Estudo do livro
A
Soberania Banida – Redenção para a Cultura Pós-Moderna – de R. K. Mc Gregor Wright
– Editora Cultura Cristã – 1ª ed. 1998. Capítulo
2.
A
crítica de McGregor Wright à teoria do livre-arbítrio
McGregor Wright lembra
que é de suma importância definir os termos e não introduzir mudanças de
sentido durante o tratamento do assunto antes de iniciar um debate.
De fato, isso é
essencial, e muitas vezes optamos por usar de outros conceitos através de
termos já conhecidos, o que pode causar problema e ser alvo de críticas dos
eruditos. Além disso, o objetivo da discussão, que é esclarecer o assunto, fica
prejudicado.
O autor afirma que as
ideias principais da teologia protestante reformada devem ser demonstravelmente derivadas da
Bíblia. Trata-se da intepretação da Bíblia feita pela ala reformada oficial e
principal do Protestantismo.
No capítulo 2 o autor
trata da doutrina do livre-arbítrio, e a chama de incoerente. Como exigiu no
início, ele apresenta as definições dos termos, e afirma que “Pelo termo
livre-arbítrio eu quero dizer a crença de que a vontade humana tem um poder de
escolha com a mesma facilidade entre alternativas.”
O teólogo critica W.
Shedd, influente autor calvinista, como propondo um calvinismo inconsistente,
quando negando a indeterminação da vontade ensina algo que praticamente é
idêntico ao livre-arbítrio ensinado pelos arminianos.
De fato, para o
reformado o livre-arbítrio significa a capacidade invencível para fazer
escolhas, sempre com a mesma eficácia, entre as alternativas, mesmo diante de
influências, pois o livre-arbítrio pode escolher vencendo os fatores e
prescindir deles.
Isso é o que o
reformado entende sobre o livre-arbítrio. Então, afirma que para a teologia
reformada o livre-arbítrio é apenas a função de desejar ou escolher, é a
capacidade de fazer escolhas. No entanto, as escolhas são sempre determinadas,
pois são sempre causadas, e não há possibilidade de qualquer evento finito
ocorrer por acaso.
Nega-se que o
livre-arbítrio seja auto-determinante ou autônomo, não causado por condições
prévias, mas que uma vez que há condições causais anteriores isso é o mesmo que
determinações, ou seja, se o livre-arbítrio funciona induzido, levado ou por
lago, então ele é determinado por isso, e não há possiblidade de nada na
criação ter autonomia e agir sem determinação prévia.
Pelas suas palavras,
Wright entende que a mente apresenta elementos ao livre-arbítrio e ele pode
sempre escolher, de forma neutra, apesar de quaisquer influências. Dessa forma,
o livre-arbítrio não sendo causado deverá ser espontâneo, e assim não poderá
agir e formar caráter.
Parece que MacGregor
Wright vê o livre-arbítrio como uma entidade no homem, um poder autônomo que
surge espontaneamente, e por isso não poderia ser controlado por nada, nem pelo
próprio sujeito, nem por Deus. Assim, na sua objeção há que se a vontade é
neutra ela não poderia agir, e se precisa de argumentos, evidências, razões,
emoções para decidir, os próprios argumentos seriam ameaça ao livre-arbítrio, e
não há como ser necessários se ele é neutro. Ainda, ensina que a cooperação não
necessita de livre-arbítrio.
Por fim, pode-se
afirmar que o livre-arbítrio, conforme a definição reformada, de acordo com
Wright, é a capacidade da pessoa de expressar o seu caráter, agindo em harmonia
com os elementos internos, como o intelecto ou mesmo com os hábitos e com as
influências quaisquer que forem que venham a incidir sobre ele. Isso seria um
tipo de liberdade determinada ou previamente causada. Tal é a posição
reformada.
E a responsabilidade?
Para o reformado a responsabilidade não é fundamentada no livre-arbítrio, que
na verdade não existiria, mas em Deus como criador e ponto de referência moral,
em nosso conhecimento e no propósito da glória de Deus. Isso significa que o
homem não seria livre, mas por essas razões continuaria responsável por seus
atos.
Diante disso podemos
responder que, desde as primeiras páginas sagradas aprendemos que o homem e a
mulher foram criados livres. Não há necessidade do termo livre-arbítrio
aparecer, mas o fato mesmo do livre-arbítrio, em passagens bíblicas, para
sabermos do que se trata, pois os fundamentos da doutrina que o texto ensina já
são suficientes para que creiamos.
Assim, em Gênesis 2, 27
foi dito a Adão e Eva sobre a árvore do conhecimento: “mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no
dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente”.
Isso já supõe que Adão
e Eva possuíam a capacidade de comer do fruto daquela árvore ou não, conforme
quisessem, assim, como podiam compreender que deviam obedecer àquele
mandamento, como também, caso fizessem o contrário, estar conscientes de que
haveria um castigo.
Por isso, o catecismo
explica que a amizade com Deus só pode ser vivida com livre submissão. A prova
está nessa passagem, que exprime a proibição feita ao primeiro casal humano.
Eles eram livres para obedecer o mandamento e não comer o fruto, ou desobedecer
e comê-lo. Não haveria razão para proibir algo a quem não pudesse ter
capacidades para obedecer.
De fato, a doutrina
católica ensina que o livre-arbítrio não significa a capacidade de escolher sem
qualquer influência, o que pode-se escolher qualquer coisa sempre por si mesmo.
Ainda, somos conscientes
dos nossos atos e de como eles são feitos. A mente é a causa, e não se deve
procurar outro lugar. O livre-arbítrio age por motivos, e sempre é atraído ao
que julga ser bom. É verdade que o mal não pode atrair nossa vontade, a não ser
por erro, por juízo errôneo.
Também não significa
que o homem está sempre exercendo o livre-arbítrio com toda a sua força, como
também é verdade que não estamos sempre raciocionado sobre tudo o que vemos e
fazemos, etc. No entanto, somos seres racionais, e do mesmo modo temos o
livre-arbítrio.
Há muitas coisas que
ocorrem espontaneamente, como fruto de hábitos, e são determinados por coisas
anteriores. No entanto, é igualmente verdade que no curso normal do pensamento
na consciência podemos escolher, impedir e iniciar outros pensamentos como atos
verdadeiramente livres.
A escolha do motivo
mais forte não é prova contra o livre-arbítrio, com já estudado aqui, mas é uma
afirmação destituída de sentido, pois apenas significa que escolhemos o que
escolhemos, o que não explica absolutamente nada, mas apenas descreve ato.
Por exemplo, entre um
sorvete de morango e um de chocolate, se alguém escolhe o de chocolate ele
escolheu o de chocolate! Nada mais, realmente.
De fato, a mente pode
propor motivos. Nós podemos propor motivos. Se alguém está para tomar um
sorvete, pois havia decidido tomá-lo, mesmo sabendo que quebraria sua dieta ou
que não faria bem à sua saúde, pode por deliberação pessoal desistir de tomá-lo
ainda que seu apetite estivesse totalmente inclinado a isso. O motivo que sua
razão propôs foi assumido contra o anterior, e não faz sentido afirmar que por
ter esse motivo prevalecido, esse foi o mais forte e, portanto, o
livre-arbítrio não existe, pois é esse mesmo fato que mostra o que é o
livre-arbítrio. Usamos motivos para agir.
Gledson Meireles.
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