreja em seu aspecto ministerial.
O contexto imediato
mostra Jesus referindo-Se somente a Pedro, e não a pequena ou grade pedra, já
que Ele falava aramaico e somente um termo foi usado no idioma original. Já no
grego também tudo se refere a Pedro naquelas palavras de Jesus.
Pode haver duas pedras?
Sim, se forem em contextos diferentes. Assim, os apóstolos são o fundamento da
Igreja em Ef 2, 20, ao mesmo tempo que Jesus é o fundamento da Igreja em 1 Cor
3, 11, e Pedro é o fundamento da Igreja em Mt 16, 18. São contextos diferentes.
Na interpretação do
livro, Pedro seria pedra no sentido de representar os demais cristãos. Isso de
alguma forma mantem o fato de que Pedro é pedra, pois contra fato não há
argumento. No entanto, o contexto mostra que Jesus chamou Simão de Pedro para
edificar Sua Igreja, e não apenas para fazê-lo primeira pedra ou pedra de
representação. Tudo isso pode ser entendido a partir do fundamento pedra, que
na passagem de Mateus 16, 18 é Pedro.
As chaves do reino são
símbolo de autoridade espiritual para governar a Igreja como chefe visível.
Pedro, em primeiro, depois o colégio apostólico junto dele. Não se trata de
chaves literais para admitir ou expulsar, mas para bem governar a igreja.
O autor reconhece que o
Papa não pode fazer doutrina e impor à Igreja. Correto. Reclama, porém, que o
poder do papa não pode ser questionado. Claro, pois Jesus afirma que Pedro é o
pastor das ovelhas e carneiros, o que mais poderia ser esperado dos cristãos
obedientes a Cristo? Se o papa não impõe novidade, ele tem poder na verdade. E
assim, deve ser obedecido. Não pode ser obedecido se ensina algo contrário ao
que Jesus ensinou. O poder vem de Cristo, mas é exercido pelo colégio
apostólico com Pedro, ou seja, os bispos em união como papa.
O papa não pode ensinar
nada que não seja bíblico e que tenha respaldo na tradição. Os cristãos nunca
foram permitidos escolher o que crer, pois isso é ser herege. Então, analisar
tudo e ficar com o que é bom tem a ver com revelações particulares, profecias
particulares, e não com a doutrina bíblica pregada pelos apóstolos. Assim, os
bereanos de Atos 17, 11 não eram cristãos ainda quando examinavam as
Escrituras, mas judeus que ouviam a pregação a respeito de Cristo. Quando
converteram-se criam tudo o que os apóstolos pregavam, com obediência.
A infalibilidade da
Igreja é entendida como a promessa de Cristo de que as portas do inferno não
prevalecerão contra ela. O erro e a heresia são do inferno, e por isso não pode
entrar na Igreja Católica e ser estabelecido por ela para todos crerem. Assim,
a Igreja é infalível porque está ancorada em Jesus Cristo.
Agora, uma resposta
rápida às questões finais do capítulo: o Catolicismo segue o original bíblico
para fundamentar a doutrina do primado de Pedro; o apóstolo Pedro inegavelmente
tinha primazia entre os apóstolos; o papa tem poder sobre a Igreja como
ministro, incumbido dessa missão por Jesus, na pessoa de Pedro; as indulgências
não foram consideradas pecado, mas o abuso das indulgências, a venda delas, é
que foi pecado grave; a Igreja é infalível, por promessa de Cristo, os
apóstolos eram infalíveis, para escrever e pregar o evangelho. Não eram
impecáveis, o que é outra questão; o poder das chaves é autoridade de governo
espiritual na Igreja.
Capítulo
3: Sobre a Igreja
Se o reino de Deus
está, hoje, dentro de nós, identificando os cristãos já se tem acesso onde está
o reino. Jesus afirmou que esse reino não é temporal, mas espiritual.
Não se pode afirmar que
a Igreja seja apenas um sistema, mas que é uma sociedade, pois se trata de
pessoas. Isso mesmo. No entanto, há um corpo de verdades que essa sociedade
tem, e que deve ser guardada. Quando se fala de Igreja Católica há uma
sociedade que professa uma fé, e essa deve ser crida, preservada e anunciada.
