quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Crítica de R. K. McGregor Wright à doutrina do livre-arbítrio

Estudo do livro

A Soberania Banida – Redenção para a Cultura Pós-Moderna –  de R. K. Mc Gregor Wright – Editora Cultura Cristã – 1ª ed. 1998. Capítulo 2.

A crítica de McGregor Wright à teoria do livre-arbítrio

McGregor Wright lembra que é de suma importância definir os termos e não introduzir mudanças de sentido durante o tratamento do assunto antes de iniciar um debate.

De fato, isso é essencial, e muitas vezes optamos por usar de outros conceitos através de termos já conhecidos, o que pode causar problema e ser alvo de críticas dos eruditos. Além disso, o objetivo da discussão, que é esclarecer o assunto, fica prejudicado.

O autor afirma que as ideias principais da teologia protestante reformada devem ser demonstravelmente derivadas da Bíblia. Trata-se da intepretação da Bíblia feita pela ala reformada oficial e principal do Protestantismo.

No capítulo 2 o autor trata da doutrina do livre-arbítrio, e a chama de incoerente. Como exigiu no início, ele apresenta as definições dos termos, e afirma que “Pelo termo livre-arbítrio eu quero dizer a crença de que a vontade humana tem um poder de escolha com a mesma facilidade entre alternativas.”

O teólogo critica W. Shedd, influente autor calvinista, como propondo um calvinismo inconsistente, quando negando a indeterminação da vontade ensina algo que praticamente é idêntico ao livre-arbítrio ensinado pelos arminianos.

De fato, para o reformado o livre-arbítrio significa a capacidade invencível para fazer escolhas, sempre com a mesma eficácia, entre as alternativas, mesmo diante de influências, pois o livre-arbítrio pode escolher vencendo os fatores e prescindir deles.

Isso é o que o reformado entende sobre o livre-arbítrio. Então, afirma que para a teologia reformada o livre-arbítrio é apenas a função de desejar ou escolher, é a capacidade de fazer escolhas. No entanto, as escolhas são sempre determinadas, pois são sempre causadas, e não há possibilidade de qualquer evento finito ocorrer por acaso.

Nega-se que o livre-arbítrio seja auto-determinante ou autônomo, não causado por condições prévias, mas que uma vez que há condições causais anteriores isso é o mesmo que determinações, ou seja, se o livre-arbítrio funciona induzido, levado ou por lago, então ele é determinado por isso, e não há possiblidade de nada na criação ter autonomia e agir sem determinação prévia.

Pelas suas palavras, Wright entende que a mente apresenta elementos ao livre-arbítrio e ele pode sempre escolher, de forma neutra, apesar de quaisquer influências. Dessa forma, o livre-arbítrio não sendo causado deverá ser espontâneo, e assim não poderá agir e formar caráter.

Parece que MacGregor Wright vê o livre-arbítrio como uma entidade no homem, um poder autônomo que surge espontaneamente, e por isso não poderia ser controlado por nada, nem pelo próprio sujeito, nem por Deus. Assim, na sua objeção há que se a vontade é neutra ela não poderia agir, e se precisa de argumentos, evidências, razões, emoções para decidir, os próprios argumentos seriam ameaça ao livre-arbítrio, e não há como ser necessários se ele é neutro. Ainda, ensina que a cooperação não necessita de livre-arbítrio.

Por fim, pode-se afirmar que o livre-arbítrio, conforme a definição reformada, de acordo com Wright, é a capacidade da pessoa de expressar o seu caráter, agindo em harmonia com os elementos internos, como o intelecto ou mesmo com os hábitos e com as influências quaisquer que forem que venham a incidir sobre ele. Isso seria um tipo de liberdade determinada ou previamente causada. Tal é a posição reformada.

E a responsabilidade? Para o reformado a responsabilidade não é fundamentada no livre-arbítrio, que na verdade não existiria, mas em Deus como criador e ponto de referência moral, em nosso conhecimento e no propósito da glória de Deus. Isso significa que o homem não seria livre, mas por essas razões continuaria responsável por seus atos.

Diante disso podemos responder que, desde as primeiras páginas sagradas aprendemos que o homem e a mulher foram criados livres. Não há necessidade do termo livre-arbítrio aparecer, mas o fato mesmo do livre-arbítrio, em passagens bíblicas, para sabermos do que se trata, pois os fundamentos da doutrina que o texto ensina já são suficientes para que creiamos.

Assim, em Gênesis 2, 27 foi dito a Adão e Eva sobre a árvore do conhecimento: “mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente”.

Isso já supõe que Adão e Eva possuíam a capacidade de comer do fruto daquela árvore ou não, conforme quisessem, assim, como podiam compreender que deviam obedecer àquele mandamento, como também, caso fizessem o contrário, estar conscientes de que haveria um castigo.                                                                                                      

Por isso, o catecismo explica que a amizade com Deus só pode ser vivida com livre submissão. A prova está nessa passagem, que exprime a proibição feita ao primeiro casal humano. Eles eram livres para obedecer o mandamento e não comer o fruto, ou desobedecer e comê-lo. Não haveria razão para proibir algo a quem não pudesse ter capacidades para obedecer.

De fato, a doutrina católica ensina que o livre-arbítrio não significa a capacidade de escolher sem qualquer influência, o que pode-se escolher qualquer coisa sempre por si mesmo.

Ainda, somos conscientes dos nossos atos e de como eles são feitos. A mente é a causa, e não se deve procurar outro lugar. O livre-arbítrio age por motivos, e sempre é atraído ao que julga ser bom. É verdade que o mal não pode atrair nossa vontade, a não ser por erro, por juízo errôneo.

Também não significa que o homem está sempre exercendo o livre-arbítrio com toda a sua força, como também é verdade que não estamos sempre raciocionado sobre tudo o que vemos e fazemos, etc. No entanto, somos seres racionais, e do mesmo modo temos o livre-arbítrio.

Há muitas coisas que ocorrem espontaneamente, como fruto de hábitos, e são determinados por coisas anteriores. No entanto, é igualmente verdade que no curso normal do pensamento na consciência podemos escolher, impedir e iniciar outros pensamentos como atos verdadeiramente livres.

A escolha do motivo mais forte não é prova contra o livre-arbítrio, com já estudado aqui, mas é uma afirmação destituída de sentido, pois apenas significa que escolhemos o que escolhemos, o que não explica absolutamente nada, mas apenas descreve ato.

Por exemplo, entre um sorvete de morango e um de chocolate, se alguém escolhe o de chocolate ele escolheu o de chocolate! Nada mais, realmente.

De fato, a mente pode propor motivos. Nós podemos propor motivos. Se alguém está para tomar um sorvete, pois havia decidido tomá-lo, mesmo sabendo que quebraria sua dieta ou que não faria bem à sua saúde, pode por deliberação pessoal desistir de tomá-lo ainda que seu apetite estivesse totalmente inclinado a isso. O motivo que sua razão propôs foi assumido contra o anterior, e não faz sentido afirmar que por ter esse motivo prevalecido, esse foi o mais forte e, portanto, o livre-arbítrio não existe, pois é esse mesmo fato que mostra o que é o livre-arbítrio. Usamos motivos para agir.

Gledson Meireles.

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