Por isso, é inócuo
afirmar que não é membro de sistemas, instituições, mas da Igreja viva de
Cristo, pois todos temos um credo para professar, regras para viver, e etc.,
que fazem parte dessa vida cristã.
Por isso, fazer parte
do corpo espiritual de Cristo é ser Igreja viva, visível, operante, que vive o
evangelho, os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus, nesta dispensação
final da Igreja de Jesus.
A Igreja é aquela que
se submete à Palavra de Deus. Correto, pois sabemos que a única Igreja foi
fundada por Jesus Cristo.
Por que não há uma
Igreja de placa, física, visível? A resposta está simplesmente porque a Igreja
é única, e sendo assim não há necessidade de placa etc. Nomes servem para
identificar, entre iguais, mas a Igreja não recebeu um nome próprio porque é
única. Ela tem notas, como a universalidade (católica), santidade (doutrina
santa pelo fundador Santo), apostolicidade (pela pregação dos apóstolos) e
unidade (unida na mesma fé). As notas são mais eficazes que os nomes. Fazer
parte da Igreja de Cristo já é estar na religião de Cristo, no cristianismo
histórico, no sistema religioso cristão, na instituição Igreja, etc.
Por isso, quando Jesus
deixou a Igreja, que deve aprender do Seu evangelho, ser batizada, orar sem
cessar, reunir-se em Seu Nome, celebrar a Ceia do Senhor, obedecer os
mandamentos, zelar pelo próximo, cuidando dos órfãos e viúvas, viver em
comunhão, esperar a consumação do reino, e etc., já estava mostrando o que era
a Igreja: uma sociedade espiritual. Basta entender a pequena semente de mostarda
se tornando grande árvore. Aí está o sistema religioso Jesus Cristo. É muito
simples.
Capítulo
4: Sobre a oração aos santos
Os protestantes não
oram aos santos. Caso entendido. No entanto, o que entendem sobre isso? O livro
tem a afirmação de que os mortos deixam de fazer parte do corpo de Cristo, mas
não da Igreja. O que é problemático é que a expressão corpo de Cristo não quer
dizer algo temporal, físico, natural, mas algo sobrenatural, e que significa a
Igreja. Então, a afirmação está errada.
Falando de Jeremias 15,
1 e Ap 6, 9, afirma, desse último texto,
que os ali referidos não são santos, mas os que chegaram da grande tribulação.
Na verdade, o autor esqueceu que todos os cristãos são santos, e de modo
especial os que morreram por Cristo. Então, o texto fala de santos.
De forma breve pode-se
afirmar que a intercessão dos santos no AT não pode ser igual à do Novo porque
os santos estavam no sheol, e não no
céu, como estão agora. A morte tinha um destino diferente, por isso o
Apocalipse afirma que felizes os que de agora em diante morrem no Senhor. Outra
coisa, se não aparece os apóstolos orando aos santos que já haviam falecido no
Novo Testamento não é prova contrária, é apenas um silêncio, e do silêncio não
se pode formular uma lei. Outros fundamentos na Bíblia mostram a intercessão
dos santos.
Para que mais
intercessores? Essa pergunta é como se a ajuda dos santos do céu fosse
supérfluo. Os santos não são ídolos, mas servos do Deus Altíssimo.
A ideia de que o corpo
de Cristo é apenas para os cristãos na terra não tem respaldo bíblico. Da mesma
forma a Igreja é chamada de noiva de Cristo, e no Apocalipse a noiva que subiu
ao céu desce à terra transformada. Essas imagens e metáforas para se referir à
Igreja são válidas, esteja a Igreja na terra ou no céu. Parece que esse
argumento usado no livro não é bíblico.
Pelo que foi visto até o momento, o autor ignora muitas coisas da doutrina bíblica, e por isso não as compreende.
Gledson Meireles.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2020
A virgem Maria: mais comentários
Outro
comentário a respeito do livro O papado e
o dogma de Maria.
Parte
1:
O pastor afirma que o culto a Maria é uma desonra, uma ocasião de pecado, e que
foi introduzido na Igreja depois que levas de pessoas não-convertidas entraram
no cristianismo. Em primeiro lugar, o culto a Maria é reconhecer sua grandeza
como mãe de Cristo, serva de Deus, modelo para a Igreja, que tem-na, a exemplo
de Cristo, como mãe. Então, o culto a Maria só pode honrá-la. Ainda, com o
Edito de Milão não houve conversão em massa, mas as mudanças que ocorreram
foram aos poucos facilitando as conversões, mas não há qualquer alusão de que a
mariologia como a conhecemos hoje tenha sido gerada pelos motivos acima.
A respeito do título
mãe de Deus como relacionado à frase inspirada e bíblica de mãe do meu Senhor,
tudo está muito claro quando se tem em conta que o Senhor ao qual Isabel tinha
em mente era o Deus de Israel, e que o Espírito Santo referiu-Se ao Filho do
Altíssimo, sendo também da mesma natureza do Pai. É por isso que sendo o Filho
o mesmo Deus, Maria é de certa forma Sua mãe. E qual forma é essa? A da
natureza, que é o meio da humanidade de Maria em relação a Cristo. Ela não é
mãe da natureza de Cristo, mas mãe da Pessoa de Cristo segundo a natureza
humana.
A ideia de que Maria
ser mãe de Deus implica em que ela precedeu a Deus não é doutrina cristã
católica. O autor parece não conhecer isso.
A doutrina da imaculada
conceição está de acordo com a Escritura pois ensina que Maria é filha de Adão,
e foi preservada do pecado, o que é o mesmo que salvação, e essa salvação foi
efetuada pelo sangue de Jesus Cristo. A explicação de que Jesus é semente da
mulher por si só não explica o motivo dEle não ter sido gerado com pecado
original. Por isso, a Igreja foi tomando consciência de que Deus agiu na pessoa
de Maria purificando-a totalmente para afastar qualquer pecado da mãe do
Senhor. Ela foi salva por Deus (cf. Lucas 1, 47).
Diz o pastor que os
apóstolos não oraram a Maira e nem falaram de Maria. Esse “silêncio” seria uma
reprovação ao culto mariano. Mas, pelo contrário, quando há silêncio significa
que o assunto em questão era pacífico e não o contrário. Muitas doutrinas que
não mereceram atenção são aquelas das quais não havia dúvida alguma. Isso
porque a maior parte do Novo Testamento foi escrita para tratar de questões
controvérsias.
Interessante que para
falar contra a virgindade perpétua de Maria, o pastor usa 1 Coríntios 7, 5,
como se não ter relacionamento conjugal fosse “desobediência” a um mandamento
divino, quando o texto não diz isso, pois é dito que os casais devem ter
momentos de privação do direito conjugal para oração, e não devem ficar assim
por muito tempo porque ficariam à mercê das tentações do Demônio, e não porque
Deus havia ordenado que devessem voltar a unir-se.
Também, primogênito não
significa um entre outros, mas o primeiro gerado, somente isso. Caso seja filho
único, continua sendo primogênito.
Por isso, afirmar que
“há provas” na Escritura de filhos de Maria não é correto.
Outra questão é que a
palavra usada para primo é anepsios,
e que isso provaria que os irmãos de Jesus não eram primos, é uma questão
inócua. Isso já foi discutido em outro artigo, que prova que Maria não teve
outros filhos.
A respeito do dogma da
assunção, deve-se entender toda a questão sobre a imaculada conceição e suas
implicações, as referências bíblicas a respeito de Maria, e as afirmações
históricas. Maria foi elevada ao céu.
Parte
2:
A primeira observação que o pastor faz da anunciação do anjo Gabriel à virgem
Maria (cf. Lucas 1, 28) é que a escolha de Maria teve origem na graça de Deus e
não em mérito dela. Essa observação não deve causar nenhuma estranheza para o
católico, já que tudo o que a Igreja Católica ensina é justamente que Deus é a
fonte de todo o bem e de toda graça, e portanto a virgem Maria foi escolhida
por Deus, preparada por Ele, para ser a mãe do Salvador, e não que ela tenha
tido mérito para oferecer a Deus para isso. Aliás, o mérito que ela tinha era
efeito da graça, que Deus concedeu para fazê-la participante do mistério da
redenção, como mãe do Redentor.
Depois, o reverendo
chama a atenção de que a ênfase do anjo estava na criança, em Jesus, e não
Maria. Essa constatação é tipicamente protestante, e tem como objetivo mostrar
ao católico, especialmente, que a Bíblia não oferece base para venerar Maria, e
que esse é o ensino bíblico. Não há o que objetar de forma especial sobre isso,
já que a mensagem do anjo era a encarnação de Jesus, e nada mais natural que a
ênfase seja Jesus em toda a passagem. No entanto, o que a Igreja também
observa, e todos os santos doutores falaram disso, é que Maria é chamada por um
nome diferente, que é traduzida do latim como cheia de graça, ou como
agraciada, como preferem as traduções protestantes e mais modernas, a partir do
texto grego.
Isso mostra que esse
nome revela uma característica da virgem Maria, mostrando sua singular bênção,
recebendo já de início a plenitude da graça. O anjo a saudou, como não havia
feito em outras aparições. Por causa de Cristo veneração Maria.
Falando sobre Lucas 1,
38 o pastor lembra que Maria escolheu o título de serva, que não quis ser uma
sócia de Deus, nem igual a Deus, mas Sua serva. Para o católico tais palavras
não trazem nenhuma novidade, pois cremos que Maria é a serva de Deus por
excelência, de serviu o Senhor de modo tão sublime que na Igreja é a primeira
cristã, a primeira criatura modelo de fé para os irmãos de Cristo. É ainda a
mãe da Igreja, que é espiritualmente o corpo de Jesus.
Por fim, entre outras
coisas que não estão em contraste com a doutrina católica, o pastor observa que
Maria não é bendita acima das mulheres, mas entre as mulheres. Ele quer dizer
com isso que Maria não é diferente das demais mulheres de todo o mundo.
Mas, observe que a
Bíblia afirma que Maria é bendita e que Jesus é bendito, e ninguém dirá que por
isso Jesus é tão bem-aventurado com todos os homens e não acima de todos os
homens! Portanto, antes de expressar opiniões, é preciso ponderar conforme o
texto sagrado. Maria é bem-aventurada entre as mulheres, de forma especial e
singular, o que a faz ser honrada entre todas as mulheres com maior honra,
porque é mãe do bem-aventurado Filho do Altíssimo.
Como segunda razão o
pastor afirma que na passagem a ênfase é toda sobre Jesus e não sobre Maria,
que Isabel destaca o Filho e não a mãe, que João Batista estremeceu por causa
de Jesus e não por causa de Maria, e que o personagem principal do encontro é
Jesus e não Maria.
Contudo, para o leitor
atento das Escrituras, a passagem mostra que Isabel honrou Maria logo que ficou
cheia do Espírito Santo, e mostra que João Batista estremeceu em seu ventre
assim que a saudação de Maria foi ouvida. O protestante dificilmente honraria
Maria dessa forma, raramente chega a tal ponto. Talvez a teologia protestante
previne desse nível de honra que a Bíblia apresenta sobre Maria. Ao invés de
trata-la com igual, Isabel a honra como maior. O leitor não deve deixar
despercebido que a saudação da virgem foi ocasião para que o Espírito Santo
santificasse o precursor e sua mãe Isabel.
No final dessa seção,
para enfatizar algo mais católico nas observações do reverendo, é preciso notar
que ele escreveu que Maria é campeã entre as mulheres, o que indicar sua maior
estatura na graça, embora não seja isso que o pastor tenha querido passar. Ele
transparece o desejo de mostrar que o protestante honra Maria, embora pelo que
foi expresso acima, essa honra ainda é equiparada àquela que a Escritura
oferece à mãe do Senhor.
Continuando, temos que
em Lucas 1,48 a virgem Maria proclama, inspirada por Deus, que ela será
lembrada em todas as gerações. Certamente, essa lembrança é feita pelos
cristãos. No que se refere à teologia protestante mais moderna, pouco lugar tem
sido dado à lembrança de Maria, o que se reflete nos cultos, nas pregações, nos
livros, nas conversas, e na vida de cristãos protestantes, que lembram de falar
de Maria quando pregam para algum católico, lembrando ao católico que ela é uma
mulher “qualquer”, (ou como o reverendo escreve eu seu livro “era apenas umas
mulher”), pecadora e salva por Deus, que teve filhos além de Jesus, que dorme
no pó da terra, que não tem poder, e etc. Essa é a visão popular criada no
Protestantismo para combater o culto de veneração à virgem Maria. Por essa via,
não se cumpre a profecia de Lucas 1, 48.
Esse cumprimento está na
Igreja Católica, onde a virgem Maria é lembrada sempre com os maiores louvores,
por um só motivo: ser a mãe Jesus.
Na frase do pastor:
“Seguir a orientação de Maria é de fato obedecer a Jesus” ele está seguindo,
sem o saber, o espírito da verdadeira Mariologia. O que falta é crer na
virgindade perpétua, imaculada conceição, assunção aos céus, e intercessão dos
santos. Fazendo isso de forma cristã, como ensina a santa Igreja, está honrando
a Maria biblicamente.
A respeito de Lucas 11,
27, onde as relações físicas são menores que as espirituais, deve-se responder
que certamente ninguém creu com tanta clareza em Jesus como Maria, e por isso
ela é a primeira crente. Portanto, é inevitável que, ao crer que Jesus é o
Filho de Deus alguém naturalmente venha a venerar Maria.
Maria era já repleta do Espírito Santo desde sua concepção, com maior ênfase na encarnação de Jesus, e foi mais agraciada com dons do Espírito no dia de pentecostes. Sua vida foi sempre cheia do Espírito Santo, ao contrário dos demais discípulos, que foram santificados depois. E, ainda, deve-se lembrar que Maria não teve outros filhos.
Gledson Meireles.
sexta-feira, 4 de dezembro de 2020
A mulher de Apocalipse 12 e algumas doutrinas da fé cristã
A interpretação comum tem sido explicar a mulher como imagem da Igreja. Isso, porém, não exclui a imagem de Maria, pois, como já explicado em outro artigo, a virgem Maria pode ser vista como símbolo e toda a Igreja nessa passagem, já que ela deu à luz o Filho que irá reger todas as nações. Por isso, é muito contra o texto negar isso.
Há uma interpretação protestante que afirma ser Israel a mulher dessa passagem. A Igreja não exclui outros significados, podendo interpretar esse símbolo como Eva, Israel, a Jerusalém Celeste, a Sinagoga espiritual, a Igreja, Maria.
Isso porque os sinais do Apocalipse podem ter mais de um sentido, como está em Ap 17, 9-10, onde as sete cabeças da fera são "sete montanhas" e também "sete reis".
Certamente, porém, a primeira interpretação, a mais natural, leva a Maria, pois ela é a mãe do Messias.
Os símbolos do dragão, da mulher, do filho, estão todos ligados a indivíduos. O dragão é Satanás, a mulher é Maria, o filho é Jesus. Muito simples. Mas, há quem afirme, por exemplo, que o dragão é Satanás, a mulher é Israel e o filho é Jesus, ficando apenas o símbolo da mulher como algo coletivo, o que desequilibra essa intepretação, já que os outros símbolos são individuais. Por isso, é melhor partir do literal para o espiritual, que é a correta interpretação, e que está conforme os dados bíblicos, oferecendo sentidos muito claros desses sinais.
Pode-se notar também
que a mulher no céu remete à assunção de Maria. As vestes de sol, a coroa de
estrelas, a lua debaixo dos pés, as asas da proteção, tudo lembra a graça de Deus que envolve a virgem
Maria, indicando a imaculada conceição, que exclui todo pecado, e a assunção ao
céu, depois de sofrer por amor de Cristo na terra.
Outra doutrina que pode ser lembrada, sem muito esforço, é que a mulher tem descendentes, como está no versículo 17. De fato, os filhos da mulher são os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus, mostrando que a mulher é sua mãe. Assim, temos que Maria é mãe da Igreja.
Gledson Meireles.